Luis Nassif
Ontem, no artigo "A ciência demência das metas inflacionárias" apontei a incongruência do Banco Central em manter elevada a taxa Selic (para conter o crédito) e ao mesmo tempo flexibilizar o crédito.
A flexibilização do crédito é sinal de que o BC teme uma recessão. Logo, nada mais natural que reduzisse a Selic. Não o fez, ajudando a queimar recursos orçamentários para beneficiar rentistas.
O que escrevi:
"Tome-se a última ata do Banco Central. É de uma irracionalidade a toda prova. Diz que vai manter a taxa Selic no alto patamar de hoje, mas vai flexibilizar o crédito. Onde está a lógica? O aumento da Selic visa justamente reduzir a demanda por crédito. O BC informa que vai manter a Selic elevada e aumentar o crédito. E os analistas econômicos e economistas de mercado dizem: agora sim, o BC vai recuperar sua credibilidade. Como assim? Se ele apresenta dois objetivos claramente conflitantes, como pretende recuperar sua credibilidade? Simples: a cadeia improdutiva da renda fixa criou o chamado efeito-manada, o prêmio por bom comportamento. Se o BC aumenta os juros, em qualquer hipótese ou circunstância deve-se elogiar sua competência e o brilhantismo de seu presidente".
O BC se explicou nos jornais de hoje, um fantástico exercício de sofismar, onde descreve mil
desdobramentos da medida mas não explica o seu significado, à luz da manutenção da taxa Selic.
Diz a tal fonte da equipe econômica:
"O governo afirma que um corte de juros tem impacto em toda a economia. As mudanças desta sexta, apenas no crédito"
Fantástico! Pelas atas do Copom, o único objetivo explícito da taxa Selic é influir no canal do crédito. E as fontes informam que, com as mudanças, pretendeu atuar apenas no crédito. O que sobrou então? Ganhos exorbitantes para os aplicadores de renda fixa e para o capital externo gafanhoto.
Esse paradoxo comprova o papel extremamente deletério do presidente do BC Alexandre Tombini em resistir à queda da Selic. Seria a desmoralização do sistema de metas inflacionárias. Seria tirar do BC esse poder autocrático de fazer o que quiser com os juros, bastando para tal levantar qualquer explicação capenga e ficar liberado para, na véspera da recessão, manter esse nível indecente de juros.
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