Sugerido por José Carlos Lima
Da Rede Brasil Atual
Ex-ministro se diz otimista em relação
à democratização da comunicação, afirma que quem apostar contra a Copa
vai perder e torce para que os debates de projetos deem o norte para as
eleições
São Paulo – “O Brasil se tornou grande
demais para ficar preso no cercadinho do oligopólio da comunicação.” A
opinião é do jornalista Franklin Martins, ex-ministro-chefe da
Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, para quem uma nova
regulamentação da comunicação eletrônica do país – rádio, TV, internet –
é irreversível. Franklin deu destaque ao tema durante entrevista ontem
(3) ao Contraponto – programa mensal de webtv, parceria entre Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé e Sindicato dos Bancários de São Paulo.
O ex-ministro defende que uma nova
legislação para regulamentar o setor é necessária, por representar um
serviço de interesse público. “Toda concessão de serviço público
(distribuição de água, geração de energia, sistema financeiro,
transportes etc.) tem obrigações. Existe regulamentação para isso em
todo o mundo, e com as telecomunicações não é diferente. Acho que em
jornal, revista, o que é impresso, não cabe nenhum tipo de regulação,
cada um escreve o que quiser e responde pelo que escreve – para isso
precisa uma legislação de direito de resposta ágil. No caso da
radiodifusão tratam-se de concessões do Estado. Trata-se de assegurar o
equilíbrio, a pluralidade, tem de respeitar o menor, não pode haver
racismo, preconceito, tem de respeitar a cultura local, não pode haver
propriedade cruzada”, afirmou.
Segundo o jornalista, ainda que uma
legislação a esse respeito demore, algumas mudanças, na prática, já
estão acontecendo. “Estamos assistindo a uma revolução na blogosfera. O
velho modelo de jornalismo, com um núcleo produtor e massa passiva,
acabou. Hoje mal a notícia sai, está sendo discutida, apoiada, vaiada. A
blogosfera é como se fosse o grilo falante do Pinóquio, questionador do
poder absoluto.”
Ele destacou afirmação feita ontem pelo
ministro da Comunicações, Paulo Bernardo, após o ato de substituição de
Helena Chagas por Thomas Traumann na Secretaria de Comunicação Social
(Secom) da Presidência da República. Referindo-se ao gigantismo da
presença de veículos como o Google no meio da informação, do
entretenimento e da publicidade, Bernardo afirmou que o Google está se
tornando “o grande monopólio” da mídia: “A gente vê uma disputa entre
teles e TVs e, provavelmente, se durar muitos anos, o Google vai engolir
os dois”. Antes, havia se declarado favorável à regulação da mídia.
“Sempre falei isso e sempre defendi. Nós precisamos apenas chegar a um
acordo sobre qual vai ser o modelo, qual vai ser a forma de conduzir, se
vamos fazer um projeto único ou se vamos fazer por partes”, declarou a
jornalistas após o evento.
Franklin, que liderou a preparação de um
anteprojeto de marco civil das telecomunicações (a legislação atual é
de 1962) antes de deixar o governo, em 2010, elogiou a fala de Paulo
Bernardo, que vem sendo duramente criticado pelos movimentos de
democratização da mídia exatamente por ter engavetado o projeto. O
ex-ministro ponderou, entretanto, que a necessidade de regulação não é
só para o “monopólio do outro”, mas contra todos os monopólios. “Se
deixar o mercado resolver, prevalece a lei do mais forte. O Brasil se
tornou grande para ficar no cercadinho do oligopólio da comunicação.”
Quem apostar contra perde
O jornalista defendeu o conceito de
“mídia técnica” na condução da política de utilização dos recursos da
publicidade estatal, argumentando que essa visão, implementada durante
sua gestão (2007-2010), contribuiu para a desconcentração de recursos
pagos a grandes veículos. Lembrou que quando entrou no governo havia 400
rádios pelo Brasil com publicidade do governo federal. Quando saiu eram
4 mil. “Com a mídia técnica passou a haver uma correspondência, uma
equidade.”
Afirmou ainda que acredita numa rápida
aprovação do Marco Civil da Internet, por ser resultado de um amplo
processo de negociação entre governo, parlamentares, empresa e
sociedade. Para ele, o mundo todo está olhando para o Brasil por conta
do pioneirismo desse projeto, que tem a finalidade de assegurar a
neutralidade da rede (vetar a venda de pacotes diferenciados por tipo de
conteúdo pelos provedores de internet, assemelhando a rede a uma TV a
cabo), a liberdade de expressão e a privacidade dos usuários. Além
disso, observou, trata-se de um projeto em regime de urgência, ou seja, a
pauta do Congresso não anda se não for votado.
Franklin não quis comentar a saída da
ministra Helena Chagas da Secom nem seu desempenho à frente da
comunicação do governo Dilma. Defendeu tanto a qualidade da ex-ministra
quanto a de seu sucessor, Thomas Traumann, e enfatizou ser obrigação de
qualquer governo se comunicar com a população. “Governo tem de fazer
disputa política de forma permanente. Lula fazia quase quatro
entrevistas por semana. O governo tem de expor sua versão, pois não
existe uma imprensa, mas uma infinidade de imprensas. Governo que não
faz disputa deixa que alguém faça a mediação entre política e sociedade.
O governo da presidenta Dilma, depois das manifestações de junho,
começou a fazer disputa política.”
Para ele, entretanto, tentativas de
setores da imprensa e da oposição de plantar e explorar fatos negativos e
de antecipar o processo sucessório não devem nortear a decisão dos
eleitores em outubro. “O que define o voto é o sentimento das pessoas em
relação à sua situação e os debates de projetos.”
A propósito do risco de eventuais
manifestações ou notícias negativas associadas à realização da Copa do
Mundo se voltarem contra o governo, o ex-ministro foi enfático: “Quem
apostar contra o Brasil vai se dar mal”. Questionado sobre sua conduta
durante as copas de 1970 e 1974, quando estava exilado depois de
participar de organizações de resistência armada à ditadura, então em
seu momento mais crítico, o jornalista afirmou ter torcido pela seleção
brasileira. “Ainda que causasse alguns rachas internos, não dava para
torcer contra o Brasil.”
Participaram desta primeira edição do ano do programa Contraponto Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, Maria Inês Nassif, do portal Carta Maior, Paulo Donizetti de Souza, da Rede Brasil Atual, e Rodrigo Vianna, do Escrevinhador. A mediação foi da presidenta do sindicato, Juvandia Moreira.
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