segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Portugal: tanto a navegar

 

Portugal: tanto a navegar, por Túlio Muniz

Esse artigo visa levar ao público brasileiro uma compreensão contextualizada do momento eleitoral em Portugal.

Consulado Geral de Portugal

Portugal: tanto a navegar.

por Túlio Muniz

Esse artigo visa levar ao público brasileiro uma compreensão contextualizada do momento eleitoral em Portugal. Em outro artigo  trataremos de estabelecer comparações e parâmetros que possam, talvez,  levar ao que podemos aprender com a trajetória recente da política lusitana. Esta, embora tenha pela frente a perspectiva real de quatro anos de governo de centro-esquerda, vê chegar ao fim a mais profícua coligação progressista já registrada na História contemporânea não só nacional, mas também europeia, pois ascendeu e se manteve quando viu ruir governos  de esquerda na Europa, como dos socialistas François Holande (2012-2017) e o pela frente Zyriza, na Grécia (2015-2019).

Praticamente encerradas as eleições em Portugal (há ainda quatro assentos no Parlamento a preencher, com votos de residentes no exterior, a serem apurados em 10 de Fevereiro), o Partido Socialista (PS, de centro-esquerda) tem já garantidos mais quatro anos de governo por ter obtido maioria absoluta, com 117 eleitos, 41,8% em 230 lugares. Antônio Costa, o primeiro-ministro desde 2015, quando seu PS perdeu em número de votos para o centro direitista PSD (que, entretanto, não obteve maioria), é o artífice da consolidação do seu partido como força hegemônica.

 Nos últimos sete anos o PS obteve por duas vezes (2015 e 2019) o aval do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa para compor um governo que foi sustentado até recentemente pelos deputados dodo Partido Comunista (PCP) e do Partido Ecologista Os Verdes (que há década mantêm-se coligados na CDU- Coligação Democrática Unitária) e do Bloco de Esquerda (BE). Formaram a coligação “Geringonça”, assim chamada por nunca antes ter havido um governo características, e tampouco ter obtido autorização do Presidente para tal. Em Portugal o primeiro-ministro é chefe de Governo, mas o Presidente é Chefe de Estado, cabendo-lhe, entre outros papéis, o de destituir a Assembleia da República – lá não existe Senado.

Um estranhamento do BE e da CDU com a proposta orçamentária do PS para 2022, apresentada em Novembro passado, pôs fim à “Geringonça”, e o governo caiu. Houve severos desentendimentos em torno de investimentos na Educação e no Sistema Nacional de Saúde (SNS, o SUS de lá), onde de fato há um déficit imenso de pessoal e de bons salários, o que se agravou com a pandemia. O BE e a CDU, situados  à esquerda do PS, cobravam ainda aumento substancial das pensões, dos incentivos à habitação e do reajuste salário mínimo já em 2022, quando chegou a apenas 705 euros e é dos menores da Zona Euro, e Costa prometeu algo em torno de 850 apenas para 2025, valor que  BE e CDU exigiam para já.

À direita, o Partido Social Democrata (PSD, centro direita liberal), histórica força política que se alterna com o PS no governo, arregaçou mangas e esteve perto de ameaçar o adversário na disputa, chegando mesmo a ultrapassá-lo em pesquisa de intenção de votos às vésperas da eleição, o que não se concretizou no resultado final, com o PSD obtendo menos de 30% dos votos. Costa baseou sua campanha clamando por votos que lhe dessem maioria absoluta, e conseguiu, erodindo a esquerda (o BE caiu de 19 para cinco deputados, a CDU caiu de 12 para seis). É certo que também roubou votos do PSD, este combalido pela ascensão da Iniciativa Liberal (IL, um deputado em 2019 e oito agora) e, principalmente, do crescimento do Chega (um deputado em 2019, agora12), liderado por André Ventura, que sustenta discurso xenófobo, racista (principalmente contra imigração e a população cigana portuguesa) e antieuropeu.

Se Costa abrirá ou não mais espaço para a esquerda, é questão a conferir. O BE e a CDU sustentaram a “Geringonça”, não exigiam cargos, é verdade, se omitiam de governar, mas não de criticar. O processo eleitoral lhes impôs a pecha de terem “abandonado” Costa na questão orçamentária, e pagaram caro com perda brutal de representação.

Contudo, Costa e todo o PS certamente se recordam da lições resultantes da primeira (e até então única) maioria absoluta obtida por um governo central antes do seu. Foi justamente do PS, sob liderança de José Sócrates, em 2005, quando o partido elegeu 121 deputados, maioria que não garantiu avanços sociais e econômicos consistentes. Sócrates cedeu a pressões da direita, fosse nos costumes ou na economia, com reflexos deletérios.

Foi nesse período, por exemplo, por o PS ceder à pressões políticas e sócias xenófobas, que caiu o direito automático a nacionalidade portuguesa para nascidos que eram filhos de estrangeiros residentes, justo no país com taxa demográfica deficitária, e mesmo hoje a nova lei de imigração de 2021 não reestabeleceu o chamado jus sanguinis, o ‘direito de sangue’, embora tenha avançado em muitos outros pontos. Também sob maioria do PS, foram reduzidas, mas não abolida, as chamadas Taxas Moderadoras pagas por atendimentos no SNS. A Saúde é pública, mas cada serviço é cobrado uma taxa (que hoje é de 5 euros no caso de uma consulta médica, por exemplo), e tampouco findaram as taxas anuais de matrícula em cursos de graduação nas universidades públicas, a chamada ‘propina’, que sob Sócrates foi mantida em 900 euros, onerosa para a imensa maioria em Portugal, país de classe média majoritária e onde uma renda familiar mensal acima de 2 mil euros é para poucas famílias, e onde 20% ainda vivem na pobreza. Costa reduziu a ‘propina’ para 600 euros, é ainda alta, mas de certo lhe valeu mais simpatia diante do público de jovens estudantes, onde o BE e o PCP tinham base considerável (o BE, por exemplo, não reelegeu seu deputado em Coimbra, a mais emblemática cidade universitária do país).

Ainda sob o governo majoritário de Sócrates foram também relevantes as manifestações de trabalhadoras e trabalhadores na Educação, chegando a provocar, em Dezembro de 2007, as maiores manifestações de rua registradas no país contra um governo desde a Revolução dos Cravos, em 1974, que pôs fim a Ditadura de quase 50 anos.

Titubeante e desgastado, em 2009 Sócrates se manteve no governo, mas já sem maioria absoluta. O PS governou com maioria simples (97 deputados) somente porque PSD (81 deputados em 2009) e CDS (direita conservadora, então com 10 deputados, agora em vias de desaparecer, pois não elegeu ninguém) não somavam votos suficientes para compor maioria alguma e praticamente eram os únicos partidos no campo da direita (não existiam ainda partidos como o Chega com representação).

Mantendo um programa econômico de austeridade econômica, foi ainda no segundo governo Sócrates que Portugal sucumbiu aos ditames da Troika, intervenção econômica encabeçada pelo Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o FMI, com efeito devastador, conforme resumiu o jornal Público, em 07 de Setembro de 2012: “Ainda em 2010, foi determinado o congelamento de admissões e progressões de carreira para a função pública. É aprovado um aumento do IVA, de 20% para 21% (taxa normal), de 12% para 13% (taxa intermédia) e de 5% para 6% (taxa reduzida). É aprovada a tributação das mais-valias bolsistas a uma taxa de 20%. E os rendimentos superiores a 150 mil euros anuais ficam sujeitos a uma taxa de IRS de 45%”.

Enfraquecido, de pouco valeu o histórico de maioria absoluta do primeiro governo, e o segundo governo Sócrates caiu em 2011, sendo sucedido por Passos Coelho (PSD, 2011-2015), totalmente submisso à Troika, que mergulhou Portugal no que talvez tenha sido a maior crise econômica de sua história recente.  Passos Coelho foi tão devastador que, de certa maneira, possibilitou a ascensão da “Geringonça”, pois em 2015, ainda que o PSD tenha saído das urnas com maioria dos votos, mesmo sendo um filiado seu, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa optou por experimentar uma inédita proposta de governação – a “Geringonça” – do que estender a liderança de Coelho, hoje fora da política, renegado pelo próprio partido.

Voltando ao António Costa 2022, que pelo histórico político e pessoal, fortalecido pela condução de um dos mais bem sucedidos programas de combate à Covid-19 no mundo, é cotado para suceder Ursula Leyen na presidência da Comissão Europeia. Ainda que a ascensão da extrema direita representada pelo Chega inspire atenção, Costa tem agora autonomia para governar sem necessidade de reeditar a “Geringonça”. Contudo, conforme o próprio afirmou em discurso de vitória, “maioria absoluta não é poder absoluto, não significa governar sozinho”.

Resta acompanhar seus passos para saber se o antigo e carismático prefeito de Lisboa (2007-2015), responsável pelo avanço de modernização da capital, o filho de imigrante (seu pai Orlando, era nascido em Moçambique e descendente de indianos de Goa, antiga colônia lusa, daí Costa ser o primeiro chefe de governo europeu não-branco), se o político que idealizou e propôs a “Geringonça” e graças a ela impôs avanços importantes, cumprirá o que afirmou no discurso de vitória, buscando ampliar apoio e alianças,  ou se aprofundará na condução de uma economia liberal ao centro, alinhado ao Banco Central Europeu, que foi a principal causa da derrocada da maioria de Sócrates e de seu segundo governo.

Túlio Muniz. Historiador (com Graduação e Mestrado pela Universidade Federal do Ceará), com Doutorado na Área de Sociologia em Pós-Colonialismo e Cidadania Global pelo Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Economia (CES-FEUC) da Universidade de Coimbra. É Professor Adjunto na Faculdade de Educação (FACED-UFC). Também é Jornalista Profissional.

Da lava jato à Rússia

 

Da Lava Jato à Rússia, a saga da Atlantic Council nos interesses geopolíticos

Desde o início, o GGN revelou relação do grupo dos EUA com a Lava Jato e, posteriormente, contra a imagem da Rússia

Participação de Rodrigo Janot em palestra da Atlantica Council, em 2017, elogiando Lava Jato – Foto: Divulgação

Quando em julho de 2017 o então procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, fazia propaganda da Lava Jato em evento do grupo Atlantic Council, em Washington (EUA), pouco depois se confirmou que se tratava do primeiro contato da Operação para obter apoio da agência norte-americana, que se apresenta como uma espécie de “porta-voz” da “pesquisa” e de informações oficiais do país.

Desde o início, o GGN trouxe à público a relação da agência com a Lava Jato. Partindo daquela participação de Janot na palestra intitulada “Lições do Brasil: Crise, Corrupção e Cooperação Global”, quando a “think tank” norte-americana abundava elogios:

“Os escândalos de corrupção continuam a abalar o cenário político da América Latina, mas várias instituições e movimentos anticorrupção estão à altura do desafio. (…) Sem precedentes em escala e impacto, a sonda Lava Jato do Brasil é a peça central dessa nova onda anticorrupção”, introduzia.

O papel principal da empresa foi colocar no mesmo ambiente altos funcionários públicos norte-americanos, procuradores de várias parte do planeta, e plutocratas clientes.

Em março de 2018, detalhamos como Janot admitiu uma cooperação com Estados Unidos para a Lava Jato avançar e condenar o ex-presidente Lula (leia aqui).

“A Operação Lava Jato, sobretudo o veredito de culpado sobre Lula, colocou o Brasil na liderança do front dos países que estão trabalhando para combater a corrupção, tanto dentro de casa, como fora”, elogiava Kenneth Blanco, então procurador-geral adjunto dos EUA, naquela palestra do Atlantic Council de julho de 2017, ao lado de Janot, que completava, admitindo: “Sem a cooperação jurídica internacional, seria impossível fazer o que nós estamos fazendo.”

Posteriormente, no ano seguinte à palestra, a mesma Atlantic Council criava um site chamado DisinfoPortal.org, com o objetivo de “rastrear as campanhas de desinformação do Kremlin no exterior”. A intenção foi o enquadramento do Facebook – rede utilizada para a disseminação das notícias. Com base em um relatório produzido pelo site – e públicado pelo The Washington Post, sob críticas gerais dos concorrentes – Mark Zukenberg, do Facebook, foi convocado pelo Congresso e, saindo da sessão, imediatamente contratou a consultoria do Atlantic Council para saber aomo atuar frente às notícias.

Com a imagem das nacionais brasileiras já derrotadas pela Lava Jato, além das construtoras Odebrecht à própria Petrobras, e Lula fora das eleições 2018, os interesses geopolíticos da “think tank” norte-americana haviam migrado do Brasil para Moscou.

A página alimentava “jornalistas, governos e formuladores de políticas”, com “as principais organizações e mais de 80 especialistas que combatem a desinformação russa nos Estados Unidos e na Europa”.

Em reportagem de junho de 2018, traçamos o histórico de um dos fundadores da página, por meio do Atlantic Council, o embaixador Daniel Fried. Atuou para o Departamento de Estado dos EUA em escritórios de assuntos soviéticos e influência da política russa, desde 1985.

Em 2019, no Xadrez do Jogo Político das Fake News, mostramos o relatório do procurador Robert Mueller, desmentindo a suposta participação russa nas eleições americanas, e derrubando a teoria criada pelo Atlantic Council. Além disso, o documento concluiu que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, havia interferido indevidamente nas investigações (relembre aqui).

A atuação da organização em temas externos, apresentando-se como uma agência independente dos EUA, mas atuando como porta-voz de interesses geopolíticos, chegou a ser questionada no ano passado.

Cerca de 20 congressistas americanos solicitaram ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) a investigação sobre a cooperação de órgãos dos EUA com a Lava Jato no Brasil. No documento, os parlamentares mencionam a Atlantic Council e as declarações de Blanco e de Janot no evento de 2017.

Apesar disso, o grupo continua, ainda hoje, atuante em participações estratégicas do governo dos EUA. Nesta última sexta (28), o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, foi o protagonista de um evento da Atlantic Council para opinar sobre entre a Rússia e Ucrânia. “Estamos prontos para qualquer coisa”, disse o chefe da OTAN à Atlantic Council.

Portugal é mau sinal a Bolsonaro! Seguiram a ciência, cresceram e vencer...

Influência dos EUA na Primavera Árabe

Moniz Bandeira antecipava lava jato partidária

 

Moniz Bandeira antecipava Lava Jato partidária e interesses dos EUA

Relembre as entrevistas do historiador e cientistas político Moniz Bandeira ao GGN, já anunciando os tempos atuais

Foto: Pessoal/Divulgação

“Para o mundo, o Brasil está na lata do lixo. Um Executivo desmoralizado, composto por políticos altamente corruptos, um Legislativo quase todo vendido e um Judiciário que politiza suas decisões.”

Apesar de parecer atual, a declaração é de 6 anos atrás, em uma profunda análise do cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, em entrevista exclusiva ao GGN em 2016.

Autor de mais de 20 obras em todo o mundo, Moniz faleceu em 2017, aos 81 anos, ainda muito atuante na pesquisa e escrita, foi um dos preconizadores do conceito de geopolítica, quando países atuam para além do domínio, estrategicamente com interesses políticos nas relações internacionais.

Uma de suas obras mais conhecidas, “A Segunda Guerra Fria – Geopolítica e dimensão estratégica dos Estados Unidos” (ed. Civilização Brasileira), em crítica apurada, desdobrou a análise dos EUA sobre países como o Brasil.

Naquela entrevista de 2016, aos seus 80 anos, Moniz já afirmava que o “Brasil hoje já não existe para os estrangeiros”. Ele tratava da crise das instituições, no ápice do impeachment contra Dilma Rousseff e da ascensão do poder do chamado “Centrão” no Congresso, onde nasceu Jair Bolsonaro.

Em sua farta experiência internacional, destacava que o erro estava no Judiciário. Disse que nunca tinha visto em sua vida um um Supremo Tribunal Federal (STF) tão desmoralizado, “em que cada ministro atua como quer, toda hora falam à imprensa, adiantam suas decisões, politizam os julgamentos”.

E criticou duramente a Lava Jato, afirmando que para além das consequências na própria Justiça brasileira, os atos do ex-juiz Sergio Moro repercutiam para a derrubada da economia brasileira.

“Eu creio que essas cooperações, tanto do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de Dallagnol [coordenador da força-tarefa], estão prestando serviço ao estrangeiro, a uma nação estrangeira e arrebentando as empresas nacionais de construção, as maiores, as que estão encarregadas de projetos importantes.”

Naquela ocasião, as relações da Lava Jato com os Estados Unidos foram decifradas por Moniz, ainda antes das primeiras investigações e indícios trazidos pela imprensa da cooperação de órgãos dos EUA com a Operação brasileira.

“É uma forma de [os EUA] controlar o outro país, de espionar. E os que estão nessa campanha da Lava Jato atuam como se fossem agentes. Mesmo não remunerados, o fato é que, objetivamente, estão a favorecer uma nação estrangeira contra o Brasil. Estão a trabalhar contra os interesses nacionais”, disse.

Antes de falecer, da cidade alemã de St. Leon-Rot, Moniz compartilhava periodicamente suas impressões sobre matérias do GGN. No último email pessoal enviado, comentando o “Xadrez da globalização e da financeirização”, no qual Luis Nassif já denunciava viagens e palestras do ex-procurador da Lava Jato, Deltan Dallagnol, pelo mundo, Moniz atiçou:

“Não é só Sr. Deltan Dallagnol que viaja e vende palestras no exterior. Sergio Moro também. Já esteve em Heidelberg, Lisboa, New York e outras cidades. Quem pagou as viagens e as palestras? A quem servem?

Forte abraço, Moniz.”

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Relembre alguns trechos de entrevistas de Moniz Bandeira ao GGN:

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Leia mais sobre Moniz:

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Estratégia Geopolítica dos EUA no Brasil

Xadrez do golpe de Bolsonaro em andamento.

 

Xadrez do golpe de Bolsonaro em andamento, por Luis Nassif

E o Exército nada sabe e nada diz. Se o Exército quiser mais informações, poderá consultar uma ferramenta tecnológica inédita: o Google.

Na TV GGN 20 horas de ontem – “A indústria de armas e o golpe de Bolsonaro” -. ficou nítido o grande desafio nacional: desmontar o esquema bélico montado por Bolsonaro desde que assumiu o poder, com o inacreditável beneplácito do Exército.

O entrevistado foi Luiz Eduardo Soares, um dos grandes especialistas em crime organizado no país.

Reportagem da BBC Brasil, mostrou um aumento de 33% na importação de armas em 2021, em relação a 2020. Não apenas isso. A importação de revólveres e pistolas aumentou 12% – 119.147 contra 105.912 de 2020. Já fuzis, carabinas, metralhadoras e submetralhadoras tiveram aumento de 574%: 8.160 armas contra 1.211 de 2020.

O Exército – a quem caberia o controle dos armamentos – respondeu à reportagem não ter estudos sobre as causas do aumento. E garantiu que vem fazendo o rastreio e controle de armas e munições, “de acordo com a legislação”. Ora, Bolsonaro mudou a legislação – em iniciativa sancionada pelo então Ministro da Justiça Sérgio Moro -, praticamente acabando com o rastreamento. Significa que se, amanhã, algum soldado ou policial for assassinato por um miliciano, não haverá condições de saber por onde entraram as munições.

A importação de armas e munições deveria ser controlada pelo Comando Logístico do Exército Brasileiro, através da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados. Teoricamente, deveria envolver procedimentos antes do embarque  (emissão do Certificado Internacional de Importação (CII). Depois, a conferência física da mercadoria e, finalmente o desembaraço, a emissão da Guia de Tráfego, para o material ser transportado até o armazém do importador.

E o Exército nada sabe e nada diz. 

Se o Exército quiser mais informações, poderá consultar uma ferramenta tecnológica inédita: o Google.

Veria, por exemplo, que um traficante de armas, chamado de Bala 40, valeu-se de registros de colecionador para adquirir armas e munições à maior facção criminosa do Rio de Janeiro.

Desde o primeiro mês do governo Bolsonaro, o GGN vem denunciando a montagem dessas milícias armadas – e que, certamente, serão ameaças reais no período eleitoral, especialmente entre as eleições e a posse, se Bolsonaro for derrotado.

Confira a impressionante soma de indícios mostrando a montagem dessa organização – e a covardia das instituições em combater esse avanço.

16.01 2019

Mal começava o governo Bolsonaro, denunciamos suas ligações com a indústria de armas.

Xadrez da indústria de armas e o financiamento da direita, por Luis Nassif

O jogo da indústria de segurança com o esquema Bolsonaro ficou nítido no primeiro dia após as eleições, quando o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o segundo filho, Carlos Bolsonaro, anunciaram ida imediata a Israel para negociar a compra de drones assassinos (https://goo.gl/tK4XfK). A indústria de segurança de Israel tem uma longa tradição de corrupção com o Brasil, iniciada com a venda de equipamentos superfaturados para o governo Quércia,

Dois twitters dos inenarráveis irmãos Bolsonaro – Eduardo e Carlos – reforçam esse tema, que tem sido pouco abordado nas análises políticas: a parceria da indústria de armas com a ultradireita mundial. E mostram como os profissionais deitaram e rolaram em torno do suposto lobby dos Bolsonaro pela Taurus, empresa brasileira. O buraco era bem mais acima.

O segundo twitter, de 17 de janeiro de 2017, mostra o estreitamento de relações de Eduardo Bolsonaro, com a influente NRA, a Associação Nacional de Rifles dos Estados Unidos, quando se preparava para a campanha eleitoral.

A Bloomberg já havia levantado essas ligações em 25.10.2018.

Brazil’s Bolsonaros Have a Shrine to the NRA (Bolsonaros do Brasil têm um santuário para a NRA)

07.05.2019

Com participação do Ministro da Justiça Sérgio Moro, é preparado decreto visando facilitar transporte e aumento da compra de munições.

Em meio à polêmica, Bolsonaro vai assinar decreto para facilitar importação e transporte de armas, por Raquel Miura, da RF1

Os críticos dizem que é mais um passo para armar a população numa visão equivocada sobre segurança pública. Os defensores afirmam que é facilitar a vida de quem é autorizado por lei a ter armas. Em meio a esse debate, o presidente Jair Bolsonaro vai assinar nesta terça-feira (7) um decreto que permite que os CACs – colecionadores, atiradores esportivos e caçadores – levem as armas, em geral de suas casas para os locais de treino, já carregadas com munição.

O porta-voz da presidência Otávio Rego Barros disse que os detalhes do texto ainda estavam sendo fechados na noite desta segunda-feira (6).

Finalizando detalhes

“Os detalhes estão sendo definidos. Foi fruto de um estudo envolvendo os ministérios da Defesa, Justiça e a Casa Civil. O decreto vai regulamentar a lei sobre registro, porte, posse e comercialização. Trata também da desburocratização, comercialização e importação. Contempla a facilitação do transporte e aumento na munição, entre outros”, afirmou Barros.

21.08.2019

Operação Requentada da Lava Jato visa desviar atenção das manobras de Bolsonaro com Receita.

Nessa coluna, mostramos como a Lava Jato lançou uma operação requentada para abafar as interferências de Bolsonaro na Receita e na Polícia Federal, na fiscalização do Porto de Itaguaí, porta de entrada do contrabando de armas no país.

“A Alfândega do Porto de Itaguaí é área de atuação das milícias. É um porto por onde saem entorpecentes com destino à Europa e entram armas no País, além de ponto de entrada de outros tipos de mercadorias ilegais, como produtos falsificados. Na atual gestão do Delegado José Alex houve ações que prejudicaram os interesses de várias quadrilhas que atuam no Porto de Itaguaí.

Portanto, a tentativa de ingerência dos Bolsonaros sobre a 7ª RF deixou bem claro que era um movimento relacionado à ligação da família com as milícias do RJ. Outro indício de sua vocação para jogadas típicas de baixo clero, uma vez que a 8ª RF (SP) seria a que naturalmente atrairia a maior cobiça, por concentrar mais de 40% da arrecadação do País, e concentrar mais de 50% do movimento de comércio exterior, com o Porto de Santos e Aeroportos de Cumbica e Viracopos”.

No fim de semana o Delegado José Alex postou em um grupo de whatsapp nacional dos Delegados da RFB o seu relato que viralizou, a despeito de seu pedido posterior de não divulgação por temer por sua segurança física. (…)

No dia de ontem (19/08) veio a informação da exoneração do Subsecretário Geral auditor fiscal João Paulo Fachada e sua substituição pelo auditor fiscal José de Assis

02.02.2020

Xadrez do golpe de Bolsonaro a caminho, capítulo 2

Dados obtidos pelo Instituto Sou da Paz, com base na Lei de Acesso à Informação mostram:

  • os atiradores civis compraram em 2019, pela primeira vez, a mesma quantidade que as forças de segurança pública: cerca de 32 milhões de projéteis.
  • O volume comprado pelo grupo ainda superou em 143% o quantitativo de munições que o Exército informou ter adquirido (13,2 milhões) no ano passado.
  • De 2018 para 2019, as compras diretas dos atiradores subiram 17,2%, enquanto o número de projéteis adquiridos pelos órgãos de segurança pública, incluindo as secretarias de gestão prisional, caiu 14,8%.

29.05.2020

Entidade pró-Bolsonaro politiza armamentismo e lista demandas

Associação Nacional de Armas diz que “bandidos” queriam “colocar as pessoas de bem (…) de joelhos”, mas que “este tempo acabou”

“Carta às Armas, divulgada pela Associação Nacional de Armas – CAC Brasil (Caçadores Atiradores Colecionadores), onde dizem ter vivido “tempos de execração pública, perseguições, perda de direitos, criação de hordas de usurpadores de bens públicos e privados” no período pré-Bolsonaro.

“Sentimos no nosso passado recente, a ameaça à nossa democracia, aos nossos valores fundamentais e à própria vida, através da aplicação da vontade de alguns e da implementação de um regime opressor e bandido. Foram desrespeitadas a vontade popular e a propriedade, através do malfadado Estatuto do Desarmamento”, diz a carta, que ganha contornos mais ameaçadores em seu decorrer.

“A intenção dos bandidos da nação era colocar as pessoas de bem, corretas e contrárias às vontades deles, de joelhos diante de bandidos e do próprio estado, fazendo com que o cidadão que não entregasse suas armas e não fosse cadastrado, se encontrasse na situação de crime continuado e flagrante delito possuindo arma em sua posse.

13.06.2020

Ronnie Lessa, o vizinho de Bolsonaro suspeito de matar Marielle, é indiciado por tráfico de armas

Segundo informações da Agência Brasil, a Delegacia Especializada registrou o esquema ilegal para importar armas.

“Lessa comprava, pela internet, peças de armas da China e enviava o produto para sua filha, nos Estados Unidos. Lá, segundo a polícia, a embalagem original era trocada e as peças eram exportadas ao Brasil como “peças de metal”, para enganar a fiscalização aeroportuária.”

Depois, já no Brasil, Lessa “juntava as peças e vendia as armas para milicianos e quadrilhas responsáveis pela comercialização de drogas em comunidades. Segundo a Polícia Civil, o esquema funcionava desde 2014.”

13.07.2020

Ronnie Lessa, o vizinho de Bolsonaro suspeito de matar Marielle, é indiciado por tráfico de armas

Segundo informações da Agência Brasil, a Delegacia Especializada registrou o esquema ilegal para importar armas.

“Lessa comprava, pela internet, peças de armas da China e enviava o produto para sua filha, nos Estados Unidos. Lá, segundo a polícia, a embalagem original era trocada e as peças eram exportadas ao Brasil como “peças de metal”, para enganar a fiscalização aeroportuária.”

Depois, já no Brasil, Lessa “juntava as peças e vendia as armas para milicianos e quadrilhas responsáveis pela comercialização de drogas em comunidades. Segundo a Polícia Civil, o esquema funcionava desde 2014.”

20.10.2020

Aqui, mostramos como o bolsonarismo seguiu o trumpismo e montou alianças com a contravenção internacional

Xadrez de como o pacto ultraliberal deixou o Brasil exposto ao trumpismo

Os principais financiadores da ultradireita são

  • a máfia dos cassinos;
  • indústrias do lixo;
  • indústrias das armas, liderada pela NRA (National Rifle Association);
  • indústria da mineração e do petróleo.

17.02.2021

Xadrez da conspiração óbvia

Suas ações mais conhecidas, em defesa das milícias, foram:

  • o decreto buscando impedir o rastreamento das munições, peça central para a identificação de crimes cometidos com armas legais ou clandestinas;
  • o afastamento do superintendente geral da Polícia Federal no Rio de Janeiro e de fiscais que atuavam no porto de Itaguaí – porta de entrada do contrabando de armas no país;
  • a flexibilização da compra e importação de armas, assim como o aumento da quantidade, abre espaço para um laranjal articulado pelo crime organizado, que poderá trazer armas de forma muito mais segura do que pelos esquemas de contrabando.

05.06.2021

Previmos a tentativa de golpe de Bolsonaro que, de fato, ocorreu no dia 7 de Setembro. O fracasso do golpe fez com que recuasse para rever a estratégia.

Xadrez do momento mais decisivo da história

1. Entrada descontrolada de armamentos beneficiando dois setores formais e um setor criminoso ligados a Bolsonaro: ruralistas e clubes de tiro e caça, e as milícias propriamente ditas. (…)

2. Cooptação das bases das polícias militares. (…)

3. As benesses aos militares, escancarando os cargos na administração civil para militares da ativa e da reserva, ampliando suas verbas e benefícios funcionais.(…)

4. Fortalecimento das bases evangélicas, com a atuação pertinaz da Ministra Damares destruindo políticas de saúde e de inclusão para transferir poder a asilos e escolas especiais dominadas pelo neopentecostalismo.

5. Manutenção dos laços de parceria com a ultradireita mundial através do Itamarati. Tirou-se um Ministro das Relações Exteriores trapalhão, mas não alterou a orientação do Itamarati.

18.07.2021

Mulher de Ronnie Lessa é presa por tráfico internacional de armas

Além de terem sido alvo de mandados de prisão, Lessa a e Elaine viraram réus pelo crime de tráfico internacional de armas de uso restrito. As investigações começaram em 2017, quando a Receita Federal encontrou no Aeroporto do Galeão uma carga de 16 quebra-chamas para fuzil AR-15, que vieram de Hong Kong.

O material seria enviado para a academia em que Ronnie e Elaine eram sócios, na comunidade de Rio das Pedras. Investigação do Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público Federal (Gaeco/MPF) e a PF descobriram que Lessa e a mulher estavam por trás da importação.

25.01.2022

Governo zera o imposto de importação de armas.