Na abertura da 63ª Assembléia Geral da ONU, o presidente brasileiro defendeu uma solução global para a atual crise financeira. E criticou a força da especulação na economia. “Ninguém pode fazer de dinheiro de pensionistas um cassino. Quer ganhar dinheiro, ganhe investindo em coisas que gerem mais empregos, mais renda. Não especulando, e depois querem dividir o prejuízo com os mais pobres. Não podemos aceitar isso. Quando ganham, ganham sozinhos. Quando perdem, querem socializar”.
Sabrina Craide - Agência Brasil
NOVA YORK - Diante de mais de uma centena de líderes de todo o mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da Organização das Nações Unidas (ONU) uma resposta para a crise financeira mundial e criticou os subsídios agrícolas e as barreiras comerciais impostas pelos países ricos.“Um suposto nacionalismo populista que alguns pretendem identificar e criticar no sul do mundo é praticado sem constrangimento em países ricos”, disse nesta terça-feira (23), na abertura dos debates da 63ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, em Nova York.
O presidente ressaltou que as soluções para a crise financeira devem ser globais e tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis. “Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós.”
Ele disse que a desordem nas finanças internacionais só poderá ser combatida com uma ação determinada dos governantes, especialmente dos países que estão no centro da crise. “A ausência de regras favorece os aventureiros e oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores”, alertou.
"Os presságios que vinham se avolumando são hoje uma dura realidade. A euforia dos especuladores transformou-se em angústia dos povos, em uma sucessão de naufrágios financeiros que ameaçam economia mundial. É chegada a hora da política. Somente a ação determinada dos governantes, em especial naqueles países que estão no centro da crise, será capaz de combater a desordem que se instalou nas finanças internacionais",
Em seu discurso, Lula também criticou a tentativa de associar a alta dos alimentos à produção dos biocombustíveis. “A experiência brasileira comprova que o etanol de cana-de-açúcar e a produção de biodiesel diminuem a dependência de combustíveis fósseis, criam empregos, regeneram terras deterioradas e são plenamente compatíveis com a expansão da produção de alimentos.”
Para o presidente, além de fatores climáticos e da especulação sobre as commodities agrícolas, a inflação dos alimentos é causada pelos aumentos do petróleo, que incidem sobre o custo de fertilizantes e petróleo.
Lula ressaltou que o êxito da Rodada Doha deverá ter impacto positivo na produção de alimentos nos países pobres e em desenvolvimento e disse que é preciso avançar muito para que a humanidade cumpra efetivamente as Metas do Milênio.
Os avanços do Brasil nas áreas econômica e social também foram citados pelo presidente na ONU. “Tenho orgulho de dizer que o Brasil está vencendo a fome e a pobreza.” Como em outros anos, Lula foi o primeiro presidente a discursar na abertura da sessão, e falou logo depois do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e do presidente da 63ª sessão, Miguel d'Escoto Brockmann. Também participam da abertura os presidentes dos Estados Unidos, George Bush; da França, Nicolas Sarkozy; e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, entre outros.
Reativação da Quarta Frota
Lula também se manifestou sobre a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, no Oceano Atlântico. O presidente estranhou a decisão, anunciada logo após a descoberta do petróleo na camada pré-sal.
“Estranhamos que, depois que encontramos o petróleo, a Quarta Frota vá tomar conta do Atlântico exatamente na área que tem petróleo. Penso que não tem problema, a nossa preocupação agora é tentar explorar esse petróleo e fazer com que ele possa ajudar o povo brasileiro a mudar de vida”, disse. Lula afirmou que já conversou com o presidente George Bush sobre o assunto.
Ao comentar a crise financeira nos Estados Unidos, que atinge toda a economia mundial, Lula disse que é preciso haver medidas para dificultar a especulação financeira.
“Ninguém pode fazer de dinheiro de pensionistas um cassino. Quer ganhar dinheiro, ganhe investindo em coisas que gerem mais empregos, mais renda. Não especulando, e depois querem dividir o prejuízo com os mais pobres. Não podemos aceitar isso. Quando ganham, ganham sozinhos. Quando perdem, querem socializar”, criticou Lula.
Ele disse que, apesar de não haver sinais de que a crise chegue no Brasil, o governo está preocupado. “Se houver recessão nos Estados Unidos, isso vai repercutir em todo o mundo.”
Fonte: Agência Carta Maior.
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