quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

GRÉCIA - Riscos da dívida grega se estendem para fora da zona do Euro.


Tsipras recebe apoios inesperados

O ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, concordou com o seu par britânico, George Osborne, de que os riscos da dívida grega se estendem para fora da Zona do Euro, em especial ao Reino Unido, e declarou que deve terminar a simulação que a tornou uma ferida purulenta. Segundo o ministro grego, a dívida de seu país com a troika de credores – Fundo Monetário Internacional (FMI), Comissão Europeia (CE) e Banco Central Europeu (BCE) – também preocupa a economia britânica (onde não circula o euro), porque para ela uma crise deflacionária na Europa não é bom augúrio. Osborne, por sua parte, advertiu que o ponto morto entre a Grécia e os gigantes do bloco está se tornando velozmente o maior risco da economia global e que isso representa uma crescente ameaça para a economia britânica.
A reportagem é publicada por Página/12, 03-02-2015. A tradução é do Cepat.
Osborne convidou a Grécia e a Zona do Euro, ontem, para que resolvam os desacordos que ameaçam a economia mundial. “Peço ao ministro grego que atue responsavelmente, mas é também importante que a Zona do Euro tenha um plano melhor para o crescimento e o emprego”, destacou o titular das Finanças. O Reino Unido não integra a Zona do Euro, mas está na União Europeia (UE). Uma fonte do governo grego interpretou favoravelmente as palavras de Osborne. Varoufakis – disse essa fonte – está contente pelo encontro, pois ter um aliado chave como o Reino Unido na UE é um grande ativo. “Cada segundo conta”, disse o ministro grego à emissora de televisão Channel 4. “Somos, talvez, o governo eleito que dispõe de uma menor margem de manobra, desde a Segunda Guerra Mundial”, advertiu.
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, em visita a Chipre, exortou a Europa para que tome decisões corajosas porque não só a Grécia e o governo de Chipre – cuja economia também teve que ser resgatada no ano passado -, mas, sim, toda a Europa está em crise. Tsipras disse que não esperava encontrar tantos apoios e que a Grécia deseja um debate sobre a dívida de todos os povos da Europa. O líder do Syriza fez, dessa forma, alusão às palavras de ânimo de Barack Obama, que em uma entrevista à emissora de televisão CNN manifestou: “Não se pode continuar apertando países que estão no meio de uma depressão”. O mandatário norte-americano afirmou que a Grécia tem uma terrível necessidade de reformas, mas disse que é muito difícil empreender mudanças quando o nível de vida das pessoas caiu 25%. “O que aprendemos de nossa experiência nos Estados Unidos é que a melhor maneira de reduzir os déficits e restaurar a solidez fiscal é crescer”, advertiu Obama.
A Grécia, que não quer novos créditos de seus principais credores até que se reestruture sua dívida, pede uma reunião europeia para abordar o problema. “Não é que não necessitemos do dinheiro, estamos desesperados”, disse, ontem, Varoufakis. “O que este governo deseja é acabar com este vício”, afirmou o ministro grego. A chanceler alemã Angela Merkel descartou qualquer ideia de reestruturação da dívida, na sua maioria em poder dos Estados europeus. “Já houve uma redução voluntária dos credores privados, os bancos já renunciaram a bilhões de euros na dívida grega”, justificou a dirigente em uma entrevista ao jornal Hamburger Abendblatt. Tampouco a Espanha deseja abrir exceção.
“Entrar na Europa é voluntário e estamos no clube para cumprir as regras do clube, porque convém a todos”, declarou Cristobal Montoro, ministro da Fazenda do governo conservador de Mariano Rajoy, em uma entrevista à emissora pública espanhola TVE. O ministro espanhol mostrou sua oposição à mudança de regras da UE para responder as solicitações da Grécia e enfatizou que a Espanha as respeitou.
“A Europa não é feita pela Comissão Europeia, a Europa não é feita pelo Banco Central Europeu, são os países que fazem a Europa, que se deram estas regras”, recordou Montoro, em resposta a uma pergunta sobre a vontade do novo governo grego de alcançar uma nova política europeia a respeito de Atenas.
“Portanto, o que não pode acontecer é que respondamos com novas regras as mudanças políticas dentro dos países, pois, caso contrário, o clube simplesmente desmorona”, acrescentou. Consultado sobre se a Grécia deve respeitar seus compromissos e aplicar suas reformas, respondeu de imediato: “Sim, claro, assim como todos nós fizemos”. “É fácil chegar ao governo e dizer ‘ei, subirei este gasto, o outro e o próximo também’, claro, assim todos nós governamos. Mas, a questão é: de onde sai este dinheiro? Dos gregos? Do resto dos europeus ou do resto do mundo? Quem irá deixar esse dinheiro para você? Esta é a questão”, insistiu.
De sua parte, o ministro francês das Finanças, Michel Sapin, destacou que o novo governo grego pode adotar as medidas sociais que prometeu, caso obtenha novos ingressos, em especial combatendo a fraude fiscal, mas não à custa do déficit que seus sócios europeus financiam. Em entrevista à emissora Europe 1, consultado sobre se será os europeus que financiarão o programa do Syriza, Sapin respondeu: “Evidentemente, não”. Sobre os ataques do novo governo grego contra a Alemanha e sua chanceler Angela Merkel, o ministro francês disse que a França pode ser um sócio particular da Grécia por razões históricas e culturais. “Estamos dispostos a acompanhá-los, mas acompanhá-los para restabelecer o diálogo com todos”, acrescentou Sapin.
Em sua turnê pela Europa, Tsipras se reunirá hoje, em Roma, com o seu par, o italiano Matteo Renzi, em busca de mais apoios para as propostas econômicas que pretende levar a Bruxelas, com o objetivo de reestruturar a dívida grega. O encontro acontecerá às 17h (horário local), na sede do governo italiano. Após dialogar com Renzi, Tsipras visitará, amanhã, o presidente francês François Hollande, e no mesmo dia se reunirá com o presidente da CE, Jean-Claude Juncker.

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