Cardenas, o primeiro nacionalista do petróleo, por Motta Araújo

LAZARO CARDENAS, O PRIMEIRO NACIONALISTA DO PETROLEO - Lazaro Cardenas del Rio, Presidente do México de 1934 a 1938, foi o primeiro estadista mundial a nacionalizar as empresas estrangeiras de petróleo em seu país, quando isso era algo impensável. O México em 1938 era um dos principais produtores mundiais, o Oriente Médio ainda não tinha ampliado seu potencial de produção, a Rússia era fechada e o grande produtor e exportador eram os EUA.
É claro que excluímos desse pioneirismo a União Soviética que expropriou todas as empresas de todos os setores, um processo revolucionário violento e no meio de uma Guerra Mundial. Cardenas nacionalizou pacificamente.
As empresas estrangeiras eram duas, a Standard Oil e a Mexican Eagle, que era controlada pela Royal Dutch Sell.
A Mexican Eagle era uma das maiores produtoras mundiais, era maior que a Anglo Persian, a produtora da Pérsia e maior que a própria Shell em valor de mercado. Era controlada por Weetman Pearson, Visconde Cowdray, membro da Câmara dos Lords, cuja família é até hoje dona da grande editora Pearson, que publica o Financial Times e a revista The Economist. Em 1919 Lord Pearson vendeu a Mexican Eagle para a Royal Dutch Shell por 75 milhões de dólares, uma fábula naquela época, o corretor foi Calouste Gulbenkian, o homem que descobriu o petróleo do Iraque.
Lazaro Cardenas era de uma família pobre do Estado de Michoacan, o mais velho de 8 irmãos, o pai morreu quando ele tinha 16 anos e foi ele que desde então sustentou a família. Saiu da escola com 11 anos mas a vida inteira se interessou por cultura, lia muito, especialmente livros de História. Com a Revolução Mexicana se juntou ao político Plutarco Calles, que chegou à Presidente e fez de Cardenas Governador de Michoacan em 1928, desse posto Cardenas chegou a Presidente em 1934. Tinha especial interesse em educação, melhorou muito o sistema de escolas, também criou o PRI, Partido Revolucionário institucional a partir do PNR. Na Guerra Civil Espanhola ficou fortemente do lado da República e recebeu milhares de refugiados, grandes intelectuais, médicos, professores, engenheiros, que enriqueceram todas as profissões mexicanas. Por sua influência o México jamais reconheceu o regime franquista e continuou a ter relações diplomáticas formais com o Governo da República Espanhola no exílio, cuja sede era na Cidade do México, até a morte de Franco em 1974. Também deu asilo a Trotsky, que acabou assassinado no México.
Cardenas saiu da Presidência em 1938 mas até sua morte em 1970 foi o condestável do PRI e da política mexicana.
A nacionalização do petróleo não foi pacífica, a Inglaterra rompeu relações com o México, a saída de grande número de técnicos estrangeiros fez baixar a produção até 1941, esta foi retomada pela entrada dos EUA na Guerra, os americanos mesmo protestando contra a nacionalização da Esso passaram a ajudar o México a produzir mais mandando equipamentos e técnicos porque precisavam de petróleo para o esforço bélico.
A Lei de Nacionalização estipulou que o Estado indenizaria as companhias mas essas não queriam isso e sim manter o controle do petróleo mexicano. No mesmo ano da nacionalização Cardenas criou a PEMEX, a primeira estatal de petróleo do mundo.
Cardenas teve uma qualidade única entre os Presidentes mexicanos, saiu pobre da Presidência, todos os demais saíram bilionários e foram morar no exterior depois de deixar o cargo. Cardenas quando assumiu em 1934 cortou seu salário pela metade e não andava com segurança, dizia que o povo o protegia, isso em um País de política violenta.
Cardenas teve no México a importância que Vargas teve no Brasil, um nome até hoje reverenciado, deixou seu filho como herdeiro político, candidato a Presidência duas vezes contra o PRI, partido que seu pai criou.
O modelo da PEMEX foi depois seguido no mundo inteiro, Cardenas foi o pioneiro numa época em que as potências imperais não toleravam tais atos. Uma curiosidade, a Mexican Eagle nos anos 30, antes da nacionalização, era a principal fornecedora de gasolina e lubrificantes ao Brasil, aqui distribuídos nos postos Shell.