Como a boa fama do deputado federal Eduardo Cunha (o probo), candidato da mídia hegemônica à presidência da Câmara, atravessa fronteiras e pode prejudicar sua candidatura o jornal O Estado de S. Paulo de 28/1 estampa manchete na página A8 onde informa: “Cunha e Chinaglia compartilham doador”, como se dissesse: “é tudo uma coisa só”.
Dos doadores em comum o probo recebeu um total de R$ 1.7 milhão, enquanto Chinaglia recebeu R$ 400 mil, apenas 23,52% do que auferiu o deputado do PMDB. O probo arrecadou em sua campanha, conforme declarado ao TSE, R$ 6,8 milhões, quase quatro vezes a arrecadação de Chinaglia. Entretanto, mais importante do que esses números são os compromissos políticos de cada um, relativos à reforma política por exemplo. Chinaglia já declarou apoio à reforma com proibição de doações eleitorais de empresas, coisa que nem passa pela cabeça de Eduardo Cunha. Mas para o “ético” Estadão isto não importa. O que importa é derrotar a Dilma.
Nêumanne e o complexo de vira-latas
O articulista do jornal O Estado de S. Paulo José Nêumanne, (“jornalista”, “poeta” e “escritor”), destila veneno e preconceito em sua coluna de 28/1. Começa criticando a presidenta Dilma por ter preferido ir “à posse do cocalero Evo Morales” e assim desperdiçado a chance de “aprender com o Europeu” primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi, e cita uma fala do político italiano em Davos, fala absolutamente banal, mas que encantou o articulista (quem tiver curiosidade veja no final das notas). Pouco importa para J. Nêumanne que a Itália ostente mais de 13% de desemprego (no Brasil o índice é menor do que 5%) e que a economia italiana esteja em recessão desde 2008, tendo em 2014 registrado crescimento negativo de - 0.10 (no Brasil foi + 0.10). O que interessa é que o EUROPEU falou e portanto, deve-se no mínimo uma reverência. Ou você quer comparar um EUROPEU com um simples “cocalero”, mesmo que o cocalero em questão seja um presidente em sua pátria, eleito três vezes por seu povo, na última vez com mais de 61% dos votos (sem contar o referendo que ele ganhou com mais de 67%)? A nossa mídia hegemônica parece não exigir hoje dos seus colaboradores talento ou inteligência (atributos que muitos reacionários têm), basta a adesão total.
Nêumanne e a adesão total
A adesão de Nêumanne à linha editorial do jornal é tamanha que ele afirma que o 1º governo da Dilma “foi o pior da história”. Com certeza ele preferiu os governos da ditadura militar, regime que o Estadão defendeu com tanto zelo. O “escritor e poeta”, chegando ao ápice da manipulação, condena a “crise diplomática” promovida por Dilma para evitar que o brasileiro Marco Archer fosse fuzilado, perfilando-se aos que defendem a tese fascista de “bandido bom é bandido morto” (frase com a qual muito bandido se disfarça), mas chama de “fascistoide” o governo brasileiro por usar lemas como “alma coletiva” e “pátria educadora”.
Dora Kramer e Cantanhêde: as colunistas amestradas
Não se pode falar em adesão total à linha do patrão sem mencionar Dora Kramer e Eliane Cantanhêde, também colunistas do ilibado jornal O Estado de São Paulo, defensor dos direitos humanos (mas que apoiou a ditadura militar) e da liberdade de expressão (mas que defendeu a censura). Quem tem a desventura de ler diariamente a produção das jornalistas, seja por prazer (masoquista) ou por dever (insalubre) acompanha há anos a mesma toada, quase com as mesmas palavras: “pau no Lula, na esquerda, no PT e na Dilma”. Não existe variação de tom. Na edição de 28/1, analisando a fala da presidenta na reunião de 27/1 com os ministros, Dora reclama que “Dilma nada disse de essencial” (logo ela, que nada escreve de essencial). Mas o destaque é para sua colega. Cantanhêde reclama que Dilma “reapareceu como se nada tivesse acontecido” (?). Mas o que aconteceu? A Dilma foi cassada? O Brasil foi invadido? Porque os temas da conjuntura nacional, todos eles (ajustes, crise hídrica, luta de ideias, etc) foram abordados na fala presidencial. O que cabe a Eliane, como boa colunista amestrada, é discordar de tudo ou quase tudo que a presidenta disse, mas além disso a colunista queria que a presidenta aparecesse de olhos baixos, descabelada e talvez até pedisse desculpas ao Estadão por ter lutado contra a ditadura que o jornal apoiava.
Abrindo o jogo
Conforme é do conhecimento público, a cruzada do juiz Sergio Moro é por “deslegitimar a política” tese que ele defende publicamente e por escrito. Mas “deslegitimar a política” é uma atitude política a serviço de fins políticos. Qual seja, como não conseguem ganhar no voto, os perdedores usam de seu poder no judiciário e em outros espaços do aparelho estatal aonde preservam a hegemonia para um “golpe branco”. Os mesmos instrumentos estatais ágeis para denunciar e até prender quando se trata de atingir aliados do governo federal, são lenientes e omissos quando quem está envolvido é um “amigo” da oposição. Estes amigos contam com a blindagem da mídia hegemônica, que depois de Joaquim Barbosa elege agora Sergio Moro como novo herói. Quem tinha alguma dúvida disso, leia a coluna de Elio Gaspari publicada em O Globo e na Folha de S. Paulo de 28/1. Com algum disfarce e prudência está lá nítida a estratégia sonhada pelo establishment midiático e seu braço político para o “golpe branco” na esteira da operação Lava a Jato.
Põe a mão na consciência Ancelmo
Ancelmo Gois, em sua coluna de O Globo (28/1) pede que Gilberto Carvalho ponha “a mão na consciência” e desista de defender José Dirceu, que para o colunista é indefensável. Aproveitamos a deixa e deixamos aqui também um apelo ao próprio Ancelmo: Ancelmo, você é ético, mas trabalha em uma empresa de comunicação que acobertou todas as falcatruas dos governos tucanos. Ancelmo, você ainda fala com seu colega Amauri Ribeiro Jr? Se você não se lembra, ele trabalhou em O Globo e ganhou dois prêmios Esso. Peça para ele o livro Privataria Tucana, que ele escreveu. Ele deve ter algum sobrando, caso você esteja duro. Você, que preza tanto a ética, vai ficar horrorizado. E a fraude da Globo contra a receita federal, Ancelmo? Com direito até a abertura de empresa em paraíso fiscal (Ilhas Virgens)? Temos certeza de que você não sabia. Deixe a Globo e junte-se a nós na luta contra a mídia hegemônica, ganha-se pouco mas a luta vale a pena. Põe a mão na consciência Ancelmo!
Evo Morales e Salman
A mídia hegemônica conseguiu criticar a presidenta por ter ido à posse de um estadista da América Latina, Evo Morales, mas o beija mão que o presidente estadunidense, Obama, foi fazer ao Rei Salman, novo déspota da Arábia Saudita, foi registrado pelos jornalões (28/1) de forma simpática. Como convém a uma mídia invertebrada.
Energia
Vejam como o jornal O Estado de S. Paulo, de 23/1, noticiou a importação de energia que o Brasil fez da Argentina. Letras garrafais no topo da página.
Energia II
Agora, vejam como o mesmo Estadão noticia (28/1) que o Brasil já devolveu boa parte. Segundo o Estadão o Brasil ainda deve 9MWh aos argentinos. Colocamos uma seta mostrando um canto lá em baixo à esquerda. Não viram? O objetivo (do jornal) era este mesmo.
O Globo e suas manchetes
A fala da presidente Dilma, independente de qual a avaliação que se faça do conteúdo, enfrentou os principais temas da conjuntura. Mas a manchete calhorda de O Globo, 28/1, na página 3 foi: “Em defesa das empreiteiras”. Parece até que o PSDB e o DEM encomendaram um panfleto.
* Frase do primeiro ministro italiano que encantou Nêumanne (veja a 2ª nota): “Há uma janela e um período de oportunidade excepcional e o papel dos políticos é atender o momento, carpe diem, em que podemos escolher o futuro”. Brilhante.Colabore com o Notas Vermelhas: envie sua sugestão de nota ou tema para o email wevergton@vermelho.org.br
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