terça-feira, 30 de novembro de 2021

Os caras fizeram uma "revolução ambiental" em terra abandonada.

 


Ameaçado de despejo, acampamento Marielle Vive fez ‘revolução ambiental’ em terra abandonada

Ocupação iniciada em 2018 reflorestou área abandonada, iniciou horta e recuperou duas nascentes. MST realiza protesto hoje em São Paulo

A ocupação teve início em abril de 2018, em uma área totalmente degradada, sem qualquer utilização pela Eldorado. Hoje, as cerca de 500 famílias vivem, trabalham e produzem alimento de qualidade - MST em São Paulo

da Rede Brasil Atual

Ameaçado de despejo, acampamento Marielle Vive fez ‘revolução ambiental’ em terra abandonada

Por Redação RBA

São Paulo – O acampamento Marielle Vive, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), em Valinhos (SP), está ameaçado de despejo e pode sofrer reintegração de posse do terreno nos próximos dias. Se antes a fazenda abandonada acumulava pasto, a área passou por uma “revolução ambiental” e garante a alimentação saudável na região.

Cerca de 450 famílias vivem no acampamento. A área é de propriedade da Fazenda Eldorado Empreendimentos Imobiliários, mas abandonada há anos. Por razão da pandemia de covid-19, o local não passou por uma reintegração de posse em 2020, porém, o despejo foi concedido à Eldorado na semana passada, pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

Para Tassi Barreto, coordenadora estadual do MST, a decisão indigna os moradores do acampamento Marielle Vive, que temem pelo futuro. “No acampamento, estamos num processo intenso de negociação com proprietários e poder público para garantir os direitos sociais da saúde. Os ruralistas são tão organizados que conseguiram tirar da lei as ocupações rurais, o que é um absurdo para os direitos humanos. Portanto, a partir do dia 3 de dezembro, a reintegração poderá ocorrer”, afirmou, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas da Rádio Brasil Atual.

Acampamento Marielle Vive

A ocupação teve início em abril de 2018, em uma área totalmente degradada, sem qualquer utilização pela Eldorado. Hoje, as cerca de 500 famílias vivem, trabalham e produzem alimento de qualidade, saudável, orgânico, sem agrotóxico, na terra antes degradada.

“Aquela fazenda é revolucionária. O lugar era um pasto abandonado, jogado para especulação imobiliária. Nós fizemos uma recuperação ambiental, estamos recuperando duas nascentes de lá, reflorestamos a área e começamos a produzir alimentos saudáveis. Portanto, é uma revolução que fizemos na área”, afirmou Tassi.

O engenheiro agrônomo Hiroshi Seo, que ajudou na elaboração da horta do acampamento Marielle Vive, afirma que a terra é a fonte de vida do sem-terra, seja para produção de alimentos, moradia ou preservação da natureza.

“Em volta da ocupação, só há condomínios acimentados. Enquanto a terra do acampamento Marielle Vive produz alimentos, tem crianças estudando. Ou seja, tirar as pessoas dali é um abalo tremendo. O assentamento não é qualquer ocupação, é uma terra que é preservada e mostra como a agricultura familiar é fundamental”, defendeu Hiroshi.

Mobilização

Para manter todo esse sonho em pé, o MST promove nesta terça-feira (30), às 14h, um protesto em frente ao TJ-SP, na praça da Sé, centro de São Paulo. E avisa que vai recorrer da decisão.

Não é a primeira vez que essa tentativa de acabar com o acampamento Marielle Vive acontece. Em 2020, a Eldorado já havia solicitado essa reintegração da posse do terreno, mas o processo foi suspenso diante da pandemia de covid-19. O MST lembra leis que proíbem despejos na pandemia, como a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. E a Lei 14.226/21, sancionada em outubro.

“Precisamos fazer uma pressão para denunciar o TJ, onde não poderiam nem ainda julgar o processo. Não considerou que o acampamento existe há três anos, onde cada um tem sua casa, há crianças e famílias organizadas no território. A sociedade civil tem um papel fundamental de cobrar a prefeitura e a Justiça para que se possa garantir os direitos sociais”, afirmou a coordenadora estadual do MST.

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