Moody’s não faz análise, faz política
A mídia vibra: a agência Moody’s rebaixou o grau de investimento da Petrobras ao nível especulativo. O jornal O Estado de S. Paulo comemora em editorial publicado nesta quinta-feira (26) : “a Petrobrás foi humilhada mais uma vez ao ser rebaixada ao grau especulativo”. Míriam Leitão mal esconde seu entusiasmo em O Globo (26): “Governo ignorou todos os alertas sobre erros na empresa”.
Mas o que significa este rebaixamento? As agências de classificação de risco teoricamente seriam capazes de prever, com base em estudos detalhados, qual o melhor investimento para seus clientes. Se isso, no entanto, fosse a estrita verdade, tanto a Moody’s quanto a maioria das agências de classificação já teriam sucumbido por absoluta falta de credibilidade graças ao imenso número de erros de avaliação. O que as sustenta é o papel político que cumprem, sempre a favor do capital financeiro e dos monopólios dos países imperialistas.
Moody’s e o “caso Eron”
A Enron Corporation era uma companhia de energia estadunidense que empregava 21 mil pessoas. Faliu espetacularmente em 2001, deixando atrás de si uma dívida de US$ 25 bilhões de dólares. Até cinco dias antes da falência a Moody’s recomendava (vamos ver quem acerta):
a) Vendam urgentes seus papéis da Enron que a chapa tá quente!
b) Cuidado ao investir na Eron que achamos que o bicho pegou.
c) Fiquem tranquilos. Que preocupação é essa? A Eron é investimento seguro!
Acertou o arguto leitor que escolheu a opção c. Dias antes da falência a Moody’s atribuía à Enron um dos mais altos graus de avaliação, bem melhor do que atribui agora a Petrobras. Mas - inquirirá o leitor arguto - será este apenas um caso isolado?
Moody’s e o “caso Lehman Brother’s”
O gigante financeiro Lehman Brothers Holding quebrou no dia 15 de setembro de 2008, no que foi a maior falência da história americana. No dia 17 de março do mesmo ano, a Moody’s afirmava por escrito que “o Lehman continuará obtendo níveis aceitáveis de lucros trimestrais”. Na manhã em que o LB quebrou a agência classificava o banco com nota “A” (grau de investimento seguro, o mesmo que a Enron tinha). Mas pode ser que o leitor arguto, que talvez seja um tantinho exigente, ache ainda que estes dois casos não bastam.
Moody’s e o “caso Islândia”
Em 2007 a Moody’s considerava a Islândia um país modelo em termos de solidez econômica, tanto que tomou a decisão de elevar as notas dos três principais bancos do país para o “triplo A”, maior grau de segurança de investimento possível. O “AAA” é considerado um investimento tão seguro, mas tão seguro, que o redator do Notas Vermelhas confessa sua incompetência para expressar isso em texto. No entanto, o “AAA” da Moody’s não impediu que menos de um ano depois os três bancos falissem arrastando com eles todo o sistema financeiro e o próprio país cuja economia foi à bancarrota.
Moody’s e a mãe Edna
A diferença entre as previsões destas agências de avaliação e as previsões da vidente “D. Edna - feiticeira da encruzilhada” é que pegaria mal para um jornal como o Estadão, defensor dos valores da família ocidental e cristã, estampar em manchete: “Mãe Edna rebaixa grau de investimento da Petrobras e traz seu amor de volta em três dias”. Só não afirmo que as previsões da Moody’s e da mãe Edna são iguais porque a Edna não está interessada na derrocada da Petrobras para entregar as riquezas do pré-sal para as multinacionais que, provavelmente, ainda não financiam esta prestativa vidente.
José Serra superando expectativas
O tucano duas vezes derrotado pelo campo popular, senador José Serra (PSDB-SP), comete hoje, no jornal O Estado de S. Paulo, um artigo onde critica o investimento do PT em saúde. Como não consegue confrontar os R$ 28 bilhões que eram gastos em 2002 (último ano do governo tucano) com os mais de R$ 100 bilhões que são gastos atualmente, recorre a prestidigitação estatística. Vejam que pérola: “durante o segundo governo FHC a taxa de crescimento dos gastos reais no setor correspondeu ao dobro da taxa de crescimento do PIB, enquanto na era petista essa proporção caiu à metade”. A comparação é absurda, e Serra sabe disso, já que o PIB do Brasil, “na era petista”, mais do que triplicou em relação à “era tucana” (passou de 1,48 trilhões em 2002 para 4,84 trilhões em 2013). Além disso, porque só “durante o segundo governo FHC” comparado com toda a “era petista”? Ou Serra quer insinuar que a saúde só existiu no governo FHC no período em que ele era ministro da saúde? Quando foi Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão no primeiro mandato de FHC a saúde era ignorada por ele e pelo governo FHC? Serra compare todo a era tucana com toda a “era petista”. Mas quem ficou espantado com o nível do argumento não conhece Serra que sempre consegue fazer pior. Veja a nota abaixo.
José Serra e a crença dos estúpidos
Serra também argumenta que “é significativo lembrar que no final do governo FHC 14 de cada 15 brasileiros não consideravam a saúde o principal problema do país”. Não consideravam a saúde o principal problema já que muitos estavam desempregados e quem está desempregado considera em primeiro lugar esse fato. Todas as pesquisas de 2002 sobre as expectativas do eleitorado mostram que na época o desemprego era o principal problema. Isso e, também, entre outras coisas, a melhora da saúde pública. Mas o Serra confia muito na teoria do seu eleitor, William Bonner, editor e apresentador do Jornal Nacional, para quem os telespectadores do jornal são criaturas destituídas de raciocínio crítico, como o personagem de desenho animado Homer Simpson. Só isso explica que depois de uma argumentação baseada na manipulação indecorosa de dados seja o próprio Serra que critique aqueles que pensam que “a aritmética é fruto da vontade política”, e alerta para o risco “da verdade da aritmética ser substituída pela crença dos estúpidos”. Serra, não seja tão pessimista. Afinal, a “crença dos estúpidos” já foi derrotada pelo menos duas vezes pelo povo. 2002 e 2010 são bons exemplos.
Folha e Estadão preservam Eduardo Cunha
“O diabo mora nos detalhes”. Esta frase era muito repetida pelas nossas vovós. E com razão. Nossas vovós eram muito inteligentes. Não é por acaso que seus netos e netas são leitores e leitoras do Portal Vermelho. O problema é que os proprietários dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo também tiveram avós, por incrível que pareça. Achamos até que devem ter sido criados por elas e assim também ouviam a mesma frase e usam isto para manipular a informação. Por exemplo, os dois jornalões noticiam nesta quinta-feira (26) que os cônjuges dos parlamentares da Câmara terão passagens pagas com dinheiro público. Ora, esta foi uma das promessas que o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) fez para viabilizar sua eleição como presidente da Câmara. Mas a notícia, que joga água no moinho da rejeição à política, preserva o aliado. Reparem nos textos, não foi Eduardo Cunha que autorizou a medida, foi “o comando da Câmara”. Quando a Câmara instalou a "CPI da Petrobrás", Folha e Estadão, eufóricos, não atribuíram o fato ao "comando da Câmara", mas sim ao presidente, que é de fato o responsável pelas principais decisões da mesa diretora. Registre-se que neste caso das passagens o jornal O Globo deu nome ao autor da iniciativa na matéria em que aborda o tema e ainda informou que foi “promessa de campanha”. Com certeza uma falha no “controle de qualidade”. Alguém vai ser demitido.
Financial Times entra no coro do golpe
Porta voz da banca internacional, o Financial Times “listou” dez motivos para um impeachment de Dilma. O artigo, assinado pelo editor-adjunto de mercados emergentes do jornal, Jonathan Wheatley, diz que até mesmo “alguns petistas se voltaram contra a presidente”. Quem reproduz com alegria a sucessão de bobagens é a Folha de S. Paulo desta quinta-feira (26). O Financial Times é aquele jornal que em 2013, usando fotos do google maps, atribuiu ao ex-presidente Lula a propriedade de imóveis que nunca pertenceram ao petista. Devem usar o mesmo manual de jornalismo da Folha, que usa o mesmo manual de jornalismo de Ali Kamel, que usa... Chega por hoje!
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