segunda-feira, 30 de novembro de 2015

NÃO SOMOS MACACOS, MAS....

Não somos macacos, mas...


A tristeza só aumenta. Que ela sirva para nos deixar atentos, responsáveis e mais combatentes em não nos  curvar a ditames desumanos.


Emanuele tinha cinco
 anos e seu corpo acaba de ser encontrado a 70 km do local onde escapou da mão do pai que tentava resgatá-la junto com o seu irmãozinho.
O avô ainda se jogou no meio da lama para tentar salvá-la e viu seu corpo emergir duas vezes. Ouviu seus últimos gritos de socorro e desespero.
Mas desde aquele momento em que a lama engoliu o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, nada mais se ouviu de Emanuele.
Emanuele está morta.


Ela não morreu por conta de uma fatalidade.
Não morreu por conta de uma doença rara.
Não morreu pelos desígnios do altíssimo.
Morreu porque a morte de uns está e sempre esteve na conta daqueles que tratam o mundo como seu pedaço de cobre, de zinco, de ouro. Como sua conta bancária.
Emanuele poderia se chamar Aylan. Poderia ter três anos. Poderia ser síria.
Tanto faz.
Emanuelle e tantas outras vítimas dessa e de tantas outras tragédias vão se tornar números.
E daqui a um tempo nos tribunais alguém vai dizer que o desastre poderia ter sido maior, não fosse os investimentos feitos pelos abutres que produziram o desastre.
E a roda vai rodar.
E Emanueles e Aylans ficarão pelo caminho.
O avô de Emanuelle diz que ainda ouve o grito final de desespero da neta.
Nós não.
Nós o esqueceremos com facilidade.
E tocaremos adiante.
Da mesma forma que já nos esquecemos da imagem de Aylan que tocou o mundo.
E nos esquecemos dos refugiados sírios e das crianças que continuam se afogando no Mediterrâneo.

Não somos macacos.
Mas não somos tão humanos quanto imaginamos.
Se assim fôssemos, hoje não estaríamos discutindo apenas o caos em Mariana. Mas tudo que envolve este pesar.

As opções que temos feito e que estão nos levando a chafurdar na lama de um progresso que não vai pra frente.
De um progresso que não é para muitos.
De um progresso que acaba em lodo para a imensa maioria de todos nós.

Todos morreremos. O problema não é a morte, mas a forma como nossa humanidade vem sendo assassinada.
E o quanto temos sido cúmplices neste enredo.







Emanuelle, Aylan e nós


 Renato Rovai







Tragédia em Minas não terá sua “foto de criança síria”; postura das autoridades e da imprensa, até agora, é protocolar, sem empatia com a população atingida
Há uma história dentro da história do desabamento das barragens em Mariana (MG): a das crianças, tratadas com um descaso protocolar pela imprensa brasileira.
Emanuele Vitória Fernandes, de 5 anos, foi encontrada morta a 70 quilômetros de Mariana, e o UOL registra de forma contábil: “Garota de 5 anos é quarta morte confirmada em MG”. Quem era ela? Onde estudava? Lemos apenas – como em uma necrópsia – que a criança foi reconhecida pela família “por conta do cabelo, formato do pé e arcada dentária”.
Quatro crianças entre os 22 moradores e trabalhadores da Samarco ainda estão desaparecidas, conforme a lista divulgada pela prefeitura e pelos Bombeiros. São elas: Thiago Damasceno Santos, de 7 anos; Ana Clara dos Santos Souza, de 4 anos; Mateus Dias Batista, de 5 anos; e Yuri Dias Batista, de 3 meses. (Os dois irmãos desapareceram com a mãe, outra Ana Clara.) Onde elas estão?
Leia mais: Minas Gerais: onde estão Ana Clara, Mateus, Yuri e Thiago?

O Rio Doce vai ressuscitar. As pessoas não.
Tido como morto, rio Doce ressuscitará em cinco meses, afirma pesquisador
http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/esta-aberta-a-temporada-de-minimizacao-do-crime-ambiental-de-mariana/

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