'Desastre ambiental em Minas é mais uma herança maldita do PSDB', diz deputado
Najla Passos
A
privatização da Companhia Vale do Rio Doce - operada pelo governo do
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997 - não apenas entregou à
iniciativa privada um dos mais rentáveis patrimônios do país, como
deixou a exploração do minério brasileiro totalmente à mercê do capital
internacional.
Quem
afirma é o deputado Rogério Correia (PT-MG), relator da Comissão
Extraordinária de Barragens da Assembleia Legislativa de Minas Gerais
(AL-MG), criada para apurar as responsabilidades pelo desastre ambiental
de Mariana (MG). “É mais uma herança maldita que o PSDB nos deixou”,
disse.
“A
privatização da Vale deixou o país sem nenhuma estratégia nacional de
exploração mineral”, avalia. Segundo ele, nas mãos da iniciativa
privada, com o capital internacional operando a seu bel prazer, o setor
não desenvolveu tecnologia própria e sequer importou. “A mineração
brasileira é feita com base em tecnologia primária, da forma mais
arcaica possível, como no século passado”, denuncia.
Conforme
o deputado, enquanto quase todos os países do mundo desenvolvem
tecnologias de mineração à seco ou com filtros - na qual a água
utilizada é pouca e tratada de imediato -, no Brasil ainda impera a
preferência pela utilização de barragens e minerodutos. A própria
Samarco leva seu minério até o litoral por minerodutos movidos à água,
pilhando também esse outro patrimônio dos brasileiros. “Isso não deveria
sequer ser permitido”, reclama o deputado.
Correia
atribui também a esta falta de planejamento estratégico o fato do país
não ter alavancado a indústria nacional com o minério produzido no país.
“As multinacionais vêm, retiram montanhas de minério e levam tudo
embora”, afirma. Em 2014, o município de Mariana recebeu menos de 1% do
lucro obtido pela Samarco (mais precisamente 0,72%), enquanto os
acionistas lucraram 65%, conforme relatórios da própria empresa.
Vale X Petrobrás
No
momento em que a Petrobrás sofre ataques recorrentes em função da
corrupção constatada na administração do órgão, o deputado a usa como
exemplo para demonstrar que, apesar de todos problemas, o controle
estatal faz a maior diferença para o desenvolvimento do país.
De
acordo com ele, enquanto o setor petrolífero brasileiro é um dos mais
modernos do mundo, justamente porque a Petrobrás continuou nas mãos do
estado e desenvolveu tecnologia de ponta até para explorar o pré-sal, o
setor de mineração, com a Vale totalmente entregue ao capital, se
utiliza das formas mais predatórias não só de exploração do minério, mas
também de relações de trabalho.
A
Vale é a maior mineradora do Brasil, segunda do mundo. Em 2012, foi
eleita a pior empresa do mundo em uma votação organizada por
organizações não governamentais. No Brasil, no entanto, ainda é vista
como a menina dos olhos da privataria tucana, recordista em distribuição
de lucro aos seus acionistas. É ela que controla a Samarco, a empresa
responsável pelas barragens que se romperam em Mariana, em parceria com a
anglo-australiana BHP Billiton, a maior empresa de mineração do mundo.
Números do atraso
Dados
do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), o órgão do governo
federal responsável pela fiscalização do setor, atestam a preferência
das empresas de mineração que atuam no país pelos sistemas de barragens
de dejetos de alto risco. Conforme seu último relatório, o Brasil possui
hoje 663 barragens de dejeto, sendo que 180 delas – ou 27,1% - oferecem
alto risco às populações do entorno e ao meio ambiente.
As
fragilidades da fiscalização, porém, podem esconder números ainda mais
alarmantes. Por falta de infraestrutura e pessoal, o DNPM baseia o
relatório de classificação do chamado Dano Potencial Associado (DPA) em
informações prestadas pelas próprias mineradoras, e não em
fiscalizações in loco por agentes públicos treinados e capacitados para tal função.
Outra
questão crítica é que, além de fiscalizar pouco e mal, o Brasil quase
não pune os crimes ambientais. E quando pune, é somente por meios de
multas, que raramente são pagas. Levantamento do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente (Ibama) enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU) no
final do ano passado demostra que, de cada R$ 100 em multas cobradas, o
órgãos recebe menos de R$ 3.
Entre
as razões, está o excesso de instâncias recursais para as empresas
contestarem as multas. Só no Ibama, no plano administrativo, são duas.
Apenas sete funcionários são responsáveis por julgar os 14 mil recursos
que entram a cada ano. Por lá, a prescrição tem sido quase regra. E
ainda há todas as etapas judiciais previstas.
Para
agravar, os valores das multas são quase risíveis, com teto de R$ 50
milhões previsto pela legislação. A Samarco foi multada em R$ 250
milhões por cinco crimes. Quase um trocado se comparado aos R$ 20,7
bilhões pagos pela multinacional British Petroleum, responsável pelo ao
vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010.
Herança maldita
Correia
afirma que, em Minas Gerais, o modelo de exploração predatória é ainda
mais crítico que a média nacional porque os sucessivos governos
estaduais tucanos deram amplo trânsito às multinacionais. “Nesses anos
de governo tucano em Minas Gerais, foram expedidos alvarás para
mineração sem nenhum controle, sem nenhum compromisso. E essas empresas
trabalham no limite da irresponsabilidade”, denuncia.
Segundo
ele, o desastre em Mariana foi o mais grave e o que trouxe maiores
prejuízos sociais e ambientais para o estado. Mas não foi o único. “Esta
é quinta barragem que se rompe em Minas Gerais. Nos 12 anos de
administração tucana, foram mais quatro, nos municípios de Itabirito,
Cataguases, Espera Feliz e Miraí. A informação só não se espalhou porque
o ex-governador Aécio Neves sempre manteve tudo em segredo, com o apoio
da mídia”, esclarece.
O
deputado ressalta ainda que a privatização da Vale repassou à
iniciativa privada grande parte da estrutura logística do estado, como é
o caso da malha ferroviária. “O único vagão de passageiros que temos
hoje no Estado é o que faz a linha Belo Horizonte – Vitória, que a Vale
manteve como uma espécie de símbolo do que o estado poderia ter sido”,
critica.
Correia
destaca também que, embora o laudo do desastre ainda esteja em fase de
elaboração, tudo leva a crer que a causa do problema em Mariana foi a
sanha desenfreada da Samarco por lucro acima de qualquer coisa. “Só no
ano passado, a mineradora aumentou a produção da barragem em 32%”,
denuncia. E isso em um contexto onde o risco de desastre já era
anunciado.
Providências imediatas
O
deputado fez parte da comitiva de autoridades mineiras que, nesta
segunda (23), visitou Governador Valadares (MG), um município de cerca
de 277 mil habitantes que teve o abastecimento de água interrompido
quando a lama tóxica proveniente do rompimento das barragens de Mariana
chegou por lá, via Rio Doce.
Na
semana passada, o deputado integrou a comitiva da AL-MG que se deslocou
à Mariana para vistoriar a área, prestar solidariedade aos atingidos e
participar da audiência pública que discutiu o socorro às vítimas. “É
muito triste o que a gente vê. Nesta primeira etapa, estamos priorizando
a fiscalização do socorro às vítimas”, explicou.
O
rompimento das barragens em Mariana matou 11 pessoas. Outras 12
continuam desaparecidas. A lama tóxica que desceu o Rio Doce levando
destruição por onde passou já atingiu o estado do Espírito Santo e a
expectativa dos técnicos que atuam na área é que o prejuízo envolva uma
área muito maior do que a prevista inicialmente. Os danos sociais,
ambientais e econômicos ainda são imensuráveis.
Texto original: CARTA MAIOR
|
Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sábado, 28 de novembro de 2015
MEIO AMBIENTE - Desastre ambiental em Minas.
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