O mercado contra Dilma, Por Jasson de Oliveira Andrade
O Santander enviou aos clientes de renda alta um extrato alertando sobre
o perigo da reeleição da presidenta Dilma. Esse alerta criou uma
polêmica. O presidente mundial do banco, Emílio Botin, segundo
reportagem do Estadão em 28/7, afirmou que o informe “não é do banco,
mas de um analista”. O jornal noticiou ainda: o Santander informou que
todas as pessoas responsáveis pela elaboração e aprovação do informe
serão demitidas. Com essa drástica medida parece que a polêmica
terminou. No entanto, como se verá, não é apenas o Santander que é
contra Dilma e sim o Mercado.
A revista CartaCapital desta semana focalizou o assunto. Na capa consta:
“E o Mercado criou o Dilmômetro – Como o sistema financeiro pretende
influenciar as urnas”. Na página 28, consta longa reportagem de Carlos
Drummond, sob o título “O Mercado contra Dilma – O sistema financeiro
não economiza fichas para derrotar a candidata do PT”. A reportagem é
longa e não temos como resumi-la. No entanto, o leitor tem uma idéia do
que se trata. Já Eliane Cantanhêde, em artigo publicado na Folha (27/7),
também analisou a interferência do sistema financeiro: “(...) para o PT
e a campanha da reeleição, é, e não apenas parece ser, uma vantagem
poder usar os mesmíssimos dados [do Santander] para cristalizar ainda
mais o discurso, talvez a sensação, de que Dilma é rejeitada “pela
elite”, “pelos mercados”, “pelos bancos” por sua alma “robinhoodiana” de
tirar de ricos insaciáveis para dar aos pobres famintos. (...) Não é
bom para Aécio Neves e para Eduardo Campos colar suas imagens, seus
discursos e seus programas a essa “elite”, símbolo da desigualdade
ancestral brasileira. E é bom para Dilma mostrar-se como a mulher que
lutou contra a ditadura e agora enfrenta os poderosos”. Na entrevista
que concedeu ao UOL (Folha), a presidenta Dilma, ao abordar o assunto,
criticou: “Eu acho muito perigoso especular em períodos eleitorais.
(...) É inadmissível para qualquer país, principalmente um país que é a
sétima economia do mundo, aceitar qualquer nível de interferência de
qualquer integrante do sistema financeiro, de forma institucional, na
atividade eleitoral e política”, finalizando: “Eu vou ter uma atitude
bastante clara em relação ao banco [Santander]”, evitando, porém, dizer
qual.
Será que essa oposição do sistema financeiro à reeleição de Dilma se
tornará a favor de quem se quer destruir? Aí o tiro sairá pela
culatra. A conferir.
JASSON DE OLIVEIRA ANDRADE é jornalista em Mogi Guaçu
Julho de 2014
SAIBA MAIS:
Banespa e ‘‘rombos’’
No mês de maio,
o Banespa teve um lucro na faixa de R$ 120 milhões, retomando assim a
média mensal que lhe permitiu lucrar mais de R$ 1 bilhão no ano passado.
O resultado exige a reflexão dos paulistas, pois volta a desmentir os
argumentos apresentados para justificar a ‘‘privatização’’ do banco,
vergonhosamente entregue pelo governo Mario Covas ao governo federal. O
Banespa nunca esteve ‘‘quebrado’’ — pois tinha bilhões a receber do
governo do Estado, uma situação totalmente diferente dos bancos privados
que ‘‘quebraram’’ porque deviam aos depositantes, investidores em
fundos que eles administravam etc., uma cifra muito superior aos valores
que tinham a receber como retorno dos empréstimos que haviam feito.
‘‘Rombo’’, como você sabe muito bem, é quando alguém tem mais dívidas do
que créditos. É o caso, por exemplo, do Banco Nacional, que tinha um
‘‘rombo’’ tão gigantesco, que o governo despejou nada menos de R$ 15
bilhões em seu ‘‘socorro’’.
Além de não
apresentar ‘‘rombo’’, o Banespa é altamente lucrativo — como ficou
demonstrado anos depois da ‘‘intervenção’’ combinada entre o governador
Mario Covas e o presidente FHC. E é essa lucratividade que continua
evidente, nos resultados de maio último. E são eles que, na verdade,
devem ‘‘explodir’’ como autêntica bomba, dentro do próprio Judiciário,
contra a ‘‘privatização’’ do Banespa. Por que? Como você sabe, há várias
ações judiciais contra a venda do banco. Uma delas, que a grande
imprensa procura esconder, é de autoria de nada menos de 11 procuradores
da República — esses promotores fantásticos do Ministério Público que
estão tentando combater a corrupção, negociatas e desmandos de
governantes no Brasil (e que, por isso mesmo, o honesto governo Fernando
Henrique Cardoso tentou silenciar, com a chamada ‘‘lei da mordaça’’).
Pois bem: nessa
ação, os procuradores apontam mais de 20 ilegalidades e irregularidades
na privatização do Banespa, transformada em negócio suspeito. Você sabe
o que aconteceu? A Justiça confirmou que as irregularidades e
ilegalidades existem e suspendeu temporariamente o processo de leilão do
Banespa. Mas essa decisão foi cancelada, dias mais tarde. Por que? A
Justiça mudou de ponto de vista? Não. Ela reiterou que há
irregularidades e ilegalidades no processo. Mas aceitou o ‘‘argumento’’
apresentado pelo governo federal de que o atraso na privatização do
Banespa traria um prejuízo ao Tesouro da ordem de R$ 400 milhões — em um
ano.
Que prejuízo
seria esse? O governo diz que, se o Banespa fosse vendido por R$ 2
bilhões, usaria o dinheiro para reduzir a dívida do Tesouro, que paga
juros de 20% ao ano, e representam portanto R$ 400 milhões (20% sobre os
R$ 2 bilhões) ao ano. Os lucros de maio mostram mais uma vez que o
argumento é mentiroso. Se ficar com o Banespa, o governo participará dos
lucros de R$ 1 bilhão ao ano, ou duas vezes e meia o tal ‘‘prejuízo’’
de R$ 400 milhões. A Justiça vai enxergar a verdade. A privatização do
Banespa continuará adiada. O povo paulista ganha tempo para organizar
movimentos que a impeçam definitivamente.
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