quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

ORIENTE MÉDIO - O "Mandela Palestino"

Preso há 12 anos, 'Mandela palestino' é potencial sucessor de Mahmoud Abbas

Marwan Barghouti também é visto como alguém que poderia unir os palestinos e avançar as negociações de paz com Israel

O líder do Fatah Marwan Barghouti, de 54 anos, foi preso pelo Exército israelense em 2002 e condenado a cinco prisões perpétuas. Apesar de estar há 12 anos distante dos olhos do público, sua popularidade só aumenta e ele é visto como um possível sucessor do presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Na cadeia, Marwan Barghouti passa tempo com leituras e dando aulas a outros presos
Nas conversas com integrantes da campanha pela libertação de Barghouti, frequentemente surgem comparações entre ele e Nelson Mandela. Ambos já eram líderes antes de serem presos e sua liderança se consolidou durante o período em que estiveram na cadeia.

"É óbvio que cada um tem sua história, mas as condições, os desafios e as aspirações de Marwan e de Mandela têm muitas semelhanças", disse Qaddura Fares, presidente da Associação dos Prisioneiros Palestinos, a Opera Mundi.

Guila Flint/Opera Mundi

Imagem de Barghouti e a mulher do líder palestino, Fadwa

"Mandela saiu vitorioso e, infelizmente, já morreu. No caso de Marwan, o povo palestino ainda está sob a ocupação israelense e não conquistou sua liberdade, e ele ainda está vivo", disse. "Espero que algum dia também possamos ver semelhanças nas realizações.”

Para Fares, a libertação de Barghouti poderá contribuir tanto para a unificação das diversas facções palestinas como para um acordo de paz com Israel.

"Domínio do fato"
Barghouti foi acusado de responsabilidade por ataques que mataram quatro israelenses e um padre grego no início da segunda Intifada (levante palestino iniciado em setembro de 2000).

Por ser, naquela época, secretário-geral do Fatah, lhe foi atribuído o "domínio do fato".

De acordo com o advogado de Barghouti, Elias Sabbagh, "a prisão e o julgamento de Marwan foram políticos. Ele é membro do Parlamento palestino desde 1996 (foi reeleito, em 2006, mesmo estando na cadeia), um líder carismático e de grande influência, e que ainda apoia a solução de dois Estados".

Durante todo o seu julgamento, que terminou em 2004, Barghouti recusou-se a depor perante os juízes, manteve a posição de que se tratava de um julgamento politico e negou-se a nomear um advogado para defendê-lo.

"Ele não falava com o juízes, só deu declarações à imprensa", disse o advogado, "sempre dizendo que é um líder politico e não reconhece a legitimidade do julgamento".

Favorito nas pesquisas
A última pesquisa de opinião, realizada pelo Instituto Halil Shkaki, indica que Barghouti é o favorito para a presidência palestina, mais popular do que o líder do Hamas, Ismail Hanyia, e ultrapassando o próprio presidente Mahmoud Abbas.

De acordo com o levantamento, caso os três fossem candidatos, Barghouti receberia 40% dos votos, Hanyia ficaria com 31% e Abbas com 26%.


Se tivessem que escolher entre o presidente Abbas e o líder do Hamas, 52% dos palestinos votariam em Abbas e 42% em Hanyia. Mas se o confronto fosse entre Barghouti e Hanyia, o “Mandela palestino” venceria com 61% dos votos, contra 34%.
As pesquisas demonstram claramente que o Fatah sairia fortalecido frente ao Hamas se fosse chefiado por Marwan Barghouti.

Articulação de dentro da prisão
De dentro da prisão de Hadarim, ao norte de Tel Aviv, Barghouti continua sendo uma figura-chave na articulação palestina.

Em 2006 ele formulou o Documento de Reconciliação Nacional, que estabeleceu as bases para a reunificação dos palestinos, hoje divididos entre o Fatah, na Cisjordânia e o Hamas, na Faixa de Gaza.

Barghouti conseguiu o apoio dos líderes das outras facções na prisão e, ao final, o documento foi assinado por todos os grupos políticos importantes: Hamas, Jihad Islâmico, Frente Popular e Frente Democrática, além do Fatah.

Até hoje o Documento de Reconciliação de autoria de Barghouti é considerado a base para qualquer acordo entre as facções e inclui um reconhecimento implícito da solução de dois Estados, já que confere à Autoridade Palestina a legitimidade para negociar com Israel sobre a fundação do Estado Palestino nas fronteiras anteriores à guerra de 1967.

Líderes israelenses apoiam libertação
"Israel deve libertar Marwan Barghouti", disse o ex-ministro israelense Haim Oron a Opera Mundi.

Divulgação Oron, um dos líderes do partido social-democrata Meretz, conhece Barghouti há cerca de 20 anos e já o visitou diversas vezes na prisão de Hadarim.
[Oron é um dos israelenses que defendem a libertação de Barghouti]
"Se Israel quer fortalecer as forças palestinas moderadas, deve soltá-lo o quanto antes. Marwan tem uma posição coerente e firme na luta pela libertação nacional dos palestinos e ao mesmo tempo no apoio à solução de dois Estados", afirmou Oron.

"Ele lidera as pesquisas de opinião, sempre lutou contra a corrupção na Autoridade Palestina e tem a força politica para reunificar os palestinos e conduzir as negociações com Israel", acrescentou.

Sobre a comparação entre Barghouti e Mandela, o comentário de Oron foi bem direto: "O problema não é se Marwan é o Mandela palestino, mas sim que nós, os israelenses, não temos um (Frederik Willem) De Klerk", disse, em referência ao presidente sul-africano que libertou Nelson Mandela e pôs um fim ao regime de apartheid.

Vários políticos e militares em Israel apoiam a libertação de Barghouti, inclusive Binyamin Ben Eliezer, do Partido Trabalhista, que foi o ministro da Defesa que, em 2002, ordenou a prisão do chefe palestino.

Ben Eliezer já afirmou várias vezes que "Barghouti será o próximo líder dos palestinos, devemos dialogar com ele, ele é respeitado pelo Hamas e pode contribuir para o avanço das negociações de paz".

Promessa de Abbas
A esposa de Barghouti, Fadwa, advogada de 49 anos, lidera a campanha internacional pela libertação de seu marido.

Em conversa com Opera Mundi ela demonstrou otimismo. "Os principais líderes palestinos me prometeram que, depois da libertação dos prisioneiros do período pré-Oslo, irão exigir a soltura dos 11 membros do Parlamento que estão nas cadeias israelenses, incluindo Marwan", disse.

Como parte das negociações atuais, mediadas pelo secretário de Estado norte-americano ,John Kerry, Israel concordou em libertar 104 prisioneiros palestinos veteranos, que foram detidos e julgados antes da assinatura do acordo de Oslo (1993).

Esses prisioneiros haviam sido condenados a penas longas, muitos deles à prisão perpétua, por acusações de assassinato de israelenses.

Entre eles, 72 já foram libertados e o último grupo, de 32 prisioneiros, deverá ser solto nos próximos meses. "A libertação de Marwan deve ser colocada como condição e não como resultado das negociações", disse Fadwa Barghouti.

"Acredito que Marwan será libertado em breve e é essa esperança que me dá força para correr de país a país fazendo campanha por sua libertação", afirmou.

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