Da Folha
A presença do advogado deu ao caso uma extensão política duvidosa na origem e polêmica nos seus efeitos
Janio de Freitas
A presença do advogado Jonas Tadeu
alterou os ingredientes resultantes na morte de Santiago Andrade,
acrescentando-lhes uma extensão política e ideológica duvidosa na origem
e polêmica nos efeitos. É preciso dizer certas coisas desagradáveis,
mas necessárias ao entendimento da extensão.
Entre a causa dos dois acusados e o
advogado Jonas Tadeu há um problema sério, que extravasou sem, no
entanto, tornar-se publicamente claro. Quando se incumbiu da defesa de
Natalino Guimarães, acusado de chefiar poderosa milícia no distante
subúrbio carioca de Campo Grande (não na Baixada Fluminense, como antes
escrevi), Jonas Tadeu o fez na chamada CPI das Milícias, da Assembleia
Legislativa do RJ. Foi um raríssimo momento de ação aplaudida da
Assembleia, por levar a resultados uma das suas muitas CPIs contra o
crime.
Foi difícil. Além do tema e suas
ameaças implícitas, interesses presentes no plenário e na própria
comissão produziram toda a resistência possível. A respeito de Natalino
Guimarães, os duros confrontos se deram sobretudo entre o presidente da
CPI, deputado Marcelo Freixo, e o advogado Jonas Tadeu. Mas a CPI levou à
prisão e condenação do temido Natalino. Uma derrota inesperada e penosa
para sua exasperada defesa.
O PSOL deu importante contribuição
para o resultado da CPI. E, nele, destacou-se em especial o seu deputado
Marcelo Freixo, que a partir daí ganhou novo nível de projeção nos
chamados movimentos populares, até com alguma presença nos meios de
comunicação.
Até o incidente com Santiago Andrade, o
PSOL e Marcelo Freixo não pouparam variadas evidências de ligação com
os protestos degenerados em quebradeiras e confrontos com a PM. O
advogado Jonas Tadeu, portanto, podia saber com antecedência a quem, em
pessoa ou como partido, iria encontrar do outro lado, ao defender os
agressores de Santiago. Talvez já fosse o caso de Jonas Tadeu "arguir
suspeição", providência ética frequente em juízes e advogados. Não quis.
Nem por isso assumiu a causa
ilegitimamente. Viu que parte da imprensa não perdeu tempo em buscar ou
insinuar conexão do PSOL e do PSTU com a autoria do incidente. E o que
não fez com o primeiro dos presos, fez prontamente com o segundo:
atribuiu-lhe recebimento de dinheiro para ir aos atos violentos. Ou, era
o que saltava da frase, a existência de patrocinadores das violências.
Por quem? A suspeição já estava pronta
antes de Jonas Tadeu falar em dinheiro. Bastavam, a mais, um bom tempo
na TV e a insistência: "Vereadores, deputados, diretórios de partidos.
Vereadores, deputados, diretórios de partidos. Ver.....". Quem quis, se
serviu, embora por motivos seus.
O advogado Jonas Tadeu pode ter agido
com as mais isentas intenções. Mas a maneira como o fez associa-se à sua
conhecida hostilidade com o PSOL e com Marcelo Freixo e seu grupo, e
facilita outras hipóteses.
À margem do sucedido a Santiago
Andrade e da situação dos acusados e suas famílias, a extensão
acrescentada ao incidente depressa rendeu frutos políticos e
ideológicos. Mas estão sendo indigestos para a voracidade dos que se
lançaram a eles.
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