Quinta, 26 de novembro de 2015
Inspirado no Chile, manual orientou ocupação de escolas por alunos em SP
"1. Plano de Ação - O objetivo deste texto é explicar o plano de ação escolhido para a luta dos estudantes secundaristas
da cidade. Nossa estratégia deve permitir vencer a luta por uma
educação pública e de qualidade. As ocupações massivas de colégios são
uma das ferramentas dentro dessa estratégia."
A reportagem é de Leandro Machado, publicada por Folha de S. Paulo, 25-11-2015.
Assim começa o manual "Como ocupar um colégio?",
documento que orientou (e ainda orienta) estudantes paulistas a tomar,
até esta terça-feira (24), ao menos 151 escolas da rede estadual.
Foi no final de outubro que a cartilha começou a circular em grupos de WhatsApp compostos por estudantes que protestavam contra a reorganização dos ciclos de ensino anunciada pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB).
O governo quer dividir parte das unidades por ciclos únicos
(anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Para isso, pretende
transferir 300 mil alunos e fechar 92 colégios que ficariam sem
estudantes com a mudança.
Esse manual é uma compilação de dicas de
estudantes chilenos e argentinos sobre como entrar em um colégio
público e nele permanecer, em forma de protesto.
O documento foi inspirado,
principalmente, em movimento de secundaristas chilenos que ocuparam mais
de 700 escolas em 2011, em protesto por passe livre e melhorias na educação pública. As ações ocorreram cinco anos após a chamada "revolta dos pinguins", referência ao uniforme das escolas do país.
Primeiro, diz o manual, os alunos devem fazer uma assembleia geral
para organizar a entrada. "A assembleia é o órgão mais importante de
uma ocupação", orienta a cartilha. Todas as decisões importantes devem
ser tomadas em conjunto.
Depois, "o mais recomendável é que se
nomeie comissões para cada tema e tarefa, como comida, segurança,
imprensa, limpeza", diz o manual, na primeira parte.
Esses preceitos foram rigidamente seguidos nos dois primeiros colégios a serem tomados, a escola estadual Diadema (Grande SP) e a Fernão Dias Paes, em Pinheiros, zona oeste paulistana.
Alunos caminham pelas escolas usando plaquinhas penduradas no pescoço. Em uma delas, está escrito "porta-voz" –o responsável por falar com jornalistas.
A comissão da segurança, segundo o
manual, é uma das mais importantes das ocupações escolares. Quem faz
parte dela usa uma placa com a palavra "milico", uma ironia aos policiais militares.
"Durante todo o dia, deve haver três
companheiros na entrada principal, que anotem em uma lista quem entra e
sai e o horário. Depois, essa lista deve ser destruída."
Nas unidades de Diadema e de Pinheiros, a regra é seguida à risca -os alunos da portaria se comunicam por rádio com quem está dentro.
Outro preceito da cartilha é a
publicidade. Faixas de protesto devem ser colocadas na frente do
colégio. Também deve-se evitar o consumo de álcool e drogas.
Organização
Até o fim de outubro, os protestos contra a medida de Alckmin estavam restritos a passeatas de rua, com carro de som e faixas. Eram organizados por pais, alunos e membros da Apeoesp, o sindicato dos professores.
Os manifestantes reclamavam da "falta de diálogo" com a secretaria, que não revogava a ação. O governo, por sua vez, sempre afirmou "estar aberto à discussão".
"A gente viu que os protestos não estavam dando certo. Resolvemos radicalizar", contou outra estudante do Fernão, em Pinheiros.
Alunos de escolas diferentes –e que se conheceram nas passeatas– criaram grupos de Whatsapp para discutir maneiras de tentar barrar a reorganização dos ciclos.
"Foi aí que surgiu esse manual num dos grupos", conta Fernanda Freitas, 17, aluna do 2º ano da escola estadual Diadema.
A adolescente chamou uma reunião com
amigos para decidir se ocupariam ou não. "Era uma ideia louca? Sim. Era
ilegal? Era. Era perigoso? Era. Mesmo assim, decidimos que sim", conta.
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