quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

POLÍTICA - Estadão, Cunha e a ética.

27 de janeiro de 2015 - 15h25

Estadão, Cunha e a ética 

Como todos sabem, o jornal O Estado de S. Paulo defende a ética. Foi em defesa da ética que apoiou a ditadura militar e a censura (veja no Notas Vermelhas de 19/1).


   
É em defesa da ética que na edição de 27/1 ele dedica mais uma vez seus editoriais a (adivinhem?) esculhambar o PT. Mas isso já faz parte da rotina. O que vale destacar é a coerência da ética conforme a visão do Estadão, que para presidente da Câmara apoia Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o probo. A serviço desta estratégia o Estadão e a mídia hegemônica tentam fortalecer os dissidentes tucanos que defendem Cunha apesar do PSDB formalmente apoiar Júlio Delgado (PSB). Hoje a página A4 do jornal traz a matéria “Para derrotar PT, tucanos admitem abandonar ‘terceira via’ na Câmara”, e traz depoimentos de tucanos simpáticos ao probo. Não é uma matéria é uma orientação. Estadão, PSDB, Eduardo Cunha... Haja ética!

Valor Econômico, Cunha e o humanismo

O jornal Valor Econômico também está com Eduardo Cunha, o probo, mas apesar de buscar ser discreto, releva-se nos detalhes. Por exemplo, o destaque da página A5 de 27/1 é a disputa pela Câmara com a estratégia da mídia hegemônica escancarada na manchete: “Cunha avança sobre PSDB para polarizar a eleição”. Na parte da matéria em que fala da agenda do candidato Arlindo Chinaglia (PT-SP) o repórter releva que uma das reuniões ocorreu “no restaurante de um hotel luxuoso”. Observem o toque de maldade que reproduz e fortalece os preconceitos mais rasteiros contra a esquerda. Nada no entanto é dito, na matéria sobre a agenda de Cunha, acerca dos locais em que aconteceram as reuniões. Talvez porque o probo deputado do PMDB as tenha feito em cabanas de pau a pique e o jornalista tenha se sentido constrangido em dar tal informação. Ou seja, além de éticos, são humanistas.

GM X PETROBRAS

A forma como a nossa intimorata imprensa nativa trata as multinacionais e uma empresa estratégica para o Brasil como a Petrobras, mostra bem a que interesses ela está subordinada. A General Motors (GM) - que atualmente além de vender carros tem como principal preocupação proceder a suspensão temporária de centenas de contratos de trabalho de seus operários (para depois possivelmente demiti-los) – inaugurou ontem (26), com a presença do governador tucano de SP Geraldo Alckmin, um armazém de peças.
Já a Petrobras anunciou, no
 mesmo dia, que bateu pelo sexto ano consecutivo o recorde em refino de petróleo, chegando ao índice de 2,1 milhão de barris refinados diariamente, como noticiou o Vermelho. Vejam como o jornal Valor Econômico de 27/1 abordou os dois fatos.





Impopularidade

Esta foto foi publicada no jornal O Estado de S. Paulo, de 27/1, e tem uma longa legenda; “Impopularidade. Manifestantes usando máscaras simulando vasos sanitários protestam contra Maduro em Caracas.” Observem que a foto foi tirada em um ângulo que não permite quantificar o número de manifestantes que a oposição reuniu. Mas a impressão é que a legenda da foto tem mais caracteres do que a manifestação tinha de pessoas.


Sem pressão

Agora vejam esta outra foto, publicada pelo jornal Valor Econômico, de 27/1. A manifestação reuniu, segundo a reportagem, 40 pessoas, mas como o alvo do protesto não era o odiado (pela mídia hegemônica) presidente da Venezuela e sim Geraldo Alckmin do amado (pela mídia hegemônica) PSDB, o título da foto ao invés de “impopularidade”, traz “sem pressão” e o Valor ainda ironiza dizendo na matéria que o protesto “teve mais jornalistas, cinegrafista e fotógrafos” do que manifestantes.


A raposa e o galinheiro

O jornal O Estado de S. Paulo de 27/1 publica com destaque que a agência Standard & Poor’s rebaixou a nota da Rússia em “crédito de longo prazo em moeda estrangeira (...) com isso o rating do país passou do grau de investimento para o grau especulativo”. A agência S&P é americana. O governo americano está promovendo sanções econômicas contra a Rússia por este país combater o governo fascista ucraniano apoiado pelos EUA. A agência S&P, que o Estadão e a mídia hegemônica têm em tão alta conta, é a mesma que na manhã do dia 15 de setembro de 2008 dava nota “A” (grau de investimento seguro) para o banco Lehman Brothers, que neste mesmo dia pediu concordata e depois faliu lesando milhares de pessoas. Sorte da Rússia.

O que faltou dizer

Artigo assinado pelo jornalista do The New York Times, David D. Kirk Patrick, e publicado no Jornal O Estado de S. Paulo de 27/1, afirma que a longevidade do regime saudita (uma ditadura servil aos americanos) deve-se ao fato de que é um regime estável em meio à instabilidade na região, e cita como exemplos de instabilidade Iraque, Egito, Síria, Iêmen, Líbia, Bahrein e Tunísia. Faltou ao nobre jornalista dizer por exemplo que o Iraque era estável, até que foi bombardeado e invadido pelos EUA. Líbia era estável, até que foi bombardeada pela OTAN/EUA e invadida por mercenários financiados pela OTAN/EUA. A Síria era estável, até que atos terroristas e milícias formadas por mercenários financiados pela OTAN/EUA tentaram, e não conseguiram, derrubar o presidente do país. Talvez ele tenha esquecido.

Clamor ortodoxo

Neste oceano de mentiras em que navega a mídia hegemônica, de vez em quando você se depara com uma gota d’água de reflexões lúcidas e independentes. O jornal Valor Econômico de 27/1, publica artigo dos professores Pedro Paulo e Carlos Bastos, intitulado: “O tripé e o retrocesso”. Para os autores, o governo não deveria atender “ao clamor ortodoxo e apostar na austeridade (...) precisamos de alternativas ao tripé do retrocesso, com a ampliação de investimentos públicos articulados a um plano sistemático de recuperação dos investimentos privados”. O tripé do retrocesso, segundo eles, é a combinação de “metas de inflação – superávit primário – apreciação cambial”.

A democracia burguesa e seus limites

Sempre que o povo consegue ter mais força e avançar ou dar mostras de que pode avançar, a democracia burguesa começa a deixar nítidos seus limites. Na Grécia o povo optou por uma nova política econômica e por novos rumos em termos de soberania nacional. Os jornalões brasileiros no entanto registram a reação: “na nossa opinião, é importante que o novo governo adote medidas que permitam a continuação da recuperação econômica” (Steffen Seibert, governo da Alemanha), “acreditamos que a Grécia aceitou termos que não foram descartados depois das eleições” (Angela Merkel, chefe de governo da Alemanha). As “autoridades” são unânimes em afirmar que a “continuidade das reformas” é inegociável. O jornal Valor Econômico de 27/1 diz que esta “resposta resoluta” pode evitar o fortalecimento de outros movimentos populistas e esquerdistas na Europa. Ou seja, para a burguesia pode ter eleições desde que nada mude, senão lá vem os adjetivos: populista é só um deles.

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