Cinco economistas no deserto, por André Araújo
Cinco economistas no deserto, por André Araújo
O Programa Roda Viva de ontem, na TV Cultura, discutiu a crise econômica brasileira. Cinco economistas foram convocados: Bresser Pereira, Luis Gonzaga Belluzo, Marcos Lisboa, Samuel Pessoa e Amir Khair, todos economistas veteranos de nomeada, largamente conhecidos do público.
Ninguém esteve de acordo com ninguém, diagnósticos completamente diferentes, visões de processos e de movimentos que nada tinham a ver um com outro. Bresser como sempre um pouco confuso, Belluzo fazendo outro tipo de confusão, Pessoa com visão sociológica vendo pactos do povo consigo mesmo, Lisboa com todo o vestuário intelectual neoliberalíssimo, Khair foi o mais curto e preciso, na minha visão o melhor debatedor da noite.
Nenhum deles teve propostas simples e claras para a crise econômica brasileira porque são economistas mais acadêmicos que operacionais, embora alguns tivessem tido cargos de comando com avaliações contraditórias.
Na minha visão o grande dirigente de economia deve ser um político de alta categoria e não um economista, aliás esse é o conceito americano, onde muito raramente o Secretário do Tesouro, equivalente ao nosso Ministro da Fazenda, é um economista, são quase sempre empresários, advogados ou executivos. O único economista profissional no período recente foi Lawrence Summers, que todavia era menos acadêmico e mais operador com experiência diversificada.
No Brasil grandes Ministros da Fazenda, com comando operacional de soluções rápidas e sólidas foram, por exemplo, Oswaldo Aranha, Ministro nas décadas de 30 e 50, sem ser economista; Horácio Lafer, industrial, Ministro do segundo Governo Vargas; Sebastião Paes de Almeida, comerciante, Ministro de JK.
Comandante da economia é 90% capacidade de operação política e 10% conhecimento teórico.
Khair atacou o nervo de forma precisa: a conta de juros da dívida publica é muito mais importantes do que o déficit primário, a conta de juros é sete vezes maior que o ajuste fiscal de que tanto se fala e ninguém fala na absurda conta de juros.
As taxas de juros praticadas pelos bancos brasileiros são, na média (ele trouxe dados estatisticos), ONZE vezes maiores que a inflação, enquanto nos EUA, União Europeia e Japão o custo do dinheiro está menor que a inflação.
Segundo Khair as taxas de juros são o verdadeiro freio ao crescimento econômico e induzem a recessão.
Bresser dá importância quase total à abertura excessiva e mal feita da economia no Governo Collor secundada pela globalização financeira do Governo FHC. Belluzo dá importância capital à taxa de câmbio. Pessoa falou um disparate ao comentar a importância que Bresser dá à industria, disse que a industria não é assim tão importante, Lisboa vê tudo tão ruim que é melhor os brasileiros se suicidarem, está tudo uma tragédia, é o diapasão dos economistas de mercado.
Na verdade a economia brasileira está muito longe de estar tão ruim como essas análises apontam. Com reservas cambiais de 370 bilhões de dólares, maior exportador de soja e carne do mundo, bovina, aviária e suína, com gigantescos recursos naturais, o Brasil tem um economia desajustada que todavia tem fatores muito melhores que nas crises do passado, que foram resolvidas sem que o País deixasse de existir. Ao contrário, nas crises do passado o Brasil cresceu nas médias dentro das décadas mesmo com deficiências muito superiores às de hoje, a economia de 46 a 85 nunca perdeu o dinamismo.
O que vemos agora é uma campanha de auto flagelação e de negativismo que não havia nas crises anteriores e essa é a grande dificuldade de retomada do crescimento. A campanha interna alimenta a campanha externa, nós mesmo fornecemos os argumentos para sermos atacados pela mídia e pelo mercado financeiro internacional, quando no mundo vemos crises muito maiores do que a nossa sendo administradas com mais "molejo" e mais auto confiança, que por aqui desapareceu.
Definitivamente, o problema de nossa economia é, antes de mais nada, psicológico e político, os economistas não tem muita contribuição a dar neste cenário.
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