Ucrânia: Paz armadilhada
Um ano depois do golpe de Estado das forças fascistas em Kiev, promovido e financiado pelos EUA e pela União Europeia (UE) – na sequência da recusa do governo legítimo da Ucrânia em assinar o acordo de associação com a UE, em novembro de 2013 –, os confrontos entre golpistas e independentistas deixaram no terreno um rasto de morte e destruição que não será fácil de apagar.
Por parte de Kiev, é notória a tentativa de omitir das medidas a implementar as que contemplam as reivindicações das autoridades das Repúblicas de Donetsk e Lugansk, designadamente o seu estatuto, fato tanto mais preocupante quando se sabe que algumas dessas medidas têm de passar pela Rada Suprema (Parlamento) onde contam com a oposição já assumida das forças da extrema-direita. Já a UE, com a hipocrisia habitual, nem esperou pela entrada em vigor do cessar-fogo, à meia-noite de domingo (15), para implementar o novo pacote de sanções contra entidades russas e de Donetsk e Lugansk.
Nos EUA, por seu turno, Obama mantém em cima da mesa “todas as opções”, enquanto o G7 (Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos), acolitado pelos presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, fez saber no dia 13 que aprova o “pacote de medidas para a realização dos acordos de Minsk”, acrescentando de seguida que “está pronto para aplicar medidas oportunas” contra os que o violarem, em “especial contra aqueles que não observarem o total cessar-fogo e a retirada de armamentos pesados”.
Curiosamente, esta declaração surge um dia depois de o canal de TV alemão ZDF, citando “o porta-voz do exército ucraniano Andrei Lysenko, em Kiev”, ter divulgado uma “notícia” sobre o alegado movimento de tanques e sistemas de mísseis russos para o Leste da Ucrânia, e mostrado uma imagem com a legenda “veículos blindados russos dirigem-se através de Isvarino, na região de Lugansk, 12 de fevereiro de 2015”. Sucede que, segundo informa o Deutsche Wirtschafts Nachrichten, a imagem é da Ossétia do Sul e foi tirada em 2009, como prontamente denunciou a Comissão Permanente Aberta de Monitorização da Mídia, que apresentou uma queixa contra o ZDF por divulgação de informações falsas sobre a situação no Leste da Ucrânia.
Num contexto tão armadilhado como este.
Não é de estranhar que as autoridades das Repúblicas de Donetsk e Lugansk tenham declarado no dia 16 de fevereiro, através de um comunicado conjunto dos seus representantes em Minsk, Denis Puchilin e Vladislav Deinego, que “qualquer movimento de Kiev em direção à Otan ou de qualquer outra aliança militar anti-russa é inaceitável para nós. Nesse caso romperemos imediatamente a colaboração com Kiev e consideraremos os acordos de Minsk como nulos”.
Fonte: Jornal Avante
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