Para entender o caso Brasif-FHC
A coluna abaixo foi publicada na Folha,
em 21 de março de 2006, quando a Brasif resolveu vender suas operações
para uma empresa suiça. A Brasif foi apontada pela jornalista Mirian
Dutra como a empresa através da qual Fernando Henrique Cardoso garantia a
suplementação da sua (de Mirian) renda no exterior.
1. Todas as lojas da Brasif eram
concessões obtidas nos anos anteriores na Infraero - foram concessões
públicas entregues de graça à empresa. E concessões únicas junto à
Secretaria da Receita federal.
2. O valor atualizado (em reais) dos US$
100 mil remetidos por FHC é de R$ 357 mil (supondo 1 dólar = 1 real).
Provavelmente FHC não terá dificuldade em comprovar a posse desse valor e
a maneira como a saída foi declarada em seu Imposto de Renda.
3. Se se for aplicar a FHC a mesma
métrica com que o Ministério Público Federal mede Lula, se terá as duas
pontas de forma muito mais nítida: uma empresa que envia dinheiro para
uma jornalista, a pedido de FHC; e a mesma empresa sendo beneficiada por
privilégios únicos em sua atividade.
Aqui a coluna de 23 de março de 2006, com as explicações da Brasif para os privilégios que obteve.
A Brasif explica
Jonas Barcellos é
um mineiro maneiro, simpático. 69 anos, dono da Brasif, que desde o
início dos anos 80 controla o "free shop" dos principais aeroportos
brasileiros. Jonas entra em contato para tentar esclarecer o
questionamento de ter vendido para uma empresa suíça, a Duty, por US$
250 milhões, uma empresa cujo maior "goodwill" são os privilégios
fiscais, já que a grande fonte de faturamento é a concessão para vender
produtos isentos de impostos nos aeroportos internacionais brasileiros.
Sua intenção é aplicar o dinheiro em projetos alcoolquímicos, seguindo
as recomendações do conselheiro da empresa, Eliezer Baptista.
Vamos entender um
pouco mais do negócio Brasif. Em quase todos os aeroportos
internacionais brasileiros ela tem o monopólio ou quase monopólio das
vendas de "free shops".
Segundo o diretor
jurídico Cyro Kurtz, não haveria monopólio nem contrato de concessão.
São duas peças separadas. Uma delas, atos declaratórios da Secretaria da
Receita Federal, outorgando autorização para importar sem Imposto de
Importação e sem IPI -de acordo com o decreto-lei 1.455/ 76.
Outra, a locação
do espaço nos aeroportos, por meio de contratos de cessão de uso de área
pela Infraero. Só que são locais especialíssimos, já que os únicos que
ficam antes da alfândega e onde os viajantes podem comprar até US$
500,00 em produtos sem impostos. Kurtz diz que a isenção não é da
Brasif, mas do passageiro -de qualquer modo, ele só poderá exercer em
loja Brasif.
Garante também
que não houve privilégio na outorga, porque houve licitação. Mas não
houve concorrentes nas licitações em São Paulo, Rio Grande do Sul, Belo
Horizonte, Brasília, Fortaleza e Florianópolis. Houve no Rio de Janeiro e
em Recife, que ela venceu. Perdeu em Salvador, mas tornou-se
fornecedora do vencedor.
Segundo Kurtz, a
falta de competidores para disputar o mais ambicionado espaço comercial
do país se deve ao fato de a atividade ser muito complexa, embora o país
tenha grandes lojas varejistas.
Em todos os
casos, houve apenas a primeira licitação. Depois, a Brasif garantiu a
prorrogação do contrato por meio de um dispositivo do Código Brasileiro
de Aeronáutica que se aplica a todas as lojas para amortização de novos
investimentos feitos em sua ampliação ou por questões de reformas de
aeroportos, levando em conta as constantes transformações a que os
aeroportos estão sujeitos. A prorrogação obedece a uma tabela, e os
investimentos precisam ser devidamente comprovados. A questão é que, no
caso da Brasif, cada prorrogação do contrato de locação prorroga
automaticamente o de isenção alfandegária.
Kurtz nega,
igualmente, que exista monopólio no uso do espaço alfandegado. A
qualquer momento a Infraero poderá locar outras áreas, diz ele. E por
que não fez até agora? Porque está satisfeitíssima com os serviços
prestados pela Brasif, segundo ele.
O "due diligence"
dos suíços nada comprovou de irregular na atividade -nem a coluna
insinuou irregularidade. Mas permanece a questão: o "goodwill" que foi
vendido aos suíços decorre de privilégios fiscais.
Aqui, uma matéria da colunista Lu
Lacerda sobre outras amizades de Jonas. Aliás, am matéria de política,
Jonas sempre foi absolutamente ecumênico: ajudava tanto o PSDB quanto o
PT.
Do iG
José Serra: candidato à Prefeitura de
São Paulo visto com o amigo Jonas Barcellos saindo de loja de calcinhas /
Foto: Geraldo Valadares
O candidato à Prefeitura de São Paulo
José Serra foi visto, na tarde desta sexta-feira (02/03), saindo com o
empresário Jonas Barcellos da “Loungerie” - loja de roupas íntimas no
Leblon, localizada no prédio da Brasif, uma das empresas de Barcellos. A
empresária que passava pensou que ambos estivessem comprando presentes
para suas mulheres. O fato é que o prédio é de Jonas, e a loja, de sua
mulher, Paula Barcellos. Conclusão: o assunto entre ambos, certamente,
abrange valores muito além do custo de algumas calcinhas.
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