Fernando Rodrigues: o álibi para sentar em cima da informação

Jornalista joga nas costas do governo federal a responsabilidade pela apuração jornalistica
 
Jornal GGN - Fernando Rodrigues respondeu em seu blog o motivo de não ter divulgado a lista de nomes envolvidos com as contas secretas do caso conhecido como Swiss Leaks. "Quais nomes e contas bancárias serão divulgados? Em primeiro lugar, os que tiverem interesse público, e, portanto, jornalístico. Em segundo lugar, todos sobre os quais se puder provar que existe uma infração relacionada ao dinheiro depositado no HSBC na Suíça", publicou, duas horas depois de o GGN questionar, em reportagem, o silêncio das informações em suas mãos.
 
O jornalista do Uol iniciou a publicação informando os dados, divulgados aqui, sobre os mais de 8 mil correntistas da filial do banco em Genebra com algum tipo de vínculo ao Brasil. Divulgou que as movimentações de cerca de R$ 20 bilhões ocorreram entre 2006 e 2007. E frisou, reiteradamente, que o responsável pela não publicação dos dados era o governo brasileiro. 
 
"Não há interesse da administração pública federal comandada pela presidente Dilma Rousseff em apurar o que ocorreu", afirmou. E justificou na "minoria de pessoas conhecidas" a denúncia do GGN sobre a falta de citação de nomes em suas quatro publicações até então – sendo 3 traduções de materiais estrangeiros e apenas uma com dados escassos sobre as ligações com o Brasil.
 
Ao contrário do posicionamento adotado pelos jornalistas do mesmo grupo ICIJ do mundo inteiro, com alguns exemplos apresentados pela reportagem, de trazer publicidade a nomes de correntistas com envolvimento na política, grandes empresários, realeza e figuras públicas, Fernando Rodrigues explicou que a política editorial do seu blog e do Uol é de que a lista completa "nunca será publicada", pois "seria uma invasão de privacidade indevida no caso de pessoas que podem ter aberto contas no exterior de boa fé, respeitando a lei e pagando impostos".
 
A importância de se dar divulgação a esses nomes "não é baseada na curiosidade em conhecer os segredos dos milionários", já afirmara os jornalistas chilenos Francisca Skoknic e Juan Andrés Guzmán. O impacto desses dados vai além. 
 
"Este projeto de jornalismo internacional – que participam mais de 140 jornalistas de 45 países – busca trazer luz sobre o dinheiro depositado na Suíça, uma jurisdição utilizada pelo alto sigilo sobre os ativos, que os protege e, em particular, sobre os clientes do HSBC, o banco que já foi objeto de uma investigação do Senado dos EUA que revelou que tem sido usado para proteger os fundos de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, entre outras irregularidades. Além disso, um grande número de contas estão ligados ao uso de empresas sediadas em paraísos fiscais, uma das maneiras mais comuns de esconder quem são os verdadeiros donos”, completaram os jornalistas investigativos que divulgaram nomes e sobrenomes do alto patrimônio chileno.
 
Ao invés de esperar uma resposta, em nome de uma suposta ética editorial, o trabalho de propagação do restante dos jornalistas move, como consequência, o impacto direto na pressão aos governos, o que está permitindo recuperar centenas de milhões de dólares em impostos não pagos. 
 
Mas, apesar de informar em seu blog o interesse em não invadir a "privacidade indevida" no caso de pessoas de "boa fé", minutos depois Fernando Rodrigues publicou outro artigo com os primeiros nomes, ainda sem ter a resposta da ilegalidade de tais contas: "doleiro e empreiteiros da Lava Jato tinham conta secreta no HSBC da Suíça". 
 
Os dados do Brasil sobre o que pode ser o maior esquema de rombo fiscal no mundo estão nas mãos de um único jornalista, que deixou claro os critérios para vazar os dados: os que tiverem "interesse público". Interesse de que público.