25 de noviembre de 2015, 10:08Havana (Prensa Latina) Os crimes de uma série de organizações terroristas, entre as quais se destaca o [mal] chamado Estado Islâmico, voltam a colocar sobre a mesa de debate o tema de uma terceira guerra mundial.
O caso envolve conceitos religiosos e políticos, e em ambos há uma base comum econômica e de geopolítica aparentemente ambigua devido às deformações ideológicas que escondem o que realmente está acontecendo em todo mundo e não apenas na Síria, no Iraque, Afeganistão e outros países.
Depois de atos terroristas como os de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, a explosão de trens na Espanha, os atentados fora do comum em Paris, guerras como as do Oriente Médio, ataques impunes, grosseiros e criminosos de Israel contra território palestino, conspirações com violência sangrenta na Venezuela, ameaças parecidas no Equador e no Brasil, é necessário se perguntar se de fato a II Guerra Mundial acabou com a tomada de Berlim em abril de 1945 e a assinatura da capitulação nazista em Karlshorst no dia 9 de maio na presença do general Gueorgui Zhúkov, comandante em chefe das tropas soviéticas na Alemanha que desarmou totalmente à Wehrmacht (exército, marinha de guerra, força aérea e as Waffen-SS).
Nesse sentido, a decisão dos aliados de tentar se adiantar à ocupação da capital alemã em relação ao Exército Vermelho - com o impossível desejo inclusive de impedir a entrada dos soviéticos - foi parte da antessala do fim do conflito militar, mas não do final da guerra em si.
Houve uma mudança nessa dinâmica que levou a uma segunda etapa conhecida eventualmente como "guerra fria" por se desenvolver dentro de um âmbito de paz relativa e sob conceitos políticos e ideológicos diferentes, mas no fundo continuava sendo uma guerra quente pois o objetivo de seus protagonistas era dominar o mundo.
Um exemplo extremo de que não era uma guerra fria é a Crise de Outubro em Cuba, ou Crise dos Mísseis como é conhecida internacionalmente, que levou o planeta à beira do holocausto nuclear com a política de dominação mundial dos Estados Unidos.
Sua máxima expressão foi o desenvolvimento acelerado da corrida armamentista com a criação do complexo militar industrial, um setor empresarial militar que estimulou como nunca antes a mais sofisticada tecnologia para meios de destruição em massa, o exagero nuclear que tem mantido a humanidade em alerta, a proliferação de guerras chamadas de baixa intensidade e a permanência de grandes e complexas conspirações políticas e militares em qualquer lugar do mundo.
Levando em consideração esses e muitos outros aspectos, a Segunda Guerra teria continuado durante muitos anos depois da capitulação alemã e pareceu concluir com a desintegração da União Soviética e do campo socialista europeu e com a queda do Muro de Berlim, fato simbólico que marcou a autoproclamação de uma "vitória final", justamente o que o Ocidente não conseguiu em maio de 1945 como queria.
Estimulados pelo desaparecimento da URSS e confiantes em que essa "vitória" do Ocidente era verdadeira e duradoura, brotaram novos conceitos como disseminou Daniel Bell em sua obra 'O fim da ideologia' e como o estudo mais profundo e estratégico de Francis Fukuyama 'O fim da história e o último homem', que fazem parte de uma política de des-historização do tempo e do estímulo à distopia para apagar a memória histórica, fomentar o desencanto e a indiferença sobretudo dos jovens e estudantes.
Falar do marxismo e do socialismo ou citar os clássicos dessa teoria, era como desvendar uma múmia egípcia ou peruana.
Antes do que se esperava, esses e outros conceitos que brotaram ou tomaram força a partir dos escombros do Muro de Berlim - como a globalização e o mundo unipolar que concediam poder total aos Estados Unidos - foram sucumbindo às novas realidades de um mundo perigosamente sem equilíbrio, que sempre gerou medo nos generais do Pentágono mais serenos e realistas.
Em uma era de domínio absoluto dos combustíveis fósseis nas grandes economias como Estados Unidos e Europa e com as evidências científicas de que se tratava de um recurso natural não renovável e em extinção lenta mas certa, o petróleo marcou a política exterior dessas potências o resto do século XX e até agora nesse novo século, elas acharam que sem a URSS no cenário internacional tinha chegado a hora de uma nova partilha do mundo marcada por jazidas de petróleo e gás.
A guerra fria, que se dava por concluída com a derrota do socialismo europeu e a conversão das regiões que compunham a União Soviética em estados soberanos, cedeu à guerra quente nos territórios mais produtivos e estratégicos para a Casa Branca: Iraque e Afeganistão, quando já o Vietnã era apenas uma história esquecida.
Ambos campos de batalha eram essenciais na rota do ouro negro traçada por Washington e Wall Street, para os programas de expansão e domínio dos Estados Unidos na região de petróleo mais explorada e explodida do mundo, e serviriam de base para uma geoestratégia militar e política que afetaria todos os países da região e garantiria um novo cerco nas fronteiras orientais da Rússia e seus aliados nos estados independentes.
As forças mais reacionárias e retrógradas no Oriente Médio e na África foram reorganizadas e estimuladas rapidamente, como a Al Qaeda e agora o Estado Islâmico, o que permitiu criar uma matriz terrorista em nome do Islã, uma falácia dirigida a cobrir de infâmia o mundo muçulmano que serviu de fachada para os mais horríveis crimes, enquanto Israel podia agir impunemente contra os palestinos e o ódio e a discórdia eram plantados entre os povos árabes.
Os acontecimentos na Síria - onde a Rússia tem demonstrado que a guerra nesse país e sua destruição virtual poderiam ter sido evitadas se as operações antiterroristas antes de sua intervenção militar tivessem estado realmente dirigidas a acabar com o conflito e não a derrocar o governo de Bashar Al-Assad - deram um giro de 180 graus na situação na região.
Geram indignação as revelações de que os comboios com o petróleo roubado pelo EI da Síria e do Iraque passavam impunemente a mãos dos abutres da guerra para comercializar a favor de interesses espúrios, enquanto os supostos ataques dos Estados Unidos e seus aliados aos terroristas mantinham intactas as estruturas dessa organização e sua ofensiva contra o governo sírio.
Talvez com medo da incerteza e do risco que é basear sua economia em um petróleo alheio e impregnado de pólvora, e sabendo que suas jazidas naturais desse hidrocarboneto estavam esgotadas e sua produção tinha chegado ao auge há muito tempo, os Estados Unidos cometeram a insensatez de extrair suas reservas de xisto betuminoso mediante a técnica do fracking ou fraturamento hidráulico, em um momento de mudança climática mais angustiante, demonstrando assim que sua economia continua dependendo de maneira importante do combustível fóssil.
Mas a guerra na rota do petróleo se mantém, e os ataques e a agressividade em relação à Revolução Bolivariana é parte dela, como demonstram as revelações de Snowden sobre a espionagem na empresa Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA).
Nesse complexo teatro de acontecimentos, a religião em geral - e não somente o Islã - é um dos acessórios mais importantes e tem sido profundamente afetada por um política consciente de deformação de seus valores, uma repugnante tergiversação de sua missão e um instrumento para converter seitas no Oriente Médio e na África em bodes expiatórios de um problema maior e muito mais grave: a ingerência militar e política, a ocupação de países soberanos através da violência indiscriminada, criminosa e destruidora, e a violação descarada de todos os direitos que o ser humano deve desfrutar, inclusive os da fé.
Fiéis e não fiéis agora mesmo se questionam sobre o sangue que corre como enxurrada e sobre a miséria e as doenças que exterminam os povos, ou sobre as ameaças da fome e da guerra que provocam emigrações constantes do sul periférico para a Europa, ainda opulenta, como um novo êxodo de épocas passadas, sem que o sacrifício de Jesus na Cruz, nem a expulsão dos vendilhões do templo pudessem acabar com o caos reinante e a ambição desmedida que se manteve desde aqueles tempos até nossos dias.
A religião, tanto em seu sentido filosófico como evangélico, e inclusive em sua liturgia, não deveria se vincular mais à guerra, seja qual for a crença ou a tendência em que se milite.
Frei Betto dizia recentemente, sobre o silêncio de Deus perante tamanha barbárie dos homens, que Jesus não veio fundar uma religião ou outra igreja, mas nos propor um novo projeto civilizatório baseado no amor e na justiça: a globalização da solidariedade, como a definiu o papa João Paulo II. No reino de César, pagou com sua vida o fato de anunciar outro reino, "outro mundo possível", o de Deus. Não, como pensam muitos, situado do outro lado da vida, mas aqui e agora, e cujo protótipo ele mesmo encarnou. Por isso, nos ensinou a orar assim: "Venha a nós o seu reino".
O Papa Francisco disse que estamos na Terceira Guerra Mundial. Muitos também acreditam nisso.
Nas confusões geradas pelo uso indiscriminado de drones para despersonalizar os massacres, os mísseis fatais sobre as cidades árabes-muçulmanas ou os bombardeios de Israel nos territórios ocupados e colonizados - que de alguma maneira fazem o público esquecer das bombas lançadas pelos ex-presidentes Bush pai e Bush filho sobre o Iraque e o Afeganistão, sem julgamento algum da humanidade nem de Deus - e com os atentados terroristas em Nova York, Madri, Paris e outras latitudes que não se justificam com nada, a angústia toma conta da comunidade internacional ao pensar que as coisas podem piorar.
Editor da Prensa Latina. |
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