Atentado de Paris: 13 perguntas e 24 reflexões
Nenhum dos 13 objetivos da guerra contra a Síria tem a ver com eliminar o terrorismo: o jihadismo e o imperialismo se alimentam mutuamente.
Nazanín Armanian*
“A verdade é a primeira vítima de toda guerra”
1. Quais são as mentiras dos atentados do dia 13 de novembro, em Paris para que o presidente Hollande utilize a palavra “guerra” no combate contra o terrorismo? Pois uma “guerra” – investida militar – se declara entre Estados, e não de um país contra um grupo terrorista com sede e presença em mais de vinte países, inclusive na França.
2. Que garantia há de que as notícias que nos transmitem reflitam a verdade? Robert Menard, fundador da organização Repórteres Sem Fronteiras e prefeito de Bèziers, por exemplo, é um ultradireitista que encabeça a campanha de expulsão dos refugiados sírios.
3. Por que as imagens (falsas ou verdadeiras) dos bombardeios russos na Síria mostram vítimas civis, enquanto nas correspondentes aos ataques da coalizão ocidental só se possam ver pontinhos negros no deserto, quando a cidade de Al Raqa, agredida e cercada militarmente, milhares de pessoas que não puderam fugir da guerra vivem sem eletricidade? Estão aplicando o ilegal castigo colectivo?
4. Bashar al-Assad teria direito de bombardear França, Arábia Saudita, Qatar, Turquia, entre outros, caso dissesse que há células terroristas que viajam ao seu país para criar distúrbios?
5. Não foi o próprio Estado Islâmico (EI) o alvo de cerca de 200 bombardeios franceses, entre setembro e novembro de 2014? O que mais pretendem fazer?
6. Como é possível que os Estados Unidos e seus sócios, em poucos dias, destruissem o exército líbio, mas não puderam com alguns poucos terroristas carentes de armamento pesado?
7. A Turquia tem o direito de organizar milhares de homens armados para desmontar outro Estado-membro da ONU, sem a autorização da OTAN (Pentágono)? Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes, que abrigassem bases militares estadunidenses, podem fazer o mesmo? É como se a Espanha treinasse 30 mil terroristas nas fronteiras com o Marrocos ou a França para derrubar o seu governo, fornecendo bombas, mísseis e apoio logístico, sem prévia permissão de Bruxelas e Washington?
8. Segundo alguns analistas ocidentais, a expansão do jihadismo é uma das consequências das guerras contra o Iraque e o Afeganistão. Acaso pretenderão alimentar uma maior expansão deste fenômeno, que tem sido um ninho para os militaristas do Ocidente e do Oriente?
9. O que querem nos dizer é que a “inteligência” ocidental, com tantos artefatos ultrassofisticados, é menos inteligente que um grupo de garotos aventureiros?
10. Sobre a piada dos “documentos de identidade” que não se queimam e que teriam sido deixados pelos terroristas antes de explodirem seus próprios corpos, cabe a pergunta: como dois dos suicidas se mataram nas ruas vazias do lado de fora do Estádio de Saint-Denis e não no meio da aglomeração dos torcedores que saiam do campo?
11. Como é possível que as grandes potências tenham alcançado cessar fogo na Síria com os terroristas do Estado Islâmico? Alguém tem contato direto com eles? Por que não o fizeram durante os quatro anos anteriores? Utilizar esse argumento justifica a ação de desmantelar o Estado sírio?
12. Que grupo assassino é considerado “terrorista” para o Ocidente? Os Talibãs, coautores dos atentados do dia 11 de setembro de 2001, o são?
13. Qual o interesse da OTAN ao destruir os Estados não religiosos como Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, respaldando os islamistas, para logo viver com eles numa espécie de “coexistência pacífica”? O terrorismo islâmico é uma cortina de fumaça?
Objetivos e consequências do atentado
1. Empurrar a Europa a uma mega intervenção na Síria, capaz de derrubar Assad, e desatar a “crise de refugiados” na Europa.
2. Desmontar o “Plano Putin-Obama” de manter Assad no poder durante a transição política, ao qual Arábia Saudita, Qatar e Turquia se opõem. O diário republicano New York Post chegou a pedir que Obama renunciasse ou atuasse contra Assad. Mais atentados no Ocidente abrirão o caminho para os novos “Bushs” na Casa Branca.
3. Mudar o balanço militar nesta fase quase final do conflito a benefício da OTAN, justamente quando Rússia e Irã foram transformados em protagonistas absolutos do cenário. O atentado contra o avião russo também se encaixaria nesse contexto. Se trata nada menos que da conquista da Eurásia por parte das potências mundiais.
4. Tomar uma região desocupada pelos Estados Unidos, agora que Obama leva as suas tropas a cercar a China. Um traje grande demais para a França, que carece de recursos para fazer esse papel.
5. Segundo o “Instituto para a Paz e a Prosperidade” e a Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos, a aviação da coalizão Anti-EI, liderada pelo Pentágono, bombardeia as posições dos curdos da Síria, e não as dos jihadistas, e afirma que “o apoio aos rebeldes sírios significa financiar grupos terroristas com o dinheiro dos contribuintes”. Esta é uma das 23 verdades incômodas sobre o Estado Islâmico.
6. Abrir caminho para a conquista militar da Síria, que de outra forma seria impossível. Hillary Clinton confessou ao diário The Atlantic, no dia 1 de agosto de 2014, que a intervenção dos Estados Unidos na Síria foi desenhada para “mudar a equação” em favor dos rebeldes: de alguma forma, os jihadistas vem atuando como tropas terrestres da Coalizão para fazer da Síria um Estado falido.
7. Justificar os bombardeios ilegais do Ocidente contra a Síria, já aprovados pelo próprio Conselho de Segurança, o mesmo que rejeitou a petição de atacar o país em julho de 2012.
8. Reconstruir a coesão político-militar da OTAN no Pentágono, impedindo que os europeus pragmáticos retomassem suas relações de cooperação com a Rússia.
9. Reforçar as bases militares da OTAN na Turquia (e na Espanha). Nas últimas eleições, os atentados atribuídos aos jihadistas deram a maioria absoluta aos islamistas de Tayyab Erdogan – outro dos patrocinadores do terrorismo religioso: a OTAN para atuar na Síria, necessita uma Turquia estável, onde pode dirigir as operações de conquista de Damasco.
10. Mostrar a eficacia da tática de Obama, de transformar a Síria num pântano onde pode desgastar os inimigos e rivais dos Estados Unidos e de Israel.
11. A ameaça terrorista contribuirá para que mais cortes sociais e mais pobreza não sejam contestados: as novas leis “Patriot” e o aumento das mordaças aos críticos se propagarão: todos os cidadãos, exceto os governantes, serão suspeitos de terrorismo.
12. Multiplicar os lucros das empresas armamentistas: as estadunidenses Honeywell e General Dynamics, a francesa Thales e as britânicas Bae Systems e Rolls Royce estão faturando alto.
13. A França deixa de ser uma bárbara potência colonial, e passa a ser uma vítima de bárbaros procedentes da região que um dia ela avassalou. Agora, além disso, pode pedir sua parte da Síria como prêmio, o que está sendo dividido entre os sócios do G20.
14. Atacar a solidariedade dos europeus com os refugiados e vinculá-los com o terrorismo, dentro da miserável tática do “dividir para vencer”. Para a maioria dos muçulmanos do mundo –principais vítimas do jihadismo –, o Islã é uma espiritualidade privada e não uma doutrina política.
15. Legitimar as boas relações das potências mundiais com os regimes autoritários e obscurantistas de Oriente Próximo e Norte de África (OPNA), apresentando a eles como “moderados” em comparação com os impiedosos jihadistas. A notícia é que Ali al Nimr, cidadão da monarquia “moderada” da Arábia Saudita e ativista de 21 anos, depois de três anos vivendo sob torturas, foi condenado à morte por decapitação e crucificação em público. Logo depois, a ONU apontou Riad como referência mundial da defesa dos direitos humanos.
16. Presentar a Coalizão Árabe da Síria – a nova cria da OTAN – como alternativa ao governo de Assad.
17. Impedir novas marchas contra os cortes de gastos sociais e contra o TTIP (sigla em inglês do Tratado Transatlântico de Investimentos), que partiram de várias cidades (Berlim, Madri, Londres, entre outras) rumo a Bruxelas. Conectar os atentados de Paris com a Bélgica e declarar Estado de emergência na sede da Comissão Europeia, o que motivará a suspensão de novas marchas contra a hegemonia das multinacionais e atentando contra os direitos dos trabalhadores.
18. Enviar mais efetivos militares ao Mali, aproveitando o atentado num hotel naquele estratégico país. França já conta com 3 mil soldados no Sahel, disputando suas grandes reservas de urânio (que abastecem meia centena das suas centrais nucleares), ouro e outros minerais com a China.
E a nível interno:
19. Resgatar François Hollande, que chegou a ser considerado “o pior presidente da história da França”. Agora, pode sonhar com uma possível reeleição em 2017.
20. Forçar o crescimento das forças fascistas. Assim, a esquerda poderia até mesmo votar em Nicolas Sarkozy, o NeoCon europeu, nas próximas eleições presidenciais. É a mesma jogada desenhada em maio de 2002.
21. Fazer com que os cidadãos franceses renunciem voluntariamente aos seus direitos políticos. Já foram tirados os direitos econômicos e sociais, e agora vão fazer o mesmo com os direitos políticos. Mas que diferença real existe entre o ataque de um estrangeiro (ou o cometido por um compatriota) e as conquistas de um povo?
22. Impulsionar a “unidade nacional” burguesa, baseada no medo, contra os mais pobres, representados pelos refugiados da guerra na Síria, os imigrantes e a classe trabalhadora própria. É como a estranha relação entre um preso e seu carcereiro. Na verdade, se trata de ódio aos pobres, disfarçado de ódio ao islã. Basta ver a magnífica relação entre os líderes do imperialismo com os sheiks do Golfo Pérsico.
23. A França é um dos países que há 30 anos vem enviando homens e mulheres de religião “cristã”, sem visto e armados até os dentes, aos países do OPNA. Soldados “civilizados”, que mataram cerca de um milhão e meio de pessoas, ferindo umas 20 milhões, obrigando a fugir dos seus lares a outras 30 milhões, ocupando suas terras e levando suas fortunas pessoais e nacionais. E ainda assim, eles não são “cristianófobos”.
24. Fechar as fronteiras da Europa. Imaginem a felicidade sentida agora pelo presidente búlgaro Boyko Borisov! Afinal, seu colega Hollande, defensor da “fraternité”, apoiado pelos cidadãos do seu país, respalda as políticas anti imigratórias da ultradireita.
Nenhum dos 13 objetivos da guerra contra a Síria tem a ver com eliminar o terrorismo. Ainda que o Estado Islâmico despareça (o que não acontecerá), a guerra na Síria continuará: o jihadismo e o imperialismo se alimentam mutuamente, e têm catastróficos planos para esta região.
* Nazanín Armanian é iraniana, residente em Barcelona desde 1983, quando se exilou no país. Licenciada em Ciências Políticas, dá aulas em cursos online da Universidade de Barcelona. Também é colunista de Público.es.
Tradução: Victor Farinelli
1. Quais são as mentiras dos atentados do dia 13 de novembro, em Paris para que o presidente Hollande utilize a palavra “guerra” no combate contra o terrorismo? Pois uma “guerra” – investida militar – se declara entre Estados, e não de um país contra um grupo terrorista com sede e presença em mais de vinte países, inclusive na França.
2. Que garantia há de que as notícias que nos transmitem reflitam a verdade? Robert Menard, fundador da organização Repórteres Sem Fronteiras e prefeito de Bèziers, por exemplo, é um ultradireitista que encabeça a campanha de expulsão dos refugiados sírios.
3. Por que as imagens (falsas ou verdadeiras) dos bombardeios russos na Síria mostram vítimas civis, enquanto nas correspondentes aos ataques da coalizão ocidental só se possam ver pontinhos negros no deserto, quando a cidade de Al Raqa, agredida e cercada militarmente, milhares de pessoas que não puderam fugir da guerra vivem sem eletricidade? Estão aplicando o ilegal castigo colectivo?
4. Bashar al-Assad teria direito de bombardear França, Arábia Saudita, Qatar, Turquia, entre outros, caso dissesse que há células terroristas que viajam ao seu país para criar distúrbios?
5. Não foi o próprio Estado Islâmico (EI) o alvo de cerca de 200 bombardeios franceses, entre setembro e novembro de 2014? O que mais pretendem fazer?
6. Como é possível que os Estados Unidos e seus sócios, em poucos dias, destruissem o exército líbio, mas não puderam com alguns poucos terroristas carentes de armamento pesado?
7. A Turquia tem o direito de organizar milhares de homens armados para desmontar outro Estado-membro da ONU, sem a autorização da OTAN (Pentágono)? Arábia Saudita, Qatar e Emirados Árabes, que abrigassem bases militares estadunidenses, podem fazer o mesmo? É como se a Espanha treinasse 30 mil terroristas nas fronteiras com o Marrocos ou a França para derrubar o seu governo, fornecendo bombas, mísseis e apoio logístico, sem prévia permissão de Bruxelas e Washington?
8. Segundo alguns analistas ocidentais, a expansão do jihadismo é uma das consequências das guerras contra o Iraque e o Afeganistão. Acaso pretenderão alimentar uma maior expansão deste fenômeno, que tem sido um ninho para os militaristas do Ocidente e do Oriente?
9. O que querem nos dizer é que a “inteligência” ocidental, com tantos artefatos ultrassofisticados, é menos inteligente que um grupo de garotos aventureiros?
10. Sobre a piada dos “documentos de identidade” que não se queimam e que teriam sido deixados pelos terroristas antes de explodirem seus próprios corpos, cabe a pergunta: como dois dos suicidas se mataram nas ruas vazias do lado de fora do Estádio de Saint-Denis e não no meio da aglomeração dos torcedores que saiam do campo?
11. Como é possível que as grandes potências tenham alcançado cessar fogo na Síria com os terroristas do Estado Islâmico? Alguém tem contato direto com eles? Por que não o fizeram durante os quatro anos anteriores? Utilizar esse argumento justifica a ação de desmantelar o Estado sírio?
12. Que grupo assassino é considerado “terrorista” para o Ocidente? Os Talibãs, coautores dos atentados do dia 11 de setembro de 2001, o são?
13. Qual o interesse da OTAN ao destruir os Estados não religiosos como Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, respaldando os islamistas, para logo viver com eles numa espécie de “coexistência pacífica”? O terrorismo islâmico é uma cortina de fumaça?
Objetivos e consequências do atentado
1. Empurrar a Europa a uma mega intervenção na Síria, capaz de derrubar Assad, e desatar a “crise de refugiados” na Europa.
2. Desmontar o “Plano Putin-Obama” de manter Assad no poder durante a transição política, ao qual Arábia Saudita, Qatar e Turquia se opõem. O diário republicano New York Post chegou a pedir que Obama renunciasse ou atuasse contra Assad. Mais atentados no Ocidente abrirão o caminho para os novos “Bushs” na Casa Branca.
3. Mudar o balanço militar nesta fase quase final do conflito a benefício da OTAN, justamente quando Rússia e Irã foram transformados em protagonistas absolutos do cenário. O atentado contra o avião russo também se encaixaria nesse contexto. Se trata nada menos que da conquista da Eurásia por parte das potências mundiais.
4. Tomar uma região desocupada pelos Estados Unidos, agora que Obama leva as suas tropas a cercar a China. Um traje grande demais para a França, que carece de recursos para fazer esse papel.
5. Segundo o “Instituto para a Paz e a Prosperidade” e a Agência de Inteligência de Defesa dos Estados Unidos, a aviação da coalizão Anti-EI, liderada pelo Pentágono, bombardeia as posições dos curdos da Síria, e não as dos jihadistas, e afirma que “o apoio aos rebeldes sírios significa financiar grupos terroristas com o dinheiro dos contribuintes”. Esta é uma das 23 verdades incômodas sobre o Estado Islâmico.
6. Abrir caminho para a conquista militar da Síria, que de outra forma seria impossível. Hillary Clinton confessou ao diário The Atlantic, no dia 1 de agosto de 2014, que a intervenção dos Estados Unidos na Síria foi desenhada para “mudar a equação” em favor dos rebeldes: de alguma forma, os jihadistas vem atuando como tropas terrestres da Coalizão para fazer da Síria um Estado falido.
7. Justificar os bombardeios ilegais do Ocidente contra a Síria, já aprovados pelo próprio Conselho de Segurança, o mesmo que rejeitou a petição de atacar o país em julho de 2012.
8. Reconstruir a coesão político-militar da OTAN no Pentágono, impedindo que os europeus pragmáticos retomassem suas relações de cooperação com a Rússia.
9. Reforçar as bases militares da OTAN na Turquia (e na Espanha). Nas últimas eleições, os atentados atribuídos aos jihadistas deram a maioria absoluta aos islamistas de Tayyab Erdogan – outro dos patrocinadores do terrorismo religioso: a OTAN para atuar na Síria, necessita uma Turquia estável, onde pode dirigir as operações de conquista de Damasco.
10. Mostrar a eficacia da tática de Obama, de transformar a Síria num pântano onde pode desgastar os inimigos e rivais dos Estados Unidos e de Israel.
11. A ameaça terrorista contribuirá para que mais cortes sociais e mais pobreza não sejam contestados: as novas leis “Patriot” e o aumento das mordaças aos críticos se propagarão: todos os cidadãos, exceto os governantes, serão suspeitos de terrorismo.
12. Multiplicar os lucros das empresas armamentistas: as estadunidenses Honeywell e General Dynamics, a francesa Thales e as britânicas Bae Systems e Rolls Royce estão faturando alto.
13. A França deixa de ser uma bárbara potência colonial, e passa a ser uma vítima de bárbaros procedentes da região que um dia ela avassalou. Agora, além disso, pode pedir sua parte da Síria como prêmio, o que está sendo dividido entre os sócios do G20.
14. Atacar a solidariedade dos europeus com os refugiados e vinculá-los com o terrorismo, dentro da miserável tática do “dividir para vencer”. Para a maioria dos muçulmanos do mundo –principais vítimas do jihadismo –, o Islã é uma espiritualidade privada e não uma doutrina política.
15. Legitimar as boas relações das potências mundiais com os regimes autoritários e obscurantistas de Oriente Próximo e Norte de África (OPNA), apresentando a eles como “moderados” em comparação com os impiedosos jihadistas. A notícia é que Ali al Nimr, cidadão da monarquia “moderada” da Arábia Saudita e ativista de 21 anos, depois de três anos vivendo sob torturas, foi condenado à morte por decapitação e crucificação em público. Logo depois, a ONU apontou Riad como referência mundial da defesa dos direitos humanos.
16. Presentar a Coalizão Árabe da Síria – a nova cria da OTAN – como alternativa ao governo de Assad.
17. Impedir novas marchas contra os cortes de gastos sociais e contra o TTIP (sigla em inglês do Tratado Transatlântico de Investimentos), que partiram de várias cidades (Berlim, Madri, Londres, entre outras) rumo a Bruxelas. Conectar os atentados de Paris com a Bélgica e declarar Estado de emergência na sede da Comissão Europeia, o que motivará a suspensão de novas marchas contra a hegemonia das multinacionais e atentando contra os direitos dos trabalhadores.
18. Enviar mais efetivos militares ao Mali, aproveitando o atentado num hotel naquele estratégico país. França já conta com 3 mil soldados no Sahel, disputando suas grandes reservas de urânio (que abastecem meia centena das suas centrais nucleares), ouro e outros minerais com a China.
E a nível interno:
19. Resgatar François Hollande, que chegou a ser considerado “o pior presidente da história da França”. Agora, pode sonhar com uma possível reeleição em 2017.
20. Forçar o crescimento das forças fascistas. Assim, a esquerda poderia até mesmo votar em Nicolas Sarkozy, o NeoCon europeu, nas próximas eleições presidenciais. É a mesma jogada desenhada em maio de 2002.
21. Fazer com que os cidadãos franceses renunciem voluntariamente aos seus direitos políticos. Já foram tirados os direitos econômicos e sociais, e agora vão fazer o mesmo com os direitos políticos. Mas que diferença real existe entre o ataque de um estrangeiro (ou o cometido por um compatriota) e as conquistas de um povo?
22. Impulsionar a “unidade nacional” burguesa, baseada no medo, contra os mais pobres, representados pelos refugiados da guerra na Síria, os imigrantes e a classe trabalhadora própria. É como a estranha relação entre um preso e seu carcereiro. Na verdade, se trata de ódio aos pobres, disfarçado de ódio ao islã. Basta ver a magnífica relação entre os líderes do imperialismo com os sheiks do Golfo Pérsico.
23. A França é um dos países que há 30 anos vem enviando homens e mulheres de religião “cristã”, sem visto e armados até os dentes, aos países do OPNA. Soldados “civilizados”, que mataram cerca de um milhão e meio de pessoas, ferindo umas 20 milhões, obrigando a fugir dos seus lares a outras 30 milhões, ocupando suas terras e levando suas fortunas pessoais e nacionais. E ainda assim, eles não são “cristianófobos”.
24. Fechar as fronteiras da Europa. Imaginem a felicidade sentida agora pelo presidente búlgaro Boyko Borisov! Afinal, seu colega Hollande, defensor da “fraternité”, apoiado pelos cidadãos do seu país, respalda as políticas anti imigratórias da ultradireita.
Nenhum dos 13 objetivos da guerra contra a Síria tem a ver com eliminar o terrorismo. Ainda que o Estado Islâmico despareça (o que não acontecerá), a guerra na Síria continuará: o jihadismo e o imperialismo se alimentam mutuamente, e têm catastróficos planos para esta região.
* Nazanín Armanian é iraniana, residente em Barcelona desde 1983, quando se exilou no país. Licenciada em Ciências Políticas, dá aulas em cursos online da Universidade de Barcelona. Também é colunista de Público.es.
Tradução: Victor Farinelli
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