sábado, 24 de janeiro de 2015

MÍDIA - Globo continua o mesmo.


23 de janeiro de 2015 - 16h55

Globo esconde declaração da PF sobre áudio de Cunha 

Conforme mostramos no Notas Vermelhas, edição 22/1, o jornal O Globo divulgou de forma acanhada, diferente do que havia planejado, um laudo do perito Ricardo Molina, contratado pelo jornal, onde se afirma que o áudio divulgado pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), candidato do PIG à presidência da Câmara, não passava de encenação. E terminávamos o comentário da seguinte forma: “Agora que o laudo da Globo falhou, vamos esperar pelo laudo da PF”.


Reprodução Tijolaço
  
Não precisamos esperar mais, a armação foi confirmada pelo chefe do serviço de análise de áudio e vídeo da Polícia Federal, perito André Morrison (veja matéria do Vermelho). As declarações de Morrison foram publicadas no jornal Folha de S. Paulo, de 23/1, página A8, sem chamada de capa (a Folha preferiu outros destaques, como este: “Tese ‘PT responsável’ faz mais mal que esquerda xexelenta”). Já a Globo fez pior, diante de um fato que interfere em assunto de relevância nacional mas que não a favorece, a família Marinho decidiu simplesmente que a notícia não existe. A informação não aparece no jornal O Globo, edição 23/1, e até às 17 horas não existia nas capas do G1 e do Globo.com.

O que diz o perito

O que disse o perito que fez a Globo esconder a notícia e a Folha dar pouco destaque? Disse que há indícios de que a gravação - apresentada por Cunha como uma tentativa de chantageá-lo - seja uma “armação”. Para André Morrison “A falta de naturalidade na fala é muito acentuada. Parece que estão lendo um texto. Isso é indício de armação”. O perito conclui que o diálogo foi em cima de um texto lido: “Não há sobreposição nem interrupção de diálogos, como acontece na vida real: um espera o outro terminar sua fala para começar a sua parte como se fosse uma peça de teatro amador”. O que a mídia hegemônica tenta abafar é que o seu candidato à presidência da Câmara lançou uma bomba que agora pode explodir em seu colo.

Jornalismo das arábias

A cobertura internacional da mídia hegemônica tem como marca principal a sabujice em relação ao imperialismo estadunidense. Quando um país adota posições independentes ou de resistência aos ditames de Washington, podem esperar da nossa mídia um tratamento “especial”. As reportagens sobre estes países serão repletas de termos como “ditadura”, “tirania”, ou então terão sempre viés negativo.

Jornalismo das arábias II

A Arábia Saudita é uma das ditaduras mais sangrentas e obscurantistas do planeta. A sucessão é dinástica e a oposição é proibida e reprimida ferozmente. As mulheres praticamente não têm direitos e o estado alega se basear na sharia (sistema legal inspirado nos preceitos do Corão) para justificar uma forte repressão sobre qualquer dissidente. Mas por outro lado tem uma grande vantagem que a absolve (aos olhos da mídia hegemônica): é aliada fiel dos Estados Unidos.

Jornalismo das arábias III

É por isso que a morte do déspota Abdullah bin Adbulaziz, rei da Arábia Saudita, é noticiada de forma tão cheia de dedos. Em O Globo de 23/1, até registra-se que o país é “um dos mais conservadores do mundo”. Vejam o cuidado com a escolha das palavras, nada de tirania, ditadura, apenas conservador, termo com o qual muita gente se identifica. Mas logo depois, temendo ter ido longe demais, O Globo suaviza: “apesar disso, Abdullah era considerado um modernizador”.

Já com a Venezuela...

O jornal Folha de S. Paulo, de 23/1, publica matéria assinada pela correspondente Samy Adghirni, sobre as medidas econômicas anunciadas pelo presidente Nicolás Maduro. O manual de jornalismo da Samy só tem um capítulo: “Como fazer seu editor feliz”. O título da matéria é “Oposição e economistas condenam medidas de Maduro”. A matéria, reconheçamos, realmente registra um fato importante desde o título: a oposição, em geral, costuma se opor. Mas vamos fazer um esforço e ler a reportagem inteira. Nela, de acordo com o manual de jornalismo que só tem um capítulo, todas as fontes ouvidas – políticos, economistas, consultores - são contrárias às propostas do governo. Entre os 30 milhões de venezuelanos Samy não encontrou um só que apoie as medidas e as defenda, todos são contra. Mas por sorte encontrou quem? O principal líder da oposição, Henrique Capriles, cujas declarações são o destaque da matéria. Isso sim é furo de reportagem.

A esperança do “mercado”
A colunista de economia do Valor Econômico de 23/1, Claudia Safatle, colocou como título de sua coluna: “Mercados querem acreditar em Dilma”. Logo de início afirma: “Investidores e analistas do mercado financeiro nacional e externo querem acreditar no Brasil: olham para as medidas do ministro Joaquim Levy com grande esperança”. Segundo a própria Claudia, que também deixa transparecer enorme simpatia pela nova equipe econômica, as medidas anunciadas por Levy terão como efeitos colaterais: “possível recessão, inflação na faixa dos 7,5% e algum desemprego no curto prazo”. As medidas de austeridade que o “mercado” defende estão sendo aplicadas em sua totalidade na Grécia há quatro anos, e hoje este país tem um índice de desemprego de 26% (no Brasil não chega a 5%). “Mercado” na verdade é o nome fantasia para banqueiros e grandes empresários. A esperança deles é o pesadelo do povo.

BRICs dividido (segundo a mídia)

A semana foi marcada por dezenas de matérias e comentários da mídia hegemônica falando em “crise” no Brics (acrônimo do grupo formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), que estaria dividido, “pelo ritmo muito diferente de crescimento de cada país”, como um colunista amestrado escreveu e outros repetiram. Argumento infantil que a leitura de qualquer documento do Brics desbasta pois, em qualquer caso, aliança se faz entre unidades diferentes. Ninguém faz aliança consigo mesmo. O Brics, que objetivamente representa um polo político de resistência à hegemonia dos EUA, vem avançando em sua formatação e segundo o vice-chanceler da Rússia, Igor Morgulov, hoje é “fator significativo na política e economia mundial”. O Brics pretende, segundo os países membros declararam em recente encontro, “deixar de ser um fórum de diálogo e instrumento de coordenação sobre um número limitado de questões e se tornar um mecanismo de cooperação de pleno direito sobre questões-chave da economia e da política global". Daí o incômodo com o Brics e a tentativa da mídia de enfraquecê-lo.

Valeu Urariano!

O escritor, jornalista e colunista do Vermelho Urariano Mota enviou para sua lista de debates “Os amigos de 68” uma recomendação “com entusiasmo” da coluna Notas Vermelhas. Nós é que ficamos entusiasmados com este incentivo. Valeu Urariano!

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