Ex-presidente
dedica máximo empenho para proteger regime constitucional do país
vizinho; nota de apoio expedida pelo Mercosul ao governo de Nicolás
Maduro foi articulada por Lula; nesta segunda-feira 24, na qualidade de
maior liderança da esquerda latino-americana, ele desembarca em Havana
para conversas com Raúl e, claro, Fidel Castro; Cuba seria o país mais
afetado pela queda do regime chavista que, conforme despacho da agência
Reuters, vai perdendo o controle sobre grupos paramilitares que apoiam o
governo; quatro mortes, centenas de prisões e caos em Caracas e no
interior do país levantam dúvidas sobre sustentação de Maduro; Barack
Obama, que teve diplomatas expulsos, dispara palpites de Washington;
Lula pode salvar a herança de Hugo Chávez?
247
– O ex-presidente Lula está envolvido de corpo e alma, como é do seu
estilo, na talvez mais difícil missão diplomática que já se impôs. Ele
quer salvar o regime constitucional da Venezuela, chavista e à esquerda
no quadro político global, especialmente na América do Sul. Lula foi o
principal articulador da nota do Mercosul em apoio ao governo do
presidente Nicolás Maduro, numa decisão discutida com o presidente do
Uruguai, José Pepe Mujica, no Palácio Presidencial, em Motevideo, na
segunda-feira 17.
Como
noticiou 247, eles trataram de organizar a resistência da esquerda ao
que consideram ser um possível rompimento constitucional a partir de
numerosas manifestações de rua em todo o país. Temem que o
recrudescimento da violência civil desperte apetites golpistas, como
sempre acontece na dividida Venezuela.
Nesta
segunda-feira 24, dando seguimento a seu roteiro de chefe da esquerda
latino-americano e seu principal líder político, Lula aos Castro, Raúl e
Fidel, em Cuba, avaliar todos os ricos para o regime socialista no caso
de fim abrupto do chavismo. Qual seria a reação americana à ilha de
Fidel? Alguma chance de crescimento repentino da oposição interna? Como
compensar o governo de Raúl pela perda anunciada de milhões de barris de
petróleo nas relações comerciais? E, por último mas não menos
importante, o que a sabedoria dos Castro prevê como efeito para o Brasil
em meio à crise do regime bolivariano.
A
situação de Nicolás Maduro vai sendo duramente fustigada não apenas
pela oposição, com seus comícios e manifestações de rua, mas também pela
ação de grupos paramilitares que se dizem fiéis ao governo e ao
chavismo. Em despacho de Caracas, Agência Reuters anota que presidente
estaria perdendo o controle sobre a ação desses grupos de mascarados
violentos. Foi com um tiro disparado de uma motocicleta, como é
característica dessas falanges. Numa manifestação, a miss Turismo
Genêsis Camona, de 22 anos, foi morta com um tiro disparado por um homem
em uma motocicleta.
O
governo prendeu o chefe dos manifestantes, Leopoldo Lopez. A Fiscalía,
equivalente ao Ministério Público brasileiro, pode pedir a prisão dele
pelo crime de organização da delinquência, o que poderia render pena de
10 anos de prisão.
Dos
Estados Unidos, o presidente Barack Obama manda recados. Ele disse que o
governo Maduro "não está sabendo ouvir o povo da Venezuela", depois de
três diplomatas expulsos do país sob acusação de conspiração.
A
partir do encontro com Mujica, Lula fez chegar ao Mercosul o desejo de
que uma nota de solidariedade ao "governo constitucional" da Venezuela
fosse divulgada pelos países membros. O intento foi conseguido, mas a
frustração de Lula, até aqui, é com a tímida, praticamente inexistente,
reação oficial do governo brasileiros aos acontecimentos. Não se deu a
conhecer nenhuma palavra do chanceler ou uma nota do Palácio do
Itamaraty, quanto mais do Palácio do Planalto ou da presidente Dilma
Rousseff. Uma tuitada.
Não
é a primeira vez que os Castro assistem a uma crise política na
Venezuela. Eles são craques em avaliar possibilidades e efeitos, com
informações frescas de dentro do regime, a partir do diálogo com o
próprio Maduro. Com Hugo Chávez, porém, havia mais estabilidade, ainda
que os tempos de seus governos tenha sido turbulentos.
O
sucesso Maduro assumiu o governo em meio a denúncias de que teria
perdido a eleição para Capriles, mas até mesmo pela solidariedade de
país do subcontinente, tomou posse - e passou a fazer das suas. O
ex-caminhoneiro que tem visões de Hugo Chávez semana sim semana não,
acelerou nas trombadas que o antigo presidente gostava de dar com a
mídia do país, considerada golpista pelo regime. Quinze dias atrás,
Maduro, na prática, interrompeu o fornecimento de papel jornal, com
brutal elevação de tarifas de importação. A provocação desaguou numa
série de manifestações estudantis, reprimidas com violência pelas forças
de segurança. Nesse meio, grupo paramilitares voltaram a se organizar,
promovendo arruaças em suposta defesa do governo.
Entre
o fogo dos paramilitares encapuzados e as multidões de oposicionistas
que estão nas ruas, Nicolás Maduro não tem para onde correr neste
momento. Se perder o controle do exército, ele precisará de muita
solidariedade internacional para se manter no poder sem a convocação de
eleições ou concessões do tipo uma assembleia nacional constituinte. O
momento, no entanto, é tão conturbado, que nenhum diálogo é possível
agora.
Será que Lula pode salvar a Venezuela do caos e evitar um efeito dominó sobre a esquerda da América Latina?
Nenhum comentário:
Postar um comentário