Carlos Chagas
Até o começo dos anos sessenta do século passado, podia não haver concordância, mas sobravam respeito e até admiração diante do Partido Comunista Brasileiro, o “Partidão”. Durante décadas mandava Luiz Carlos Prestes, secretário-geral, figura exponencial de nossa História. Ao contrário do que divulgavam os adversários, estava sempre pronto a ouvir sugestões, conselhos e até discordâncias doutrinárias de dezenas de companheiros de alto gabarito, que não citamos pelos risco de esquecer alguns.
Veio a cisão, depois que Nikita Kruschev demoliu Joseph Stalin, lá nas estepes. Criou-se o Partido Comunista do Brasil, com João Amazonas à frente, ainda que também pleno de idealistas. Os dois partidos, inconciliáveis ideologicamente, perseguidos na maior parte do tempo por governos e elites, honravam a ideologia praticada ao longo do tempo. Forneceram mártires como poucas religiões puderam apresentar.
A degradação começou ironicamente com os primeiros ventos da democratização, quando os pigmeus do “Partidão” deram o golpe e chegaram ao maior dos sacrilégios, no caso, a deposição e a expulsão de Luiz Carlos Prestes, já entrado nos oitenta anos. Deveriam tê-lo preservado a qualquer preço. Com a traição, engrandeceram ainda mais sua biografia.
Logo depois, com a liberação dos partidos políticos, a suprema insensatez: mudaram de nome. Relegaram um passado de lutas, sacrifícios e obviamente também de erros, para transformar-se em PPS. Chegaram a aderir ao neoliberalismo, a ponto de seu novo secretário-geral, Roberto Freire, frequentar o palácio da Alvorada, sempre alta noite e até de madrugada, para concordar com Fernando Henrique Cardoso.
Um vexame profundo, compensado pela permanência do PC do B, aguerrido e fiel à antiga ideologia. O bravo Oscar Niemeyer chegou a armar uma resistência paralela, participando da refundação do velho PCB, legenda ainda hoje existente.
O PPS, de péssima origem e ainda pior performance, chegou ao cúmulo de aliar-se formalmente aos tucanos, continuando a cultivar o neoliberalismo e renegando as lutas anteriores pela prevalência das massas.
Pois agora ficou pior. O antigo “partidão” acaba de unir-se ao PMN, legenda amorfa, insossa e inodora, formando um “movimento” que tem por objetivo lançar a candidatura de José Serra à presidência da República, se ele abandonar o ninho. Em outras palavras, ficará à direita do PSDB. A memória de Luiz Carlos Prestes não merecia essa agressão.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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