ICIJ ordena embargo, define jornalistas e impõe restrições a dados do HSBC
Entenda como o seleto grupo de jornalistas do ICIJ foi formado dentro do Consórcio e como as regras são impostas
Jornal GGN - O periódico argentino La Nacion, reconhecido por destacada equipe de jornalistas de dados, publicou sua primeira reportagem sobre as contas secretas do HSCB na Suíça no dia 9 de fevereiro. Nela, o jornal revela como o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) restringiu a um seleto grupo o poder sobre os dados, e como controla a divulgação de todas as informações que são publicadas por esses jornalistas.
Acostumada a divulgar em sua plataforma online a base completa de dados, o La Nacion é um dos pioneiros, depois dos veículos norte-americanos, a formar uma equipe especializada de redação para trabalhar com dados, consolidada na integração afinada entre o repórter e o programador. O resultado, além de infográficos completos e inovadores, é o cruzamento de informações para se chegar a notícias e conclusões inéditas.
Ao contrário da lógica da competitividade tradicional do mercado de comunicação, o valor da informação no jornalismo de dados não está no seu sigilo ou exclusividade, mas no compartilhamento, para que mais bancos de dados possam ser acessados e cruzados, e mais notícias descobertas.
Essa forma própria, seguida até então pelo La Nacion, não foi repetida no caso SwissLeaks.
De acordo com a reportagem argentina, em julho de 2014, os coordenadores do Consórcio convocaram os jornalistas membros, informando-os que teriam acesso a dezenas de milhares de contas bancárias do HSBC, vazadas pelo técnico de informática Hervé Falciani. Em setembro, reuniram-se apenas aqueles que participariam do grupo menor de membros do ICIJ:
“Todos estavam lá, como membros do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), ao qual só pode se ingressar pela escolha de seus membros atuais. Na redação do Le Monde, foram acordadas algumas orientações sobre como o grupo iria avançar a investigação e determinadas datas-chave”.
Uma dessas datas foi marcada para a primeira e segunda semana de fevereiro de 2015. A partir dos dias que se seguiram, os jornalistas de La Nacion mergulharam em 3,3 gigabytes de documentos, que necessitou de seis meses de trabalho.
A escolha de um grupo que contasse com veículos de todo o mundo, segundo o La Nacion, foi a forma que o ICIJ encontrou para que as informações previamente filtradas pelo Consórcio tivessem mais força internacional. O que foi visto, por exemplo, nas primeiras publicações de Fernando Rodrigues, no Uol, que foram a mera tradução de reportagens estrangeiras.
Diante das informações vazadas para a Administração Federal de Ingressos Públicos (AFIP), com posse das contas de argentinos no HSBC, e a consecutiva divulgação seletiva pelo Governo argentino de nomes de correntistas, o jornal solicitou que publicasse algumas reportagens antes do combinado. A resposta foi negativa: “o que deve ser respeitado em termos jornalísticos é chamado de ‘embargo’. Ou seja, esperar até uma determinada data para publicar conjuntamente todos os dados”.
“Este foi um compromisso inicial e é o que lhe pedimos ainda que em circunstâncias urgentes”, respondeu ao La Nacion uma diretora do ICIJ.
A política editorial do La Nacion, a exemplo do que ocorreu aqui no Brasil com o blog do Fernando Rodrigues, foi escolher, a partir de agora, publicar apenas as contas secretas ligadas a figuras públicas ou grandes empresários argentinos.
A reportagem do periódico argentino revelou que a escolha calculada das datas, do que seria publicado e dos membros do ICIJ que integram a equipe que está analisando as contas secretas do HSBC foram decisões concentradas de poucas
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