Luis Nassif
Não é possível identificar nenhum ciclo de aperto monetário – como pretendem alguns analistas – na decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de elevar a taxa Selic em 0,25 ponto.
Vamos aos pontos relevantes.
O primeiro, os sinais de possível arrefecimento do rimo inflacionário nos próximos meses.
O segundo, o fato de que o próprio mercado se deu conta dessa indefinição, sobre os rumos da inflação, e apostava na manutenção da taxa Selic na última reunião do Copom, adiando as expectativas de alta para a próxima reunião.
Ora, se o próprio mercado convalidava a manutenção da Selic, qual a razão para o Banco Central ter se antecipado e dado 0,25 ponto?
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O único papel da Selic é na articulação das expectativas. Desde agosto de 2011 o BC vem trazendo batalhas sucessivas para se impor como o condutor das expectativas – em vez de ir a reboque, como ocorreu desde a implantação do sistema em 2001.
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Nas últimas semanas, criou-se um conjunto de eventos único para a chamada “confraria da Selic” retomar a liderança da formação de expectativas.
Há dois elementos que se somam para criar terrorismo com inflação: o interesse financeiro, dos que ganham com oscilações de taxa; e o interesse político, dos que apostam na desestabilização como preparativo para 2014.
Esses dois vetores foram potencializados por um conjunto de fatores: o fato da inflação ter excedido o limite superior da meta; e o carnaval em torno da alta dos tomates, evento sem nenhum significado inflacionário maior, dado o pequeno peso do tomate nos índices de custo de vida.
Graças a isso criou-se uma atoarda infernal, colocando em dúvida a independência do BC, a suposta falta de prioridade do governo no combate à inflação, o suposto descontrole de preços etc., um terrorismo para ninguém botar defeito.
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Há uma grande probabilidade dessa soma de fatores não se repetir nos próximos meses. Basta que seja confirmada a tendência de reversão da inflação, para o coro terrorista se desfazer.
Foi em cima desses dados que o BC provavelmente definiu sua estratégia.
Agora, concede 0,25, uma elevação inexpressiva mas, em todo caso, maior do que as expectativas de mercado, que apostava na manutenção da Selic.
Há um conjunto de fatores em andamento, permitindo apostar na queda da inflação: fim da pressão de preços, quadro internacional favorecendo a queda das commodities, a própria economia, andando em marcha lenta.
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Na próxima reunião do Copom, há dois cenários possíveis.
No caso de cenário de queda de inflação, ou se mantém a taxa em 7,5% ao ano – o que é mais provável -, ou se reinicia a queda gradual de 0,25 ponto.
Caso se mantenham as pressões inflacionárias, ou se conserva a taxa em 7,5% ou se aumenta em mais 0,25 ponto.
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De qualquer modo, essa elevação mínima dá tempo ao BC para analisar a dinâmica futura da inflação, não desmonta a estrutura de taxas de juros do sistema, nem desarma a competição por crédito.
Repito aqui: a inflação não impõe nenhum risco imediato à economia. O risco maior, de médio prazo, é o desequilíbrio nas contas externas brasileiras, com o atual nível de câmbio e de déficit comercial.
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