segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Da lava jato à Rússia

 

Da Lava Jato à Rússia, a saga da Atlantic Council nos interesses geopolíticos

Desde o início, o GGN revelou relação do grupo dos EUA com a Lava Jato e, posteriormente, contra a imagem da Rússia

Participação de Rodrigo Janot em palestra da Atlantica Council, em 2017, elogiando Lava Jato – Foto: Divulgação

Quando em julho de 2017 o então procurador-geral da República do Brasil, Rodrigo Janot, fazia propaganda da Lava Jato em evento do grupo Atlantic Council, em Washington (EUA), pouco depois se confirmou que se tratava do primeiro contato da Operação para obter apoio da agência norte-americana, que se apresenta como uma espécie de “porta-voz” da “pesquisa” e de informações oficiais do país.

Desde o início, o GGN trouxe à público a relação da agência com a Lava Jato. Partindo daquela participação de Janot na palestra intitulada “Lições do Brasil: Crise, Corrupção e Cooperação Global”, quando a “think tank” norte-americana abundava elogios:

“Os escândalos de corrupção continuam a abalar o cenário político da América Latina, mas várias instituições e movimentos anticorrupção estão à altura do desafio. (…) Sem precedentes em escala e impacto, a sonda Lava Jato do Brasil é a peça central dessa nova onda anticorrupção”, introduzia.

O papel principal da empresa foi colocar no mesmo ambiente altos funcionários públicos norte-americanos, procuradores de várias parte do planeta, e plutocratas clientes.

Em março de 2018, detalhamos como Janot admitiu uma cooperação com Estados Unidos para a Lava Jato avançar e condenar o ex-presidente Lula (leia aqui).

“A Operação Lava Jato, sobretudo o veredito de culpado sobre Lula, colocou o Brasil na liderança do front dos países que estão trabalhando para combater a corrupção, tanto dentro de casa, como fora”, elogiava Kenneth Blanco, então procurador-geral adjunto dos EUA, naquela palestra do Atlantic Council de julho de 2017, ao lado de Janot, que completava, admitindo: “Sem a cooperação jurídica internacional, seria impossível fazer o que nós estamos fazendo.”

Posteriormente, no ano seguinte à palestra, a mesma Atlantic Council criava um site chamado DisinfoPortal.org, com o objetivo de “rastrear as campanhas de desinformação do Kremlin no exterior”. A intenção foi o enquadramento do Facebook – rede utilizada para a disseminação das notícias. Com base em um relatório produzido pelo site – e públicado pelo The Washington Post, sob críticas gerais dos concorrentes – Mark Zukenberg, do Facebook, foi convocado pelo Congresso e, saindo da sessão, imediatamente contratou a consultoria do Atlantic Council para saber aomo atuar frente às notícias.

Com a imagem das nacionais brasileiras já derrotadas pela Lava Jato, além das construtoras Odebrecht à própria Petrobras, e Lula fora das eleições 2018, os interesses geopolíticos da “think tank” norte-americana haviam migrado do Brasil para Moscou.

A página alimentava “jornalistas, governos e formuladores de políticas”, com “as principais organizações e mais de 80 especialistas que combatem a desinformação russa nos Estados Unidos e na Europa”.

Em reportagem de junho de 2018, traçamos o histórico de um dos fundadores da página, por meio do Atlantic Council, o embaixador Daniel Fried. Atuou para o Departamento de Estado dos EUA em escritórios de assuntos soviéticos e influência da política russa, desde 1985.

Em 2019, no Xadrez do Jogo Político das Fake News, mostramos o relatório do procurador Robert Mueller, desmentindo a suposta participação russa nas eleições americanas, e derrubando a teoria criada pelo Atlantic Council. Além disso, o documento concluiu que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, havia interferido indevidamente nas investigações (relembre aqui).

A atuação da organização em temas externos, apresentando-se como uma agência independente dos EUA, mas atuando como porta-voz de interesses geopolíticos, chegou a ser questionada no ano passado.

Cerca de 20 congressistas americanos solicitaram ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DoJ) a investigação sobre a cooperação de órgãos dos EUA com a Lava Jato no Brasil. No documento, os parlamentares mencionam a Atlantic Council e as declarações de Blanco e de Janot no evento de 2017.

Apesar disso, o grupo continua, ainda hoje, atuante em participações estratégicas do governo dos EUA. Nesta última sexta (28), o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, foi o protagonista de um evento da Atlantic Council para opinar sobre entre a Rússia e Ucrânia. “Estamos prontos para qualquer coisa”, disse o chefe da OTAN à Atlantic Council.

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