Não confunda alhos com bugalhos
Diretoria da AEPET responde aos críticos do regime de partilha da exploração do pré-sal
Em relação à Petrobrás e
a correlação oportunista e descabida entre as revelações da operação
Lava Jato e o regime de partilha da exploração do pré-sal, com garantia
de participação mínima de 30% e operação única pela estatal. Esse artigo
é um contraponto aos repetitivos editoriais, artigos de opinião e de
“notícias”, melhor definidas como propagandas, que têm sido divulgadas
pelos meios empresariais de comunicação no Brasil. Em especial, um
esclarecimento ao senhor Sacha Calmon que assina o artigo “Quem tudo
quer, tudo perde” no caderno de opinião do Jornal o Estado de Minas em
18/01/15 [1].
Pode-se criticar a
mídia empresarial e seus porta-vozes com diversos argumentos, mas esse
pequeno grupo de brasileiros não pode ser chamado de incoerente. Têm
sido historicamente coerentes contra a Petrobrás, mesmo antes da sua
criação, fruto de uma das maiores mobilizações populares da história da
república, a campanha “O Petróleo é Nosso”. Sempre promovendo a
propaganda de que primeiro, não haveria petróleo no Brasil, e depois de
que não seriamos capazes técnica, econômica e financeiramente de
produzi-lo com recursos brasileiros. Mais de 60 anos após a criação da
Petrobrás e mesmo com seu pleno sucesso em abastecer e desenvolver o
mercado brasileiro, eles ainda mantêm o oportunismo e o histórico viés
entreguista ocupando os meios privados de comunicação. Desde a linha
editorial do Estado de S. Paulo na época da criação da Petrobrás[2] ao
artigo a que já fiz referência, as argumentações podem ser entendidas
como resultado do interesse material, do sentimento antinacional ou, na
melhor das hipóteses, da ignorância de uma elite que insiste em manter
características coloniais sob o velho eufemismo da “defesa da
modernidade”.
Existem diversos
modelos de regulação da atividade petroleira, foram e são utilizados em
diferentes países, atendendo a vários interesses que disputam no
interior dos estados nacionais, e na geopolítica internacional, a sua
hegemonia ante os demais.
O modelo do monopólio
estatal exercido pela Petrobrás desde sua criação foi um absoluto
sucesso até 1997 (quando, através da lei 9.478/97, foi regulamentada a
quebra do monopólio, aprovada pelo Congresso em 1995). O desenvolvimento
das forças produtivas da indústria, liderado pela Petrobrás, e o
desenvolvimento de tecnologias de ponta, reconhecidas
internacionalmente, na produção de petróleo em águas profundas, além do
domínio das principais tecnologias de refino são provas indeléveis do
sucesso do modelo. Com o monopólio o país descobriu e desenvolveu uma
nova fronteira exploratória em termos mundiais, o petróleo sob águas
profundas. Também implantou todo o parque de refino e petroquímico
responsável pela industrialização nacional.
Em 1995, o governo FHC,
em polêmica medida alvo de julgamento controverso no Supremo Tribunal
Federal quebrou o monopólio constitucional da União exercido pela
Petrobrás. Desde então a Petrobrás passou a disputar ou se associar a
outras companhias nacionais e internacionais para garantir o acesso a
novas reservas de petróleo. Ainda nesse modelo, a Petrobrás investiu e
assumiu o risco de procurar petróleo em nova fronteira exploratória, a
camada do pré-sal. Mais uma vez teve sucesso e liderou a indústria
internacional no desenvolvimento de campos nunca alcançados. O sucesso
no pré-sal deve ser entendido como o sucesso do desenvolvimento
tecnológico obtido durante os 42 anos do monopólio estatal sem o qual
não haveria sido possível edificar o conhecimento hoje a serviço da
companhia.
Com tamanha descoberta
responsável pelo aumento ainda não plenamente quantificado mas estimado
em mais de 5 vezes da reserva nacional de petróleo, e conhecido o seu
baixo risco exploratório, o governo Lula decidiu reavaliar o marco
regulatório da exploração petrolífera.
Foi adotado para o
pré-sal o regime de partilha no qual a União possui maior participação
na propriedade do petróleo produzido. Foi garantida participação mínima
de 30% e a operação única para a Petrobrás, principal responsável pela
descoberta da riqueza em disputa. Sem dúvida um avanço em relação ao
regime anterior, o das concessões, mas ainda aquém do bem sucedido
monopólio exercido durante 42 anos pela Petrobrás. O juízo de valor, na
comparação entre os diferentes modelos, expresso nesse artigo diz
respeito ao interesse popular, da maioria da população, dos chamados 99%
em contradição com o dos 1% que no Brasil e no mundo concentram cada
vez mais poder econômico e político.
A sabedoria dos
portugueses é realmente exemplar e suficiente para nos dispor de muitos
ditados entre os quais pode-se escolher aqueles de nosso interesse
particular e apresentar ao conjunto da sociedade como de interesse
geral. Foi isso o que fez, de forma consciente ou não, o senhor Sacha
Calmon e não cabe aos portugueses nenhuma responsabilidade. Escolho o
ditado “Não confunda alhos com bugalhos” mas aqui apresento os
argumentos que sustentam o interesse da maioria dos brasileiros e não
escondo que são contraditórios ao interesse de uma minoria que sempre se
compôs com a exploração de nossas riquezas, em benefício do império e
dos centros do capitalismo, desde a colônia à república.
Não conheço nenhuma
criança que confunda o céu e o mar. Da mesma forma que não vejo sentido
na identificação “disfuncional” ao regime de partilha que é utilizado
amplamente em diversos países do mundo. A descoberta do pré-sal não pode
ser creditada a terceiros pois foi feita pela Petrobrás, com tecnologia
e recursos próprios e assumindo todos os riscos da empreitada em
fronteira antes inexplorada mundialmente. Com a descoberta do pré-sal,
pela Petrobrás, estima-se que as reservas brasileiras se multiplicaram
por cinco. Para garantir o atendimento ao nosso mercado não são
necessários novos leilões em benefício de empresas multinacionais.
Em qualquer corporação
de natureza privada, os acionistas têm apenas dois objetivos, obtenção
de dividendos ou crescimento refletido no valor patrimonial das ações. A
Petrobrás é uma empresa estatal e tem outros objetivos, de caráter
social, como a garantia de abastecimento do mercado nacional, o controle
de preços evitando volatilidade internacional no mercado interno, e o
desenvolvimento de fornecedores, de tecnologia e do emprego qualificado
no Brasil. O colunista do Estado de Minas lista defeitos na gestão em
prol do interesse dos acionistas, não necessariamente no atendimento ao
interesse social, da maioria dos brasileiros, do qual também existiram
falhas nos governos Lula-Dilma. Entre as graves falhas, a fragilidade da
Petrobrás na relação com fornecedores de bens e serviços, empresários
cartelizados que fraudaram a Petrobrás como tem sido revelado pela
Operação Lava Jato.
A estratégia e o
planejamento energético de um país soberano devem ter como objetivo
primordial o atendimento as necessidades nacionais. O número de poços
perfurados por ano não é um bom indicador da qualidade do planejamento
energético. A relação entre a reserva e a produção é um indicador muito
mais adequado e neste aspecto o Brasil avançou muito com a descoberta,
pela Petrobrás, do pré-sal. A alta produtividade dos poços do pré-sal,
operados pela Petrobrás, demonstram que o domínio tecnológico alcançado
pelo Brasil permite que com menor número de poços, e de investimentos,
se possa produzir mais em termos proporcionais. Neste aspecto, o melhor
indicador seria produção por poço e não número de poços perfurados por
ano.
A Petrobrás, em seu
mais recente planejamento estratégico e de negócios, priorizou os
investimentos na Produção em comparação com os investimentos relativos
em Exploração (procura de petróleo), ao Abastecimento (refino) e outros.
A decisão visa atender um ambicioso programa de investimento com o
objetivo de acelerar a curva de produção e a geração de excedente para
exportação até 2020. A decisão é questionável mas não sob os aspectos do
interesse das multinacionais prestadoras de serviços instaladas no
Brasil. É necessário revisar o plano no sentido de atender o interesse e
as necessidades da maioria dos brasileiros no curto, médio e longo
prazos. O que atualmente caracteriza os preços do petróleo no mercado
internacional é sua oscilação e não os seus preços altos ou baixos. O
custo de produção tem aumentado enquanto a capacidade da economia
mundial em arcar com eles não é ilimitada, este é o fato novo, a questão
do nosso tempo.
Todos os gestores
responsáveis por atos lesivos à Petrobrás, em benefício de empresários
corruptores, organizados em cartel, para obter contratos super
lucrativos, devem responder à lei. Que sejam julgados e, se comprovados
os delitos, punidos os corruptos e corruptores. Que os recursos
desviados sejam ressarcidos à Petrobrás. O oportunismo de reclamar por
novos leilões ou pela mudança do regime de exploração do pré-sal não se
justifica, é confundir alhos com bugalhos.
A Petrobrás é a maior
produtora mundial de petróleo entre as companhias com ações negociadas
em bolsa de valores, tendo recentemente ultrapassado a ExxonMobil. O
endividamento da companhia corresponde ao maior potencial exploratório
descoberto no mundo recentemente. A aceleração acentuada da curva de
produção, com o objetivo de exportação, deve ser questionada mas as
perspectivas da Petrobrás são melhores do que todas as demais companhias
de capital aberto. O endividamento e o desinvestimento são a realidade
da indústria internacional do petróleo, a Petrobrás reúne melhores
condições graças a qualidade do seu corpo técnico e ao potencial natural
brasileiro. Patrimonialismo é subjugar a Petrobrás ao interesse de
curto prazo de alguns acionistas, empresários cartelizados,
multinacionais do petróleo ou ao sistema financeiro. Defender a
Petrobrás e coloca-la a serviço da maioria dos brasileiros. Corruptos,
corruptores e entreguistas não passarão!
[1] http://www.em.com.br/app/noticia/politica/2015/01/18/interna_politica,609169/quem-tudo-quer-tudo-perde.shtml
[2] A criação da Petrobras nas páginas dos jornais O Estado de S. Paulo e Diário de Notícias, dissertação de Celso Carvalho Jr http://memoria.petrobras.com.br/artigos-e-publicacoes/a-criaao-da-petrobras-nas-paginas-dos-jornais#.VMZkCmA5BlY
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