Vai começar a eleição?
Ao se considerar a participação dos eleitores decididos, Dilma Rousseff tem maior proporção de votos "firmes" |
Marcos Coimbra, CartaCapital
O ex-governador Hélio Garcia, uma das mais
sábias raposas mineiras, sempre usava uma frase quando se avizinhava uma
eleição. “Vamos sem pressa, a eleição só começa depois da Parada”,
dizia. Referia-se ao 7 de Setembro, a partir de quando, segundo ele, o
cidadão finalmente se preocupava com o voto que depositaria na urna. Até
lá, nada de fundamental aconteceria.
A frase é boa, mas não inteiramente
verdadeira. Os estudos internacionais mostram: um expressivo contingente
de eleitores decide cedo, muito antes da reta final da eleição. E há
uma parcela que nem sequer se pergunta sobre o que vai fazer, pois
possui identidade partidária consolidada e apenas aguarda seu partido
indicar o candidato.
Nas pesquisas das
últimas semanas, cerca de 50% dos entrevistados se dizem decididos a
respeito do que fazer na eleição presidencial, seja lá por qual razão.
Tanto a simpatia e o sentimento de identificação quanto o ódio e a
rejeição podem provocar a cristalização de atitudes. “Voto sempre no
partido A”, “jamais votaria no partido B” e “não voto em ninguém” são
respostas típicas de quem logo se decide.
Ao se considerar a participação dos decididos entre os
eleitores dos principais candidatos, Dilma Rousseff, nota-se, tem a
proporção maior de votos “firmes”. Em seu caso, são dois terços, mais do
que o porcentual de Aécio Neves (que fica perto de 55%) e Eduardo
Campos (por quem estão decididos menos de 40% daqueles que dizem
pretender escolhê-lo). Convictos mostram-se também aqueles que asseguram
a intenção de votar em branco ou anular o voto: em cada cem eleitores
que assim se manifestam, 65 afirmam estar resolvidos.
A presidenta possui expressiva vantagem
entre quem está decidido a votar em algum nome (o “voto válido”, entre
eles): ela tem mais de 60% das preferências, Aécio menos de 30% e
Eduardo perto de 10%.
Chegamos, portanto, ao período de campanha com muita coisa
definida e muito por definir, sem que isso implique imaginar que os 50%
atualmente não decididos vão todos encontrar um nome em quem votar. Ao
contrário, como vimos em eleições passadas, entre esses costuma
predominar a tendência à alienação eleitoral: anular, votar em branco ou
não comparecer, o que se tornou mais comum depois da introdução do voto
eletrônico. Em 2010, por exemplo, mais de 25% dos eleitores assim
procederam. Neste ano, espera-se que ultrapassem esse patamar.
Estar decidido, claro, não quer dizer fechar os olhos a
tudo o que vai acontecer nos próximos meses. Salvo para os mais
ideológicos, a quem quase nada afeta, mesmo decisões sólidas podem ser
revistas, se fatos significativos ocorrerem. Não estar decidido, por sua
vez, não significa deixar de ter alguma intenção de voto: muitos desses
eleitores mostram clara inclinação a votar em alguém. São aqueles que
aparecem na diferença entre “voto espontâneo” e “voto estimulado” nas
pesquisas divulgadas.
Com a bela Copa do Mundo organizada pelo
Brasil, removeu-se um elemento de dúvida que perturbava a decisão de
muitos eleitores. Mas podemos ter certeza de que outros serão criados de
agora até outubro. A mídia oposicionista já mostrou, nas duas últimas
eleições, quão longe pode ir na produção de um noticiário negativo às
candidaturas do governo. Ela fica a postos até a última hora, sempre
pronta a entrar em campo para favorecer seus preferidos.
Nossa cultura
política parece achar positivo que o eleitor só se resolva quando não
lhe resta mais prazo. Inventamos duas teorias despropositadas: a noção
de “propaganda eleitoral antecipada”, que limita a movimentação dos
candidatos aos três meses que antecedem a eleição, e a instituição da
“propaganda eleitoral gratuita”, que despeja doses maciças de
comunicação política sobre os eleitores nas últimas seis semanas antes
da eleição.
E ainda temos anacronismos como as pesquisas escandalosas
que a “grande imprensa” trombeteia em manchetes garrafais e o célebre (e
ridículo) “debate na Globo”, feito na antevéspera da eleição para
assustar candidatos e deixar na expectativa os eleitores.
Nada de bom pode nascer dessa mistura de mídia
manipuladora, campanha cerceada e exacerbação publicitária. Mas existe o
povo que costuma conseguir, apesar de tudo, fazer valer a sua
preferência. Ainda bem."
Fonte: Blog Brasil, Brasil.
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