A economia da circunstância, por André Araujo



As atuais condições da economia brasileira convocam o debate mais urgente do que o normal sobre quais linhas de ação são compatíveis com as circunstâncias postas na realidade.
O grande valor das ideias de Lord Keynes não foram suas recomendações ao Presidente Roosevelt para executar uma política anti-recessão consubstanciada no New Deal. A lição mais importante de Keynes, rigoroso economista ortodoxo como só poderia ser um alto funcionário do Tesouro de Sua Majestade Britânica, foi mostrar o óbvio: uma política econômica deve ser desenhada de acordo com as circunstâncias, NÃO EXISTEM REGRAS FIXAS.
A lição de Keynes dos anos 30 foi desaprendida nos anos 80 quando a Escola de Chicago de forma pretensiosa entendeu que tinha pronta uma fórmula que faria toda política econômica depender da estabilidade monetária.
A Escola de Chicago é uma visão do sistema bancário americano sobre a economia ideal para esse sistema. Os ativos bancários são referenciados em moeda e não em produtos, portanto é crucial que a moeda seja estável, uma moeda que se desvaloriza prejudica o credor e beneficia o devedor. 
Criado o modelo, tratou-se de divulga-lo como verdade revelada, disso se encarregou o Citibank numa série de conferências realizadas pelos mais importantes centros financeiros, coordenadas pela Argus Research e bancadas pelo Citi, onde Milton Friedman pregava a verdade revelada: toda a condução da política econômica deve girar sobre o eixo da estabilidade monetária.
É um axioma perigoso, como muitos economistas perceberam já na época de sua pregação.
\Há circunstâncias que exigem a ferramenta do estimulo monetário para combater tendencia depressiva. Bancos Centrais tem por função regular a moeda para dois lados: combater a inflação e também combater a recessão.
Quando há recessão é preciso abrir a torneira da inflação como instrumento de avanço da atividade econômica. Quando a economia está muito aquecida é preciso frear neutralizando os estímulos creditícios. 
No Brasil o nosso BC esqueceu que sua função é também estimular a atividade econômica com as ferramentas clássicas da expansão monetária. Não lhe cabe provocar recessão, essa não é função de Banco Central. BC combatem a inflação e a recessão, não as provocam.
Há um evidente erro de dosagem na taxa de juros básica. É elementar que em meio a uma recessão não se deve aprofundá-la com elevação de taxa de juros, isso sabe um calouro de economia. Como o BC brasileiro pode errar tanto?
Keynes ensinou que a política econômica não é uma religião, seus maestros não podem ser principístas, se guiarem por princípios e modelos. Eles devem ser pragmáticos e suas ações baseadas nas circunstâncias.
O ajuste fiscal pretendido pelo Plano Levy no atual quadro não se realizará em 1, 2, 5 ou 10 anos porque suas premissas são auto destrutivas, quanto mais recessão menos arrecadação e maior a carga dos juros sobre a economia, é uma rosca espanada girando em falso. Mas como é possível um grupo de economistas desenhar um plano tão absurdo?
As circunstâncias devem ditar a política: cortar gastos por combate aos desperdícios e fraudes, melhorar a eficiência da máquina. Fazer mais com menos, tudo isso é racional. Mas cortar os juros pela metade, vai resultar na saída de dinheiro do rentismo para a produção. Haverá inflação? Pode ser, mas por bons motivos, porque empregos estarão sendo criados.
Com a volta do crescimento mudam as circunstâncias e deve mudar a política, para um modelo que contenha a inflação, se ela esta surgir. Como disse Keynes em sua frase lapidar:
- Mas o senhor muda seu pensamento a toda hora? 
Keynes - Não minha senhora, eu não mudo, o que mudam são as circunstâncias.