segunda-feira, 28 de julho de 2014

ECONOMIA - A Argentina e os fundos abutres.

Argentina. As vicissitudes de um país diante de um mundo perplexo

A crise econômica e de consequências políticas do começo de 2008 colocou em evidência que o poder do setor financeiro deslocou o setor produtivo atrás de lucros rentistas extraordinários que afetam países e companhias.
A reportagem é de Ezequiel Beer e publicada no sítio Rebelión, 23-07-2014. Ezequiel Beer é geógrafo da UBA e analista político. A tradução é de André Langer.
Atualmente, a possibilidade de prejudicar o único caso mundial de reestruturação da dívida positiva está nas hostes da Suprema Corte norte-americana em busca de beneficiar estes setores em detrimento da estrutura financeira de um país.
A vontade política da Argentina de reconhecer velhas dívidas estatais com o objetivo de tornar, no longo prazo, o país soberano, deve ser a chave para entender o porquê deste reconhecimento pela autonomia nas políticas internas do país e, posteriormente, obter uma massa de recursos capaz de ser redistribuída à população.
Conjecturar um retorno a políticas keynesianas ou neokeynesianas em um mundo desproduzido ou relocalizado em sua frente oriental é um desafio pertinente, dado os fracassos político-econômicos de um neoliberalismo imposto a ferro e fogo em nossos países.
Mas, é, talvez, necessário considerar a importância de interrogar uma população que ainda tem saudades de tempos idos ou é afeta às interações dos meios de descomunicação vigentes e sua fila de acólitos que replicam fidedignamente a mensagem que tenta deslegitimar a ação estatal.
Em particular, às vésperas das eleições governamentais no país e verdadeiros interesses que não estão à vista jogam suas fichas no mais discreto, mas concreto, nível.
A nova regionalização chamada Brics pode ser o marco geopolítico necessário para estabelecer relações externas afins ao processo de integração arraigada na Unasul e no Mercosul, pois a autonomia plena – aquela sonhada pelo velho peronismo –, nestes tempos globalizantes, dir-se-á que não é plenamente possível.
Neste sentido, estabelecem-se dois eixos mundiais: um relacionado com a financeirização e a desprodução – situado no Hemisfério Ocidental – e o outro situado no eixo Sul/Sul relativo à produção e à extração de recursos naturais.
Sem produção não há Economia, dizia o velho Lênin, e o que estamos presenciando é o aumento paulatino da taxa de desemprego nos países ocidentais fruto do processo anteriormente assinalado.
Descolarmo-nos das finanças mundiais foi um valor considerável, pois as necessidades financeiras de desenvolvimento interno não podem ser aplacadas por este setor, mas devem ser buscadas na própria poupança – “Viver com o Nosso”, diria Aldo Ferrer – ou na nova rede regional.
Augurar superávits fiscais, comerciais e de conta corrente é também nos tornarmos mais soberanos contando com os nossos próprios recursos para afinar um processo de desenvolvimento endógeno e poder contar com ciclos econômicos positivos a longo prazo, o que prevê um horizonte de estabilidade não apenas econômica, mas política e social.
É indefectível pensar que esta situação local não é alheia aos acontecimentos posteriores de 2003 na Argentina, que possibilitou um desenvolvimento inédito em décadas anteriores e que habilita um horizonte ainda maior.
Tudo está por se fazer se este processo continuar em marcha com os atores que, na sua maior parte, expressam sua intencionalidade e autenticidade. Mas, do contrário, outros coligados a interesses externos tomarão lugar e uma nova oportunidade será perdida por décadas.

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