As candidaturas na pista de decolagem
Por Luciano Martins Costa
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 22/7/2014
A denúncia de que o senador Aécio Neves (PSDB), quando governador de
Minas Gerais, aprovou a criação de um aeroporto com dinheiro público em
terreno pertencente a um tio, no município de Claudio, mantido até hoje
sob controle privado de sua família, representa um teste para a mídia
tradicional na cobertura da disputa eleitoral.
Esse desafio se manifesta na necessidade de dar ao noticiário um
aspecto de equilíbrio, enquanto se tenta condicionar as opiniões em
favor deste ou daquele candidato. No caso da obra pública que se mantém
em mãos particulares quatro anos depois de concluída, os jornais se veem
obrigados a publicar a sequência dos fatos que surgem naturalmente,
como decorrência da guerra midiática que caracteriza a luta nas urnas.
Na terça-feira (22/7), os leitores ficam sabendo, por exemplo, que a
empreiteira encarregada de construir a pista de 1 quilômetro por 30
metros de largura foi doadora da campanha de Aécio Neves em 2006, quando
se reelegeu governador.
Nas redes sociais, ativistas do Partido dos Trabalhadores engajados na
batalha por corações e votos comparam o custo do aeródromo com
aeroportos mais sofisticados homologados recentemente pela Agência
Nacional de Aviação Civil e afirmam que a obra em Minas foi
superfaturada. Os jornais ainda não enxergaram esse aspecto da questão.
Os indícios de irregularidade podem levar o Ministério Público de Minas a
investigar a possibilidade de improbidade administrativa durante o
governo de Aécio Neves.
Tudo isso faz parte do noticiário deste período pós-Copa, em que os
partidos preparam o material que deverá ser levado à televisão e ao
rádio a partir do dia 19 de agosto. Esse será o ponto que poderá
consolidar ou alterar tendências no curto espaço de menos de dois meses
até a votação em primeiro turno. Por esse motivo, o noticiário das
próximas semanas terá uma importância fundamental nas pesquisas que irão
anteceder a campanha propriamente dita, aquela que ocupa os meios de
comunicação massivos.
Preparando a largada
A presidente Dilma Rousseff, que lidera as pesquisas de intenção de
voto, tem como desafio maior chegar ao início da campanha propriamente
dita com essa vantagem intocada, para manter a tendência. Ao contrário
da eleição de 2010, quando iniciou a campanha sob intenso bombardeio da
imprensa, que lançou mão até mesmo de facções religiosas para mantê-la
na defensiva, agora sua grande dificuldade vem da economia, que
apresenta indicadores preocupantes, manipulados diariamente pela mídia
dominante.
Quanto ao outro candidato da oposição, o senador Eduardo Campos (PSB),
seu dilema é diferente: ele precisa demonstrar que representa de fato
uma alternativa aos dois polos em que se tem encalacrado a política
nacional. Para isso, necessita de maior protagonismo de sua vice, a
ex-senadora Marina Silva, que teve 19,33% dos votos no primeiro turno
das eleições de 2010, quando foi candidata a presidente pelo Partido
Verde.
Os jornais não parecem acreditar muito nas chances da dupla, e nas
entrelinhas colocam em dúvida seu potencial para produzir as mudanças
que a campanha promete. O discurso heterodoxo da ex-senadora e
ex-ministra, comparado com a linguagem típica da politica tradicional, é
tema de anedotas entre jornalistas, e eventualmente uma dessas blagues
sai na imprensa.
Por exemplo, na terça-feira (22) a coluna “Painel”, da Folha de S. Paulo,
comenta que, na inauguração do comitê central da campanha, Marina Silva
teria dito que o comitê “será um polo estabilizador (...) para realizar
a agregação dispersiva”.
Os coordenadores de campanhas – e os editores – sabem que começar a
etapa mais intensa da propaganda eleitoral sob pressão da mídia
representa uma perigosa desvantagem, porque o candidato em questão terá
que gastar o tempo se defendendo, o que atrapalha a estratégia e emite
sinais de fragilidade.
Por isso, o candidato que está hoje sob o olhar crítico do eleitorado
precisa se mover rapidamente para uma posição mais confortável, e para
isso tem que contar com a boa vontade da imprensa. Portanto, vale a pena
observar por quanto tempo os jornais vão manter em evidência o caso do
aeroporto da família Neves.
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