De acordo com a BBC, que investiga a desaceleração econômica chinesa para uma série de matérias especiais, os números são impresssionantes: estão em construção centenas de edifícios residenciais, anéis viários, pontes, ferrovias, um sistema de metrô e um aeroporto internacional. O centro da cidade está sendo demolido para dar lugar a um centro comercial, incluindo um arranha-céu de mais de 600 metros de altura que custará R$ 11,9 bilhões.
Para os especialistas consultados da BBC, Wuhan é somente um pano de fundo, que evidencia as três décadas de modernização e enriquecimento do país. A realidade é que o milagre chinês, para eles, está perto do fim, o que traz sérios riscos para os mercados mundiais.
A contabilidade da evolução da China arrasta consigo números que
muita gente desconhece: nos últimos anos, um novo arranha-céu foi
construído a cada cinco dias, mais de 30 aeroportos, sistemas de metrô
foram projetados em 25 cidades, as três pontes mais extensas do mundo
foram finalizadas. Isso sem contar os mais de 9,6 mil quilômetros de
rodovias de alta velocidade, além de empreendimentos imobiliários
comerciais e residenciais em larga escala.
Para a BBC, trata-se, de uma modernização necessária em um país que
se urbaniza rapidamente. Mas é também um sintoma de uma economia
desequilibrada, cujas recentes fontes de crescimento não são
sustentáveis. Associada às recentes tensões nos mercados financeiros, a
desaceleração econômica chinesa pode ser vista como uma terceira onda da
crise iniciada em 2007 e 2008 (a primeira foi a crise em Wall Street e
na City de Londres; a segunda, a da zona do euro).
O colapso do Lehman Brothers em 2008 foi catastrófico para a China, que crescia na mesma proporção em que o Ocidente dependia de suas exportações. Quando estas pararam de encomendar, a indústria do país parou junto. E no entanto, continuou seus planos de crescimento praticamente intactos e muitos migrantes chineses pobres foram forçados a voltar para suas aldeias. Era a população abrindo mão de direitos democráticos em troca da prosperidade econômica.
O colapso do Lehman Brothers em 2008 foi catastrófico para a China, que crescia na mesma proporção em que o Ocidente dependia de suas exportações. Quando estas pararam de encomendar, a indústria do país parou junto. E no entanto, continuou seus planos de crescimento praticamente intactos e muitos migrantes chineses pobres foram forçados a voltar para suas aldeias. Era a população abrindo mão de direitos democráticos em troca da prosperidade econômica.
O governo chinês respondeu com um pacote de estímulo de dimensões gigantescas - o equivalente a R$ 1,5 trilhão de gastos estatais diretos - e instruiu que bancos "abrissem a carteira" e emprestassem dinheiro como se não houvesse amanhã.
A estratégia funcionou, a seu modo. Enquanto muitas das economias
ocidentais e o Japão estagnaram, a China viveu anos de grande expansão,
retomando o crescimento na casa dos 10% anuais. Mas as fontes de
crescimento eram limitadas e, desde então, mudaram.
Analistas ligados a agências de rating afirmam que a maioria das
pessoas sabem que houve uma grande expansão de crédito na China, mas não
conhecem sua dimensão. Segundo eles, no começo de 2008, o setor
bancário chinês tinha um tamanho em torno de US$ 10 trilhões. Agora, tem
entre US$ 24 e 25 trilhões. Esse aumento é equivalente ao total do
setor bancário comercial americano, que levou mais de um século para ser
constituído.
Mas é exatamente aí que os perigos surgem, segundo a agência de
notícias britânica. Quando o crescimento é gerado por um grande período
de investimento lastreado em dívida, há dois desdobramentos possíveis:
se essa grande expansão é encerrada cedo o bastante e de modo controlado
e a economia é retomada de maneira sustentável, ocorre uma retração
econômica, mas desta forma evita-se um desastre. No entanto, se a
concessão de crédito passa dos limites, uma crise se torna inevitável.
"Será o desfecho do milagre econômico chinês?", pergunta a reportagem.
O governo anunciou reformas que, em tese, podem reequilibrar a
economia nos próximos anos ao trocar o investimento baseado em crédito
por outro baseado no consumo.
Mas as reformas estão em estágio inicial, e a concessão de crédito
continua. E mais: a atual explosão de investimentos nos setores
imobiliário e de infraestrutura tem gerado tantos lucros a milhares de
autoridades do Partido Comunista que há dúvidas quanto à habilidade do
governo central em implementar mudanças.
Além disso, existem as consequências sociais: um crescimento
econômico mais lento pode não ser suficiente para satisfazer a ânsia dos
chineses por mais empregos e um padrão de vida melhor, algo que pode
desencadear protestos populares.Mas e se a bonança de crédito não for
contida? Poderíamos estar diante de uma crise que chacoalharia não
apenas a China, mas o mundo inteiro.
O recente crescimento chinês deu forma ao mundo como o conhecemos
hoje: propiciou aos ocidentais a compra de produtos baratos e, para
países exportadores (como o Brasil), a venda de commodities. O outro
lado é que os preços mundiais dos alimentos e da energia subiram e a
influência chinesa no resto do mundo mudou o equilíbrio de poder global.
Uma China enfraquecida traria benefícios ao Ocidente? Talvez não
fosse algo ruim. Mas uma China repentinamente incapaz de prover o
crescente padrão de vida esperado por seu povo seria um país mais
instável - e também mais perigoso, finalizam.
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