Engenheiros contestam o desmonte da Petrobras
Em carta aberta à sociedade brasileira, a Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET) critica o projeto de privatização que vem sendo colocado em marcha por Pedro Parente e pode alienar um terço do patrimônio da estatal; "A venda de ativos rentáveis compromete o fluxo de caixa futuro, entrega o mercado nacional aos competidores privados ou intermediários, fragiliza o desenvolvimento tecnológico soberano, transfere a propriedade de riquezas naturais finitas e estratégicas", diz o texto; "A corrupção precisa ser combatida com o fortalecimento institucional da companhia e não pode ser utilizada como pretexto para a entrega do patrimônio público a outros interesses privados"; leia a íntegra
247 – Em
carta aberta à sociedade brasileira, a Associação dos Engenheiros da
Petrobras (AEPET) critica o projeto de privatização que vem sendo
colocado em marcha por Pedro Parente e pode alienar um terço do
patrimônio da estatal. Leia, abaixo, a íntegra:
Carta, à sociedade brasileira sobre a estratégia da Petrobrás
Felipe Coutinho* - setembro de 2016
* Presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET)
A Direção da Petrobras
divulgou que o Conselho de Administração apreciará o novo Plano
Estratégico (PE 2017-2021) a partir de 19 de setembro.
A Associação dos
Engenheiros da Petrobrás (AEPET) reitera que existem alternativas ao
plano de privatização que está sendo realizado e que pode alienar cerca
de um terço do patrimônio da estatal.
A venda de ativos
rentáveis compromete o fluxo de caixa futuro, entrega o mercado nacional
aos competidores privados ou intermediários, fragiliza o
desenvolvimento tecnológico soberano, transfere a propriedade de
riquezas naturais finitas e estratégicas. A venda do petróleo do
pré-sal, da infraestrutura de gasodutos, das unidades petroquímicas, dos
terminais de GNL com as termelétricas associadas, da Liquigás
Distribuidora de GLP e do controle da BR Distribuidora compromete o
futuro da companhia.
Em cartas à direção da
Petrobras e seus conselheiros, tornadas públicas aos petroleiros e à
sociedade, a nossa Associação também alerta para o risco da Petrobras
cometer os mesmos erros estratégicos das multinacionais.
As maiores multinacionais
de capital privado do setor do petróleo não repõem suas reservas na
taxa que são esgotadas, têm produção declinante, apresentam resultados
financeiros fracos, e perderam boa parte de sua capacidade tecnológica,
ao terceirizar suas atividades às empresas prestadoras de serviço. Em
uma palavra, definham. Entre as principais causas, a adoção de modelo de
negócios baseado em premissas falsas, com objetivo de maximizar o valor
para o acionista no curto prazo, com precária visão estratégica ao não
compreender o ambiente de negócios, seguindo bovina e consensualmente
planos similares baseados em informações de “consultorias
independentes”, ao negar restrições socioeconômicas, além de ignorar
limites naturais. Caso a Petrobras adote modelo parecido terá o mesmo
destino, em breve.
A Petrobras foi vítima de
um cartel de empreiteiros que através de políticos traficantes de
interesses, executivos de aluguel, além dos banqueiros que lavam mais
branco, formaram um grupo de bandidos que fraudou a companhia. Os
recursos precisam ser recuperados e os responsáveis julgados e punidos.
A corrupção precisa ser
combatida com o fortalecimento institucional da companhia e não pode ser
utilizada como pretexto para a entrega do patrimônio público a outros
interesses privados, desta vez o das multinacionais do petróleo, fundos
de investimento, bancos credores e suas agências de avaliação de risco.
O novo plano precisa
ainda fortalecer a atuação integrada da Petrobras, desde a exploração do
petróleo, à produção dos petroquímicos, dos biocombustíveis e das
energias renováveis. Ampliando seu mercado através da infraestrutura
logística e de distribuição. Além de fortalecer o seu Centro de
Pesquisas (Cenpes), a inovação e o desenvolvimento tecnológico.
É necessário agregar
valor ao petróleo cru, especialmente no atual cenário de elevação dos
custos médios e mundiais da sua exploração e produção, com grande
instabilidade dos preços, somadas à recessão econômica mundial, à
instabilidade do sistema financeiro e às disputas monetárias entre
potencias internacionais.
É preciso fortalecer a
Petrobras Biocombustível reavaliando o seu modelo de negócios para que
tenha acesso as matérias primas com custos mais baixos e próximos aos
custos de produção. Desenvolver produtores e a cadeia de valor para
atuação integrada, sem depender da aquisição das matérias primas de seus
competidores ou potenciais competidores. Precisa ampliar sua área de
atuação para a produção de energia elétrica de origem renovável, eólica e
solar. Atuar também nas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), opções
rentáveis para geração distribuída de energia.
A renda petroleira deve
ser usada para levantar a infraestrutura para a produção das energias
renováveis que são essenciais para o futuro.
A descoberta do pré-sal, a
maior dos últimos 40 anos, e o domínio tecnológico desta região
geológica de fronteira nos dá a oportunidade de construir um país justo e
solidário. É preciso ter estratégia de longo prazo, produzir na medida
do nosso desenvolvimento e em suporte a ele.
Nenhum país se
desenvolveu exportando petróleo por multinacionais. Nenhum país,
continental e populoso como o Brasil, se desenvolveu exportando petróleo
cru ou matérias primas sem valor agregado, mesmo que através de
companhias nacionais, estatais ou públicas.
Existe correlação entre o
desenvolvimento humano e o consumo per capta de energia primária.
Precisamos usar nossas riquezas nacionais para atender a tantas
necessidades dos 205 milhões de brasileiros. Um povo trabalhador e
honesto, mas mantido na ignorância por uma elite medíocre que insiste em
nos lançar em novos ciclos do tipo colonial.
Superamos a produção de
um milhão de barris por dia no pré-sal, em tempo recorde. O pré-sal é
uma realidade e representa quase metade da produção nacional. A História
demonstra a capacidade técnica e financeira da Petrobras e do Brasil".
Competimos em mercado aberto, a Shell devolveu o campo de Libra à ANP
declarando que não havia petróleo comercialmente viável. A Petrobras
assumiu o campo, alcançou a camada do pré-sal e descobriu uma nova
reserva gigantesca que agora segue em desenvolvimento sob o regime de
partilha. Imaginem o que diriam os entreguistas de sempre, se o
insucesso fosse da Petrobras.
A AEPET tem compromisso
com o futuro do Brasil e por isso defende a Petrobras. É preciso que a
nossa companhia seja forte, esteja a serviço da maioria e continue a
demonstrar a capacidade de trabalho dos brasileiros.
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