Marina SilvaDe Brasília (DF).
Na parte do sonho, todos concordam: queremos cidades com ar puro, com menos violência e acidentes, onde as pessoas tenham mais saúde e possam circular em ruas tranqüilas e acolhedoras e, se possível, até mesmo bonitas, apreciáveis.
Na parte da realidade, temos cidades cujo espaço, em sua maior parte, é o território da poluição, das relações humanas estressantes, do agravamento de problemas que parecem não ter solução, a começar pelo tráfego caótico que piora a cada dia.
» Dê sua opinião sobre o artigo da senadora Marina Silva
Para colocar em discussão esses impasses, surgiu na França, em 1997, a idéia de, por um dia, todos deixarem em casa seus carros particulares, com o objetivo de chamar atenção para as conseqüências ambientais e de saúde pública da centralidade do automóvel nas cidades e para estimular o uso de transporte coletivo e o investimento em soluções alternativas para a mobilidade urbana.
Neste ano a tradição se repetiu, no último dia 22. No Brasil, embora várias cidades tenham aderido, ficou uma impressão de fracasso, de algo que não pegou por aqui, sobretudo pelas imagens de São Paulo com um congestionamento recorde. Será que esta é uma avaliação justa?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar o propósito desta ação demonstrativa, que é de conscientização para o fato de que a encrenca na qual nossas cidades está metida só terá solução se for muito reduzida sua dependência dos carros particulares, pelas razões conhecidas, que começam na poluição e vão até o impacto no equilíbrio psicológico e na saúde geral de boa parte da população, diariamente refém do tráfego lento ou parado, durante horas. O tempo disponível para o convívio familiar, o lazer, o descanso esvai-se na rotina da prisão dentro dos ônibus e carros.
O protesto simbólico da recusa radical a esta rotina durante um dia tem o papel de lembrar a todos que tal situação não pode ser vista como condenação coletiva perpétua. Que é possível ter transporte coletivo decente e acolhimento, por parte da cidade, àqueles que se dispõem a andar a pé ou fazer uso de bicicletas e transporte solidário. Que é possível desentulhar as ruas e fazê-las reassumir seu papel de vias de escoamento, de trânsito propriamente dito.
Porém, se esse protesto passa a ser apenas um evento sem conseqüências, por que as pessoas se engajariam nele? Uma idéia correta e generosa como a do dia sem carro precisa ser potencializada por um movimento de pressão que garanta a continuidade do momento simbólico e sua transformação em força política para a mudança de uma situação intolerável.
Se não for assim, no começo as pessoas vão, se entusiasmam, as autoridades andam de bicicleta, organizam-se inúmeras atividades, mas com fôlego curto. Acaba se esvaziando algo de grande significado, mas que depende de ações institucionais, empresariais, comunitárias e individuais para seguir em frente e recriar as cidades segundo um padrão de vida sustentável.
O momento histórico é este, quando o planeta enfrenta uma crise ambiental de grandes proporções. Do ponto de vista da oportunidade, o dia sem carro está no caminho certo; é preciso que as pessoas comecem a reagir a esta provocação virtuosa, o que requer consciência dos enormes complicadores para se fazer a verdadeira revolução ambiental que as cidades merecem.
Em primeiro lugar, as medidas de larga escala, que implicam ações institucionais e políticas públicas, só terão efeito se envolverem, ao mesmo tempo, todos os níveis de poder público, com forte participação, fiscalização e cobrança por parte da sociedade. É inútil pensar em autoria política exclusiva num caso desses, que só se resolve com solidariedade institucional e políticas sociais, econômicas e ambientais simultâneas.
Mas há margem para uma racionalização pura e simples da realidade de cada cidade. E aí surge novamente o carro como o nó da questão. Imbatível como objeto de desejo de consumo, ele dá às pessoas aparente segurança e uma tentação quase irresistível a um tipo de individualismo que entra em simbiose com a máquina. Ela está à disposição do seu dono na mesma medida em que o coloca em permanente disposição.
O dia sem carro pode ser também uma espécie de treinamento para o desmame dessa relação, o que significa a pessoa fazer algum tipo de investimento para além de si mesma ou daquele núcleo que lhe é muito próximo. Interagir com a cidade de um modo não pré-estabelecido, procurando deixar de lado o carro em percursos curtos ou nos quais seja possível usar transporte coletivo com algum conforto. Sair com o carro da garagem é diferente de sair do ponto de ônibus, de metrô ou de trem. Dá uma sensação ilusória de domínio da situação, de auto-governabilidade, que acaba se esfumaçando no primeiro congestionamento, quando toda a onipotência se vai, junto com a anulação da potência de todos.
Assim, começar a desenrolar o fio da meada urbana passa também pelo entendimento de que esse apego ao carro é uma armadilha e precisa ser desconstituído pela consciência. Para essa finalidade, um dia sem carro pode ser o detonador de uma inflexão positiva para o desmame e para a reconstituição de cada um como cidadão atuante para transformar sua cidade. Não é fácil. Pode ser necessário um enorme esforço para cortar uma rotina estabelecida há tanto tempo e da qual quem tem não abre mão e quem não tem sonha em poder ter.
Fonte: Terra Magazine.
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
terça-feira, 30 de setembro de 2008
ARTIGO - Wall Street, descanse em paz.
The New York Times
Julie Creswell e Ben White.
Duas palavras simples que, assim como Hollywood e Washington, conjuram um mundo.Um mundo de grandes egos. Um mundo onde pessoas adoram apostar com dinheiro emprestado. Um mundo de negócios realizados na corda-bamba, impulsionados por computadores.Em busca de retornos cada vez maiores -e iates maiores, carros mais rápidos e coleções de arte mais caras para seus altos executivos- as firmas de Wall Street reforçaram suas mesas de negociação e contrataram gênios da física quântica para desenvolver programas à prova de falhas.Os fundos hedge colocavam os mercadores no vermelho (a alta da coroa dinamarquesa) ou no preto (a queda do PIB da Tailândia). E firmas de private equity reuniam fundos gigantes e saíam em uma onda de compras, adquirindo empresas como se fossem uma segunda esposa comprando sapatos Jimmy Choo em liquidação.Este mundo está em grande parte chegando ao fim.O imenso pacote de resgate que está sendo debatido no Congresso poderá ter sucesso em estabilizar os mercados financeiros. Mas é tarde demais para ajudar firmas como Bear Stearns e Lehman Brothers, que já desapareceram. O Merrill Lynch, cujo touro de sua marca registrada simbolizava Wall Street para muitos americanos, está sendo absorvido pelo Bank of America, localizado a centenas de quilômetros de Nova York, em Charlotte, Carolina do Norte.Para a maioria dos financistas que permanecem, com a exceção de alguns poucos superastros, os dias de dinheiro fácil e bônus gigantes são coisa do passado. O boom do crédito que levou ao crescimento explosivo de Wall Street secou. Os reguladores que ficaram de lado por muito tempo agora estão ávidos para refrear os bad boys de Wall Street e as práticas que se proliferaram nos últimos anos."Os dias aventureiros nos negócios das firmas de Wall Street, basicamente transformando a si mesmas em fundos hedge gigantes, acabaram. A verdade é que não eram tão bons", disse Andrew Kessler, um ex-administrador de fundo hedge. "Você não mais verá pessoal de nível médio ganhando um número de sete dígitos ou múltiplos números de sete dígitos que ninguém conseguia entender exatamente como conseguiram aquilo."O início do fim é sentido mesmo nos corredores do elitista e conservador Goldman Sachs, que, entre seus pares de Wall Street, resumia e definia a cultura de alto risco, alto retorno.O Goldman é uma firma que as outras firmas de Wall Street adoram odiar. Ele conta com alguns dos maiores fundos hedge e de private equity do mundo. Seus banqueiros de investimento são os mais inteligentes. Seus corretores, os melhores. São eles que ganham mais dinheiro em Wall Street, dando à firma o apelido de Goldmine (mina de ouro) Sachs. (Seus 30.522 funcionários ganharam em média US$ 600 mil no ano passado -uma média que inclui tanto secretárias quanto corretores.)Apesar dos executivos de outras firmas torcerem secretamente para que o Goldman cometesse pelo menos um grande erro, ao mesmo tempo eles se esforçavam ao máximo para copiá-la.Apesar do Goldman permanecer excelente na prestação de consultoria para fusões e na intermediação do lançamento de ações no mercado, o que ele faz melhor do que qualquer outra firma de Wall Street é negociar bens mobiliários. Isso envolve o uso de seus próprios fundos, assim como uma pilha de dinheiro emprestado, para fazer grandes apostas globais.Outras firmas tentaram seguir seu exemplo, acumulando risco e mais risco, na tentativa de capturar uma pitada da mágica do Goldman e de seus lucros estelares trimestre após trimestre.Ninguém chegou perto.Enquanto a crise de crédito tomava Wall Street ao longo do ano passado, levando o Merrill, Citigroup e Lehman Brothers a sofrerem prejuízos pesados em grandes apostas em ativos ligados a hipotecas, o Goldman continuava navegando sem grandes problemas.Em 2007, no mesmo ano em que o Citigroup e o Merrill demitiram seus presidentes-executivos, o Goldman registrou receita e lucros recordes e pagou a seu chefe, Lloyd C. Blankfein, US$ 68,7 milhões -o maior valor pago a um presidente-executivo de Wall Street.Mas até mesmo o menino de ouro de Wall Street não conseguiu suportar a turbulência que sacudiu o sistema financeiro nas últimas semanas. Após os problemas no Lehman e no American International Group (AIG), e do Merrill ter acertado às pressas sua compra pelo Bank of America há duas semanas, as ações do Goldman sofreram um golpe.A crise do AIG foi particularmente problemática. O Goldman era o maior parceiro de negócios do AIG, segundo várias pessoas ligadas à seguradora, que pediram anonimato por causa dos acordos de confidencialidade. O Goldman assegurou aos investidores que sua exposição ao AIG era imaterial, mas clientes e investidores nervosos abandonaram a firma, temerosos de que os bancos de investimento -mesmo um tão estimado quanto o Goldman- poderiam não sobreviver."O que aconteceu confirmou meu sentimento de que o Goldman Sachs, independente de quão bom fosse, não estava imune à sorte", disse John H. Gutfreund, o ex-presidente-executivo do Salomon Brothers.Assim, no último fim de semana, diante de poucas opções, o Goldman Sachs engoliu a pílula amarga e se transformou, entre todas as coisas, em algo simples e ordinário: um banco de depósitos.A ação não significa que o Goldman dará, tão cedo, torradeiras como brinde pela abertura de uma conta em uma agência em Wichita. Mas a mudança é um ataque à cultura do Goldman e ao âmago de seus lucros excepcionais nos últimos anos.Nem todos acham que a máquina de fazer dinheiro do Goldman ficará totalmente restrita. Na semana passada, o Oráculo de Omaha, Warren E. Buffett, fez um investimento de US$ 5 bilhões no banco, e o Goldman levantou outros US$ 5 bilhões em uma oferta separada de ações.Ainda assim, dizem muitas pessoas, diante de mudanças tão amplas, o Goldman Sachs poderá perder o que o tornava tão especial. Mas, até aí, poucas coisas permanecerão as mesmas em Wall Street.
Fonte: Blog Por um novo Brasil.
Julie Creswell e Ben White.
Duas palavras simples que, assim como Hollywood e Washington, conjuram um mundo.Um mundo de grandes egos. Um mundo onde pessoas adoram apostar com dinheiro emprestado. Um mundo de negócios realizados na corda-bamba, impulsionados por computadores.Em busca de retornos cada vez maiores -e iates maiores, carros mais rápidos e coleções de arte mais caras para seus altos executivos- as firmas de Wall Street reforçaram suas mesas de negociação e contrataram gênios da física quântica para desenvolver programas à prova de falhas.Os fundos hedge colocavam os mercadores no vermelho (a alta da coroa dinamarquesa) ou no preto (a queda do PIB da Tailândia). E firmas de private equity reuniam fundos gigantes e saíam em uma onda de compras, adquirindo empresas como se fossem uma segunda esposa comprando sapatos Jimmy Choo em liquidação.Este mundo está em grande parte chegando ao fim.O imenso pacote de resgate que está sendo debatido no Congresso poderá ter sucesso em estabilizar os mercados financeiros. Mas é tarde demais para ajudar firmas como Bear Stearns e Lehman Brothers, que já desapareceram. O Merrill Lynch, cujo touro de sua marca registrada simbolizava Wall Street para muitos americanos, está sendo absorvido pelo Bank of America, localizado a centenas de quilômetros de Nova York, em Charlotte, Carolina do Norte.Para a maioria dos financistas que permanecem, com a exceção de alguns poucos superastros, os dias de dinheiro fácil e bônus gigantes são coisa do passado. O boom do crédito que levou ao crescimento explosivo de Wall Street secou. Os reguladores que ficaram de lado por muito tempo agora estão ávidos para refrear os bad boys de Wall Street e as práticas que se proliferaram nos últimos anos."Os dias aventureiros nos negócios das firmas de Wall Street, basicamente transformando a si mesmas em fundos hedge gigantes, acabaram. A verdade é que não eram tão bons", disse Andrew Kessler, um ex-administrador de fundo hedge. "Você não mais verá pessoal de nível médio ganhando um número de sete dígitos ou múltiplos números de sete dígitos que ninguém conseguia entender exatamente como conseguiram aquilo."O início do fim é sentido mesmo nos corredores do elitista e conservador Goldman Sachs, que, entre seus pares de Wall Street, resumia e definia a cultura de alto risco, alto retorno.O Goldman é uma firma que as outras firmas de Wall Street adoram odiar. Ele conta com alguns dos maiores fundos hedge e de private equity do mundo. Seus banqueiros de investimento são os mais inteligentes. Seus corretores, os melhores. São eles que ganham mais dinheiro em Wall Street, dando à firma o apelido de Goldmine (mina de ouro) Sachs. (Seus 30.522 funcionários ganharam em média US$ 600 mil no ano passado -uma média que inclui tanto secretárias quanto corretores.)Apesar dos executivos de outras firmas torcerem secretamente para que o Goldman cometesse pelo menos um grande erro, ao mesmo tempo eles se esforçavam ao máximo para copiá-la.Apesar do Goldman permanecer excelente na prestação de consultoria para fusões e na intermediação do lançamento de ações no mercado, o que ele faz melhor do que qualquer outra firma de Wall Street é negociar bens mobiliários. Isso envolve o uso de seus próprios fundos, assim como uma pilha de dinheiro emprestado, para fazer grandes apostas globais.Outras firmas tentaram seguir seu exemplo, acumulando risco e mais risco, na tentativa de capturar uma pitada da mágica do Goldman e de seus lucros estelares trimestre após trimestre.Ninguém chegou perto.Enquanto a crise de crédito tomava Wall Street ao longo do ano passado, levando o Merrill, Citigroup e Lehman Brothers a sofrerem prejuízos pesados em grandes apostas em ativos ligados a hipotecas, o Goldman continuava navegando sem grandes problemas.Em 2007, no mesmo ano em que o Citigroup e o Merrill demitiram seus presidentes-executivos, o Goldman registrou receita e lucros recordes e pagou a seu chefe, Lloyd C. Blankfein, US$ 68,7 milhões -o maior valor pago a um presidente-executivo de Wall Street.Mas até mesmo o menino de ouro de Wall Street não conseguiu suportar a turbulência que sacudiu o sistema financeiro nas últimas semanas. Após os problemas no Lehman e no American International Group (AIG), e do Merrill ter acertado às pressas sua compra pelo Bank of America há duas semanas, as ações do Goldman sofreram um golpe.A crise do AIG foi particularmente problemática. O Goldman era o maior parceiro de negócios do AIG, segundo várias pessoas ligadas à seguradora, que pediram anonimato por causa dos acordos de confidencialidade. O Goldman assegurou aos investidores que sua exposição ao AIG era imaterial, mas clientes e investidores nervosos abandonaram a firma, temerosos de que os bancos de investimento -mesmo um tão estimado quanto o Goldman- poderiam não sobreviver."O que aconteceu confirmou meu sentimento de que o Goldman Sachs, independente de quão bom fosse, não estava imune à sorte", disse John H. Gutfreund, o ex-presidente-executivo do Salomon Brothers.Assim, no último fim de semana, diante de poucas opções, o Goldman Sachs engoliu a pílula amarga e se transformou, entre todas as coisas, em algo simples e ordinário: um banco de depósitos.A ação não significa que o Goldman dará, tão cedo, torradeiras como brinde pela abertura de uma conta em uma agência em Wichita. Mas a mudança é um ataque à cultura do Goldman e ao âmago de seus lucros excepcionais nos últimos anos.Nem todos acham que a máquina de fazer dinheiro do Goldman ficará totalmente restrita. Na semana passada, o Oráculo de Omaha, Warren E. Buffett, fez um investimento de US$ 5 bilhões no banco, e o Goldman levantou outros US$ 5 bilhões em uma oferta separada de ações.Ainda assim, dizem muitas pessoas, diante de mudanças tão amplas, o Goldman Sachs poderá perder o que o tornava tão especial. Mas, até aí, poucas coisas permanecerão as mesmas em Wall Street.
Fonte: Blog Por um novo Brasil.
ARTIGO - Treinando para o desmame.
Marina SilvaDe Brasília (DF)
Na parte do sonho, todos concordam: queremos cidades com ar puro, com menos violência e acidentes, onde as pessoas tenham mais saúde e possam circular em ruas tranqüilas e acolhedoras e, se possível, até mesmo bonitas, apreciáveis.
Na parte da realidade, temos cidades cujo espaço, em sua maior parte, é o território da poluição, das relações humanas estressantes, do agravamento de problemas que parecem não ter solução, a começar pelo tráfego caótico que piora a cada dia.
» Dê sua opinião sobre o artigo da senadora Marina Silva
Para colocar em discussão esses impasses, surgiu na França, em 1997, a idéia de, por um dia, todos deixarem em casa seus carros particulares, com o objetivo de chamar atenção para as conseqüências ambientais e de saúde pública da centralidade do automóvel nas cidades e para estimular o uso de transporte coletivo e o investimento em soluções alternativas para a mobilidade urbana.
Neste ano a tradição se repetiu, no último dia 22. No Brasil, embora várias cidades tenham aderido, ficou uma impressão de fracasso, de algo que não pegou por aqui, sobretudo pelas imagens de São Paulo com um congestionamento recorde. Será que esta é uma avaliação justa?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar o propósito desta ação demonstrativa, que é de conscientização para o fato de que a encrenca na qual nossas cidades está metida só terá solução se for muito reduzida sua dependência dos carros particulares, pelas razões conhecidas, que começam na poluição e vão até o impacto no equilíbrio psicológico e na saúde geral de boa parte da população, diariamente refém do tráfego lento ou parado, durante horas. O tempo disponível para o convívio familiar, o lazer, o descanso esvai-se na rotina da prisão dentro dos ônibus e carros.
O protesto simbólico da recusa radical a esta rotina durante um dia tem o papel de lembrar a todos que tal situação não pode ser vista como condenação coletiva perpétua. Que é possível ter transporte coletivo decente e acolhimento, por parte da cidade, àqueles que se dispõem a andar a pé ou fazer uso de bicicletas e transporte solidário. Que é possível desentulhar as ruas e fazê-las reassumir seu papel de vias de escoamento, de trânsito propriamente dito.
Porém, se esse protesto passa a ser apenas um evento sem conseqüências, por que as pessoas se engajariam nele? Uma idéia correta e generosa como a do dia sem carro precisa ser potencializada por um movimento de pressão que garanta a continuidade do momento simbólico e sua transformação em força política para a mudança de uma situação intolerável.
Se não for assim, no começo as pessoas vão, se entusiasmam, as autoridades andam de bicicleta, organizam-se inúmeras atividades, mas com fôlego curto. Acaba se esvaziando algo de grande significado, mas que depende de ações institucionais, empresariais, comunitárias e individuais para seguir em frente e recriar as cidades segundo um padrão de vida sustentável.
O momento histórico é este, quando o planeta enfrenta uma crise ambiental de grandes proporções. Do ponto de vista da oportunidade, o dia sem carro está no caminho certo; é preciso que as pessoas comecem a reagir a esta provocação virtuosa, o que requer consciência dos enormes complicadores para se fazer a verdadeira revolução ambiental que as cidades merecem.
Em primeiro lugar, as medidas de larga escala, que implicam ações institucionais e políticas públicas, só terão efeito se envolverem, ao mesmo tempo, todos os níveis de poder público, com forte participação, fiscalização e cobrança por parte da sociedade. É inútil pensar em autoria política exclusiva num caso desses, que só se resolve com solidariedade institucional e políticas sociais, econômicas e ambientais simultâneas.
Mas há margem para uma racionalização pura e simples da realidade de cada cidade. E aí surge novamente o carro como o nó da questão. Imbatível como objeto de desejo de consumo, ele dá às pessoas aparente segurança e uma tentação quase irresistível a um tipo de individualismo que entra em simbiose com a máquina. Ela está à disposição do seu dono na mesma medida em que o coloca em permanente disposição.
O dia sem carro pode ser também uma espécie de treinamento para o desmame dessa relação, o que significa a pessoa fazer algum tipo de investimento para além de si mesma ou daquele núcleo que lhe é muito próximo. Interagir com a cidade de um modo não pré-estabelecido, procurando deixar de lado o carro em percursos curtos ou nos quais seja possível usar transporte coletivo com algum conforto. Sair com o carro da garagem é diferente de sair do ponto de ônibus, de metrô ou de trem. Dá uma sensação ilusória de domínio da situação, de auto-governabilidade, que acaba se esfumaçando no primeiro congestionamento, quando toda a onipotência se vai, junto com a anulação da potência de todos.
Assim, começar a desenrolar o fio da meada urbana passa também pelo entendimento de que esse apego ao carro é uma armadilha e precisa ser desconstituído pela consciência. Para essa finalidade, um dia sem carro pode ser o detonador de uma inflexão positiva para o desmame e para a reconstituição de cada um como cidadão atuante para transformar sua cidade. Não é fácil. Pode ser necessário um enorme esforço para cortar uma rotina estabelecida há tanto tempo e da qual quem tem não abre mão e quem não tem sonha em poder ter.
Fonte: Terra Magazine.
Na parte do sonho, todos concordam: queremos cidades com ar puro, com menos violência e acidentes, onde as pessoas tenham mais saúde e possam circular em ruas tranqüilas e acolhedoras e, se possível, até mesmo bonitas, apreciáveis.
Na parte da realidade, temos cidades cujo espaço, em sua maior parte, é o território da poluição, das relações humanas estressantes, do agravamento de problemas que parecem não ter solução, a começar pelo tráfego caótico que piora a cada dia.
» Dê sua opinião sobre o artigo da senadora Marina Silva
Para colocar em discussão esses impasses, surgiu na França, em 1997, a idéia de, por um dia, todos deixarem em casa seus carros particulares, com o objetivo de chamar atenção para as conseqüências ambientais e de saúde pública da centralidade do automóvel nas cidades e para estimular o uso de transporte coletivo e o investimento em soluções alternativas para a mobilidade urbana.
Neste ano a tradição se repetiu, no último dia 22. No Brasil, embora várias cidades tenham aderido, ficou uma impressão de fracasso, de algo que não pegou por aqui, sobretudo pelas imagens de São Paulo com um congestionamento recorde. Será que esta é uma avaliação justa?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar o propósito desta ação demonstrativa, que é de conscientização para o fato de que a encrenca na qual nossas cidades está metida só terá solução se for muito reduzida sua dependência dos carros particulares, pelas razões conhecidas, que começam na poluição e vão até o impacto no equilíbrio psicológico e na saúde geral de boa parte da população, diariamente refém do tráfego lento ou parado, durante horas. O tempo disponível para o convívio familiar, o lazer, o descanso esvai-se na rotina da prisão dentro dos ônibus e carros.
O protesto simbólico da recusa radical a esta rotina durante um dia tem o papel de lembrar a todos que tal situação não pode ser vista como condenação coletiva perpétua. Que é possível ter transporte coletivo decente e acolhimento, por parte da cidade, àqueles que se dispõem a andar a pé ou fazer uso de bicicletas e transporte solidário. Que é possível desentulhar as ruas e fazê-las reassumir seu papel de vias de escoamento, de trânsito propriamente dito.
Porém, se esse protesto passa a ser apenas um evento sem conseqüências, por que as pessoas se engajariam nele? Uma idéia correta e generosa como a do dia sem carro precisa ser potencializada por um movimento de pressão que garanta a continuidade do momento simbólico e sua transformação em força política para a mudança de uma situação intolerável.
Se não for assim, no começo as pessoas vão, se entusiasmam, as autoridades andam de bicicleta, organizam-se inúmeras atividades, mas com fôlego curto. Acaba se esvaziando algo de grande significado, mas que depende de ações institucionais, empresariais, comunitárias e individuais para seguir em frente e recriar as cidades segundo um padrão de vida sustentável.
O momento histórico é este, quando o planeta enfrenta uma crise ambiental de grandes proporções. Do ponto de vista da oportunidade, o dia sem carro está no caminho certo; é preciso que as pessoas comecem a reagir a esta provocação virtuosa, o que requer consciência dos enormes complicadores para se fazer a verdadeira revolução ambiental que as cidades merecem.
Em primeiro lugar, as medidas de larga escala, que implicam ações institucionais e políticas públicas, só terão efeito se envolverem, ao mesmo tempo, todos os níveis de poder público, com forte participação, fiscalização e cobrança por parte da sociedade. É inútil pensar em autoria política exclusiva num caso desses, que só se resolve com solidariedade institucional e políticas sociais, econômicas e ambientais simultâneas.
Mas há margem para uma racionalização pura e simples da realidade de cada cidade. E aí surge novamente o carro como o nó da questão. Imbatível como objeto de desejo de consumo, ele dá às pessoas aparente segurança e uma tentação quase irresistível a um tipo de individualismo que entra em simbiose com a máquina. Ela está à disposição do seu dono na mesma medida em que o coloca em permanente disposição.
O dia sem carro pode ser também uma espécie de treinamento para o desmame dessa relação, o que significa a pessoa fazer algum tipo de investimento para além de si mesma ou daquele núcleo que lhe é muito próximo. Interagir com a cidade de um modo não pré-estabelecido, procurando deixar de lado o carro em percursos curtos ou nos quais seja possível usar transporte coletivo com algum conforto. Sair com o carro da garagem é diferente de sair do ponto de ônibus, de metrô ou de trem. Dá uma sensação ilusória de domínio da situação, de auto-governabilidade, que acaba se esfumaçando no primeiro congestionamento, quando toda a onipotência se vai, junto com a anulação da potência de todos.
Assim, começar a desenrolar o fio da meada urbana passa também pelo entendimento de que esse apego ao carro é uma armadilha e precisa ser desconstituído pela consciência. Para essa finalidade, um dia sem carro pode ser o detonador de uma inflexão positiva para o desmame e para a reconstituição de cada um como cidadão atuante para transformar sua cidade. Não é fácil. Pode ser necessário um enorme esforço para cortar uma rotina estabelecida há tanto tempo e da qual quem tem não abre mão e quem não tem sonha em poder ter.
Fonte: Terra Magazine.
ARTIGO - O Mundo não vai acabar.
Maria da Conceição: "O mundo não vai acabar"
Diego Salmen
Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, "o mundo não vai acabar" após a rejeição do Congresso norte-americano ao pacote de ajuda econômica. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maria da Conceição afirma que a crise vivida pelo capitalismo internacional está restrita, por ora, aos vizinhos do norte e ao continente europeu. E que, por isso, o apocalipse está distante.
- O mundo não vai acabar. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
Veja também:» Opine aqui sobre a crise econômica» Analistas prevêem danos à economia real brasileira» Lessa: Crise põe a nu comportamentos feios» Desaprovação a pacote é temporária, diz ex-presidente da CVM
Nesta terça-feira, 30, os mercados financeiros - Brasil incluso - abriram em alta depois de um conturbado início de semana nos mercados financeiros.
Cenário distinto da segunda-feira, 29, quando a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas estimado em US$ 700 bilhões para debelar a crise econômica no país. Reação "totalmente eleitoreira", na análise de Maria da Conceição.
Até mesmo os republicanos, partidários do presidente George W. Bush, foram contrários ao pacote. "Ele (George W. Bush) não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância", afirma a economista. "Ele efetivamente acabou como líder".
Maria da Conceição salienta que o poder de intervenção do Estado norte-americano não depende exclusivamente da aprovação do pacote de ajuda econômica.
"Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia (NR: banco que perdeu quase metade do seu valor de mercado em uma semana) ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido", diz. "Mas, evidentemente, isso não tira o pânico.
Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:
Terra Magazine - O Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda econômica para a crise no país. O que deve acontecer agora?Maria da Conceição Tavares - O mundo não vai acabar. Ontem já ocorreu uma deflação de ativos global, já perderam trilhões de dólares. Agora o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro emprestaram mais dinheiro, e empurraram o Wachovia - que estava como um banco sólido, mas não está sólido, evidentemente - para o Citigroup. Aliás, os japoneses também entraram na jogada. Na Ásia o pau não foi o mesmo. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
A crise tem um efeito previsto já pelo próprio Karl Marx, de induzir à monopolização do sistema financeiro...Está cada vez mais centralizado (o sistema financeiro). O fato, o que é óbvio, é que isso aí é uma coisa geográfica. A Ásia não pegou uma porrada tão grande. E os japoneses estão comprando o diabo. São bancos globais, então quando os EUA ficam de calça curta, o Japão, que tem muitas reservas e já superou sua própria crise bancária, vai às compras. Mas por enquanto está nessa gangorra; o que vai acontecer eu não sei. Objetivamente, o Banco Central americano já pôs US$ 450 bi, mais da metade do pacote. Claro, não iam ficar sem fazer nada, né?
Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido. Mas evidentemente isso não tira o pânico.
E postura do presidente George W. Bush?Ele não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância. Porque ele efetivamente acabou como líder e não tem mais política nos Estados Unidos, porque deram o azar de essa crise surgir no período eleitoral. Então a reação do Congresso é totalmente eleitoreira. Todo mundo está convencido de que o pacote é bom para os bancos, o que é verdade, e não resolve nada. Pode resolver, mas talvez não, enfim. É uma medida de emergência, de maneira que o Bush não tem liderança. Os Estados Unidos estão sem liderança política e as instituições bancárias deles estão muito mal. A crise americana é uma crise de mentira, no meu ponto de vista. (Os EUA) Vão pagar o preço. Da outra vez foi o Japão, agora serão eles.
Mudou o eixo...Há uma multi-polaridade que está se convertendo numa perda cada vez maior da importância do centro americano.
Essa crise é fruto do processo de desregulamentação financeira iniciado na década de 1980, com o Consenso de Washington?(risos) Claro, claro. Isso é resultado da política, como diz o candidato Obama. Quando se faz uma política desastrosa, o resultado é esse. Não se trata de um terremoto provocado pela natureza, não. O sistema bancário estava tão desregulado e fazia tais barbaridades, que na verdade já se chamavam de shadow banks, bancos das sombras. Eles alimentaram uma moda cheia de arapucas, e agora as arapucas estão atingindo bancos mais sólidos. O Wachovia era um banco comum, banco de depósito. Mas não agüentou. E aí como o Congresso fica paralisado, o Tesouro e o Banco Central tomam providências na hora. Eles estão o tempo inteiro para ver quem vai quebrar e antes que quebre, eles socorrem, está claro? Tanto o socorro global quanto o socorro caso a caso. Como todo dia tem ou dois casos, ou três, ou quatro...e os mercados mais ativos nessa brincadeira são Nova Iorque e Londres, que são os mais desregulados. Hong Kong, Tóquio, Seul não estão correndo riscos. Não é um sistema tão desregulado.
Uma das arapucas seria essa questão da alavancagem? (NR: grau de utilização de empréstimos em determinadas operações) Os bancos norte-americanos podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido...Dez vezes coisa nenhuma: 12 vezes é a tolerância para banco comercial, o sistema bancário é de 20 a 40 (vezes).
Isso é dinheiro que não existe.Pois é. Não existe. O sujeito tomou empréstimo e comprou papéis que não existiam.
Fonte: Terra Magazine.
Diego Salmen
Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, "o mundo não vai acabar" após a rejeição do Congresso norte-americano ao pacote de ajuda econômica. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maria da Conceição afirma que a crise vivida pelo capitalismo internacional está restrita, por ora, aos vizinhos do norte e ao continente europeu. E que, por isso, o apocalipse está distante.
- O mundo não vai acabar. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
Veja também:» Opine aqui sobre a crise econômica» Analistas prevêem danos à economia real brasileira» Lessa: Crise põe a nu comportamentos feios» Desaprovação a pacote é temporária, diz ex-presidente da CVM
Nesta terça-feira, 30, os mercados financeiros - Brasil incluso - abriram em alta depois de um conturbado início de semana nos mercados financeiros.
Cenário distinto da segunda-feira, 29, quando a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas estimado em US$ 700 bilhões para debelar a crise econômica no país. Reação "totalmente eleitoreira", na análise de Maria da Conceição.
Até mesmo os republicanos, partidários do presidente George W. Bush, foram contrários ao pacote. "Ele (George W. Bush) não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância", afirma a economista. "Ele efetivamente acabou como líder".
Maria da Conceição salienta que o poder de intervenção do Estado norte-americano não depende exclusivamente da aprovação do pacote de ajuda econômica.
"Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia (NR: banco que perdeu quase metade do seu valor de mercado em uma semana) ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido", diz. "Mas, evidentemente, isso não tira o pânico.
Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:
Terra Magazine - O Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda econômica para a crise no país. O que deve acontecer agora?Maria da Conceição Tavares - O mundo não vai acabar. Ontem já ocorreu uma deflação de ativos global, já perderam trilhões de dólares. Agora o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro emprestaram mais dinheiro, e empurraram o Wachovia - que estava como um banco sólido, mas não está sólido, evidentemente - para o Citigroup. Aliás, os japoneses também entraram na jogada. Na Ásia o pau não foi o mesmo. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
A crise tem um efeito previsto já pelo próprio Karl Marx, de induzir à monopolização do sistema financeiro...Está cada vez mais centralizado (o sistema financeiro). O fato, o que é óbvio, é que isso aí é uma coisa geográfica. A Ásia não pegou uma porrada tão grande. E os japoneses estão comprando o diabo. São bancos globais, então quando os EUA ficam de calça curta, o Japão, que tem muitas reservas e já superou sua própria crise bancária, vai às compras. Mas por enquanto está nessa gangorra; o que vai acontecer eu não sei. Objetivamente, o Banco Central americano já pôs US$ 450 bi, mais da metade do pacote. Claro, não iam ficar sem fazer nada, né?
Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido. Mas evidentemente isso não tira o pânico.
E postura do presidente George W. Bush?Ele não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância. Porque ele efetivamente acabou como líder e não tem mais política nos Estados Unidos, porque deram o azar de essa crise surgir no período eleitoral. Então a reação do Congresso é totalmente eleitoreira. Todo mundo está convencido de que o pacote é bom para os bancos, o que é verdade, e não resolve nada. Pode resolver, mas talvez não, enfim. É uma medida de emergência, de maneira que o Bush não tem liderança. Os Estados Unidos estão sem liderança política e as instituições bancárias deles estão muito mal. A crise americana é uma crise de mentira, no meu ponto de vista. (Os EUA) Vão pagar o preço. Da outra vez foi o Japão, agora serão eles.
Mudou o eixo...Há uma multi-polaridade que está se convertendo numa perda cada vez maior da importância do centro americano.
Essa crise é fruto do processo de desregulamentação financeira iniciado na década de 1980, com o Consenso de Washington?(risos) Claro, claro. Isso é resultado da política, como diz o candidato Obama. Quando se faz uma política desastrosa, o resultado é esse. Não se trata de um terremoto provocado pela natureza, não. O sistema bancário estava tão desregulado e fazia tais barbaridades, que na verdade já se chamavam de shadow banks, bancos das sombras. Eles alimentaram uma moda cheia de arapucas, e agora as arapucas estão atingindo bancos mais sólidos. O Wachovia era um banco comum, banco de depósito. Mas não agüentou. E aí como o Congresso fica paralisado, o Tesouro e o Banco Central tomam providências na hora. Eles estão o tempo inteiro para ver quem vai quebrar e antes que quebre, eles socorrem, está claro? Tanto o socorro global quanto o socorro caso a caso. Como todo dia tem ou dois casos, ou três, ou quatro...e os mercados mais ativos nessa brincadeira são Nova Iorque e Londres, que são os mais desregulados. Hong Kong, Tóquio, Seul não estão correndo riscos. Não é um sistema tão desregulado.
Uma das arapucas seria essa questão da alavancagem? (NR: grau de utilização de empréstimos em determinadas operações) Os bancos norte-americanos podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido...Dez vezes coisa nenhuma: 12 vezes é a tolerância para banco comercial, o sistema bancário é de 20 a 40 (vezes).
Isso é dinheiro que não existe.Pois é. Não existe. O sujeito tomou empréstimo e comprou papéis que não existiam.
Fonte: Terra Magazine.
ARTIGO - Aprenda com Lula - o mestre da oratória.
Reinaldo Polito
Sei que vou mexer num vespeiro. Muita gente já correu com a faca entre os dentes para ler o texto e cair de pau no autor, só porque eu disse para aprender com Lula -o mestre da oratória.Outro tanto, sem me conhecer bem, já prepara um papelzinho para pôr num altar e fazer pedidos para que eu tenha vida longa e feliz - só porque eu disse para aprender com Lula -o mestre da oratória.Não há meio termo nessa história. O sentimento quase sempre é de amor ou de ódio. Em todo caso, vou procurar ser só professor de oratória para explicar os motivos que levam Lula a angariar tanta popularidade e ser tão querido.São dados das últimas pesquisas. Ao conquistar quase 80% de aprovação pessoal Lula transformou-se num dos maiores fenômenos políticos de todos os tempos. Já comecei a sentir algumas abelhas picando, mas vamos em frente.Há algum tempo, o senador amazonense Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado e um dos mais ferrenhos e competentes opositores do governo Lula, disse nas Páginas Amarelas da "Veja": "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um líder de massas, o maior que o país já teve desde Getúlio Vargas. Ele sempre foi identificado com causas populares. É o principal protagonista da história das eleições presidenciais. O carisma dele é inegável".Fernando Henrique Cardoso, que tem todos os motivos para enxergar Lula com os olhos críticos, pois passou os dois mandatos levando bordoada do opositor, e, por isso, vive trocando farpas com seu sucessor, já disse com outras palavras o mesmo que Arthur Virgílio. Revelou em uma de suas palestras que seu maior mérito político havia sido o de vencer Lula, um líder carismático.Gostando ou não do presidente Lula, não há como negar que o "cara" é fera! Analise comigo. Mesmo tendo sido massacrado pela imprensa durante um ano inteiro por causa do escândalo do mensalão, conseguiu o "milagre" de receber votos de mais de 60% da população. Eu não consigo pensar em outra pessoa no mundo inteiro que conquistasse façanha semelhante.Sabemos que depois de algum tempo no poder o governo vai perdendo um pouco do encanto e sua imagem fica desgastada. Afinal, é impossível cumprir todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral.Lula quebra essa regra. Passados cinco anos, sua aceitação pessoal continua intacta, ou melhor, em alta. Repito - quase 80% de aceitação pessoal. Parece que acabou de sair dos braços do povo que o elegeu pela primeira vez.A oposição não sabe para onde correr. Vive atrás de "um fato novo" para virar o jogo. Entretanto, entra dia, sai dia e o "homem" continua, como dizia o ex-ministro Magri, imexível.Alguns adversários argumentam que seu sucesso é devido àqueles que se beneficiaram do bolsa-família. Outros, inconformados, arrancam os cabelos -como é que alguém nasce assim com o "bumbum virado pra Lua?"E é verdade. Vai ter sorte assim lá em Garanhuns. Exceto a turbulência recente, nunca a economia mundial foi tão favorável como nos últimos anos. E de quebra a descoberta dentro do nosso quintal de uma das maiores bacias petrolíferas do mundo - no seu governo.Temos de reconhecer, entretanto, que essas vantagens ajudam, mas com ou sem elas Lula teria apoio popular. Sabe por quê? Ele é um craque na oratória. Sabe como tratar as massas e se identificar com o povo.Lula traçou um plano de ação vencedor. Conseguiu "colar" a imagem de que pertence ao povo, ora como paizão, ora como mais um brasileiro comum. Quando lança uma medida popular é o pai protegendo seus filhos. Quando é atacado, se junta ao povo como um igual para se defender das "elites" opressoras.Pesquisas recentes mostraram dados alarmantes. 50% dos brasileiros não sabem onde fica o Brasil, 84% não têm idéia de onde está a Argentina e 97% não conseguem localizar a França no mapa. Em interpretação de textos somos um dos últimos colocados no mundo. Ou seja, vivemos num país inculto e despreparado.Aí entra a melhor face da capacidade de comunicação do Lula. Ele sabe usar uma linguagem que as pessoas conseguem entender, por mais incultas que sejam. Lula conta histórias, lança mão de metáforas, brinca, compara assuntos econômicos com futebol. Tudo com uma simplicidade que entra na cabeça dos eleitores e vai direto ao coração.Quando fala para empresários ou investidores estrangeiros, embora o discurso mantenha a mesma leveza, a mensagem se reveste de dados econômicos e financeiros que mostram o bom desempenho do país. Isto é, um discurso na medida certa para cada tipo de ouvinte.Parodiando o próprio Lula - nunca antes na história desse país apareceu um político que soubesse usar tão bem a comunicação a seu favor como ele. A análise é simples e direta, Lula sabe como ajustar o discurso de acordo com o perfil, a característica e as aspirações dos ouvintes.Dá para aprender oratória com ele. Se nós soubermos usar a comunicação apropriada para os diferentes tipos de ouvintes, com a competência demonstrada pelo Lula, o resultado das nossas ações será muito melhor e mais eficiente.Portanto, essa é a lição de casa: aprender a falar bem como o Lula. Mesmo que você não goste muito dele. Não sou eu que estou dizendo, são seus próprios opositores.
Reinaldo Polito é mestre em ciências da comunicação, palestrante e professor de expressão verbal.
Fonte: Blog Por um novo Brasil.
Sei que vou mexer num vespeiro. Muita gente já correu com a faca entre os dentes para ler o texto e cair de pau no autor, só porque eu disse para aprender com Lula -o mestre da oratória.Outro tanto, sem me conhecer bem, já prepara um papelzinho para pôr num altar e fazer pedidos para que eu tenha vida longa e feliz - só porque eu disse para aprender com Lula -o mestre da oratória.Não há meio termo nessa história. O sentimento quase sempre é de amor ou de ódio. Em todo caso, vou procurar ser só professor de oratória para explicar os motivos que levam Lula a angariar tanta popularidade e ser tão querido.São dados das últimas pesquisas. Ao conquistar quase 80% de aprovação pessoal Lula transformou-se num dos maiores fenômenos políticos de todos os tempos. Já comecei a sentir algumas abelhas picando, mas vamos em frente.Há algum tempo, o senador amazonense Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado e um dos mais ferrenhos e competentes opositores do governo Lula, disse nas Páginas Amarelas da "Veja": "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um líder de massas, o maior que o país já teve desde Getúlio Vargas. Ele sempre foi identificado com causas populares. É o principal protagonista da história das eleições presidenciais. O carisma dele é inegável".Fernando Henrique Cardoso, que tem todos os motivos para enxergar Lula com os olhos críticos, pois passou os dois mandatos levando bordoada do opositor, e, por isso, vive trocando farpas com seu sucessor, já disse com outras palavras o mesmo que Arthur Virgílio. Revelou em uma de suas palestras que seu maior mérito político havia sido o de vencer Lula, um líder carismático.Gostando ou não do presidente Lula, não há como negar que o "cara" é fera! Analise comigo. Mesmo tendo sido massacrado pela imprensa durante um ano inteiro por causa do escândalo do mensalão, conseguiu o "milagre" de receber votos de mais de 60% da população. Eu não consigo pensar em outra pessoa no mundo inteiro que conquistasse façanha semelhante.Sabemos que depois de algum tempo no poder o governo vai perdendo um pouco do encanto e sua imagem fica desgastada. Afinal, é impossível cumprir todas as promessas feitas durante a campanha eleitoral.Lula quebra essa regra. Passados cinco anos, sua aceitação pessoal continua intacta, ou melhor, em alta. Repito - quase 80% de aceitação pessoal. Parece que acabou de sair dos braços do povo que o elegeu pela primeira vez.A oposição não sabe para onde correr. Vive atrás de "um fato novo" para virar o jogo. Entretanto, entra dia, sai dia e o "homem" continua, como dizia o ex-ministro Magri, imexível.Alguns adversários argumentam que seu sucesso é devido àqueles que se beneficiaram do bolsa-família. Outros, inconformados, arrancam os cabelos -como é que alguém nasce assim com o "bumbum virado pra Lua?"E é verdade. Vai ter sorte assim lá em Garanhuns. Exceto a turbulência recente, nunca a economia mundial foi tão favorável como nos últimos anos. E de quebra a descoberta dentro do nosso quintal de uma das maiores bacias petrolíferas do mundo - no seu governo.Temos de reconhecer, entretanto, que essas vantagens ajudam, mas com ou sem elas Lula teria apoio popular. Sabe por quê? Ele é um craque na oratória. Sabe como tratar as massas e se identificar com o povo.Lula traçou um plano de ação vencedor. Conseguiu "colar" a imagem de que pertence ao povo, ora como paizão, ora como mais um brasileiro comum. Quando lança uma medida popular é o pai protegendo seus filhos. Quando é atacado, se junta ao povo como um igual para se defender das "elites" opressoras.Pesquisas recentes mostraram dados alarmantes. 50% dos brasileiros não sabem onde fica o Brasil, 84% não têm idéia de onde está a Argentina e 97% não conseguem localizar a França no mapa. Em interpretação de textos somos um dos últimos colocados no mundo. Ou seja, vivemos num país inculto e despreparado.Aí entra a melhor face da capacidade de comunicação do Lula. Ele sabe usar uma linguagem que as pessoas conseguem entender, por mais incultas que sejam. Lula conta histórias, lança mão de metáforas, brinca, compara assuntos econômicos com futebol. Tudo com uma simplicidade que entra na cabeça dos eleitores e vai direto ao coração.Quando fala para empresários ou investidores estrangeiros, embora o discurso mantenha a mesma leveza, a mensagem se reveste de dados econômicos e financeiros que mostram o bom desempenho do país. Isto é, um discurso na medida certa para cada tipo de ouvinte.Parodiando o próprio Lula - nunca antes na história desse país apareceu um político que soubesse usar tão bem a comunicação a seu favor como ele. A análise é simples e direta, Lula sabe como ajustar o discurso de acordo com o perfil, a característica e as aspirações dos ouvintes.Dá para aprender oratória com ele. Se nós soubermos usar a comunicação apropriada para os diferentes tipos de ouvintes, com a competência demonstrada pelo Lula, o resultado das nossas ações será muito melhor e mais eficiente.Portanto, essa é a lição de casa: aprender a falar bem como o Lula. Mesmo que você não goste muito dele. Não sou eu que estou dizendo, são seus próprios opositores.
Reinaldo Polito é mestre em ciências da comunicação, palestrante e professor de expressão verbal.
Fonte: Blog Por um novo Brasil.
ARTIGO - Segunda-feira negra? (1)
Câmara dos Representantes vota "Não" ao plano Paulson/Bush.
por Mike Whitney [*]
Hoje a Câmara dos Representantes dos EUA rejeitou os US$700 mil milhões da Lei de Emergência Económica e de Estabilização de 2008 do secretário do Tesouro Paulson. Aqui está a votação nominal da lei proposta: http://clerk.house.gov/evs/2008/roll674.xml . Paulson disse dispor dos votos, mas estava errado. A Câmara rejeitou a afirmação de Paulson de que comprar os activos apoiados por hipotecas ilíquidas dos bancos do país seria suficiente para salvar o sistema financeiro de um colapso iminente. O corpo de jurados permaneceu fora da questão, também. O Professor Nouriel Roubini, presidente do Roubini Global Economics, resumiu isto como se segue: "Você não está a resolver as duas questões fundamentais. Você ainda tem de recapitalizar o sistema bancário, e a dívida habitacional está em vias de permanecer alta". Um grande número de economistas acredita que Roubini está certo. A lei não resolveria os problemas subjacentes. Há uma crise. O sistema bancário está subcapitalizado, os mercados de crédito estão congelados, e os credores estrangeiros começam a reduzir suas compras da dívida dos EUA. É tudo mau. Ao mesmo tempo o número de baixas dentre os gigantes finaceiros – Bear Stearns, Indymac, AIG, Lehman, Washington Mutual – continua a crescer. Três outros bancos europeus com dificuldades foram acrescentados à lista de instituições financeiras que precisaram de assistência governamental de emergência no último fim de semana. Não é de admirar que o Congresso sinta ter de fazer alguma coisa para estancar a hemorragia. Antes de o mercado de acções abrir na segunda-feira, os mercados de futuros desmoronaram pesadamente no território negativo, ao passo que o TED spread [2] , um indicador de stress no empréstimo interbancário, ampliou-se para 3,19, um nível que sugere mais uma instável semana de comercialização pela frente. Poderia isto ser uma outra Segunda-feira Negra? A lei de Paulson foi concebida para evitar um crash de todo o sistema através do saneamento dos balanços dos bancos de modo a que eles pudessem retomar o crédito aos consumidores e aos negócios. A esperança era que uma infusão maciça de capital "faria o relógio andar ao contrário", para os dias felizes da especulação com juros baixos e da bolha económica. Paulson é um "one trick pony" [3] que adere com firmeza à crença de que a criação de riqueza depende de um máximo de alavancagem e de uma divisa sempre a enfraquecer. Mas esta visão do mundo já não é mais aplicável depois de se atingir o Pico do Crédito, em que os consumidores já não são mais capazes de efectuar os pagamentos dos juros sobre os empréstimos e os negócios e instituições financeiras são forçados a reduzir seus gastos e enterrar seus activos tóxicos a preços de liquidação. O sistema está a desalavancar e nada pode travar isto. Paulson ainda tem de aceitar a nova realidade. Além disso, não havia garantia de que os bancos utilizariam o dinheiro do modo que Paulson imaginava. Como me explicou um veterano da Wall Street: "Não vejo um centavo daqueles US$700 mil milhões a acabar por ajudar a economia mais ampla. Vejo-o ser utilizado para impulsionar preços de acções de modo a que iniciados possam salvar tanto quanto possível quando enterrarem as suas acções". Na verdade, os US$700 mil milhões são apenas parte de um maciço esquema "pump and dump" engendrado com a aprovação tácita do Tesouro e do Federal Reserve. Depois de os banksters terem descarregado seus títulos fraudulentos e papéis sórdidos sobre o Tio Sam, eles farão tudo o que precisarem para acolchoar os resultados líquidos e conduzir as suas acções para cima. Isto significa que lançarão o capital em activos tangíveis, divisas estrangeiras, ouro, swaps de taxas de juro, fraudes em carry trade e contas de banco suíças. A noção de que recapitalizarão de modo a poderem proporcionar empréstimos aos consumidores e aos negócios dos EUA com uma economia a desmoronar é um sonho fantástico. Os EUA encaminham-se para a sua pior recessão em 60 anos. O mercado habitacional está em crash, a titularização acabou e a economia mais ampla está a deslocar-se rumo a recifes. Os bancos não estão dispostos a desperdiçar o seu tempo a tentar ressuscitar um moribundo mercado estado-unidense em que consumidores e negócios já estão espremidos ao máximo. De forma alguma; eles vão para pastagens mais verdes. Moverão o seu capital sempre que pensarem poder maximizar seus lucros. De facto, uma porção apreciável dos US$700 mil milhões provavelmente seria investida em commodities, o que significaria vem mais uma volta de especulação hiperbólica em futuros de alimentos e energia, levando os preços de combustíveis e alimentos para a estratosfera. Ironicamente, a generosidade dos contribuintes seria utilizada contra eles próprios, tornando ainda pior uma situação má. Assim, mais uma vez, se uma lei de reabilitação não for aprovada, ninguém pode prever com certeza o que acontecerá. Aqui está como Tim Shipman resumiu isto em "Bailout Failure Will Cause US Crash", no UK Telegraph: "Responsáveis próximo de Paulson estão, em privado, a pintar um retrato muito mais negro da fragilidade da economia global do que aquele avançado pelo presidente George W. Bush no discurso da semana passada na TV.
Um republicano disse que a mensagem de responsáveis do governo é de que 'a economia está em queda'. E acrescentou: 'Poderíamos ver quedas de 3000 ou 4000 ponto no Dow [o índice mercado de Nova York que actualmente situa-se em torno dos 11.000]. Isso poderia acontecer em apenas um par de dias. 'O que está a ser dito nos bastidores é que estamos a encarar algo como na década de 1930. Estamos a ver uma catástrofe, enorme, espantosa catástrofe. Todos estão extraordinariamente assustados. Isto vai ficar realmente asqueroso'."
O medo na Colina do Capitólio é palpável, especialmente entre os democratas que conduziram tanto esforço quanto possível para aprovar o engendro de Paulson. O porta-voz da Casa, Nancy Pelosi, e colegas líderes do Partido Democrata, Chris Dodd, Harry Reid e o convencido tagarela de Massachusetts, Barney Frank, fizeram tudo o que estava ao seu alcance para coagir dissidentes, suprimir resistência e apressar a votação da lei sem a habitual deliberação e debate. O deputado Marcy Kaptur (D-Ohio) foi um dos muitos irados membros do Congresso que atacou a brutalidade de Pelosi. Tudo isto ficou registado num vídeo de um minuto: http://redstaterebels.org/2008/09/wall-streets-greed-game/ Marcy Kaptur: "O processo legislativo normal que deveria acompanhar uma proposta monumental para salvar a Wall Street foi posto de lado. Sim, posto de lado! Apenas uns poucos iniciados estão a fazer a negociação. Estes criminosos têm tanto poder que podem encerrar o processo legislativo normal dos mais alto organismo legislativo desta terra. Todos os comités que deveriam estar a esquadrinhar cada palavra que está a ser negociada foram removidos. E isto significa que o povo americano foi removido. Nós estamos constitucionalmente jurados para proteger este país contra todos os inimigos externos e internos, e sim, meu amigos, há inimigos... A pessoas que estão a pressionar esta lei são exactamente as mesmas que foram responsáveis pela implosão da Wall Street. Elas foram fraudulentas então; e elas são fraudulentas agora. Nós deveríamos dizer Não a este acordo". Os republicanos estavam igualmente furiosos pelo modo como o grupo de Pelosi manteve as fileiras fora do circuito tanto quanto possível. O dep. Michael Burgess (R-Texas) resumiu os sentimentos de muitas congressistas que sentiam estarem a ser cilindrados por Pelosi & Co.: "Não vimos nenhuma lei. Temos estado aqui a debater conversas ... Os republicanos da casa foram excluídos do processo e ridicularizados pelos líderes democratas da Casa como "impatrióticos" por não participarem no apoio à lei. Sr. Porta-voz, eu fui expelido de mais reuniões nas últimas 24 horas do que alguma vez julguei possível como representante eleito dos 800 mil cidadãos de N. Texas... Uma vez que não tivermos audiências, uma vez que não tivemos emendas, vamos pelo menos colocar esta legislação na Internet durante 24 horas e deixar o povo americano ver o que fizemos na calada da noite. Afinal de contas, eu nunca tive mais mensagens sobre uma questão única do que sobre esta lei que está diante de nós esta noite". O deputado Dennis Kucinich (D-Ohio) fez o melhor discurso do dia, reprovando a indústria financeira e defendendo os interesses dos americanos da classe trabalhadora. Denni Kucinich: "A lei do salvamento dos US$700 mil milhões está a ser conduzida pelo medo e não pelos factos. Trata-se de demasiado dinheiro, em demasiado pouco tempo, a ir para demasiadas poucas pessoas, enquanto demasiadas questões permanecem não respondidas. Por que não estamos nós a ter audiências... Por que não estamos nós a considerar quaisquer outras alternativas além de dar US$700 mil milhões à Wall Street? Por que não estamos nós a aprovar novas lei para travar a especulação que disparou isto? Por que não estamos nós a erguer novas estruturas regulamentares para proteger os investidores? Por que não estamos nós a ajudar directamente os proprietários de casas com os seus fardos de dívidas? Por que não estamos nós a ajudar famílias americanas confrontadas com a bancarrota? Não será tempo para mudanças fundamentais no nosso sistema monetário baseado na dívidas de modo a que possamos libertar-nos da manipulação da Reserva Federal e dos bancos? Será isto o Congresso dos Estados Unidos ou o Conselho de Directores da Goldman Sachs?". Houve maior oposição à lei de Paulson do que a qualquer legislação no último meio século. A vaga de fundo do ultraje publico foi sem precedentes e, ainda assim, o Congresso, completamente isolado das exigências dos seus constituintes, continua a avançar com um erro crasso seguindo o mesmo roteiro pró-indústria dos seus gémeos ideológicos na Casa Branca. Não surpreendentemente, nem Pelosi nem qualquer elemento da liderança democrata chegou mesmo a encontrar-se com qualquer dos mais de 200 economistas importantes que declararam inequivocamente que o salvamento não atenderá os problemas centrais que estão a destruir o sistema financeiro. Ao invés disso, eles demoliram a demagogia de Bush e as afirmações espúrias do vendedor ambulante da G-Sax, Henry Paulson, um homem que até agora enganou o público sobre toda a questão relacionada com a subprime/fiasco financeiro. Há partes do Emergency Economic Stabilization Act of 2008 de Paulson que todo contribuinte americano deveria entender, embora os media estejam a manter estes factos na sombra. Nas secções 128 e 132, a lei proposta teria de suspender a contabilidade "marcação a mercado" ("mark to market"). Isto significa que aos bancos não seria mais exigido que avaliassem o valor dos seus activos de acordo com o que activos semelhantes alcançassem no mercado aberto. Por exemplo: a Merrill Lynch vendeu US$31 mil milhões de títulos apoiados por hipotecas por US$6 mil milhões, o que signfica que títulos semelhantes deveriam ser apreçados de forma semelhante. Simples, não é? Os bancos precisam ajustar o valor daqueles activos no seus balanços em conformidade. Isto dá aos investidores e depositantes a capacidade de saber se o seu banco está em más condições ou não. Mas a lei de Paulson levantava este requerimento e permitia aos bancos assinalarem o seu próprio valor arbitrário a estes activos, o que é a mesma velha fraude da contabilidade estilo Enron. A lei de Paulson também propunha a "Eliminação do FASB 157 e 0% de reservas". Isto é tão grosseiro quanto parece. O FASB, ou Financial Services Regulatory Relief Act diz: "Bancos Federais de Reserva são autorizado a pagar juros bancários sobre reservas sob a Secção 201 do Act. Além disso, a Secção 202 permite ao FRB mudar o rácio de reservas que um banco deve manter em relação às suas contas de transacções, permitindo um rácio de reserva zero se adequado. Devido a exigências orçamentais federais, a Secção 203 prevê que estas mudanças legislativas não terão efeito até 1 de Outubro de 2011". Isto é tudo algaravia legal para esconder o facto de que os bancos podem continuar a operar com capital insuficiente, o que é a razão porque o sistema está actualmente a explodir. Toda a atenção a isto: A razão porque o sistema está a explodir é porque às várias instituições financeiras foi permitido – via desregulamentação – actuarem como banco e criarem tanto crédito quanto elas quisessem sem um suficiente capital de base. Quando alguém lê sobre desalavancagem maciça, isto relaciona-se directamente com o facto de que negócios sub-capitalizados estavam a operar com demasiada dívida em relação ao seu capital. É isto em síntese; esqueça as CDOs, as MBSs, o CDS e toda a sopa de letras do lixo derivativo. Todas elas foram inseridas no sistema de modo que os bufarinheiros da Wall Street podiam expandir crédito sem supervisão de equilibrar triliões de dólares de dívida sobre as costas de uma única nota de dólar. É por isto que Paulson quiz suspender as regras que trariam a credibilidade e a confiança de volta ao sistema. Afinal de contas, aquilo pode afectar a capacidade da Wall Street para enriquecer-se a expensas do público. Nouriel Roubini localizou um estudo de Barry Eichengreen, "And Now the Great Depression", que aponta porque o plano de US$700 mil milhões de Paulson provavelmente fracassará:
"Sempre que há uma crise bancária sistémica há uma necessidade de recapitalizar o sistema bancário/financeiro para evitar uma excessiva e destrutiva contracção do crédito. Mas comprar activos tóxicos/ilíquidos do sistema financeiro NÃO é o caminho mais efectivo e eficiente para recapitalizar o sistema bancário... "Um recente estudo do FMI de 42 crises bancárias sistémicas em todo o mundo apresenta evidência de como diferentes crises foram resolvidas. "Antes de mais nada, apenas em 32 dos 42 casos houve intervenção financeira governamental de qualquer espécie; em 10 casos crises bancárias sistémicas foram resolvidas sem qualquer intervenção financeira governamental. Dos 32 casos em que o governo recapitalizou o sistema bancário apenas sete incluíram um programa de compra de maus empréstimos/activos (como aquele proposto pelo Tesouro dos EUA). Em 25 outros casos não houve compra governamental de activos tóxicos. Em seis casos o governo preferiu acções; em 4 caos o governo comprou acções ordinárias; em 11 casos o governo comprou dívida subordinada; em 12 casos o governo injectou cash nos bancos; em dois casos foi estendido crédito aos bancos; e em três casos o governo assumiu passivos bancários. Mesmo no caso em que foram comprados maus activos – como no Chile – foram suspensos dividendos e todos os lucros e recuperações tiveram de ser utilizados para recomprar os maus activos. Naturalmente na maior parte dos casos foram usadas múltiplas formas de recapitalização do bancos pelo governo". (Nouriel Roubini's Global EonoMonitor.)
Em suma, não funcionaria. Nem foi concebido para funcionar. A proposta de lei era apenas o meio de Paulson escavar uma canoa de prata para ele e os seus compadres de modo a que pudessem remar para algum paraíso offshore enquanto o resto de nós afundaria num oceano de dívidas sem fundo.
29/Setembro/2008
Notas [1] O dia 19 de Outubro de 1987, quando o Dow Jones sofreu uma queda de 22 por cento, é conhecido como "Segunda-feira negra" [2] TED spread: Diferença entre a taxa de juro T-bill e o Libor. É uma medida de liquidez e mostra o fluxo de dólares para dentro e para fora dos Estados Unidos. [3] One Trick Poney: Filme de 1980, em que o personagem tenta determinadas acções e fracassa. [*] fergiewghitney@msn.com O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09292008.html Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
por Mike Whitney [*]
Hoje a Câmara dos Representantes dos EUA rejeitou os US$700 mil milhões da Lei de Emergência Económica e de Estabilização de 2008 do secretário do Tesouro Paulson. Aqui está a votação nominal da lei proposta: http://clerk.house.gov/evs/2008/roll674.xml . Paulson disse dispor dos votos, mas estava errado. A Câmara rejeitou a afirmação de Paulson de que comprar os activos apoiados por hipotecas ilíquidas dos bancos do país seria suficiente para salvar o sistema financeiro de um colapso iminente. O corpo de jurados permaneceu fora da questão, também. O Professor Nouriel Roubini, presidente do Roubini Global Economics, resumiu isto como se segue: "Você não está a resolver as duas questões fundamentais. Você ainda tem de recapitalizar o sistema bancário, e a dívida habitacional está em vias de permanecer alta". Um grande número de economistas acredita que Roubini está certo. A lei não resolveria os problemas subjacentes. Há uma crise. O sistema bancário está subcapitalizado, os mercados de crédito estão congelados, e os credores estrangeiros começam a reduzir suas compras da dívida dos EUA. É tudo mau. Ao mesmo tempo o número de baixas dentre os gigantes finaceiros – Bear Stearns, Indymac, AIG, Lehman, Washington Mutual – continua a crescer. Três outros bancos europeus com dificuldades foram acrescentados à lista de instituições financeiras que precisaram de assistência governamental de emergência no último fim de semana. Não é de admirar que o Congresso sinta ter de fazer alguma coisa para estancar a hemorragia. Antes de o mercado de acções abrir na segunda-feira, os mercados de futuros desmoronaram pesadamente no território negativo, ao passo que o TED spread [2] , um indicador de stress no empréstimo interbancário, ampliou-se para 3,19, um nível que sugere mais uma instável semana de comercialização pela frente. Poderia isto ser uma outra Segunda-feira Negra? A lei de Paulson foi concebida para evitar um crash de todo o sistema através do saneamento dos balanços dos bancos de modo a que eles pudessem retomar o crédito aos consumidores e aos negócios. A esperança era que uma infusão maciça de capital "faria o relógio andar ao contrário", para os dias felizes da especulação com juros baixos e da bolha económica. Paulson é um "one trick pony" [3] que adere com firmeza à crença de que a criação de riqueza depende de um máximo de alavancagem e de uma divisa sempre a enfraquecer. Mas esta visão do mundo já não é mais aplicável depois de se atingir o Pico do Crédito, em que os consumidores já não são mais capazes de efectuar os pagamentos dos juros sobre os empréstimos e os negócios e instituições financeiras são forçados a reduzir seus gastos e enterrar seus activos tóxicos a preços de liquidação. O sistema está a desalavancar e nada pode travar isto. Paulson ainda tem de aceitar a nova realidade. Além disso, não havia garantia de que os bancos utilizariam o dinheiro do modo que Paulson imaginava. Como me explicou um veterano da Wall Street: "Não vejo um centavo daqueles US$700 mil milhões a acabar por ajudar a economia mais ampla. Vejo-o ser utilizado para impulsionar preços de acções de modo a que iniciados possam salvar tanto quanto possível quando enterrarem as suas acções". Na verdade, os US$700 mil milhões são apenas parte de um maciço esquema "pump and dump" engendrado com a aprovação tácita do Tesouro e do Federal Reserve. Depois de os banksters terem descarregado seus títulos fraudulentos e papéis sórdidos sobre o Tio Sam, eles farão tudo o que precisarem para acolchoar os resultados líquidos e conduzir as suas acções para cima. Isto significa que lançarão o capital em activos tangíveis, divisas estrangeiras, ouro, swaps de taxas de juro, fraudes em carry trade e contas de banco suíças. A noção de que recapitalizarão de modo a poderem proporcionar empréstimos aos consumidores e aos negócios dos EUA com uma economia a desmoronar é um sonho fantástico. Os EUA encaminham-se para a sua pior recessão em 60 anos. O mercado habitacional está em crash, a titularização acabou e a economia mais ampla está a deslocar-se rumo a recifes. Os bancos não estão dispostos a desperdiçar o seu tempo a tentar ressuscitar um moribundo mercado estado-unidense em que consumidores e negócios já estão espremidos ao máximo. De forma alguma; eles vão para pastagens mais verdes. Moverão o seu capital sempre que pensarem poder maximizar seus lucros. De facto, uma porção apreciável dos US$700 mil milhões provavelmente seria investida em commodities, o que significaria vem mais uma volta de especulação hiperbólica em futuros de alimentos e energia, levando os preços de combustíveis e alimentos para a estratosfera. Ironicamente, a generosidade dos contribuintes seria utilizada contra eles próprios, tornando ainda pior uma situação má. Assim, mais uma vez, se uma lei de reabilitação não for aprovada, ninguém pode prever com certeza o que acontecerá. Aqui está como Tim Shipman resumiu isto em "Bailout Failure Will Cause US Crash", no UK Telegraph: "Responsáveis próximo de Paulson estão, em privado, a pintar um retrato muito mais negro da fragilidade da economia global do que aquele avançado pelo presidente George W. Bush no discurso da semana passada na TV.
Um republicano disse que a mensagem de responsáveis do governo é de que 'a economia está em queda'. E acrescentou: 'Poderíamos ver quedas de 3000 ou 4000 ponto no Dow [o índice mercado de Nova York que actualmente situa-se em torno dos 11.000]. Isso poderia acontecer em apenas um par de dias. 'O que está a ser dito nos bastidores é que estamos a encarar algo como na década de 1930. Estamos a ver uma catástrofe, enorme, espantosa catástrofe. Todos estão extraordinariamente assustados. Isto vai ficar realmente asqueroso'."
O medo na Colina do Capitólio é palpável, especialmente entre os democratas que conduziram tanto esforço quanto possível para aprovar o engendro de Paulson. O porta-voz da Casa, Nancy Pelosi, e colegas líderes do Partido Democrata, Chris Dodd, Harry Reid e o convencido tagarela de Massachusetts, Barney Frank, fizeram tudo o que estava ao seu alcance para coagir dissidentes, suprimir resistência e apressar a votação da lei sem a habitual deliberação e debate. O deputado Marcy Kaptur (D-Ohio) foi um dos muitos irados membros do Congresso que atacou a brutalidade de Pelosi. Tudo isto ficou registado num vídeo de um minuto: http://redstaterebels.org/2008/09/wall-streets-greed-game/ Marcy Kaptur: "O processo legislativo normal que deveria acompanhar uma proposta monumental para salvar a Wall Street foi posto de lado. Sim, posto de lado! Apenas uns poucos iniciados estão a fazer a negociação. Estes criminosos têm tanto poder que podem encerrar o processo legislativo normal dos mais alto organismo legislativo desta terra. Todos os comités que deveriam estar a esquadrinhar cada palavra que está a ser negociada foram removidos. E isto significa que o povo americano foi removido. Nós estamos constitucionalmente jurados para proteger este país contra todos os inimigos externos e internos, e sim, meu amigos, há inimigos... A pessoas que estão a pressionar esta lei são exactamente as mesmas que foram responsáveis pela implosão da Wall Street. Elas foram fraudulentas então; e elas são fraudulentas agora. Nós deveríamos dizer Não a este acordo". Os republicanos estavam igualmente furiosos pelo modo como o grupo de Pelosi manteve as fileiras fora do circuito tanto quanto possível. O dep. Michael Burgess (R-Texas) resumiu os sentimentos de muitas congressistas que sentiam estarem a ser cilindrados por Pelosi & Co.: "Não vimos nenhuma lei. Temos estado aqui a debater conversas ... Os republicanos da casa foram excluídos do processo e ridicularizados pelos líderes democratas da Casa como "impatrióticos" por não participarem no apoio à lei. Sr. Porta-voz, eu fui expelido de mais reuniões nas últimas 24 horas do que alguma vez julguei possível como representante eleito dos 800 mil cidadãos de N. Texas... Uma vez que não tivermos audiências, uma vez que não tivemos emendas, vamos pelo menos colocar esta legislação na Internet durante 24 horas e deixar o povo americano ver o que fizemos na calada da noite. Afinal de contas, eu nunca tive mais mensagens sobre uma questão única do que sobre esta lei que está diante de nós esta noite". O deputado Dennis Kucinich (D-Ohio) fez o melhor discurso do dia, reprovando a indústria financeira e defendendo os interesses dos americanos da classe trabalhadora. Denni Kucinich: "A lei do salvamento dos US$700 mil milhões está a ser conduzida pelo medo e não pelos factos. Trata-se de demasiado dinheiro, em demasiado pouco tempo, a ir para demasiadas poucas pessoas, enquanto demasiadas questões permanecem não respondidas. Por que não estamos nós a ter audiências... Por que não estamos nós a considerar quaisquer outras alternativas além de dar US$700 mil milhões à Wall Street? Por que não estamos nós a aprovar novas lei para travar a especulação que disparou isto? Por que não estamos nós a erguer novas estruturas regulamentares para proteger os investidores? Por que não estamos nós a ajudar directamente os proprietários de casas com os seus fardos de dívidas? Por que não estamos nós a ajudar famílias americanas confrontadas com a bancarrota? Não será tempo para mudanças fundamentais no nosso sistema monetário baseado na dívidas de modo a que possamos libertar-nos da manipulação da Reserva Federal e dos bancos? Será isto o Congresso dos Estados Unidos ou o Conselho de Directores da Goldman Sachs?". Houve maior oposição à lei de Paulson do que a qualquer legislação no último meio século. A vaga de fundo do ultraje publico foi sem precedentes e, ainda assim, o Congresso, completamente isolado das exigências dos seus constituintes, continua a avançar com um erro crasso seguindo o mesmo roteiro pró-indústria dos seus gémeos ideológicos na Casa Branca. Não surpreendentemente, nem Pelosi nem qualquer elemento da liderança democrata chegou mesmo a encontrar-se com qualquer dos mais de 200 economistas importantes que declararam inequivocamente que o salvamento não atenderá os problemas centrais que estão a destruir o sistema financeiro. Ao invés disso, eles demoliram a demagogia de Bush e as afirmações espúrias do vendedor ambulante da G-Sax, Henry Paulson, um homem que até agora enganou o público sobre toda a questão relacionada com a subprime/fiasco financeiro. Há partes do Emergency Economic Stabilization Act of 2008 de Paulson que todo contribuinte americano deveria entender, embora os media estejam a manter estes factos na sombra. Nas secções 128 e 132, a lei proposta teria de suspender a contabilidade "marcação a mercado" ("mark to market"). Isto significa que aos bancos não seria mais exigido que avaliassem o valor dos seus activos de acordo com o que activos semelhantes alcançassem no mercado aberto. Por exemplo: a Merrill Lynch vendeu US$31 mil milhões de títulos apoiados por hipotecas por US$6 mil milhões, o que signfica que títulos semelhantes deveriam ser apreçados de forma semelhante. Simples, não é? Os bancos precisam ajustar o valor daqueles activos no seus balanços em conformidade. Isto dá aos investidores e depositantes a capacidade de saber se o seu banco está em más condições ou não. Mas a lei de Paulson levantava este requerimento e permitia aos bancos assinalarem o seu próprio valor arbitrário a estes activos, o que é a mesma velha fraude da contabilidade estilo Enron. A lei de Paulson também propunha a "Eliminação do FASB 157 e 0% de reservas". Isto é tão grosseiro quanto parece. O FASB, ou Financial Services Regulatory Relief Act diz: "Bancos Federais de Reserva são autorizado a pagar juros bancários sobre reservas sob a Secção 201 do Act. Além disso, a Secção 202 permite ao FRB mudar o rácio de reservas que um banco deve manter em relação às suas contas de transacções, permitindo um rácio de reserva zero se adequado. Devido a exigências orçamentais federais, a Secção 203 prevê que estas mudanças legislativas não terão efeito até 1 de Outubro de 2011". Isto é tudo algaravia legal para esconder o facto de que os bancos podem continuar a operar com capital insuficiente, o que é a razão porque o sistema está actualmente a explodir. Toda a atenção a isto: A razão porque o sistema está a explodir é porque às várias instituições financeiras foi permitido – via desregulamentação – actuarem como banco e criarem tanto crédito quanto elas quisessem sem um suficiente capital de base. Quando alguém lê sobre desalavancagem maciça, isto relaciona-se directamente com o facto de que negócios sub-capitalizados estavam a operar com demasiada dívida em relação ao seu capital. É isto em síntese; esqueça as CDOs, as MBSs, o CDS e toda a sopa de letras do lixo derivativo. Todas elas foram inseridas no sistema de modo que os bufarinheiros da Wall Street podiam expandir crédito sem supervisão de equilibrar triliões de dólares de dívida sobre as costas de uma única nota de dólar. É por isto que Paulson quiz suspender as regras que trariam a credibilidade e a confiança de volta ao sistema. Afinal de contas, aquilo pode afectar a capacidade da Wall Street para enriquecer-se a expensas do público. Nouriel Roubini localizou um estudo de Barry Eichengreen, "And Now the Great Depression", que aponta porque o plano de US$700 mil milhões de Paulson provavelmente fracassará:
"Sempre que há uma crise bancária sistémica há uma necessidade de recapitalizar o sistema bancário/financeiro para evitar uma excessiva e destrutiva contracção do crédito. Mas comprar activos tóxicos/ilíquidos do sistema financeiro NÃO é o caminho mais efectivo e eficiente para recapitalizar o sistema bancário... "Um recente estudo do FMI de 42 crises bancárias sistémicas em todo o mundo apresenta evidência de como diferentes crises foram resolvidas. "Antes de mais nada, apenas em 32 dos 42 casos houve intervenção financeira governamental de qualquer espécie; em 10 casos crises bancárias sistémicas foram resolvidas sem qualquer intervenção financeira governamental. Dos 32 casos em que o governo recapitalizou o sistema bancário apenas sete incluíram um programa de compra de maus empréstimos/activos (como aquele proposto pelo Tesouro dos EUA). Em 25 outros casos não houve compra governamental de activos tóxicos. Em seis casos o governo preferiu acções; em 4 caos o governo comprou acções ordinárias; em 11 casos o governo comprou dívida subordinada; em 12 casos o governo injectou cash nos bancos; em dois casos foi estendido crédito aos bancos; e em três casos o governo assumiu passivos bancários. Mesmo no caso em que foram comprados maus activos – como no Chile – foram suspensos dividendos e todos os lucros e recuperações tiveram de ser utilizados para recomprar os maus activos. Naturalmente na maior parte dos casos foram usadas múltiplas formas de recapitalização do bancos pelo governo". (Nouriel Roubini's Global EonoMonitor.)
Em suma, não funcionaria. Nem foi concebido para funcionar. A proposta de lei era apenas o meio de Paulson escavar uma canoa de prata para ele e os seus compadres de modo a que pudessem remar para algum paraíso offshore enquanto o resto de nós afundaria num oceano de dívidas sem fundo.
29/Setembro/2008
Notas [1] O dia 19 de Outubro de 1987, quando o Dow Jones sofreu uma queda de 22 por cento, é conhecido como "Segunda-feira negra" [2] TED spread: Diferença entre a taxa de juro T-bill e o Libor. É uma medida de liquidez e mostra o fluxo de dólares para dentro e para fora dos Estados Unidos. [3] One Trick Poney: Filme de 1980, em que o personagem tenta determinadas acções e fracassa. [*] fergiewghitney@msn.com O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney09292008.html Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
ARTIGO - A crise do século.
Os terremotos que sacudiram as Bolsas durante este ''setembro negro'' precipitaram o fim de uma era do capitalismo. A arquitetura financeira internacional cambaleou. E o risco sistêmico permanece. Nada será como antes. Regressa o Estado.
Por Ignácio Ramonet*
A queda de Wall Street é comparável, na esfera financeira, ao que representou, no âmbito geopolítico, a queda do muro de Berlin. Uma mudança de mundo e um giro ''copernicano''. Conforme diz Paul Samuelson, prêmio Nobel de Economia: ''Essa crise é para o capitalismo o que a queda da União Soviética foi para o comunismo''. Encerra-se o período iniciado em 1981 com a fórmula de Ronald Reagan: ''O Estado não é a solução, é o problema''. Durante 30 anos, os fundamentalistas repetiram que o mercado sempre tinha razão, que a globalização era sinônimo de felicidade e que o capitalismo financeiro edificava o paraíso para todos. Equivocaram-se.
A ''idade de ouro'' de Wall Street acabou. E também uma etapa de exuberância e esbanjamento representada por uma aristocracia de banqueiros de investimento, ''amos do universo'' denunciados por Tom Wolfe em ''A Fogueira das Vaidades'' (1987). Possuídos por uma lógica de rentabilidade a curto prazo. Pela busca de benefícios exorbitantes.
Dispostos a tudo para conquistar lucros: vendas abusivas, manipulações, invenção de instrumentos opacos, contratos de cobertura de riscos, hedge funds... A febre dos proveitos fáceis contagiou a todo o planeta. Os mercados se superaqueceram, alimentados por um excesso de liquidez que facilitou a alta dos preços.
A globalização conduziu a economia mundial a tomar a forma de uma economia de papel, virtual, imaterial. A esfera financeira chegou a representar mais de 250 bilhões de euros, ou seja, seis vezes o montante da riqueza real mundial. E, de repente, essa gigantesca bolha estourou. O desastre é de dimensões apocalípticas. Mais de 200 bilhões de euros viraram fumaça. A banca de investimento foi apagada do mapa. As cinco maiores entidades se desmoronaram: Lehman Brothers em bancarrota; Bear Stearns comprado, com a ajuda do Federal Reserve (Fed), pelo Morgan Chase; Merril Lynch adquirido por Bank of America; e os dois últimos, Goldman Sachs y Morgan Stanley (em parte comprado pelo japonês Mitsubishi UFJ), convertidos em simples bancos comerciais.
Toda a cadeia de funcionamento do aparato financeiro entrou em colapso. Não somente a banca de investimento, mas também os bancos centrais, os sistemas de regulação, os bancos comerciais, as companhias de seguros, as agências de qualificação de riscos (como Standard & Poors, Moody’s, Fitch) e até auditorias contábeis (Deloitte, Ernst&Young, PwC).
O naufrágio não pode surpreender a ninguém. O escândalo das ''hipotecas lixo'' era conhecido de todos. Da mesma forma, o excesso de liquidez orientado à especulação e a explosão delirante dos preços das casas. Tudo isso foi denunciado há muito tempo sem que não fosse feito, pois o crime beneficiava a muitos. E seguiu-se afirmando que a iniciativa privada e o mercado cuidariam de tudo.
A administração do presidente George W. Bush teve que renegar esse princípio e recorrer, massivamente, à intervenção do Estado. As principais entidades de crédito imobiliário, Fannie Mãe e Freddy Mac, foram nacionalizadas. Também o foi o AIG, a maior companhia de seguros do mundo. E o secretário de Tesouro, Henry Paulson (ex-presidente do Goldman Sachs...) propôs um plano de resgate das ações ''tóxicas'' advindas das ''hipotecas lixo'' (subprime), por um valor de US$ 500 bilhões, também adiantados pelo Estado, ou seja, pelos contribuintes.
Prova do fracasso do sistema, essas intervenções do Estados – as maiores, em volume, da história econômica – demonstram que os mercados não são capazes de se regular por si mesmos, se auto-destruíram por sua própria voracidade. Além disso, se confirma uma lei do cinismo neoliberal: privatizam-se os benefícios, mas se socializam as perdas. Fazem com que os pobres paguem as excentricidades irracionais dos banqueiros, sob a ameaça de empobrecê-los ainda mais caso se neguem a pagar.
As autoridades norte-americanas ajudam no resgate dos ''bankstes'' (banqueiro gângster) às custas dos cidadãos. Há alguns meses, o presidente Bush se negou a assinar uma lei que oferecia cobertura médica a nove milhões de crianças pobres, por um custo de 4 bilhões de euros. Ele considerou um gasto inútil. Agora, para salvar aos rufiões de Wall Street nada lhe parece o bastante. Socialismo para ricos e capitalismo selvagem para os pobres.
Esse desastre ocorre em um momento de vácuo teórico das esquerdas, as quais não têm um ''plano B'' para tira proveito da situação. Em particular as da Europa, afetadas pelo choque da crise.
Quanto tempo durará a crise? ''Vinte anos se tivermos sorte, ou menos de dez se as autoridades agirem com a mão firme'', vaticina o editorialista neoliberal Martin Wolf, no Financial Times. Se existisse uma lógica política, esse contexto deveria favorecer a eleição do democrata Barack Obama (se não for assassinado) para a Presidência dos Estados Unidos em 4 de novembro próximo. É provável que, como Franklin D. Roosevelt em 1930, o jovem presidente lance um novo New Deal, baseado num neokeynesianismo que confirmará o retorno do Estado na esfera econômica. E aportará por fim maior justiça social aos cidadãos. Talvez vá até um novo Bretton Woods. A etapa mais selvagem e irracional da globalização haverá terminado.
* Publicado originalmente no Le Monde Diplomatique.
Fonte: Site O Vermelho.
Por Ignácio Ramonet*
A queda de Wall Street é comparável, na esfera financeira, ao que representou, no âmbito geopolítico, a queda do muro de Berlin. Uma mudança de mundo e um giro ''copernicano''. Conforme diz Paul Samuelson, prêmio Nobel de Economia: ''Essa crise é para o capitalismo o que a queda da União Soviética foi para o comunismo''. Encerra-se o período iniciado em 1981 com a fórmula de Ronald Reagan: ''O Estado não é a solução, é o problema''. Durante 30 anos, os fundamentalistas repetiram que o mercado sempre tinha razão, que a globalização era sinônimo de felicidade e que o capitalismo financeiro edificava o paraíso para todos. Equivocaram-se.
A ''idade de ouro'' de Wall Street acabou. E também uma etapa de exuberância e esbanjamento representada por uma aristocracia de banqueiros de investimento, ''amos do universo'' denunciados por Tom Wolfe em ''A Fogueira das Vaidades'' (1987). Possuídos por uma lógica de rentabilidade a curto prazo. Pela busca de benefícios exorbitantes.
Dispostos a tudo para conquistar lucros: vendas abusivas, manipulações, invenção de instrumentos opacos, contratos de cobertura de riscos, hedge funds... A febre dos proveitos fáceis contagiou a todo o planeta. Os mercados se superaqueceram, alimentados por um excesso de liquidez que facilitou a alta dos preços.
A globalização conduziu a economia mundial a tomar a forma de uma economia de papel, virtual, imaterial. A esfera financeira chegou a representar mais de 250 bilhões de euros, ou seja, seis vezes o montante da riqueza real mundial. E, de repente, essa gigantesca bolha estourou. O desastre é de dimensões apocalípticas. Mais de 200 bilhões de euros viraram fumaça. A banca de investimento foi apagada do mapa. As cinco maiores entidades se desmoronaram: Lehman Brothers em bancarrota; Bear Stearns comprado, com a ajuda do Federal Reserve (Fed), pelo Morgan Chase; Merril Lynch adquirido por Bank of America; e os dois últimos, Goldman Sachs y Morgan Stanley (em parte comprado pelo japonês Mitsubishi UFJ), convertidos em simples bancos comerciais.
Toda a cadeia de funcionamento do aparato financeiro entrou em colapso. Não somente a banca de investimento, mas também os bancos centrais, os sistemas de regulação, os bancos comerciais, as companhias de seguros, as agências de qualificação de riscos (como Standard & Poors, Moody’s, Fitch) e até auditorias contábeis (Deloitte, Ernst&Young, PwC).
O naufrágio não pode surpreender a ninguém. O escândalo das ''hipotecas lixo'' era conhecido de todos. Da mesma forma, o excesso de liquidez orientado à especulação e a explosão delirante dos preços das casas. Tudo isso foi denunciado há muito tempo sem que não fosse feito, pois o crime beneficiava a muitos. E seguiu-se afirmando que a iniciativa privada e o mercado cuidariam de tudo.
A administração do presidente George W. Bush teve que renegar esse princípio e recorrer, massivamente, à intervenção do Estado. As principais entidades de crédito imobiliário, Fannie Mãe e Freddy Mac, foram nacionalizadas. Também o foi o AIG, a maior companhia de seguros do mundo. E o secretário de Tesouro, Henry Paulson (ex-presidente do Goldman Sachs...) propôs um plano de resgate das ações ''tóxicas'' advindas das ''hipotecas lixo'' (subprime), por um valor de US$ 500 bilhões, também adiantados pelo Estado, ou seja, pelos contribuintes.
Prova do fracasso do sistema, essas intervenções do Estados – as maiores, em volume, da história econômica – demonstram que os mercados não são capazes de se regular por si mesmos, se auto-destruíram por sua própria voracidade. Além disso, se confirma uma lei do cinismo neoliberal: privatizam-se os benefícios, mas se socializam as perdas. Fazem com que os pobres paguem as excentricidades irracionais dos banqueiros, sob a ameaça de empobrecê-los ainda mais caso se neguem a pagar.
As autoridades norte-americanas ajudam no resgate dos ''bankstes'' (banqueiro gângster) às custas dos cidadãos. Há alguns meses, o presidente Bush se negou a assinar uma lei que oferecia cobertura médica a nove milhões de crianças pobres, por um custo de 4 bilhões de euros. Ele considerou um gasto inútil. Agora, para salvar aos rufiões de Wall Street nada lhe parece o bastante. Socialismo para ricos e capitalismo selvagem para os pobres.
Esse desastre ocorre em um momento de vácuo teórico das esquerdas, as quais não têm um ''plano B'' para tira proveito da situação. Em particular as da Europa, afetadas pelo choque da crise.
Quanto tempo durará a crise? ''Vinte anos se tivermos sorte, ou menos de dez se as autoridades agirem com a mão firme'', vaticina o editorialista neoliberal Martin Wolf, no Financial Times. Se existisse uma lógica política, esse contexto deveria favorecer a eleição do democrata Barack Obama (se não for assassinado) para a Presidência dos Estados Unidos em 4 de novembro próximo. É provável que, como Franklin D. Roosevelt em 1930, o jovem presidente lance um novo New Deal, baseado num neokeynesianismo que confirmará o retorno do Estado na esfera econômica. E aportará por fim maior justiça social aos cidadãos. Talvez vá até um novo Bretton Woods. A etapa mais selvagem e irracional da globalização haverá terminado.
* Publicado originalmente no Le Monde Diplomatique.
Fonte: Site O Vermelho.
ARTIGO - Teorias em transe.
Escrito por Wladimir Pomar
Tanto a nova expansão capitalista quanto a ambigüidade e o paradoxo chinês têm embaralhado o raciocínio da esquerda e da direita, por não se encaixarem nas teorias liberais clássicas e nem nas teorias marxistas mecânicas. Os que leram Marx, nos dois lados, sob a ótica da lógica formal e não da lógica dialética, não conseguem ver em ambos os fenômenos o processo combinado, mas contraditório, de desenvolvimento do capital e do socialismo.
Os teóricos do capital se esmeram em reassegurar a eternidade da contínua revolução desse modo de produção, de "aplainamento" do mundo sob sua égide e dos milagres do mercado para sanar problemas. Para eles, a teoria de Marx sobre as crises de reprodução do capital fora ultrapassada pela "maturidade dos mercados". Porém, esta suposição está rolando ladeira abaixo diante da atual crise com epicentro no coração do capitalismo norte-americano.
Os grandes bancos norte-americanos e europeus, e as autoridades financeiras de seus países, acostumaram-se a fazer críticas ácidas sobre a fragilidade do sistema financeiro dos países mais pobres. A respeito do sistema financeiro chinês, em especial, proclamavam que ele desabaria, a qualquer momento, em virtude dos "créditos podres" que tinham em carteira. Com isso, procuraram impor a privatização dos sistemas financeiros nacionais e maior abertura à ação dos bancos estrangeiros.
Governos de alguns países capitularam essas pressões. Outros, porém, embora admitindo a existência das fragilidades apontadas, fortaleceram seus sistemas financeiros, aplicando medidas diferentes das exigidas pelos bancos e governos do capitalismo central. O irônico disso tudo que estes não tenham aplicado nada do que receitavam aos demais.
Nem poderiam, em virtude das leis férreas de desenvolvimento desigual do capital e das dificuldades do capitalismo desenvolvido, em contraste com o capitalismo dos países em desenvolvimento. O sistema financeiro do capitalismo norte-americano atolou-se num oceano de créditos podres, na tentativa desesperada de manter um mercado interno pujante, tendo por base um sistema de crédito que não tinha sustentação num poder aquisitivo real.
Esse é um indício de que o capitalismo central começa a chegar naquele ponto em que precisa sustentar aqueles que deveriam ser a base de sua reprodução. Enquanto podia explorar livremente a periferia ou fazer guerras que catapultavam seus lucros, tal sistema ainda funcionava sem grandes traumas. Porém, à medida que a periferia do capitalismo se tornou competidora, e não tributária do capitalismo central, os problemas se agravaram. E, como previu Engels, também parece estar chegando a época em que as guerras, em virtude dos custos dos armamentos, podem afundar os países que as promovem ao invés de trazer-lhes vantagens.
A solução momentânea é a intervenção direta do Estado. Isto subverte e coloca em transe todas as teorias do liberalismo e do neoliberalismo. Seu problema consiste em que a intervenção do Estado norte-americano não tem por base a taxação sobre as grandes fortunas e as riquezas das corporações transnacionais, mas sim a taxação sobre as grandes massas da população. Estas, sem poder aquisitivo para realizar a circulação da produção, como vão financiar o rombo dos bancos?
Essa crise do capitalismo central quase certamente não será a crise final. Ela vai abalar o capitalismo disseminado pelo mundo e pode até ser sinal de um longo processo de estertores. Mas, da mesma forma que as anteriores, trará muitas surpresas, em especial para os que não leram Marx com atenção dialética.
Fonte: Correio da Cidadania.
Tanto a nova expansão capitalista quanto a ambigüidade e o paradoxo chinês têm embaralhado o raciocínio da esquerda e da direita, por não se encaixarem nas teorias liberais clássicas e nem nas teorias marxistas mecânicas. Os que leram Marx, nos dois lados, sob a ótica da lógica formal e não da lógica dialética, não conseguem ver em ambos os fenômenos o processo combinado, mas contraditório, de desenvolvimento do capital e do socialismo.
Os teóricos do capital se esmeram em reassegurar a eternidade da contínua revolução desse modo de produção, de "aplainamento" do mundo sob sua égide e dos milagres do mercado para sanar problemas. Para eles, a teoria de Marx sobre as crises de reprodução do capital fora ultrapassada pela "maturidade dos mercados". Porém, esta suposição está rolando ladeira abaixo diante da atual crise com epicentro no coração do capitalismo norte-americano.
Os grandes bancos norte-americanos e europeus, e as autoridades financeiras de seus países, acostumaram-se a fazer críticas ácidas sobre a fragilidade do sistema financeiro dos países mais pobres. A respeito do sistema financeiro chinês, em especial, proclamavam que ele desabaria, a qualquer momento, em virtude dos "créditos podres" que tinham em carteira. Com isso, procuraram impor a privatização dos sistemas financeiros nacionais e maior abertura à ação dos bancos estrangeiros.
Governos de alguns países capitularam essas pressões. Outros, porém, embora admitindo a existência das fragilidades apontadas, fortaleceram seus sistemas financeiros, aplicando medidas diferentes das exigidas pelos bancos e governos do capitalismo central. O irônico disso tudo que estes não tenham aplicado nada do que receitavam aos demais.
Nem poderiam, em virtude das leis férreas de desenvolvimento desigual do capital e das dificuldades do capitalismo desenvolvido, em contraste com o capitalismo dos países em desenvolvimento. O sistema financeiro do capitalismo norte-americano atolou-se num oceano de créditos podres, na tentativa desesperada de manter um mercado interno pujante, tendo por base um sistema de crédito que não tinha sustentação num poder aquisitivo real.
Esse é um indício de que o capitalismo central começa a chegar naquele ponto em que precisa sustentar aqueles que deveriam ser a base de sua reprodução. Enquanto podia explorar livremente a periferia ou fazer guerras que catapultavam seus lucros, tal sistema ainda funcionava sem grandes traumas. Porém, à medida que a periferia do capitalismo se tornou competidora, e não tributária do capitalismo central, os problemas se agravaram. E, como previu Engels, também parece estar chegando a época em que as guerras, em virtude dos custos dos armamentos, podem afundar os países que as promovem ao invés de trazer-lhes vantagens.
A solução momentânea é a intervenção direta do Estado. Isto subverte e coloca em transe todas as teorias do liberalismo e do neoliberalismo. Seu problema consiste em que a intervenção do Estado norte-americano não tem por base a taxação sobre as grandes fortunas e as riquezas das corporações transnacionais, mas sim a taxação sobre as grandes massas da população. Estas, sem poder aquisitivo para realizar a circulação da produção, como vão financiar o rombo dos bancos?
Essa crise do capitalismo central quase certamente não será a crise final. Ela vai abalar o capitalismo disseminado pelo mundo e pode até ser sinal de um longo processo de estertores. Mas, da mesma forma que as anteriores, trará muitas surpresas, em especial para os que não leram Marx com atenção dialética.
Fonte: Correio da Cidadania.
ELEIÇÕES - Eleitor: o pior político.
Escrito por Gilvan Rocha
É corrente o repúdio aos políticos de carreira. Eles funcionam como saco de pancada da sociedade para satisfação do capitalismo. Ao invés de acusar-se o sistema pelas mazelas sociais, o povo letrado e iletrado ocupa-se em acusar o político de carreira como causador de nossas agruras, deixando de lado a sua verdadeira causa. Ora, o político de carreira é uma peça na imensa máquina de dominação burguesa. Tanto serve para gerenciar os negócios como também para desviar as atenções do que realmente provoca os desacertos sociais. Mas não são eles a causa, como não seriam a via pela qual teríamos nossos problemas sociais resolvidos. A solução depende exclusivamente do povo consciente e organizado, isto é, do político eleitor.
Como anda, porém, esse político eleitor? Como ele tem se comportado diante de nossas mazelas sociais?
Ninguém vive sem um discurso político, desde o gari ao erudito senhor, todos têm na ponta da língua um discurso pronto. É incrível a semelhança de conteúdo entre o discurso dos iletrados e dos letrados. Alguns pretendem um discurso elaborado falando que somos filhos de negros, brancos degradados e índios. Outros proclamam que falta vergonha na cara. E assim se sucedem os discursos que povoam a cabeça do político eleitor, esse que haveria de nos salvar da tragédia total para a qual nos arrasta o capitalismo.
O político eleitor tem sido desinformado ou mal informado. Quem deveria bem informá-lo seriam os partidos de esquerda, mas eles, por sua maioria, têm preferido se lambuzar no doce mel do sistema corrompido e corruptor. Assim é que o político eleitor, sem clareza, elege Paulo Maluf como deputado mais votado do Brasil. Elege Fernando Collor senador da República e tantos outros notáveis larápios.
É bem verdade que o simples voto não levaria à necessária transformação social, mas o voto despolitizado, desinformado, retrata o nível desse político tão essencial para a nossa história, o político eleitor, que por enquanto tem se mostrado o pior dos políticos, pois, omisso, quando não irresponsável.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP
Fonte: Correio da Cidadania.
É corrente o repúdio aos políticos de carreira. Eles funcionam como saco de pancada da sociedade para satisfação do capitalismo. Ao invés de acusar-se o sistema pelas mazelas sociais, o povo letrado e iletrado ocupa-se em acusar o político de carreira como causador de nossas agruras, deixando de lado a sua verdadeira causa. Ora, o político de carreira é uma peça na imensa máquina de dominação burguesa. Tanto serve para gerenciar os negócios como também para desviar as atenções do que realmente provoca os desacertos sociais. Mas não são eles a causa, como não seriam a via pela qual teríamos nossos problemas sociais resolvidos. A solução depende exclusivamente do povo consciente e organizado, isto é, do político eleitor.
Como anda, porém, esse político eleitor? Como ele tem se comportado diante de nossas mazelas sociais?
Ninguém vive sem um discurso político, desde o gari ao erudito senhor, todos têm na ponta da língua um discurso pronto. É incrível a semelhança de conteúdo entre o discurso dos iletrados e dos letrados. Alguns pretendem um discurso elaborado falando que somos filhos de negros, brancos degradados e índios. Outros proclamam que falta vergonha na cara. E assim se sucedem os discursos que povoam a cabeça do político eleitor, esse que haveria de nos salvar da tragédia total para a qual nos arrasta o capitalismo.
O político eleitor tem sido desinformado ou mal informado. Quem deveria bem informá-lo seriam os partidos de esquerda, mas eles, por sua maioria, têm preferido se lambuzar no doce mel do sistema corrompido e corruptor. Assim é que o político eleitor, sem clareza, elege Paulo Maluf como deputado mais votado do Brasil. Elege Fernando Collor senador da República e tantos outros notáveis larápios.
É bem verdade que o simples voto não levaria à necessária transformação social, mas o voto despolitizado, desinformado, retrata o nível desse político tão essencial para a nossa história, o político eleitor, que por enquanto tem se mostrado o pior dos políticos, pois, omisso, quando não irresponsável.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP
Fonte: Correio da Cidadania.
CURIOSIDADES - Pub proíbe entrada de égua que era cliente assídua.
Peggy costumava beber cerveja e comer salgadinhos.
Um pub na região inglesa de Tyneside, no norte do país, proibiu a entrada de uma égua que era freqüentadora assídua do bar.
A égua Peggy, de 12 anos, costumava freqüentar o pub do hotel Alexandra, na cidade de Jarrow, com seu dono, Peter Dolan, e tomava uma cerveja acompanhada de um pacote de batatas fritas.
No entanto, desde que o local passou por uma reforma em que foram colocados novos carpetes, a dona do estabelecimento proibiu a entrada do animal no pub.
Atualmente, Peggy acompanha o seu dono até a porta do bar, mas permanece do lado de fora.
"Apesar de ela ser provavelmente mais limpa do que alguns dos meus clientes, tive que bater o pé e mostrar a saída para ela", disse a dona do bar, Jackie Gray.
Dolan, um aposentado de 62 anos, disse que os clientes sentem a falta do animal.
"As pessoas entram no pub e a primeira coisa que fazem é perguntar: 'Onde está a Peggy?'", afirma.
"Respondo que ela abandonou o hábito e decidiu parar de beber", brinca Dolan.
Um pub na região inglesa de Tyneside, no norte do país, proibiu a entrada de uma égua que era freqüentadora assídua do bar.
A égua Peggy, de 12 anos, costumava freqüentar o pub do hotel Alexandra, na cidade de Jarrow, com seu dono, Peter Dolan, e tomava uma cerveja acompanhada de um pacote de batatas fritas.
No entanto, desde que o local passou por uma reforma em que foram colocados novos carpetes, a dona do estabelecimento proibiu a entrada do animal no pub.
Atualmente, Peggy acompanha o seu dono até a porta do bar, mas permanece do lado de fora.
"Apesar de ela ser provavelmente mais limpa do que alguns dos meus clientes, tive que bater o pé e mostrar a saída para ela", disse a dona do bar, Jackie Gray.
Dolan, um aposentado de 62 anos, disse que os clientes sentem a falta do animal.
"As pessoas entram no pub e a primeira coisa que fazem é perguntar: 'Onde está a Peggy?'", afirma.
"Respondo que ela abandonou o hábito e decidiu parar de beber", brinca Dolan.
ARTIGO - McCain e rejeição do pacote de Bush.
Argemiro Ferreira.
McCain e a rejeição do pacote de Bush.
Em meio ao medo generalizado em seguida à rejeição na Câmara dos Deputados, sob a influência da bancada republicana, do pacote de US$700 bilhões do governo Bush para enfrentar a crise financeira, vale a pena ler melhor o que escreveu domingo o colunista Paul Krugman, um economista que nunca perde de vista a fator político nas suas análises econômicas.
Ele escreveu antes da decisão, mas ofereceu a medida adequada do reflexo da decisão da Câmara na campanha presidencial. Krugman não é um profeta do caos. Prefere ser sensato. Ele acha que a proposta apresentada domingo pelo secretário do Tesouro Henry Paulson, era muito melhor do que a original. Os remendos profundos, disse, eram suficientes para merecer a aprovação.
Não era o plano ideal e nem poria fim à crise. O mais provável, para o colunista do "New York Times", era o próximo presidente ter de tratar a questão depois com algumas grandes emergências financeiras. Quem então estaria bem equipado para o desdobramento seguinte? Barack Obama, bem informado e sensato em temas financeiros? Ou John McCain, que evitava o assunto, dizia-se não familiarizado com a economia, e escolhe mal os assessores?
O fantasma do guru Gramm
McCain deixa o economista Krugman assustado. O principal mentor do candidato em economia - conforme lembrei nesta TRIBUNA, em coluna anterior - era o ex-senador texano Phil Gramm, que patrocinava folias desregulamentadoras no Senado e depois decidiu tornar-se lobista. Gramm só não está mais na campanha de McCain porque foi longe demais em suas manifestações públicas.
Em julho, ao fazer um de seus retratos róseos da economia americana, ele jurou que só havia risco de recessão na cabeça de alguns, logo era "recessão mental". E, não contente com isso, chamou os EUA de "uma nação de choramingões". Também acrescentou depois que McCain tinha um plano (feito pelo próprio Gramm) "para reviver o crescimento dinâmico com dramáticas reformas fiscais e redução de gastos".
Obama ironizou as declarações de Gramm - e, comparando-o a uma personalidade da TV, chamou-o de "Dr. Phil da economia". O próprio McCain, então, percebeu a conveniência de afastar o conselheiro trapalhão, que é vice-presidente de um banco de investimentos, o UBS. Mas isso não impediu o candidato republicano de continuar convencido de que Gramm é o nome ideal para ser seu secretário do Tesouro.
Até há menos de duas semanas McCain, na linha Gramm, continuava garantindo que "os fundamentos da economia são sólidos". Disse a frase 18 vezes este ano, como um refrão monótono. Seguia o guru arquidesregulamentador: deve-se a Gramm o esforço contra a supervisão dos derivativos financeiros, os instrumentos que afundaram o Lehman Brothers e a AIG, deixando os mercados de crédito à beira do colapso.
O rumo desastroso do candidato
A adesão de McCain à fúria desregulamentadora também levou sua campanha no ano passado, como agora lembrou Krugman, a reunir "impressionante coleção de economistas, professores e líderes proeminentes do conservadorismo" para assessorá-lo em política econômica. Em destaque especial, no grupo, estava Kevin Hassett, autor (com James Glassman) do livro "Dow 36,000" - supostamente, "uma nova estratégia para lucrar na ascensão que virá no mercado de ações".
Qualquer um que leia jornal, sabe o que está acontecendo: as ações despencam - só ontem o Dow afundou quase 800 pontos, para 10.365 e não 36.000. A pobreza na qualidade dos assessores econômicos de McCain, segundo Krugman, reflete o estado intelectual despedaçado de seu Partido Republicano. O colunista acha patética, por exemplo, a proposta econômica dos republicanos da Câmara para resolver a crise financeira.
Refere-se exatamente ao grupo de republicanos à frente da rebelião na Câmara contra o plano remendado - e melhorado - do secretário Paulson. A sugestão deles era tentar resolver o problema através da eliminação de impostos sobre os ganhos de capital. Mas instituições financeiras em desordem, conturbadas, por definição não têm ganhos de capital para serem taxados, advertiu Krugman.
Os fundamentos duvidosos
Segundo o colunista, até o presidente Bush, no crepúsculo de seu governo, voltou-se para pessoas relativamente sensatas para tomar decisões econômicas. Krugman não é fã de Paulson, mas acha que ele representa grande avanço, para melhor, em relação ao antecessor. E a esta altura, começa a suspeitar que um governo McCain pode levar as pessoas até a ter saudade da "competência" de Bush.
O estranho, para Krugman, é que nas últimas semanas McCain chegou a ter algumas opiniões vigorosas - mas pouco depois partia para direção inteiramente oposta. A 15 de setembro disse, pela 18a vez este ano, que "os fundamentos da economia são sólidos". Foi o dia do colapso da Lehman e da tomada da Merrill Lynch, quando a crise financeira entrou num palco novo e muito mais perigoso.
Mas três dias depois McCain acusava os mercados financeiros do país de terem virado um "cassino", exigindo a demissão do diretor da SEC. A economia moderna, diz o colunista, é perigosa e não pode ser enfrentada com conversa dura e denúncia de malfeitores. "Terá o sr. McCain a capacidade de avaliação e o temperamento para tratar dessa parte do emprego para o qual se candidata?" - pergunta Krugman.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
McCain e a rejeição do pacote de Bush.
Em meio ao medo generalizado em seguida à rejeição na Câmara dos Deputados, sob a influência da bancada republicana, do pacote de US$700 bilhões do governo Bush para enfrentar a crise financeira, vale a pena ler melhor o que escreveu domingo o colunista Paul Krugman, um economista que nunca perde de vista a fator político nas suas análises econômicas.
Ele escreveu antes da decisão, mas ofereceu a medida adequada do reflexo da decisão da Câmara na campanha presidencial. Krugman não é um profeta do caos. Prefere ser sensato. Ele acha que a proposta apresentada domingo pelo secretário do Tesouro Henry Paulson, era muito melhor do que a original. Os remendos profundos, disse, eram suficientes para merecer a aprovação.
Não era o plano ideal e nem poria fim à crise. O mais provável, para o colunista do "New York Times", era o próximo presidente ter de tratar a questão depois com algumas grandes emergências financeiras. Quem então estaria bem equipado para o desdobramento seguinte? Barack Obama, bem informado e sensato em temas financeiros? Ou John McCain, que evitava o assunto, dizia-se não familiarizado com a economia, e escolhe mal os assessores?
O fantasma do guru Gramm
McCain deixa o economista Krugman assustado. O principal mentor do candidato em economia - conforme lembrei nesta TRIBUNA, em coluna anterior - era o ex-senador texano Phil Gramm, que patrocinava folias desregulamentadoras no Senado e depois decidiu tornar-se lobista. Gramm só não está mais na campanha de McCain porque foi longe demais em suas manifestações públicas.
Em julho, ao fazer um de seus retratos róseos da economia americana, ele jurou que só havia risco de recessão na cabeça de alguns, logo era "recessão mental". E, não contente com isso, chamou os EUA de "uma nação de choramingões". Também acrescentou depois que McCain tinha um plano (feito pelo próprio Gramm) "para reviver o crescimento dinâmico com dramáticas reformas fiscais e redução de gastos".
Obama ironizou as declarações de Gramm - e, comparando-o a uma personalidade da TV, chamou-o de "Dr. Phil da economia". O próprio McCain, então, percebeu a conveniência de afastar o conselheiro trapalhão, que é vice-presidente de um banco de investimentos, o UBS. Mas isso não impediu o candidato republicano de continuar convencido de que Gramm é o nome ideal para ser seu secretário do Tesouro.
Até há menos de duas semanas McCain, na linha Gramm, continuava garantindo que "os fundamentos da economia são sólidos". Disse a frase 18 vezes este ano, como um refrão monótono. Seguia o guru arquidesregulamentador: deve-se a Gramm o esforço contra a supervisão dos derivativos financeiros, os instrumentos que afundaram o Lehman Brothers e a AIG, deixando os mercados de crédito à beira do colapso.
O rumo desastroso do candidato
A adesão de McCain à fúria desregulamentadora também levou sua campanha no ano passado, como agora lembrou Krugman, a reunir "impressionante coleção de economistas, professores e líderes proeminentes do conservadorismo" para assessorá-lo em política econômica. Em destaque especial, no grupo, estava Kevin Hassett, autor (com James Glassman) do livro "Dow 36,000" - supostamente, "uma nova estratégia para lucrar na ascensão que virá no mercado de ações".
Qualquer um que leia jornal, sabe o que está acontecendo: as ações despencam - só ontem o Dow afundou quase 800 pontos, para 10.365 e não 36.000. A pobreza na qualidade dos assessores econômicos de McCain, segundo Krugman, reflete o estado intelectual despedaçado de seu Partido Republicano. O colunista acha patética, por exemplo, a proposta econômica dos republicanos da Câmara para resolver a crise financeira.
Refere-se exatamente ao grupo de republicanos à frente da rebelião na Câmara contra o plano remendado - e melhorado - do secretário Paulson. A sugestão deles era tentar resolver o problema através da eliminação de impostos sobre os ganhos de capital. Mas instituições financeiras em desordem, conturbadas, por definição não têm ganhos de capital para serem taxados, advertiu Krugman.
Os fundamentos duvidosos
Segundo o colunista, até o presidente Bush, no crepúsculo de seu governo, voltou-se para pessoas relativamente sensatas para tomar decisões econômicas. Krugman não é fã de Paulson, mas acha que ele representa grande avanço, para melhor, em relação ao antecessor. E a esta altura, começa a suspeitar que um governo McCain pode levar as pessoas até a ter saudade da "competência" de Bush.
O estranho, para Krugman, é que nas últimas semanas McCain chegou a ter algumas opiniões vigorosas - mas pouco depois partia para direção inteiramente oposta. A 15 de setembro disse, pela 18a vez este ano, que "os fundamentos da economia são sólidos". Foi o dia do colapso da Lehman e da tomada da Merrill Lynch, quando a crise financeira entrou num palco novo e muito mais perigoso.
Mas três dias depois McCain acusava os mercados financeiros do país de terem virado um "cassino", exigindo a demissão do diretor da SEC. A economia moderna, diz o colunista, é perigosa e não pode ser enfrentada com conversa dura e denúncia de malfeitores. "Terá o sr. McCain a capacidade de avaliação e o temperamento para tratar dessa parte do emprego para o qual se candidata?" - pergunta Krugman.
Fonte: Tribuna da Imprensa.
ARTIGO - Go home, Chicago boys!
de Hazel Henderson
A famosa escola de economia da Universidade de Chicago chefiada por Milton Friedman (1912-2006) espalhou pelo mundo seu fundamentalismo de mercado. Ganância, egoísmo, individualismo e “curto-prazismo” foram misturados com liberdade e democracia, e elevados à condição de filosofia moral. Os Chicago Boys e seus clones invadiram a América Latina nos anos 50. Lideraram as forças triunfantes do capitalismo rumo à vitória na Guerra Fria e deflagraram as eras Reagan, Thathcer e o Consenso de Washington, da desregulação com a privatização impulsionando a forma atual de globalização econômica. As raízes do fundamentalismo de mercado, que derivam de A Riqueza das Nações (1776), de Adam Smith, embora ignore sua Teoria dos Sentimentos Morais (1759), e da Escola Austríaca de Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e outros se tornaram a base ideológica do libertarismo americano e do revival neoconservador na administração de George W. Bush.Esse apelo do “individualismo duro”, ganhar dinheiro em mercados livres de regulação, promoveu também o cálculo limitado do famoso resumo da ópera de Milton Friedman: o único propósito das empresas e corporações privadas é ganhar o máximo de dinheiro possível para seus acionistas.A revolução dos computadores que automatizou o comércio mundial jogou um papel-chave nos excessos do “curto-prazismo”, agora não só medido trimestralmente, mas em nanossegundos. Em 8 de setembro, o trading em frações de segundos e a venda a descoberto das ações da United Airlines motivados por falsos rumores engoliram US$ 1 bilhão do valor da companhia em menos de uma hora.Agora, os vendedores a descoberto estão recorrendo uns aos outros, vendendo a descoberto as empresas financeiras no coração de Wall Street. A ideologia do livre mercado impediu a regulação do grande cassino, apesar de ministros das finanças se preocuparem com a necessidade de uma arquitetura financeira global depois de cada crise. A crise asiática de 1997 foi seguida pela inadimplência russa e o estouro do fundo hedge Long Term Capital Management em 1998, a inadimplência argentina de 2002, os salvamentos do Bear Stearns, Fannie Mae e Freddie Mac, a quebra do Lehman Brothers e os salvamentos de Merril Lynch e AIG a um custo de US$ 900 bilhões para o Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) até agora.Aparentemente, a limpeza nos EUA será deixada para o próximo presidente. Tanto Obama como McCain se disseram ultrajados com a irresponsabilidade implacável e o tráfico de influência de Fannie Mae e Freddie Mac, apesar de ambos terem aceito contribuições e já terem se envolvido no favorecimento dessas duas gigantes do setor imobiliário, que detêm US$ 5 trilhões em hipotecas americanas. Ambos culpam a temeridade e a ganância de Wall Street, enquanto acham que as autoridades reguladoras estavam dormindo quando as coisas mudaram.O comércio eletrônico automatizado representa hoje 50% de toda a atividade do mercado. “Value at risk” e outros modelos matemáticos criados por aqueles “gênios” acadêmicos ainda estão se revelando imprecisos, enquanto todas as inovações financeiras, das hipotecas subprime (de alto risco), elogiadas pelo ex-presidente do Fed, Alan Greesnpan, à securitização de dívidas em obrigações colateralizadas (CDOs) e outros instrumentos financeiros, se revelaram pouco mais do que investimentos fraudulentos. Espantosamente, fundos de pensão, fundações beneficentes e fundos de doações para universidades jogaram o mesmo jogo, competindo por retornos cada vez maiores. Eles se amontoaram em fundos de hedge e na especulação com petróleo e commodities, arriscando as rendas de aposentadoria de seus pensionistas em negócios imobiliários e de private equity, a despeito de sua condição especial de proprietários coletivos.Os economistas da Escola de Chicago foram demitidos em horário nobre como jogadores no mercado, incluindo o AIG com seus US$ 85 bilhões em empréstimos do Fed, e agora General Motors e Ford, na fila para serem salvas pelo contribuinte.Estaremos vendo o fim dos esforços dos neoconservadores americanos para refutar o New Deal e a morte do capitalismo de livre mercado dos Chicago Boys? Para onde iremos a partir de agora? A regulação no interesse público é hoje reconhecida como urgente pelo secretário do Tesouro de Bush, Henry Paulson. Ele agora censura os excessos de Wall Street – transferir riscos sociais, custos e destruição ambiental para os contribuintes e as gerações futuras – apesar de ter sido presidente da Goldman Sachs antes de integrar o governo.Wall Street deve cuidar de investir, procurando companhias valiosas e bem administradas que ofereçam bens e serviços úteis, e que até paguem dividendos. A confiança, ignorada na Escola de Chicago, precisa ser restaurada, porque é o alicerce de todos os mercados. Mercados financeiros entraram em metástase nos EUA e na Grã-Bretanha, inchando quase 25% de seus PIBs com gente demais negociando papéis exóticos. E gente de menos produzindo bens e serviços.Mais revelações a cada dia apontam para outros bilhões de “lixo tóxico” (bônus quase imprestáveis empacotados com hipotecas fraudulentas) ainda não “sinalizados para o mercado” (contabilidade adequada para a queda dos preços das casas e execuções hipotecárias). Aproximadamente US$ 62 trilhões de credit default/swaps pendentes (outra forma de seguro fraudulento) devem ser baixados de balanços dos gigantes de Wall Street, como JP Morgan, Chase, AIG e outros. E os salvamentos federais só poderão acelerar o declínio ainda maior do dólar americano.Tal como foi documentada em Chain of Blame (2008) pelos especialistas em hipotecas Paul Muolo e Matthew Padilla, a bolha imobiliária americana foi impelida pela gigantesca bolha monetária de Wall Street, criada por crédito barato e alavancagem. Os prejuízos na casa dos trilhões em Wall Street estão simplesmente anulando seus ganhos ilusórios. Nenhuma quantidade de salvamento federal ou impressão de dinheiro pode preencher o buraco negro de expectativas irrealistas criadas por uma economia enganosa. Wall Street se tornou um parasita da economia real e contagiou o mundo todo. A lição é que os mercados financeiros precisam encolher.A tarefa agora é administrar o enxugamento de Wall Street e do cassino financeiro global, redesenhando sistemas regulatórios e mercados para que possam restaurar seu papel útil, embora limitado. E para facilitar a produção de bens e serviços ambientalmente benéficos nas economias crescentemente verdes da Era Solar. A verdade foi escancarada: não existe mão invisível.* Hazel Henderson é autora de Ethical Markets: Growing the Green Economy e outros livros. Ela é co-criadora do Calvert-Henderson Quality of Life Indicators, juntamente com o Calvert Group, e está no Comitê Organizador da conferência Beyond GDP no Parlamento Europeu (www.beyond-gdp.eu).
Fonte: Blog Vi o Mundo.
A famosa escola de economia da Universidade de Chicago chefiada por Milton Friedman (1912-2006) espalhou pelo mundo seu fundamentalismo de mercado. Ganância, egoísmo, individualismo e “curto-prazismo” foram misturados com liberdade e democracia, e elevados à condição de filosofia moral. Os Chicago Boys e seus clones invadiram a América Latina nos anos 50. Lideraram as forças triunfantes do capitalismo rumo à vitória na Guerra Fria e deflagraram as eras Reagan, Thathcer e o Consenso de Washington, da desregulação com a privatização impulsionando a forma atual de globalização econômica. As raízes do fundamentalismo de mercado, que derivam de A Riqueza das Nações (1776), de Adam Smith, embora ignore sua Teoria dos Sentimentos Morais (1759), e da Escola Austríaca de Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e outros se tornaram a base ideológica do libertarismo americano e do revival neoconservador na administração de George W. Bush.Esse apelo do “individualismo duro”, ganhar dinheiro em mercados livres de regulação, promoveu também o cálculo limitado do famoso resumo da ópera de Milton Friedman: o único propósito das empresas e corporações privadas é ganhar o máximo de dinheiro possível para seus acionistas.A revolução dos computadores que automatizou o comércio mundial jogou um papel-chave nos excessos do “curto-prazismo”, agora não só medido trimestralmente, mas em nanossegundos. Em 8 de setembro, o trading em frações de segundos e a venda a descoberto das ações da United Airlines motivados por falsos rumores engoliram US$ 1 bilhão do valor da companhia em menos de uma hora.Agora, os vendedores a descoberto estão recorrendo uns aos outros, vendendo a descoberto as empresas financeiras no coração de Wall Street. A ideologia do livre mercado impediu a regulação do grande cassino, apesar de ministros das finanças se preocuparem com a necessidade de uma arquitetura financeira global depois de cada crise. A crise asiática de 1997 foi seguida pela inadimplência russa e o estouro do fundo hedge Long Term Capital Management em 1998, a inadimplência argentina de 2002, os salvamentos do Bear Stearns, Fannie Mae e Freddie Mac, a quebra do Lehman Brothers e os salvamentos de Merril Lynch e AIG a um custo de US$ 900 bilhões para o Federal Reserve (o Banco Central norte-americano) até agora.Aparentemente, a limpeza nos EUA será deixada para o próximo presidente. Tanto Obama como McCain se disseram ultrajados com a irresponsabilidade implacável e o tráfico de influência de Fannie Mae e Freddie Mac, apesar de ambos terem aceito contribuições e já terem se envolvido no favorecimento dessas duas gigantes do setor imobiliário, que detêm US$ 5 trilhões em hipotecas americanas. Ambos culpam a temeridade e a ganância de Wall Street, enquanto acham que as autoridades reguladoras estavam dormindo quando as coisas mudaram.O comércio eletrônico automatizado representa hoje 50% de toda a atividade do mercado. “Value at risk” e outros modelos matemáticos criados por aqueles “gênios” acadêmicos ainda estão se revelando imprecisos, enquanto todas as inovações financeiras, das hipotecas subprime (de alto risco), elogiadas pelo ex-presidente do Fed, Alan Greesnpan, à securitização de dívidas em obrigações colateralizadas (CDOs) e outros instrumentos financeiros, se revelaram pouco mais do que investimentos fraudulentos. Espantosamente, fundos de pensão, fundações beneficentes e fundos de doações para universidades jogaram o mesmo jogo, competindo por retornos cada vez maiores. Eles se amontoaram em fundos de hedge e na especulação com petróleo e commodities, arriscando as rendas de aposentadoria de seus pensionistas em negócios imobiliários e de private equity, a despeito de sua condição especial de proprietários coletivos.Os economistas da Escola de Chicago foram demitidos em horário nobre como jogadores no mercado, incluindo o AIG com seus US$ 85 bilhões em empréstimos do Fed, e agora General Motors e Ford, na fila para serem salvas pelo contribuinte.Estaremos vendo o fim dos esforços dos neoconservadores americanos para refutar o New Deal e a morte do capitalismo de livre mercado dos Chicago Boys? Para onde iremos a partir de agora? A regulação no interesse público é hoje reconhecida como urgente pelo secretário do Tesouro de Bush, Henry Paulson. Ele agora censura os excessos de Wall Street – transferir riscos sociais, custos e destruição ambiental para os contribuintes e as gerações futuras – apesar de ter sido presidente da Goldman Sachs antes de integrar o governo.Wall Street deve cuidar de investir, procurando companhias valiosas e bem administradas que ofereçam bens e serviços úteis, e que até paguem dividendos. A confiança, ignorada na Escola de Chicago, precisa ser restaurada, porque é o alicerce de todos os mercados. Mercados financeiros entraram em metástase nos EUA e na Grã-Bretanha, inchando quase 25% de seus PIBs com gente demais negociando papéis exóticos. E gente de menos produzindo bens e serviços.Mais revelações a cada dia apontam para outros bilhões de “lixo tóxico” (bônus quase imprestáveis empacotados com hipotecas fraudulentas) ainda não “sinalizados para o mercado” (contabilidade adequada para a queda dos preços das casas e execuções hipotecárias). Aproximadamente US$ 62 trilhões de credit default/swaps pendentes (outra forma de seguro fraudulento) devem ser baixados de balanços dos gigantes de Wall Street, como JP Morgan, Chase, AIG e outros. E os salvamentos federais só poderão acelerar o declínio ainda maior do dólar americano.Tal como foi documentada em Chain of Blame (2008) pelos especialistas em hipotecas Paul Muolo e Matthew Padilla, a bolha imobiliária americana foi impelida pela gigantesca bolha monetária de Wall Street, criada por crédito barato e alavancagem. Os prejuízos na casa dos trilhões em Wall Street estão simplesmente anulando seus ganhos ilusórios. Nenhuma quantidade de salvamento federal ou impressão de dinheiro pode preencher o buraco negro de expectativas irrealistas criadas por uma economia enganosa. Wall Street se tornou um parasita da economia real e contagiou o mundo todo. A lição é que os mercados financeiros precisam encolher.A tarefa agora é administrar o enxugamento de Wall Street e do cassino financeiro global, redesenhando sistemas regulatórios e mercados para que possam restaurar seu papel útil, embora limitado. E para facilitar a produção de bens e serviços ambientalmente benéficos nas economias crescentemente verdes da Era Solar. A verdade foi escancarada: não existe mão invisível.* Hazel Henderson é autora de Ethical Markets: Growing the Green Economy e outros livros. Ela é co-criadora do Calvert-Henderson Quality of Life Indicators, juntamente com o Calvert Group, e está no Comitê Organizador da conferência Beyond GDP no Parlamento Europeu (www.beyond-gdp.eu).
Fonte: Blog Vi o Mundo.
IMIGRAÇÃO - Europa: crime de imigração, exceto para os qualificados.
As portas da Europa seguirão abertas para os "qualificados", mas os ilegais serão perseguidos como criminosos. Em 2012 serão implantados os vistos com informação biométrica e o registro eletrônico de entradas e saídas, instrumentos que comprovarão a estada ilegal e servirão para instruir os processos de detenção de pessoas por "crime de imigração".
Carol Proner
A Europa insiste em suas metas de fortalecimento interno, auto-defesa e agressividade econômica não obstante a frustração de não aprovar a "Constituição Européia" via plebiscito e malgrados os recentes entraves para a aprovação do Tratado de Lisboa. Em plena crise econômica mundial, atribui a responsabilidade aos bancos, ao sistema financeiro internacional e também aos imigrantes.O tema da imigração deixa de ser polêmico para os representantes europeus que, em consenso, aprovam políticas e princípios de endurecimento à imigração alegando motivos humanitários e econômicos. Curiosamente a população européia cresceu 0,48% em 2007, chegando a 497,5 milhões de habitantes e quatro quintos desse crescimento se deve aos imigrantes. A Europa recupera seu déficit populacional e projeta-se ao futuro graças a essa população que, ironicamente, recebe a conta pela crise. A chamada "Diretiva do Retorno", aprovada no primeiro semestre deste ano, revela-se uma verdadeira lei de expulsão dos imigrantes, violando direitos fundamentais consagrados em pactos internacionais e contrariando os avanços em matéria de direitos humanos dentro do sistema europeu. Também chamada de Diretiva da Deportação ou da Vergonha, a normativa estabelece, em última instância, a criminalização da imigração e enseja indignação e revolta por parte dos governantes latino-americanos e africanos.Como medidas complementares e igualmente xenófobas, nessa quinta-feira, dia 25 de setembro, o Conselho de Ministros da União Européia (EU) aprovou formalmente o Pacto Europeu de Imigração, tomando como referência a política sobre imigração desenvolvida por Nicolas Sarkozy na França e que tem como mote "endurecer a luta contra a imigração ilegal e promover a imigração legal". O documento ainda precisa ser ratificado na Cúpula de líderes da EU em 15 e 16 de outubro.O texto final do Pacto possui cinco eixos principais: 1) a necessidade de organizar a imigração legal de acordo com as prioridades e necessidades da Europa; 2) o combate à imigração irregular e a expulsão dos irregulares (segundo o Conselho, mais de oito milhões de pessoas); 3) o fortalecimento do controle das fronteiras; 4) a construção de um sistema de asilo equilibrado entre os países do bloco; 5) e o aumento de colaboração global para com os países de origem. Cada Estado-membro deverá levar em conta o resto do bloco ao aprovar suas políticas no assunto e cada regularização deverá ser feita caso a caso (exemplificando com os matrimônios de conveniência), evitando decisões gerais no marco das legislações nacionais.Para atender o critério de prioridade e necessidade da Europa, os ministros do Trabalho e do Interior da EU ultimaram um acordo para criar o blue card, um instrumento que seleciona imigrantes de alta qualificação à semelhança do green card estadunidense. Os requisitos para a obtenção do blue card incluem cinco anos de experiência profissional, exigência de um diploma ou título equivalente e a necessidade de contratação com salário mínimo superior a 1,5 vezes o salário médio do país receptor, o que no caso da Espanha ultrapassa os 33.000 euros brutos anuais. A condição de imigração qualificada será válida por um período entre um a quatro anos e os titulares terão praticamente os mesmos direitos que os trabalhadores europeus.As portas da Europa seguirão abertas para os "qualificados", mas os ilegais serão perseguidos como criminosos que ameaçam o crescimento equilibrado do continente. No início de 2012 serão implantados os vistos com informação biométrica e o registro eletrônico de entradas e saídas, instrumentos que comprovarão a estada ilegal e servirão para instruir os processos de detenção de pessoas por "crime de imigração".As medidas deixam de ser enunciado de princípios e objetivam critérios que passarão a ter validade em poucos anos, trazendo conseqüências inéditas não apenas para os imigrantes irregulares, que serão expulsos, mas também para a relação de política externa da Europa com o resto do mundo, ensejando naturalmente o princípio da reciprocidade.
Carol Proner é professora de Direito Internacional da UniBrasil.
Fonte: Agência Carta Maior.
Carol Proner
A Europa insiste em suas metas de fortalecimento interno, auto-defesa e agressividade econômica não obstante a frustração de não aprovar a "Constituição Européia" via plebiscito e malgrados os recentes entraves para a aprovação do Tratado de Lisboa. Em plena crise econômica mundial, atribui a responsabilidade aos bancos, ao sistema financeiro internacional e também aos imigrantes.O tema da imigração deixa de ser polêmico para os representantes europeus que, em consenso, aprovam políticas e princípios de endurecimento à imigração alegando motivos humanitários e econômicos. Curiosamente a população européia cresceu 0,48% em 2007, chegando a 497,5 milhões de habitantes e quatro quintos desse crescimento se deve aos imigrantes. A Europa recupera seu déficit populacional e projeta-se ao futuro graças a essa população que, ironicamente, recebe a conta pela crise. A chamada "Diretiva do Retorno", aprovada no primeiro semestre deste ano, revela-se uma verdadeira lei de expulsão dos imigrantes, violando direitos fundamentais consagrados em pactos internacionais e contrariando os avanços em matéria de direitos humanos dentro do sistema europeu. Também chamada de Diretiva da Deportação ou da Vergonha, a normativa estabelece, em última instância, a criminalização da imigração e enseja indignação e revolta por parte dos governantes latino-americanos e africanos.Como medidas complementares e igualmente xenófobas, nessa quinta-feira, dia 25 de setembro, o Conselho de Ministros da União Européia (EU) aprovou formalmente o Pacto Europeu de Imigração, tomando como referência a política sobre imigração desenvolvida por Nicolas Sarkozy na França e que tem como mote "endurecer a luta contra a imigração ilegal e promover a imigração legal". O documento ainda precisa ser ratificado na Cúpula de líderes da EU em 15 e 16 de outubro.O texto final do Pacto possui cinco eixos principais: 1) a necessidade de organizar a imigração legal de acordo com as prioridades e necessidades da Europa; 2) o combate à imigração irregular e a expulsão dos irregulares (segundo o Conselho, mais de oito milhões de pessoas); 3) o fortalecimento do controle das fronteiras; 4) a construção de um sistema de asilo equilibrado entre os países do bloco; 5) e o aumento de colaboração global para com os países de origem. Cada Estado-membro deverá levar em conta o resto do bloco ao aprovar suas políticas no assunto e cada regularização deverá ser feita caso a caso (exemplificando com os matrimônios de conveniência), evitando decisões gerais no marco das legislações nacionais.Para atender o critério de prioridade e necessidade da Europa, os ministros do Trabalho e do Interior da EU ultimaram um acordo para criar o blue card, um instrumento que seleciona imigrantes de alta qualificação à semelhança do green card estadunidense. Os requisitos para a obtenção do blue card incluem cinco anos de experiência profissional, exigência de um diploma ou título equivalente e a necessidade de contratação com salário mínimo superior a 1,5 vezes o salário médio do país receptor, o que no caso da Espanha ultrapassa os 33.000 euros brutos anuais. A condição de imigração qualificada será válida por um período entre um a quatro anos e os titulares terão praticamente os mesmos direitos que os trabalhadores europeus.As portas da Europa seguirão abertas para os "qualificados", mas os ilegais serão perseguidos como criminosos que ameaçam o crescimento equilibrado do continente. No início de 2012 serão implantados os vistos com informação biométrica e o registro eletrônico de entradas e saídas, instrumentos que comprovarão a estada ilegal e servirão para instruir os processos de detenção de pessoas por "crime de imigração".As medidas deixam de ser enunciado de princípios e objetivam critérios que passarão a ter validade em poucos anos, trazendo conseqüências inéditas não apenas para os imigrantes irregulares, que serão expulsos, mas também para a relação de política externa da Europa com o resto do mundo, ensejando naturalmente o princípio da reciprocidade.
Carol Proner é professora de Direito Internacional da UniBrasil.
Fonte: Agência Carta Maior.
ENTREVISTA - Eric Hobsbawm.
A crise do capitalismo e a importância atual de Marx.
Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a atualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando nos últimos anos, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão: “Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”.
Marcello Musto - Sin Permiso
Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a atualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando nos últimos anos, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão: “Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”.Eric Hobsbawm é considerado um dos maiores historiadores vivos. É presidente do Birbeck College (London University) e professor emérito da New School for Social Research (Nova Iorque). Entre suas muitas obras, encontra-se a trilogia acerca do “longo século XIX”: “A Era da Revolução: Europa 1789-1848” (1962); “A Era do Capital: 1848-1874” (1975); “A Era do Império: 1875-1914 (1987) e o livro “A Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991 (1994), todos traduzidos em vários idiomas. Entrevistamos o historiador por ocasião da publicação do livro “Karl Marx’s Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later” (Os Manuscritos de Karl Marx. Elementos fundamentais para a Crítica da Economia Política, 150 anos depois).Nesta conversa, abordamos o renovado interesse que os escritos de Marx vêm despertando nos últimos anos e mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. Nosso colaborador Marcello Musto entrevistou Hobsbawm para Sin Permiso. Marcello Musto: Professor Hobsbawm, duas décadas depois de 1989, quando foi apressadamente relegado ao esquecimento, Karl Marx regressou ao centro das atenções. Livre do papel de intrumentum regni que lhe foi atribuído na União Soviética e das ataduras do “marxismo-leninismo”, não só tem recebido atenção intelectual pela nova publicação de sua obra, como também tem sido objeto de crescente interesse. Em 2003, a revista francesa Nouvel Observateur dedicou um número especial a Marx, com um título provocador: “O pensador do terceiro milênio?”. Um ano depois, na Alemanha, em uma pesquisa organizada pela companhia de televisão ZDF para estabelecer quem eram os alemães mais importantes de todos os tempos, mais de 500 mil espectadores votaram em Karl Marx, que obteve o terceiro lugar na classificação geral e o primeiro na categoria de “relevância atual”. Em 2005, o semanário alemão Der Spiegel publicou uma matéria especial que tinha como título “Ein Gespenst Kehrt zurük” (A volta de um espectro), enquanto os ouvintes do programa “In Our Time” da rádio 4, da BBC, votavam em Marx como o maior filósofo de todos os tempos. Em uma conversa com Jacques Attali, recentemente publicada, você disse que, paradoxalmente, “são os capitalistas, mais que outros, que estão redescobrindo Marx” e falou também de seu assombro ao ouvir da boca do homem de negócios e político liberal, George Soros, a seguinte frase: “Ando lendo Marx e há muitas coisas interessantes no que ele diz”. Ainda que seja débil e mesmo vago, quais são as razões para esse renascimento de Marx? É possível que sua obra seja considerada como de interesse só de especialistas e intelectuais, para ser apresentada em cursos universitários como um grande clássico do pensamento moderno que não deveria ser esquecido? Ou poderá surgir no futuro uma nova “demanda de Marx”, do ponto de vista político?Eric Hobsbawm: Há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin. Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o “proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx.Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu nível.Marcello Musto: Ao longo de sua vida, Marx foi um agudo e incansável investigador, que percebeu e analisou melhor do que ninguém em seu tempo o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial. Ele entendeu que o nascimento de uma economia internacional globalizada era inerente ao modo capitalista de produção e previu que este processo geraria não somente o crescimento e prosperidade alardeados por políticos e teóricos liberais, mas também violentos conflitos, crises econômicas e injustiça social generalizada. Na última década, vimos a crise financeira do leste asiático, que começou no verão de 1997; a crise econômica Argentina de 1999-2002 e, sobretudo, a crise dos empréstimos hipotecários que começou nos Estados Unidos em 2006 e agora tornou-se a maior crise financeira do pós-guerra. É correto dizer, então, que o retorno do interesse pela obra de Marx está baseado na crise da sociedade capitalista e na capacidade dele ajudar a explicar as profundas contradições do mundo atual?Eric Hobsbawm: Se a política da esquerda no futuro será inspirada uma vez mais nas análises de Marx, como ocorreu com os velhos movimentos socialistas e comunistas, isso dependerá do que vai acontecer no mundo capitalista. Isso se aplica não somente a Marx, mas à esquerda considerada como um projeto e uma ideologia política coerente. Posto que, como você diz corretamente, a recuperação do interesse por Marx está consideravelmente – eu diria, principalmente – baseado na atual crise da sociedade capitalista, a perspectiva é mais promissora do que foi nos anos noventa. A atual crise financeira mundial, que pode transformar-se em uma grande depressão econômica nos EUA, dramatiza o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado e obriga, inclusive o governo norte-americano, a escolher ações públicas esquecidas desde os anos trinta.As pressões políticas já estão debilitando o compromisso dos governos neoliberais em torno de uma globalização descontrolada, ilimitada e desregulada. Em alguns casos, como a China, as vastas desigualdades e injustiças causadas por uma transição geral a uma economia de livre mercado, já coloca problemas importantes para a estabilidade social e mesmo dúvidas nos altos escalões de governo. É claro que qualquer “retorno a Marx” será essencialmente um retorno à análise de Marx sobre o capitalismo e seu lugar na evolução histórica da humanidade – incluindo, sobretudo, suas análises sobre a instabilidade central do desenvolvimento capitalista que procede por meio de crises econômicas auto-geradas com dimensões políticas e sociais. Nenhum marxista poderia acreditar que, como argumentaram os ideólogos neoliberais em 1989, o capitalismo liberal havia triunfado para sempre, que a história tinha chegado ao fim ou que qualquer sistema de relações humanas possa ser definitivo para todo o sempre.Marcello Musto: Você não acha que, se as forças políticas e intelectuais da esquerda internacional, que se questionam sobre o que poderia ser o socialismo do século XXI, renunciarem às idéias de Marx, estarão perdendo um guia fundamental para o exame e a transformação da realidade atual?Eric Hobsbawm: Nenhum socialista pode renunciar às idéias de Marx, na medida que sua crença em que o capitalismo deve ser sucedido por outra forma de sociedade está baseada, não na esperança ou na vontade, mas sim em uma análise séria do desenvolvimento histórico, particularmente da era capitalista. Sua previsão de que o capitalismo seria substituído por um sistema administrado ou planejado socialmente parece razoável, ainda que certamente ele tenha subestimado os elementos de mercado que sobreviveriam em algum sistema pós-capitalista. Considerando que Marx, deliberadamente, absteve-se de especular acerca do futuro, não pode ser responsabilizado pelas formas específicas em que as economias “socialistas” foram organizadas sob o chamado “socialismo realmente existente”. Quanto aos objetivos do socialismo, Marx não foi o único pensador que queria uma sociedade sem exploração e alienação, em que os seres humanos pudessem realizar plenamente suas potencialidades, mas foi o que expressou essa idéia com maior força e suas palavras mantêm seu poder de inspiração.No entanto, Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, autoritariamente ou de outra maneira, nem como descrições de uma situação real do mundo capitalista de hoje, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista. Tampouco podemos ou devemos esquecer que ele não conseguiu realizar uma apresentação bem planejada, coerente e completa de suas idéias, apesar das tentativas de Engels e outros de construir, a partir dos manuscritos de Marx, um volume II e III de “O Capital”. Como mostram os “Grundrisse”, aliás. Inclusive, um Capital completo teria conformado apenas uma parte do próprio plano original de Marx, talvez excessivamente ambicioso. Por outro lado, Marx não regressará à esquerda até que a tendência atual entre os ativistas radicais de converter o anti-capitalismo em anti-globalização seja abandonada. A globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo.Marcello Musto: Um dos escritos de Marx que suscitaram o maior interesse entre os novos leitores e comentadores são os “Grundrisse”. Escritos entre 1857 e 1858, os “Grundrisse” são o primeiro rascunho da crítica da economia política de Marx e, portanto, também o trabalho inicial preparatório do Capital, contendo numerosas reflexões sobre temas que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte de sua criação inacabada. Por que, em sua opinião, estes manuscritos da obra de Marx, continuam provocando mais debate que qualquer outro texto, apesar do fato dele tê-los escrito somente para resumir os fundamentos de sua crítica da economia política? Qual é a razão de seu persistente interesse?Eric Hobsbawm: Desde o meu ponto de vista, os "Grundrisse" provocaram um impacto internacional tão grande na cena marxista intelectual por duas razões relacionadas. Eles permaneceram virtualmente não publicados antes dos anos cinqüenta e, como você diz, contendo uma massa de reflexões sobre assuntos que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte. Não fizeram parte do largamente dogmatizado corpus do marxismo ortodoxo no mundo do socialismo soviético. Mas não podiam simplesmente ser descartados. Puderam, portanto, ser usados por marxistas que queriam criticar ortodoxamente ou ampliar o alcance da análise marxista mediante o apelo a um texto que não podia ser acusado de herético ou anti-marxista. Assim, as edições dos anos setenta e oitenta, antes da queda do Muro de Berlim, seguiram provocando debate, fundamentalmente porque nestes escritos Marx coloca problemas importantes que não foram considerados no “Capital”, como por exemplo as questões assinaladas em meu prefácio ao volume de ensaios que você organizou (Karl Marx's Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later, editado por M. Musto, Londres-Nueva York, Routledge, 2008).Marcello Musto: No prefácio deste livro, escrito por vários especialistas internacionais para comemorar o 150° aniversário de sua composição, você escreveu: “Talvez este seja o momento correto para retornar ao estudo dos “Grundrisse”, menos constrangidos pelas considerações temporais das políticas de esquerda entre a denúncia de Stalin, feita por Nikita Khruschev, e a queda de Mikhail Gorbachev”. Além disso, para destacar o enorme valor deste texto, você diz que os “Grundrisse” “trazem análise e compreensão, por exemplo, da tecnologia, o que leva o tratamento de Marx do capitalismo para além do século XIX, para a era de uma sociedade onde a produção não requer já mão-de-obra massiva, para a era da automatização, do potencial de tempo livre e das transformações do fenômeno da alienação sob tais circunstâncias. Este é o único texto que vai, de alguma maneira, mais além dos próprios indícios do futuro comunista apontados por Marx na “Ideologia Alemã”. Em poucas palavras, esse texto tem sido descrito corretamente como o pensamento de Marx em toda sua riqueza. Assim, qual poderia ser o resultado da releitura dos “Grundrisse” hoje?Eric Hobsbawm: Não há, provavelmente, mais do que um punhado de editores e tradutores que tenham tido um pleno conhecimento desta grande e notoriamente difícil massa de textos. Mas uma releitura ou leitura deles hoje pode ajudar-nos a repensar Marx: a distinguir o geral na análise do capitalismo de Marx daquilo que foi específico da situação da sociedade burguesa na metade do século XIX. Não podemos prever que conclusões podem surgir desta análise. Provavelmente, somente podemos dizer que certamente não levarão a acordos unânimes.Marcello Musto: Para terminar, uma pergunta final. Por que é importante ler Marx hoje?Eric Hobsbawm: Para qualquer interessado nas idéias, seja um estudante universitário ou não, é patentemente claro que Marx é e permanecerá sendo uma das grandes mentes filosóficas, um dos grandes analistas econômicos do século XIX e, em sua máxima expressão, um mestre de uma prosa apaixonada. Também é importante ler Marx porque o mundo no qual vivemos hoje não pode ser entendido sem levar em conta a influência que os escritos deste homem tiveram sobre o século XX. E, finalmente, deveria ser lido porque, como ele mesmo escreveu, o mundo não pode ser transformado de maneira efetiva se não for entendido. Marx permanece sendo um soberbo pensador para a compreensão do mundo e dos problemas que devemos enfrentar. Tradução para Sin Permiso (inglês-espanhol): Gabriel Vargas LozanoTradução para Carta Maior (espanhol-português): Marco Aurélio Weissheimer .
Fonte: Agência Carta Maior.
Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a atualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando nos últimos anos, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão: “Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”.
Marcello Musto - Sin Permiso
Em entrevista a Marcello Musto, o historiador Eric Hobsbawm analisa a atualidade da obra de Marx e o renovado interesse que vem despertando nos últimos anos, mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. E fala sobre a necessidade de voltar a ler o pensador alemão: “Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista”.Eric Hobsbawm é considerado um dos maiores historiadores vivos. É presidente do Birbeck College (London University) e professor emérito da New School for Social Research (Nova Iorque). Entre suas muitas obras, encontra-se a trilogia acerca do “longo século XIX”: “A Era da Revolução: Europa 1789-1848” (1962); “A Era do Capital: 1848-1874” (1975); “A Era do Império: 1875-1914 (1987) e o livro “A Era dos Extremos: o breve século XX, 1914-1991 (1994), todos traduzidos em vários idiomas. Entrevistamos o historiador por ocasião da publicação do livro “Karl Marx’s Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later” (Os Manuscritos de Karl Marx. Elementos fundamentais para a Crítica da Economia Política, 150 anos depois).Nesta conversa, abordamos o renovado interesse que os escritos de Marx vêm despertando nos últimos anos e mais ainda agora após a nova crise de Wall Street. Nosso colaborador Marcello Musto entrevistou Hobsbawm para Sin Permiso. Marcello Musto: Professor Hobsbawm, duas décadas depois de 1989, quando foi apressadamente relegado ao esquecimento, Karl Marx regressou ao centro das atenções. Livre do papel de intrumentum regni que lhe foi atribuído na União Soviética e das ataduras do “marxismo-leninismo”, não só tem recebido atenção intelectual pela nova publicação de sua obra, como também tem sido objeto de crescente interesse. Em 2003, a revista francesa Nouvel Observateur dedicou um número especial a Marx, com um título provocador: “O pensador do terceiro milênio?”. Um ano depois, na Alemanha, em uma pesquisa organizada pela companhia de televisão ZDF para estabelecer quem eram os alemães mais importantes de todos os tempos, mais de 500 mil espectadores votaram em Karl Marx, que obteve o terceiro lugar na classificação geral e o primeiro na categoria de “relevância atual”. Em 2005, o semanário alemão Der Spiegel publicou uma matéria especial que tinha como título “Ein Gespenst Kehrt zurük” (A volta de um espectro), enquanto os ouvintes do programa “In Our Time” da rádio 4, da BBC, votavam em Marx como o maior filósofo de todos os tempos. Em uma conversa com Jacques Attali, recentemente publicada, você disse que, paradoxalmente, “são os capitalistas, mais que outros, que estão redescobrindo Marx” e falou também de seu assombro ao ouvir da boca do homem de negócios e político liberal, George Soros, a seguinte frase: “Ando lendo Marx e há muitas coisas interessantes no que ele diz”. Ainda que seja débil e mesmo vago, quais são as razões para esse renascimento de Marx? É possível que sua obra seja considerada como de interesse só de especialistas e intelectuais, para ser apresentada em cursos universitários como um grande clássico do pensamento moderno que não deveria ser esquecido? Ou poderá surgir no futuro uma nova “demanda de Marx”, do ponto de vista político?Eric Hobsbawm: Há um indiscutível renascimento do interesse público por Marx no mundo capitalista, com exceção, provavelmente, dos novos membros da União Européia, do leste europeu. Este renascimento foi provavelmente acelerado pelo fato de que o 150° aniversário da publicação do Manifesto Comunista coincidiu com uma crise econômica internacional particularmente dramática em um período de uma ultra-rápida globalização do livre-mercado.Marx previu a natureza da economia mundial no início do século XXI, com base na análise da “sociedade burguesa”, cento e cinqüenta anos antes. Não é surpreendente que os capitalistas inteligentes, especialmente no setor financeiro globalizado, fiquem impressionados com Marx, já que eles são necessariamente mais conscientes que outros sobre a natureza e as instabilidades da economia capitalista na qual eles operam.A maioria da esquerda intelectual já não sabe o que fazer com Marx. Ela foi desmoralizada pelo colapso do projeto social-democrata na maioria dos estados do Atlântico Norte, nos anos 1980, e pela conversão massiva dos governos nacionais à ideologia do livre mercado, assim como pelo colapso dos sistemas políticos e econômicos que afirmavam ser inspirados por Marx e Lênin. Os assim chamados “novos movimentos sociais”, como o feminismo, tampouco tiveram uma conexão lógica com o anti-capitalismpo (ainda que, individualmente, muitos de seus membros possam estar alinhados com ele) ou questionaram a crença no progresso sem fim do controle humano sobre a natureza que tanto o capitalismo como o socialismo tradicional compartilharam. Ao mesmo tempo, o “proletariado”, dividido e diminuído, deixou de ser crível como agente histórico da transformação social preconizada por Marx.Devemos levar em conta também que, desde 1968, os mais proeminentes movimentos radicais preferiram a ação direta não necessariamente baseada em muitas leituras e análises teóricas. Claro, isso não significa que Marx tenha deixado de ser considerado como um grande clássico e pensador, ainda que, por razões políticas, especialmente em países como França e Itália, que já tiveram poderosos Partidos Comunistas, tenha havido uma apaixonada ofensiva intelectual contra Marx e as análises marxistas, que provavelmente atingiu seu ápice nos anos oitenta e noventa. Há sinais agora de que a água retomará seu nível.Marcello Musto: Ao longo de sua vida, Marx foi um agudo e incansável investigador, que percebeu e analisou melhor do que ninguém em seu tempo o desenvolvimento do capitalismo em escala mundial. Ele entendeu que o nascimento de uma economia internacional globalizada era inerente ao modo capitalista de produção e previu que este processo geraria não somente o crescimento e prosperidade alardeados por políticos e teóricos liberais, mas também violentos conflitos, crises econômicas e injustiça social generalizada. Na última década, vimos a crise financeira do leste asiático, que começou no verão de 1997; a crise econômica Argentina de 1999-2002 e, sobretudo, a crise dos empréstimos hipotecários que começou nos Estados Unidos em 2006 e agora tornou-se a maior crise financeira do pós-guerra. É correto dizer, então, que o retorno do interesse pela obra de Marx está baseado na crise da sociedade capitalista e na capacidade dele ajudar a explicar as profundas contradições do mundo atual?Eric Hobsbawm: Se a política da esquerda no futuro será inspirada uma vez mais nas análises de Marx, como ocorreu com os velhos movimentos socialistas e comunistas, isso dependerá do que vai acontecer no mundo capitalista. Isso se aplica não somente a Marx, mas à esquerda considerada como um projeto e uma ideologia política coerente. Posto que, como você diz corretamente, a recuperação do interesse por Marx está consideravelmente – eu diria, principalmente – baseado na atual crise da sociedade capitalista, a perspectiva é mais promissora do que foi nos anos noventa. A atual crise financeira mundial, que pode transformar-se em uma grande depressão econômica nos EUA, dramatiza o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado e obriga, inclusive o governo norte-americano, a escolher ações públicas esquecidas desde os anos trinta.As pressões políticas já estão debilitando o compromisso dos governos neoliberais em torno de uma globalização descontrolada, ilimitada e desregulada. Em alguns casos, como a China, as vastas desigualdades e injustiças causadas por uma transição geral a uma economia de livre mercado, já coloca problemas importantes para a estabilidade social e mesmo dúvidas nos altos escalões de governo. É claro que qualquer “retorno a Marx” será essencialmente um retorno à análise de Marx sobre o capitalismo e seu lugar na evolução histórica da humanidade – incluindo, sobretudo, suas análises sobre a instabilidade central do desenvolvimento capitalista que procede por meio de crises econômicas auto-geradas com dimensões políticas e sociais. Nenhum marxista poderia acreditar que, como argumentaram os ideólogos neoliberais em 1989, o capitalismo liberal havia triunfado para sempre, que a história tinha chegado ao fim ou que qualquer sistema de relações humanas possa ser definitivo para todo o sempre.Marcello Musto: Você não acha que, se as forças políticas e intelectuais da esquerda internacional, que se questionam sobre o que poderia ser o socialismo do século XXI, renunciarem às idéias de Marx, estarão perdendo um guia fundamental para o exame e a transformação da realidade atual?Eric Hobsbawm: Nenhum socialista pode renunciar às idéias de Marx, na medida que sua crença em que o capitalismo deve ser sucedido por outra forma de sociedade está baseada, não na esperança ou na vontade, mas sim em uma análise séria do desenvolvimento histórico, particularmente da era capitalista. Sua previsão de que o capitalismo seria substituído por um sistema administrado ou planejado socialmente parece razoável, ainda que certamente ele tenha subestimado os elementos de mercado que sobreviveriam em algum sistema pós-capitalista. Considerando que Marx, deliberadamente, absteve-se de especular acerca do futuro, não pode ser responsabilizado pelas formas específicas em que as economias “socialistas” foram organizadas sob o chamado “socialismo realmente existente”. Quanto aos objetivos do socialismo, Marx não foi o único pensador que queria uma sociedade sem exploração e alienação, em que os seres humanos pudessem realizar plenamente suas potencialidades, mas foi o que expressou essa idéia com maior força e suas palavras mantêm seu poder de inspiração.No entanto, Marx não regressará como uma inspiração política para a esquerda até que se compreenda que seus escritos não devem ser tratados como programas políticos, autoritariamente ou de outra maneira, nem como descrições de uma situação real do mundo capitalista de hoje, mas sim como um caminho para entender a natureza do desenvolvimento capitalista. Tampouco podemos ou devemos esquecer que ele não conseguiu realizar uma apresentação bem planejada, coerente e completa de suas idéias, apesar das tentativas de Engels e outros de construir, a partir dos manuscritos de Marx, um volume II e III de “O Capital”. Como mostram os “Grundrisse”, aliás. Inclusive, um Capital completo teria conformado apenas uma parte do próprio plano original de Marx, talvez excessivamente ambicioso. Por outro lado, Marx não regressará à esquerda até que a tendência atual entre os ativistas radicais de converter o anti-capitalismo em anti-globalização seja abandonada. A globalização existe e, salvo um colapso da sociedade humana, é irreversível. Marx reconheceu isso como um fato e, como um internacionalista, deu as boas vindas, teoricamente. O que ele criticou e o que nós devemos criticar é o tipo de globalização produzida pelo capitalismo.Marcello Musto: Um dos escritos de Marx que suscitaram o maior interesse entre os novos leitores e comentadores são os “Grundrisse”. Escritos entre 1857 e 1858, os “Grundrisse” são o primeiro rascunho da crítica da economia política de Marx e, portanto, também o trabalho inicial preparatório do Capital, contendo numerosas reflexões sobre temas que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte de sua criação inacabada. Por que, em sua opinião, estes manuscritos da obra de Marx, continuam provocando mais debate que qualquer outro texto, apesar do fato dele tê-los escrito somente para resumir os fundamentos de sua crítica da economia política? Qual é a razão de seu persistente interesse?Eric Hobsbawm: Desde o meu ponto de vista, os "Grundrisse" provocaram um impacto internacional tão grande na cena marxista intelectual por duas razões relacionadas. Eles permaneceram virtualmente não publicados antes dos anos cinqüenta e, como você diz, contendo uma massa de reflexões sobre assuntos que Marx não desenvolveu em nenhuma outra parte. Não fizeram parte do largamente dogmatizado corpus do marxismo ortodoxo no mundo do socialismo soviético. Mas não podiam simplesmente ser descartados. Puderam, portanto, ser usados por marxistas que queriam criticar ortodoxamente ou ampliar o alcance da análise marxista mediante o apelo a um texto que não podia ser acusado de herético ou anti-marxista. Assim, as edições dos anos setenta e oitenta, antes da queda do Muro de Berlim, seguiram provocando debate, fundamentalmente porque nestes escritos Marx coloca problemas importantes que não foram considerados no “Capital”, como por exemplo as questões assinaladas em meu prefácio ao volume de ensaios que você organizou (Karl Marx's Grundrisse. Foundations of the Critique of Political Economy 150 Years Later, editado por M. Musto, Londres-Nueva York, Routledge, 2008).Marcello Musto: No prefácio deste livro, escrito por vários especialistas internacionais para comemorar o 150° aniversário de sua composição, você escreveu: “Talvez este seja o momento correto para retornar ao estudo dos “Grundrisse”, menos constrangidos pelas considerações temporais das políticas de esquerda entre a denúncia de Stalin, feita por Nikita Khruschev, e a queda de Mikhail Gorbachev”. Além disso, para destacar o enorme valor deste texto, você diz que os “Grundrisse” “trazem análise e compreensão, por exemplo, da tecnologia, o que leva o tratamento de Marx do capitalismo para além do século XIX, para a era de uma sociedade onde a produção não requer já mão-de-obra massiva, para a era da automatização, do potencial de tempo livre e das transformações do fenômeno da alienação sob tais circunstâncias. Este é o único texto que vai, de alguma maneira, mais além dos próprios indícios do futuro comunista apontados por Marx na “Ideologia Alemã”. Em poucas palavras, esse texto tem sido descrito corretamente como o pensamento de Marx em toda sua riqueza. Assim, qual poderia ser o resultado da releitura dos “Grundrisse” hoje?Eric Hobsbawm: Não há, provavelmente, mais do que um punhado de editores e tradutores que tenham tido um pleno conhecimento desta grande e notoriamente difícil massa de textos. Mas uma releitura ou leitura deles hoje pode ajudar-nos a repensar Marx: a distinguir o geral na análise do capitalismo de Marx daquilo que foi específico da situação da sociedade burguesa na metade do século XIX. Não podemos prever que conclusões podem surgir desta análise. Provavelmente, somente podemos dizer que certamente não levarão a acordos unânimes.Marcello Musto: Para terminar, uma pergunta final. Por que é importante ler Marx hoje?Eric Hobsbawm: Para qualquer interessado nas idéias, seja um estudante universitário ou não, é patentemente claro que Marx é e permanecerá sendo uma das grandes mentes filosóficas, um dos grandes analistas econômicos do século XIX e, em sua máxima expressão, um mestre de uma prosa apaixonada. Também é importante ler Marx porque o mundo no qual vivemos hoje não pode ser entendido sem levar em conta a influência que os escritos deste homem tiveram sobre o século XX. E, finalmente, deveria ser lido porque, como ele mesmo escreveu, o mundo não pode ser transformado de maneira efetiva se não for entendido. Marx permanece sendo um soberbo pensador para a compreensão do mundo e dos problemas que devemos enfrentar. Tradução para Sin Permiso (inglês-espanhol): Gabriel Vargas LozanoTradução para Carta Maior (espanhol-português): Marco Aurélio Weissheimer .
Fonte: Agência Carta Maior.
MÍDIA - EUA negam visto à agência cubana de notícias que cobre a ONU.
A agência cubana Prensa Latina considerou "uma afronta" o governo dos Estados Unidos recusar a concessão de vistos para que dois de seus jornalistas continuem trabalhando nas Nações Unidas, em Nova York. Os correspondentes são Ilsa Rodríguez Santana e seu marido Tomás Anael Granados Jiménez "cada um com quatro décadas de trabalho na agência cubana", disse uma nota divulgada nesta segunda-feira (29) na internet.
"Prensa Latina denuncia a afronta cometida contra seus dois correspondentes", comentou a nota. Ilsa e Jiménez já representaram a Prensa Latina na Índia, no Zimbábue, na China e, desde 2005, na ONU, em Nova York.
Um documento do Departamento de Estado norte-americano entregue pelo Escritório de Interesses desse país em Havana justificou a medida a partir de uma seção, a 212 F, que autoriza o presidente dos Estados Unidos a negar vistos a pessoas consideradas "prejudiciais" aos interesses nacionais.
Em entrevista à Ansa, Ilsa respondeu à altura. É a primeira vez desde que começou a operar, há quase 50 anos, que a agência cubana recebe uma recusa de visto para algum de seus representantes credenciados na ONU, acusou a jornalista cubana.
Ela também disse que sua credencial para a sede da ONU, igual a de seu marido Jiménez, ainda tem validade até 2009 e denunciou: com a decisão, "as autoridades norte-americanas vão contra o direito ao exercício do jornalismo e desconhece seus deveres como país anfitrião das Nações Unidas".
Os correspondentes afetados pela decisão dos Estados Unidos disseram à Ansa que informaram a Associação de Correspondentes na ONU (Unca, sigla em inglês) sobre o ocorrido. "Dissemos a eles que isto não é só uma agressão contra jornalistas da Prensa Latina — mas também contra o bom exercício do jornalismo", acrescentou Ilsa.
Da Redação, com informações da Agência Ansa.
Fonte: Site O Vermelho.
"Prensa Latina denuncia a afronta cometida contra seus dois correspondentes", comentou a nota. Ilsa e Jiménez já representaram a Prensa Latina na Índia, no Zimbábue, na China e, desde 2005, na ONU, em Nova York.
Um documento do Departamento de Estado norte-americano entregue pelo Escritório de Interesses desse país em Havana justificou a medida a partir de uma seção, a 212 F, que autoriza o presidente dos Estados Unidos a negar vistos a pessoas consideradas "prejudiciais" aos interesses nacionais.
Em entrevista à Ansa, Ilsa respondeu à altura. É a primeira vez desde que começou a operar, há quase 50 anos, que a agência cubana recebe uma recusa de visto para algum de seus representantes credenciados na ONU, acusou a jornalista cubana.
Ela também disse que sua credencial para a sede da ONU, igual a de seu marido Jiménez, ainda tem validade até 2009 e denunciou: com a decisão, "as autoridades norte-americanas vão contra o direito ao exercício do jornalismo e desconhece seus deveres como país anfitrião das Nações Unidas".
Os correspondentes afetados pela decisão dos Estados Unidos disseram à Ansa que informaram a Associação de Correspondentes na ONU (Unca, sigla em inglês) sobre o ocorrido. "Dissemos a eles que isto não é só uma agressão contra jornalistas da Prensa Latina — mas também contra o bom exercício do jornalismo", acrescentou Ilsa.
Da Redação, com informações da Agência Ansa.
Fonte: Site O Vermelho.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
ARTIGO - Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street.
por James Petras [*]
O secretário do Tesouro Paulson e o presidente Bush, apoiados pela liderança democrata, pediram ao Congresso US$700 mil milhões para salvar instituições financeiras da Wall Street. Ao longo dos últimos anos estes bancos arrecadaram milhares de milhões de dólares tomando empréstimos e especulando com hipotecas, títulos e outros papeis financeiros, virtualmente sem qualquer capital a cobrir as suas apostas. Com a queda do mercado habitacional, as dívidas financeiras da Wall Street dispararam, o valor dos seus haveres evaporou-se e elas cravadas com milhões de milhões (trillions) de dólares de dívidas. A liderança de Paulson, Bush e do Congresso quer que o contribuinte estado-unidense compre as dívidas privadas sem valor da Wall Street, comprometendo a actual e as futuras gerações de contribuintes com papeis desvalorizados. Paulson/Bush e os líderes do Congresso afirmam falsamente que o fracasso em salvar os trapaceiros da Wall Street levará ao colapso do sistema financeiro. De facto, quase 200 dos nossos principais economistas das mais prestigiadas universidades rejeitam o salvamento de Paulson. A verdade neste assunto é que a retenção dos fundos para a Wall Street levará ao colapso deste sistema financeiro trapaceiro-especulador, o qual criou a actual derrocada económica. O governo federal poderia e deveria utilizar as centenas de milhares de milhões do dinheiro público para estabelecer um sistema bancário e de investimentos a nível nacional controlado publicamente e sujeito à supervisão de representantes eleitos. O colapso do actual sistema financeiro em bancarrota é tanto uma ameaça como uma oportunidade. O colapso deste sistema corrupto levou à perda de empregos e congelamento do crédito e da concessão de empréstimos. O estabelecimento de um novo sistema bancário de propriedade pública proporciona uma oportunidade para financiar as prioridade das vasta maioria do povo americano: a re-industrialização da nossa economia, um programa de saúde para todos a nível nacional, garantia e estender a Segurança Social no próximo século, reconstruir nossa infraestrutura decadente e muitos outros programas essenciais para o modo de vida americano. O problema não é a falsa alternativa de salvar a Wall Street ou o caos e colapso financeiro. A escolha real é entre subsidiar trapaceiros ou estabelecer um sistema responsável, reactivo e justo administrado publicamente. Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street 1- Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os seus lucros e passar as suas perdas para os contribuintes. Eles têm de assumir a responsabilidade das suas decisões más. 2- Grande parte das dívidas tóxicas (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com activos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice. 3- O Tesouro dos EUA comprará papeis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer activos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs. 4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes serão fincados em papeis sem compradores. 5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras. 6- O dólar desvalorizará quando o poder de atracção da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores. 7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para retirar-nos desta recessão profunda. 8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo do director do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o facto de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais "activos tóxicos" e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes. 9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas e o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes. 10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão. Alternativas ao salvamento da Wall Street A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados. De facto, investir US$700 mil milhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de défices orçamentais e comerciais. Fundos públicos investidos na manufactura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro. O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.
28/Setembro/2008
[*] Professor emérito de sociologia na Binghamton University, New York. É autor de 63 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em publicações profissionais, incluindo American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia e Journal of Peasant Studies. Publicou mais de 2000 artigos e publicações não profissionais tais como New York Times, the Guardian, the Nation, Christian Science Monitor, Foreign Policy, New Left Review, Partisan Review, Temps Modernes, Le Monde Diplomatique. Seus comentários são amplamente difundidos na Internet. Dentre as editoras que publicaram seus livros incluem-se a Random House, John Wiley, Westview, Routledge, Macmillan, Verso, Zed Books e Pluto Books. Ganhou os prémios Life Time Career, Marxist Section, da American Sociology Association, o Robert Kenny Award for Best Book, 2002, e a Best Dissertation, Western Political Science Association in 1968. Seus livros mais recentes são: Zionism, Militarism and the Decline of US Power e Rulers and Ruled in the US Empire . O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=10362 Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
O secretário do Tesouro Paulson e o presidente Bush, apoiados pela liderança democrata, pediram ao Congresso US$700 mil milhões para salvar instituições financeiras da Wall Street. Ao longo dos últimos anos estes bancos arrecadaram milhares de milhões de dólares tomando empréstimos e especulando com hipotecas, títulos e outros papeis financeiros, virtualmente sem qualquer capital a cobrir as suas apostas. Com a queda do mercado habitacional, as dívidas financeiras da Wall Street dispararam, o valor dos seus haveres evaporou-se e elas cravadas com milhões de milhões (trillions) de dólares de dívidas. A liderança de Paulson, Bush e do Congresso quer que o contribuinte estado-unidense compre as dívidas privadas sem valor da Wall Street, comprometendo a actual e as futuras gerações de contribuintes com papeis desvalorizados. Paulson/Bush e os líderes do Congresso afirmam falsamente que o fracasso em salvar os trapaceiros da Wall Street levará ao colapso do sistema financeiro. De facto, quase 200 dos nossos principais economistas das mais prestigiadas universidades rejeitam o salvamento de Paulson. A verdade neste assunto é que a retenção dos fundos para a Wall Street levará ao colapso deste sistema financeiro trapaceiro-especulador, o qual criou a actual derrocada económica. O governo federal poderia e deveria utilizar as centenas de milhares de milhões do dinheiro público para estabelecer um sistema bancário e de investimentos a nível nacional controlado publicamente e sujeito à supervisão de representantes eleitos. O colapso do actual sistema financeiro em bancarrota é tanto uma ameaça como uma oportunidade. O colapso deste sistema corrupto levou à perda de empregos e congelamento do crédito e da concessão de empréstimos. O estabelecimento de um novo sistema bancário de propriedade pública proporciona uma oportunidade para financiar as prioridade das vasta maioria do povo americano: a re-industrialização da nossa economia, um programa de saúde para todos a nível nacional, garantia e estender a Segurança Social no próximo século, reconstruir nossa infraestrutura decadente e muitos outros programas essenciais para o modo de vida americano. O problema não é a falsa alternativa de salvar a Wall Street ou o caos e colapso financeiro. A escolha real é entre subsidiar trapaceiros ou estabelecer um sistema responsável, reactivo e justo administrado publicamente. Dez razões para recusar o salvamento da Wall Street 1- Numa economia de mercado os capitalistas justificam os seus lucros com o risco de perdas que assumem. Os jogadores não podem guardar os seus lucros e passar as suas perdas para os contribuintes. Eles têm de assumir a responsabilidade das suas decisões más. 2- Grande parte das dívidas tóxicas (lixo) foi baseada em práticas fraudulentas – instrumentos financeiros opacos não relacionados com activos reais (mas que geravam enormes comissões). O salvamento de vigaristas só encoraja mais vigarice. 3- O Tesouro dos EUA comprará papeis sem valor, os bancos privados reterão quaisquer activos com valor. Nós compramos os limões, eles conduzem os Cadillacs. 4- A probabilidade de o Tesouro recuperar qualquer valor das suas compras da dívida podre é quase zero. Os contribuintes serão fincados em papeis sem compradores. 5- O efeito a longo prazo de um salvamento será duplicar a dívida pública e minar o financiamento para a Segurança Social, Medicare, Medicaid, educação e programas de saúde pública, e ao mesmo tempo aumentar o fardo fiscal das gerações futuras. 6- O dólar desvalorizará quando o poder de atracção da dívida governamental diminuir no estrangeiro, aumentando o custo das importações e resultando numa espiral inflacionária que mais uma vez minará os padrões de vida dos trabalhadores. 7- A canalização de fundos para a Wall Street desviará os fundos necessários para retirar-nos desta recessão profunda. 8- O salvamento aprofundará a crise financeira porque, segundo do director do Gabinete de Orçamento do Congresso, revelará o facto de que muitas instituições podem estar carregadas com muito mais "activos tóxicos" e revelará que aquelas instituições não são solventes. Por outras palavras, o Tesouro e o Congresso estão a resgatar dívidas podres a instituições insolventes. 9- O salvamento é destinado a facilitar a concessão de empréstimos. Mas e o problema não é de crédito e sim (como mostrou o Gabinete do Orçamento do Congresso) de insolvência das instituições financeiras, a solução é criar instituições financeiras solventes. 10- O salvamento ignora totalmente as necessidades financeiras de 10 milhões de proprietários de casas que estão a enfrentar arrestos, bem como a bancarrota de pequenas empresas confrontadas com um esmagamento do crédito e as perdas de empregos dos trabalhadores e dos planos de saúde para as suas famílias devido à recessão. Alternativas ao salvamento da Wall Street A velocidade com que esta gigantesca quantia de fundos públicos foi disponibilizada pelo Tesouro e pelo Congresso mostra a mentira da sua argumentação de que programas populares não podem ser financiados ou precisam ser cortados. De facto, investir US$700 mil milhões na saúde e na educação dos trabalhadores americanos aumentará a produtividade, abrirá mercados e expandirá o poder do consumidor conduzindo a um círculo virtuoso de aumento dos rendimentos públicos e de eliminação de défices orçamentais e comerciais. Fundos públicos investidos na manufactura, construção, educação e cuidados de saúde conduzem a produtos com valor de uso real e têm um efeito multiplicador sobre o resto da economia ao invés de terminarem nos bolsos de multimilionários que especularam e investiram em fusões e aquisições no estrangeiro. O Tesouro e o Congresso inadvertidamente revelaram que o financiamento federal está prontamente disponível para reconstruir a economia dos EUA, garantir salários vitais decentes e proporcionar cuidados de saúde para todos se escolhermos responsáveis eleitos que estejam comprometidos com as necessidades dos trabalhadores e não com os multimilionários da Wall Street.
28/Setembro/2008
[*] Professor emérito de sociologia na Binghamton University, New York. É autor de 63 livros publicados em 29 línguas, e mais de 560 artigos em publicações profissionais, incluindo American Sociological Review, British Journal of Sociology, Social Research, Journal of Contemporary Asia e Journal of Peasant Studies. Publicou mais de 2000 artigos e publicações não profissionais tais como New York Times, the Guardian, the Nation, Christian Science Monitor, Foreign Policy, New Left Review, Partisan Review, Temps Modernes, Le Monde Diplomatique. Seus comentários são amplamente difundidos na Internet. Dentre as editoras que publicaram seus livros incluem-se a Random House, John Wiley, Westview, Routledge, Macmillan, Verso, Zed Books e Pluto Books. Ganhou os prémios Life Time Career, Marxist Section, da American Sociology Association, o Robert Kenny Award for Best Book, 2002, e a Best Dissertation, Western Political Science Association in 1968. Seus livros mais recentes são: Zionism, Militarism and the Decline of US Power e Rulers and Ruled in the US Empire . O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=10362 Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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