Jornal GGN - Em seu blog, o jornalista esportivo Cosme Rímoli fala sobre os bastidores da seleção antes e depois da eliminação da Copa do Mundo, e mostra como o técnico Luiz Felipe Scolari acabou sendo abandonado após o fracasso. De acordo com o colunista, Felipão não seguiu os conselhos de Alexandre Gallo, técnico das categorias de base e olheiro da Seleção. Gallo foi um dos profissionais mantidos na comissão técnica e é cotado para assumir o time como inteirino para os amistosos que vão acontecer no segundo semestre.
Rímoli ainda afirma que Felipão estaria magoado com Gallo, José Maria Marin (presidente da CBF) e com Galvão Bueno, que mudou de tom e criticou o método de trabalho do técnico. "Felipão percebeu que de nada adiantou abrir a concentração para Luciano Huck, Mumuzinho. Nem trocar confidências sobre o time com Patricia Poeta", pontua.
Do R7
Cosme Rímoli
Chegou a hora da reestruturação na Seleção Brasileira. Sem antes, como é de praxe, a lavagem de roupa suja. As famosas traições. Com cada um tentando se salvar do massacre. Até para seguir trabalhando.
O primeiro e mais gritante caso é o de Alexandre Gallo. Vazou nos corredores da CBF que o observador recomendou a Felipão que teria uma maneira de enfrentar a Alemanha. Ele deveria tirar do time Fred e entrar com três volantes: Luiz Gustavo, Paulinho e Fernandinho. Alertou que o meio de campo era o ponto forte do adversário.
Parreira teria até concordado com a avaliação. Mas Felipão preferiu ser fiel ao esquema que conquistou a Copa das Confederações. Deixou o time 'aberto'. A observação chegou nos ouvidos de José Maria Marin e de Marco Polo del Nero. E revoltou a dupla. Toda a conta da goleada vexatória por 7 a 1 ficou nas costas do ex-treinador da Seleção.
"Vocês (jornalistas) querem me jogar contra o Gallo", disse Felipão, assustado, com a revelação. Mas depois da sua demissão, as observações do seu 'espião' sobre a Alemanha foi parar na imprensa. Algo que expõe a escolha errada do técnico e preserva aquele que deveria ser seu auxiliar de confiança.
Gallo conseguiu sobreviver. Ele não está no enorme grupo de demitidos pela CBF. E mais. O treinador comandava a base da Seleção. Venceu no mês passado o importante torneio de Toulon, com garotos sub-21. Foram cinco vitórias em cinco partidas. Com direito à goleada por 5 a 2 contra a França, dona da casa. Ele era protegido por Felipão, que o defendia como técnico da Seleção Olímpica.
Marin é apaixonado por Gallo desde que ele revelou como os garotos iriam se comportar com ele. Estavam proibidos brincos, andar com fones de ouvidos na concentração, a partir de quando os jogadores fossem convocados, nada de tatuagens.
"Não aceito jogador com marra. Não quero estrelismo. Preciso de personalidade, comprometimento. Aliás, isso importa mais para mim do que a capacidade. Não adianta nada para o grupo alguém talentoso mas individualistas. Comigo vai predominar o grupo."
Gallo propôs a Marin a unificação do trabalho nas categorias de base, como as grandes seleções fazem há muito tempo. Espanha e Alemanha são bons exemplos. O que é esta 'unificação'? Na verdade uma padronização tática. Os times atuarão com esquemas idênticos, com poucas variações. Seguindo como referência, a Seleção adulta. Para que, desde menino, o jogador se encaixe.
O plano foi desenvolvido por Felipão, Parreira e Gallo. Mas todos os méritos acabaram com o treinador da base. E agora a revelação que aconselhou Felipão a fechar o time contra os alemães veio a calhar. Tanto que ele ganhou uma moral incrível com Marin.
Há a possibilidade real de que amanhã ele seja anunciado como treinador interino do Brasil até o final do ano. Comande a Seleção principal para amistosos já marcados. Isso daria um fôlego para a CBF buscar um técnico para preparar a Seleção para a Copa de 2018.
O calendário até lá é pesadíssimo. Tem Eliminatórias, Copa América do Chile em 2015;outra Copa América comemorativa de 100 anos, nos Estados Unidos, em 2016; além da Olimpíada no Rio. De novo com a obrigação de o time conseguir a medalha de ouro pela primeira vez.
Será nomeado um novo coordenador técnico. Com o perfil bem diferente de Parreira, principalmente na idade. O que acaba de ser dispensado tem 71 anos. O ex-jogador da Seleção e dirigente do Paris Saint Germain e que tem passagens rápidas como técnico do Milan e da Inter recebeu o convite. Ele está propenso a aceitar.
Seus contatos importantes seriam fundamentais na escolha do novo técnico para o Brasil. E também a vivência. Leonardo teria a capacidade de organizar o futebol da Seleção nos moldes seguidos pelos grandes clubes do Exterior. Criar condições até para um técnico de fora e de grande vivência, assuma o Brasil a partir de 2015.
Essa questão ainda não está fechada. Tite e Muricy seguem comentados se a opção for pela reserva de mercado. "O Brasil para os brasileiros", já disse um dirigente de federação, mais radical.
As reuniões na CBF se sucedem, buscando o novo. Mas a mágoa dos que foram dispensados é imensa. Carlos Alberto Parreira garante que não quer mais saber de futebol. Só cuidará de seus negócios particulares. O ex-diretor de Comunicação, Rodrigo Paiva, foi dispensado por telefone depois de 12 anos no cargo. Não quer mais tocar no assunto de sua demissão.
Triste mesmo está Felipão. Ele não chegou nem a fazer o relatório da caminhada do Brasil na Copa do Mundo. Soube que Marin não tinha o menor interesse em recebê-lo. Percebeu isso ao ir para a casa do ex-presidente da CBF na segunda-feira. Tinha esperanças de continuar na Seleção. Acreditava no que havia ouvido de Marin, após o desastre contra a Alemanha.
Mas ao chegar no local já viu um carro de reportagem da TV Globo. Percebeu que a emissora não estava lá só para registrar uma simples reunião. Mas o último ato, a sua demissão. Felipão entendeu que o apoio que recebeu na derrota diante dos germânicos foi irreal. Marin ganhava tempo, esperava apenas a derradeira partida na Copa. E aí tirar o seu cargo.
Felipão está recluso e magoado. Com Marin, com Gallo, com Galvão Bueno. O discurso do narrador no sábado depois da derrota contra a Holanda foi considerado uma punhalada pelo ex-técnico.
De uma hora para outra, Galvão se virou contra o método de trabalho que tanto havia elogiado. Descobriu que o time não treinava, a granja Comary era aberta demais e questionou a repetição da estratégia usada na Copa das Confederações na Copa do Mundo.
Tudo o que os principais veículos de comunicação apontavam desde o início do Mundial. Galvão esperou o fracasso para se queixar dos métodos da Comissão Técnica.
Felipão percebeu que de nada adiantou abrir a concentração para Luciano Huck, Mumuzinho. Nem trocar confidências sobre o time com Patricia Poeta. Fazer o Jornal Nacional o veículo oficial da Seleção. Obedecia a Marin. Com o fracasso, a Globo, representada por Galvão, se voltou contra ele.
Se o sucesso tem vários pais, o fracasso é órfão de pai e mãe. É assim que Felipão se sente hoje, abandonado. Por pessoas que há dez dias lhe abraçavam e o enchiam de elogios. E até se sentaram no seu colo...
(O golpe para finalizar Felipão. Informantes da CBF vazaram o salário que recebia o treinador. R$ 900 mil na carteira de trabalho. Com os encargos trabalhistas, o custo bateria nos R$ 1,5 milhão. Mostrando o quanto ele era caro, a cúpula da entidade espera arrebanhar a opinião pública. A informação vazou, por coincidência, em São Paulo e no Rio. Bastidores do futebol brasileiro...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário