Segundo turno indigesto na Argentina
Por Emir Sader, na Rede
Brasil Atual:
A euforia parecia excessiva. As pesquisas colocavam a Scioli sempre perto
ou já nos 42%, enquanto deixavam a Macri sempre abaixo dos 30%. As esperanças da
oposição se cifravam nas famosas margens de erro – os dois pra lá, dois pra cá
–, e em denúncias de última hora típicas da direita, de supostas espionagens do
governo contra candidatos da oposição e, mais até, no voto útil, que poderia
transferir votos de Augusto Massa, terceiro colocado, para Macri, tentando
impedir a aparentemente provável vitória de Scioli no primeiro turno.
O clima era tal, que Scioli anunciou quase que o seu ministério inteiro – incluídos os cargos mais importantes, da área econômica. Mesmo que fosse com a intenção de que, seguro de todos os votos do kirchnerismo – não houve, oficialmente, defecções nessa área –, buscar apoios no centro, com ministros moderados, o resultado era consolidar um certo salto alto no final da campanha.
Os resultados foram surpreendentes, de todos os pontos de vista. Em primeiro lugar, porque Scioli ficou longe do que as pesquisas apontavam, tendo perdido votos em relação às previas – chamadas Paso – de agosto. Em segundo lugar, Macri subiu significativamente. E, em terceiro Massa até subiu um pouco sua votação e, portanto, não foi o voto útil o que impulsionou a subida de Macri.
Para completar o quadro, embora houvesse divergências nas pesquisas, várias davam oito pontos a favor de Anibal Fernandes – quadro de combate da primeira linha do kirchnerismo – para dar continuidade à já histórica direção da província de Buenos Aires pelo kirchnerismo.
Aqui, a derrota – eleição em um único turno – foi mais dolorida ainda, para uma jovem candidata do partido de Macri. A derrota na província dirigida por Scioli – que respondia por grande parte da sua popularidade nas pesquisas ao longo dos anos – pode apontar para um governo com problemas, mas também o candidato kirchnerista suscita rejeições. Mas é uma derrota grave, qualquer que seja o resultado do segundo turno nacional e, mesmo para este, um ponto de apoio forte para Macri.
No interior, também houve outras derrotas dos candidatos ligados a presidenta Cristina, consolidando um quadro político de fortalecimento da direita argentina, em suas várias facções.
É cedo ainda para uma análise mais de fundo dos fatores desse surpreendente resultado, mas se pode prever que a projeção para o segundo turno muda. Antes, ainda que Scioli não ganhasse no primeiro turno, sairia como favorito para o segundo. Partiria de uma boa diferença em relação a Macri, fator que desapareceu.
Em segundo lugar, os votos de Massa, sendo ele peronista, não se transfeririam com facilidade para Macri. Agora porém, com o novo clima político, é preciso ver como isso se dará. A oposição sai muito animada para derrotar o kirchnerismo, pode favorecer um apoio aberto ou implícito de Massa a Macri.
Por outro lado, podem começar cedo os acertos de conta dentro da candidatura de Scioli. Ele nunca contou com a simpatia da esquerda do kirchnerismo, em especial do seu setor mais dinâmico – o camporismo, dirigido por Massimo, o filho de Cristina. Outros dirigentes tampouco o viam com bons olhos, considerando-o um oportunista, que tomaria caminhos distintos depois da vitória. A derrota de Anibal Fernandes na província de Buenos Aires também pode fortalecer suspeitas de que adeptos de Scioli não fizeram campanha por ele, para não ter no segundo cargo mais importante da nação um kirchnerista fiel, além do vice-presidente da República.
O ânimo da militância kirchnerista também vai ficar muito afetado, desconcertado, com um resultado para o qual não estavam preparados. A conhecida tendência dos hermanos de passar da euforia à depressão pode ter um efeito negativo, ainda mais que são apenas quatro semanas até o segundo turno, em 22 de novembro, tempo curto para curar feridas e recobrar ânimos.
Um balanço mais preciso necessita esperar os resultados deste que é o mês mais nervoso e tenso da história argentina recente.
O clima era tal, que Scioli anunciou quase que o seu ministério inteiro – incluídos os cargos mais importantes, da área econômica. Mesmo que fosse com a intenção de que, seguro de todos os votos do kirchnerismo – não houve, oficialmente, defecções nessa área –, buscar apoios no centro, com ministros moderados, o resultado era consolidar um certo salto alto no final da campanha.
Os resultados foram surpreendentes, de todos os pontos de vista. Em primeiro lugar, porque Scioli ficou longe do que as pesquisas apontavam, tendo perdido votos em relação às previas – chamadas Paso – de agosto. Em segundo lugar, Macri subiu significativamente. E, em terceiro Massa até subiu um pouco sua votação e, portanto, não foi o voto útil o que impulsionou a subida de Macri.
Para completar o quadro, embora houvesse divergências nas pesquisas, várias davam oito pontos a favor de Anibal Fernandes – quadro de combate da primeira linha do kirchnerismo – para dar continuidade à já histórica direção da província de Buenos Aires pelo kirchnerismo.
Aqui, a derrota – eleição em um único turno – foi mais dolorida ainda, para uma jovem candidata do partido de Macri. A derrota na província dirigida por Scioli – que respondia por grande parte da sua popularidade nas pesquisas ao longo dos anos – pode apontar para um governo com problemas, mas também o candidato kirchnerista suscita rejeições. Mas é uma derrota grave, qualquer que seja o resultado do segundo turno nacional e, mesmo para este, um ponto de apoio forte para Macri.
No interior, também houve outras derrotas dos candidatos ligados a presidenta Cristina, consolidando um quadro político de fortalecimento da direita argentina, em suas várias facções.
É cedo ainda para uma análise mais de fundo dos fatores desse surpreendente resultado, mas se pode prever que a projeção para o segundo turno muda. Antes, ainda que Scioli não ganhasse no primeiro turno, sairia como favorito para o segundo. Partiria de uma boa diferença em relação a Macri, fator que desapareceu.
Em segundo lugar, os votos de Massa, sendo ele peronista, não se transfeririam com facilidade para Macri. Agora porém, com o novo clima político, é preciso ver como isso se dará. A oposição sai muito animada para derrotar o kirchnerismo, pode favorecer um apoio aberto ou implícito de Massa a Macri.
Por outro lado, podem começar cedo os acertos de conta dentro da candidatura de Scioli. Ele nunca contou com a simpatia da esquerda do kirchnerismo, em especial do seu setor mais dinâmico – o camporismo, dirigido por Massimo, o filho de Cristina. Outros dirigentes tampouco o viam com bons olhos, considerando-o um oportunista, que tomaria caminhos distintos depois da vitória. A derrota de Anibal Fernandes na província de Buenos Aires também pode fortalecer suspeitas de que adeptos de Scioli não fizeram campanha por ele, para não ter no segundo cargo mais importante da nação um kirchnerista fiel, além do vice-presidente da República.
O ânimo da militância kirchnerista também vai ficar muito afetado, desconcertado, com um resultado para o qual não estavam preparados. A conhecida tendência dos hermanos de passar da euforia à depressão pode ter um efeito negativo, ainda mais que são apenas quatro semanas até o segundo turno, em 22 de novembro, tempo curto para curar feridas e recobrar ânimos.
Um balanço mais preciso necessita esperar os resultados deste que é o mês mais nervoso e tenso da história argentina recente.
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