Só em 2015, EUA já promoveram ações secretas em 105 países
Vinicius Gomes, Fórum
Um dia após o tradicional Discurso da União que todo o presidente norte-americano realiza no Capitólio no primeiro mês do ano, o colunista Dana Milbank, do Washington Post, escreveu um artigo reclamando que Barack Obama foi “estranhamente silencioso” para o problema do terrorismo global. “Se, Deus nos livre, terroristas façam aqui o que fizeram em Paris e tentaram fazer em Bruxelas, o Discurso da União em 2015 será lembrado como complacente”. Pobre Milbank e pobres de nós, pois mais “silenciosa” que a suposta complacência de Obama para com o terrorismo, é o número de países para os quais os Estados Unidos já enviaram seus soldados de elite para realizar suas operações secretas – as chamadas black ops – de resgate, sequestro ou pura e simplesmente assassinato: 105. Ou seja, quase 80% do planeta – apenas no ano fiscal de 2015, iniciado no primeiro dia de outubro do ano passado. Em 2014, o número foi de 133 países.
De acordo com o jornalista investigativo Nick Turse, mesmo com o escopo e a escala dessas operações sendo tão maciças, essa guerra global secreta é desconhecida por grande parte do mundo, “uma vez que a maioria dessas operações secretas permanece completamente nas sombras, escondidas de supervisão externa e do escrutínio da imprensa”.
A vastidão de operações dos EUA se explica pelo 11 de Setembro, quando desde então passou a crescer de “todas as maneiras possíveis: em números, orçamento, sua influência em Washington e seu lugar na imaginação popular”, mas, segundo o jornalista, “o comando no Pentágono sequer nomeia um único país onde os EUA desembarcam suas forças de operações secretas”, sendo já notório que alguns dos lugares favoritos dessas operações são os clássicos Afeganistão e Paquistão, além de Líbia, Iêmen, Líbano e diversas regiões da África, continente que, de fato, se tornou a nova “menina dos olhos” dos EUA para missões secretas, operando em “países estratégicos” como Mali, Uganda, Nigéria e Somália. Porém, as operações ocorrem em países menos famosos e difíceis de achar no mapa como Trinidad e Tobago, no Caribe; ilhas Seychelles, na costa africana, e Sri Lanka, no Oceano Índico.
Tais unidades que agem nas sombras costumam ser pequenas e ágeis, operando principalmente a partir de remotas bases norte-americanas pelo mundo. “Eles operam à luz esverdeada dos óculos de visão noturna nas selvas do Sudeste Asiático e da América do Sul. Capturam homens de suas casas através do Magreb e entram em conflito com militantes altamente armados no Chifre da África. Eles sentem o salpicar da água salgada enquanto planam em voos rasantes dos mares turquesas do Caribe ao azul profundo do Pacífico. Eles conduzem missões no calor opressivo dos desertos no Oriente Médio ao frio congelante da Escandinávia”, Turse descreve cinematograficamente as ações desses soldados de elite.
Mas sua presença também é sentida em lugares mais visíveis como embaixadas dos EUA em 14 países: Austrália, Brasil, Canadá, Colômbia, El Salvador, França, Israel, Itália, Jordânia, Peru, Polônia, Quênia, Reino Unido e Turquia. Essas tropas de operações secretas são divididas em diversos sub-comandos como a SOCNORTH, devotada à “defesa da pátria-mãe”; o autoexplicativo SOCAFRICA; o SOCKOR, devotado estritamente à península da Coreia; SOCPAC, que cobre o resto da região da Ásia-Pacífico; SOCSOUTH, que conduz operações nas Américas do Sul e Central, além do Caribe; a SOCCENT no Oriente Médio e até mesmo na Europa, com o SOCEUR, onde operações na Holanda, República Tcheca, Finlândia, Lituânia, Noruega, Polônia, Suécia e Eslovênia já foram reportadas.
Mas se por um lado as missões desses operadores secretos costumam ver a luz do dia quando são bem sucedidas – a morte de Osama Bin Laden e o resgate de Richard Phillips, que viraram os filmes A Hora Mais Escura e Capitão Phillps, respectivamente, os efeitos colaterais também estão se tornando notícia. “Na África, armando e treinando grupos rebeldes para derrubarem governos; no Iraque, as tropas de elite sendo implicadas em torturas, destruição de casas e morte de inocentes; no Afeganistão, uma história parecida com a iraquiana; enquanto no Iêmen, Paquistão e Somália, também”, somando-se a isso os casos de assassinatos por drones, lista Turse, que também salienta: “e isso abrange apenas a superfície dos abusos nas operações especiais”.
Para o ex-chefe do Comando das Operações Especiais dos EUA, o almirante William McRaven, essa imensidão de operações ao redor do mundo é necessária, pois o caos ao redor do globo está interligado. “Garanto que o que ocorre na América Latina afeta o que acontece na África Ocidental, que afeta o que acontece no sul da Europa, que afeta o que acontece na Ásia”, disse ele na reunião de 2014 do Geolnt, um encontro anual de militares e executivos ligados à indústria de vigilância. “A solução deles para essas instabilidades interligadas?”, Turse pergunta retoricamente: “Mais missões em mais países – em mais de três quartos do globo, na realidade”.
Ou como com poucas palavras resumiu Joseph Votel, o sucessor de McRaven, nessa mesma reunião: “Nós queremos estar em todos os lugares”. O ano de 2015 promete muitas ações para esses rapazes, operadores secretos e de elite, mas provavelmente jamais ficaremos sabendo de seus feitos, para o bem ou para o mal.
Um dia após o tradicional Discurso da União que todo o presidente norte-americano realiza no Capitólio no primeiro mês do ano, o colunista Dana Milbank, do Washington Post, escreveu um artigo reclamando que Barack Obama foi “estranhamente silencioso” para o problema do terrorismo global. “Se, Deus nos livre, terroristas façam aqui o que fizeram em Paris e tentaram fazer em Bruxelas, o Discurso da União em 2015 será lembrado como complacente”. Pobre Milbank e pobres de nós, pois mais “silenciosa” que a suposta complacência de Obama para com o terrorismo, é o número de países para os quais os Estados Unidos já enviaram seus soldados de elite para realizar suas operações secretas – as chamadas black ops – de resgate, sequestro ou pura e simplesmente assassinato: 105. Ou seja, quase 80% do planeta – apenas no ano fiscal de 2015, iniciado no primeiro dia de outubro do ano passado. Em 2014, o número foi de 133 países.
De acordo com o jornalista investigativo Nick Turse, mesmo com o escopo e a escala dessas operações sendo tão maciças, essa guerra global secreta é desconhecida por grande parte do mundo, “uma vez que a maioria dessas operações secretas permanece completamente nas sombras, escondidas de supervisão externa e do escrutínio da imprensa”.
A vastidão de operações dos EUA se explica pelo 11 de Setembro, quando desde então passou a crescer de “todas as maneiras possíveis: em números, orçamento, sua influência em Washington e seu lugar na imaginação popular”, mas, segundo o jornalista, “o comando no Pentágono sequer nomeia um único país onde os EUA desembarcam suas forças de operações secretas”, sendo já notório que alguns dos lugares favoritos dessas operações são os clássicos Afeganistão e Paquistão, além de Líbia, Iêmen, Líbano e diversas regiões da África, continente que, de fato, se tornou a nova “menina dos olhos” dos EUA para missões secretas, operando em “países estratégicos” como Mali, Uganda, Nigéria e Somália. Porém, as operações ocorrem em países menos famosos e difíceis de achar no mapa como Trinidad e Tobago, no Caribe; ilhas Seychelles, na costa africana, e Sri Lanka, no Oceano Índico.
Tais unidades que agem nas sombras costumam ser pequenas e ágeis, operando principalmente a partir de remotas bases norte-americanas pelo mundo. “Eles operam à luz esverdeada dos óculos de visão noturna nas selvas do Sudeste Asiático e da América do Sul. Capturam homens de suas casas através do Magreb e entram em conflito com militantes altamente armados no Chifre da África. Eles sentem o salpicar da água salgada enquanto planam em voos rasantes dos mares turquesas do Caribe ao azul profundo do Pacífico. Eles conduzem missões no calor opressivo dos desertos no Oriente Médio ao frio congelante da Escandinávia”, Turse descreve cinematograficamente as ações desses soldados de elite.
Mas sua presença também é sentida em lugares mais visíveis como embaixadas dos EUA em 14 países: Austrália, Brasil, Canadá, Colômbia, El Salvador, França, Israel, Itália, Jordânia, Peru, Polônia, Quênia, Reino Unido e Turquia. Essas tropas de operações secretas são divididas em diversos sub-comandos como a SOCNORTH, devotada à “defesa da pátria-mãe”; o autoexplicativo SOCAFRICA; o SOCKOR, devotado estritamente à península da Coreia; SOCPAC, que cobre o resto da região da Ásia-Pacífico; SOCSOUTH, que conduz operações nas Américas do Sul e Central, além do Caribe; a SOCCENT no Oriente Médio e até mesmo na Europa, com o SOCEUR, onde operações na Holanda, República Tcheca, Finlândia, Lituânia, Noruega, Polônia, Suécia e Eslovênia já foram reportadas.
Mas se por um lado as missões desses operadores secretos costumam ver a luz do dia quando são bem sucedidas – a morte de Osama Bin Laden e o resgate de Richard Phillips, que viraram os filmes A Hora Mais Escura e Capitão Phillps, respectivamente, os efeitos colaterais também estão se tornando notícia. “Na África, armando e treinando grupos rebeldes para derrubarem governos; no Iraque, as tropas de elite sendo implicadas em torturas, destruição de casas e morte de inocentes; no Afeganistão, uma história parecida com a iraquiana; enquanto no Iêmen, Paquistão e Somália, também”, somando-se a isso os casos de assassinatos por drones, lista Turse, que também salienta: “e isso abrange apenas a superfície dos abusos nas operações especiais”.
Para o ex-chefe do Comando das Operações Especiais dos EUA, o almirante William McRaven, essa imensidão de operações ao redor do mundo é necessária, pois o caos ao redor do globo está interligado. “Garanto que o que ocorre na América Latina afeta o que acontece na África Ocidental, que afeta o que acontece no sul da Europa, que afeta o que acontece na Ásia”, disse ele na reunião de 2014 do Geolnt, um encontro anual de militares e executivos ligados à indústria de vigilância. “A solução deles para essas instabilidades interligadas?”, Turse pergunta retoricamente: “Mais missões em mais países – em mais de três quartos do globo, na realidade”.
Ou como com poucas palavras resumiu Joseph Votel, o sucessor de McRaven, nessa mesma reunião: “Nós queremos estar em todos os lugares”. O ano de 2015 promete muitas ações para esses rapazes, operadores secretos e de elite, mas provavelmente jamais ficaremos sabendo de seus feitos, para o bem ou para o mal.
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