Dilma já se arrependeu da reeleição?
Por Ricardo Kotscho, no
blog Balaio
do Kotscho:
Só a própria presidente Dilma Rousseff poderá responder à pergunta do
título, pois é cada dia mais intrigante seu silêncio nestes 26 dias do novo
governo. "Por onde andará Dilma?", perguntei aqui mesmo, quase duas semanas
atrás, ao estranhar seu sumiço desde a posse. De lá para cá, a presidente só foi
vista em público na Bolívia, durante a cerimonia de posse de Evo Morales, em que
se recusou a falar com os jornalistas.
Uma boa oportunidade para Dilma responder a todas as dúvidas da população será nesta terça-feira, quando reunirá, pela primeira vez, seu novo ministério, em Brasília. Com as medidas de arrocho até aqui anunciadas pelo ministro Joaquim Levy, da Fazenda, promovido a porta-voz do governo, sem qualquer agenda positiva no horizonte, fica difícil saber aonde Dilma quer chegar, qual é o seu plano de voo para o segundo mandato, se é que tem algum..
Mais impostos e cortes nos benefícios sociais para fazer o "ajuste fiscal", que devem render cerca de R$ 20 bilhões aos cofres do governo, aumentos da gasolina e nas contas de energia, ao mesmo tempo em que uma crise hídrica sem precedentes ameaça o abastecimento de água e luz nas áreas metropolitanas, uma onda de demissões no rastro da Operação Lava-Jato: o conjunto da obra de más notícias cresce a cada dia.
Para completar o cenário negativo, que mais lembra final do que começo de governo, neste domingo teremos a reabertura do Congresso, com a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Na Câmara, é quase certa a vitória do deputado carioca Eduardo Cunha, atual líder do PMDB, um desafeto declarado de Dilma, que promete complicar ainda mais a vida do governo nas relações já abaladas com os parlamentares da sua própria base aliada.
E ainda não é tudo: nas semanas seguintes, a Justiça e o procurador-geral Rodrigo Janot deverão divulgar oficialmente os nomes dos políticos denunciados no escândalo da Petrobras, que até agora só apareceram em depoimentos de delatores vazados para a imprensa.
A sorte de Dilma, por enquanto, é que a oposição partidária também sumiu, com Aécio Neves se limitando a divulgar notas para criticar as medidas anunciadas pelo governo e denunciar o "estelionato eleitoral". De fato, pelo que vimos até agora, o "pacotinho" restritivo de Levy, para colocar em ordem as contas do governo, faz exatamente o que os economistas tucanos planejavam e que a presidente tanto criticou durante a campanha eleitoral.
Por isso, a maior oposição a Dilma vem de setores do próprio PT e dos partidos aliados, insatisfeitos com a formação do novo ministério e os rumos da política econômica. Ao tentar agradar a todos para garantir maioria no Congresso, dando uma fatia da Esplanada a cada um, sem levar em conta critérios de qualificação e representatividade social, a presidente conseguiu arrumar mais inimigos do que parceiros, ficando cada vez mais isolada no Planalto.
Por que, afinal, Dilma lutou tanto pela sua reeleição? Já vou deixando bem claro que não fui e não sou adepto do "volta Lula", antes que alguém me interprete mal. Tudo na vida tem seu tempo, que não volta. Ao contrário : sou a favor da renovação de lideranças e da alternância no poder, desde que se apresentem, é claro, alternativas melhores e viáveis ao eleitorado.
Só queria saber o que move Dilma para enfrentar os duros quatro anos que terá pela frente, já que ela nunca teve um projeto político pessoal, e só chegou à presidência pela força das circunstâncias em 2010. Diante dos seus 39 ministros, amanhã, a presidente acidental terá agora a chance de clarear o horizonte, orientar a tropa e dizer o que pensa e o que quer para o país. Seria muito bom que o fizesse em transmissão ao vivo, convocando uma rede nacional de rádio e televisão, para que todos possamos saber o que nos espera.
Como um dos seus 54 milhões de eleitores, acho que tenho este direito.
Vida que segue.
Uma boa oportunidade para Dilma responder a todas as dúvidas da população será nesta terça-feira, quando reunirá, pela primeira vez, seu novo ministério, em Brasília. Com as medidas de arrocho até aqui anunciadas pelo ministro Joaquim Levy, da Fazenda, promovido a porta-voz do governo, sem qualquer agenda positiva no horizonte, fica difícil saber aonde Dilma quer chegar, qual é o seu plano de voo para o segundo mandato, se é que tem algum..
Mais impostos e cortes nos benefícios sociais para fazer o "ajuste fiscal", que devem render cerca de R$ 20 bilhões aos cofres do governo, aumentos da gasolina e nas contas de energia, ao mesmo tempo em que uma crise hídrica sem precedentes ameaça o abastecimento de água e luz nas áreas metropolitanas, uma onda de demissões no rastro da Operação Lava-Jato: o conjunto da obra de más notícias cresce a cada dia.
Para completar o cenário negativo, que mais lembra final do que começo de governo, neste domingo teremos a reabertura do Congresso, com a eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Na Câmara, é quase certa a vitória do deputado carioca Eduardo Cunha, atual líder do PMDB, um desafeto declarado de Dilma, que promete complicar ainda mais a vida do governo nas relações já abaladas com os parlamentares da sua própria base aliada.
E ainda não é tudo: nas semanas seguintes, a Justiça e o procurador-geral Rodrigo Janot deverão divulgar oficialmente os nomes dos políticos denunciados no escândalo da Petrobras, que até agora só apareceram em depoimentos de delatores vazados para a imprensa.
A sorte de Dilma, por enquanto, é que a oposição partidária também sumiu, com Aécio Neves se limitando a divulgar notas para criticar as medidas anunciadas pelo governo e denunciar o "estelionato eleitoral". De fato, pelo que vimos até agora, o "pacotinho" restritivo de Levy, para colocar em ordem as contas do governo, faz exatamente o que os economistas tucanos planejavam e que a presidente tanto criticou durante a campanha eleitoral.
Por isso, a maior oposição a Dilma vem de setores do próprio PT e dos partidos aliados, insatisfeitos com a formação do novo ministério e os rumos da política econômica. Ao tentar agradar a todos para garantir maioria no Congresso, dando uma fatia da Esplanada a cada um, sem levar em conta critérios de qualificação e representatividade social, a presidente conseguiu arrumar mais inimigos do que parceiros, ficando cada vez mais isolada no Planalto.
Por que, afinal, Dilma lutou tanto pela sua reeleição? Já vou deixando bem claro que não fui e não sou adepto do "volta Lula", antes que alguém me interprete mal. Tudo na vida tem seu tempo, que não volta. Ao contrário : sou a favor da renovação de lideranças e da alternância no poder, desde que se apresentem, é claro, alternativas melhores e viáveis ao eleitorado.
Só queria saber o que move Dilma para enfrentar os duros quatro anos que terá pela frente, já que ela nunca teve um projeto político pessoal, e só chegou à presidência pela força das circunstâncias em 2010. Diante dos seus 39 ministros, amanhã, a presidente acidental terá agora a chance de clarear o horizonte, orientar a tropa e dizer o que pensa e o que quer para o país. Seria muito bom que o fizesse em transmissão ao vivo, convocando uma rede nacional de rádio e televisão, para que todos possamos saber o que nos espera.
Como um dos seus 54 milhões de eleitores, acho que tenho este direito.
Vida que segue.
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