Conflito Árabe-Israelense: bibliografia comentada
O Historiador Leonel Caraciki, especialista em conflito árabe-israelense, a convite do Café História, preparou uma bibliografia comentada para aqueles que desejam compreender melhor os recentes eventos em Gaza/Israel e a história que os cerca.
Nas
últimas semanas, uma escalada de violência (mais uma) no Oriente Médio
colocou novamente em pauta um dos temas mais urgentes da chamada
"História do Tempo Presente": o conflito árabe-israelense. No intuito de
contribuir para a sofisticação do debate, o Café História convidou o
historiador Leonel Caraciki, pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de
Estudos Judaicos da UFRJ (NIEJ) e professor-tutor do curso a distância
de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
(UNIRIO), para elaborar uma lista comentada com referências
bibliográficas para aqueles que desejam iniciar os estudos no campo e/ou
compreender melhor os acontecimentos históricos que cercam Gaza, Israel
e o Oriente Médio de uma forma mais ampla. Listas, como sabemos, são
pessoais e limitadas. Por isso, longe de colocar um ponto final nas
leituras sobre o tema, o que tentamos aqui fazer é dar o pontapé inicial
em um debate acadêmico proveitoso, necessário e colaborativo. Por isso,
sinta-se a vontade para, nos comentários, sugerir livros e comentá-los.
Curta lista de livros para começar a entender o Conflito Árabe-Israelense
Por Leonel Caraciki*
Com
a recente escalada de violência entre o Hamas e Israel, é importante
ficar a par do conflito. Todavia, a leitura de notícias de jornal e
blogs ainda que bem vinda, dificilmente conseguiria dar conta dos mais
de sessenta anos de conflito entre palestinos e israelenses. Por isso, a
convite do Café História, decidi elaborar uma pequena lista de obras
importantes para começar a entender o conflito árabe-israelense.
Infelizmente o mercado editorial brasileiro não é muito forte nesta
área, então a maioria das obras está em inglês.
1. A
Muralha de Ferro: Israel e o Mundo Árabe de Avi Shlaim e Righteous
Victims: A History of the Zionist-Arab Conflict (1881-2001) de Benny
Morris
Livros
do estilo “história completa” no geral pecam por excesso de
generalizações e análises pouco profundas. Mas, quando bem escritos são
incontornáveis. Os livros de Avi Shlaim e Benny Morris são os mais
completos sobre o tema e acessíveis para o público em geral. Avi Shlaim
se debruça mais sobre as relações internacionais de Israel e Morris
privilegia os dilemas entre israelenses e palestinos. Ambos se
complementam, até mesmo nas suas visões políticas – ambos os autores são
parte do fenômeno conhecido como “nova historiografia” israelense, uma
tendência historiográfica que desde os anos 1980 procura desmontar a
“história oficial” do Estado de Israel.
Avi
Shlaim enfatiza a ideia que os governos israelenses deliberadamente
evitam fazer a paz com os palestinos e o mundo árabe. Benny Morris, por
sua vez, acredita que existe uma predisposição dos palestinos de
rejeitar a paz pois supostamente tem como objetivo o desmantelamento do
Estado de Israel.
2. Israel’s Occupation de Neve Gordon e Hollow Land: Israel’s Architecture of Occupation – Eyal Weizman
As
duas melhores obras para se entender como chegamos no momento atual da
relação entre Israel e os palestinos. As análises dos autores cobrem a
história da ocupação israelense em Gaza e Cisjordânia, mesclando com a
análise sociológica de Gordon e a mistura de arquitetura e antropologia
de Eyal Weizman, num livro que é intelectualmente riquíssimo e
provocante. No livro de Weizman, destaque para os capítulos 7 - “Urban
Warfare” e 9 - “Target Assassinations”. Pelo nível de dificuldade é aconselhável que o leitor já tenha alguma familiaridade com o tema.
3. A Questão da Palestina de Edward Said
Autor
do clássico “Orientalismo”, o crítico literário Edward Said escreveu “A
Questão da Palestina” em 1979, logo após os acordos de Camp David. Uma
obra de reflexão política de um intelectual engajado na questão
palestina, o livro permanece atual e polêmico.
4. The Palestinian Hamas de Shaul Mishal e Avraham Sela
A
obra mais completa sobre o Hamas. O livro analisa as dinâmicas internas
do movimento, focando nas suas contradições ideológicas e nas suas
estratégias para gerenciar o conflito com Israel. Os pesquisadores focam
boa parte do livro no ramo de caridade e trabalho social que o
movimento opera em Gaza, um ponto geralmente ignorado pelos analistas e
que ajuda a entender como o grupo se mantêm no poder.
5. The Palestinian People de Joel Migdal e Baruch Kimmerling e Palestinian Identity de Rashidi Khalidi
Poucas
obras captam a história do povo palestino de maneira tão rica quanto
estas duas obras. Baruch Kimmerling foi um sociólogo israelense de
altíssimo nível e o livro é uma de suas melhores obras. O livro de
Khalidi avança uma polêmica tese de que o nacionalismo palestino se
inicia ainda no século XIX, contrariando muitos trabalhos que situam sua
gênese no pós-Primeira Guerra Mundial ou mesmo após o êxodo de 1948.
Ambos são importantíssimos e devem figurar em qualquer bibliografia.
6. The Birth of the Palestinian Refugee Problem de Benny Morris
Um
clássico que redefiniu a interpretação do conflito. Entender a questão
atual sem ler sobre o êxodo que a Guerra de 1948 gerou entre a população
palestina é impossível. O livro de Morris foi escrito em 1988 e é
referência até hoje, tendo também uma versão expandida intitulada “The
Birth of the Palestinian Refugee Problem Revisited”. Esta última é mais
fácil de encontrar em livrarias.
7. Contra o Fanatismo de Amós Oz
Ao
fim de uma lista repleta de obras que pintam um cenário desolador para o
fim do conflito, certamente o leitor precisa de um alento. Contra o
Fanatismo reúne palestras do escritor israelense Amós Oz, conhecido por
sua militância pacifista. A mensagem honesta e clara está presente em
todas as páginas e inspira a utopia de uma paz possível entre os povos.
8. Para não ler: qualquer livro de Ilan Pappé ou Shlomo Sand
Infelizmente,
como em todos os campos intelectuais, no conflito árabe-israelense
também temos autores que não merecem ser lidos. Os livros de Ilan Pappé e
Shlomo Sand são repletos de distorções de documentos e interpretações
pouco honestas sobre o conflito, sendo pouco recomendados. Por alguma
razão possuem tradução para o português, apesar do consenso de que são
obras ruins. O livro “A Limpeza Étnica da Palestina” de Pappé é repleto
de erros factuais e de distorções documentais, sendo um estudo de caso
de como não escrever um livro sobre o assunto. Shlomo Sand por sua vez
tem pouco compromisso com um trabalho sério e prefere produzir
panfletos.
* Leonel Caraciki
é mestre em História pelo PPGHIS-UFRJ e pesquisador do Núcleo
Interdisciplinar de Estudos Judaicos da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Pesquisa sobre nacionalismo judaico e história das relações
internacionais. Atualmente é professor-tutor do curso de História a
Diastância da UniRio/CECIERJ e professor de História Judaica no Colégio
Israelita A.Liessin".
Fonte: Blog Café na História
Nenhum comentário:
Postar um comentário