Manchetômetro: matérias favoráveis a Dilma são ‘praticamente inexistentes’
Do manchetômetro:
(…)
O MANCHETÔMETRO nunca parou de existir como prática de pesquisa. Apenas programamos uma suspensão de duas semanas na atividade de codificação dos dados para que pudéssemos adequar os parâmetros de análise à realidade da cobertura pós eleitoral.
Essa mudança foi trabalhosa, pois dentro da lógica eleitoral de polarização e competição acirrada entre candidatos era mais fácil focar as análises: candidatos e partidos são temas óbvios e principais, a cobertura de escândalos também se torna obrigatória devido à insistência da grande mídia em agendá-los, etc. A eleição também proporciona uma periodização mais fácil e simples. Há o período pré-campanha, o período da campanha até o primeiro turno e a campanha do segundo turno.
Finda a eleição, a lógica da política muda, o conflito aberto é substituído pelos acordos potencialmente cambiantes e por uma guerra quase silenciosa de posições. Mas não muda tanto assim, ou pelo menos não mudou tanto assim no caso da reeleição de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores. Tornou-se lugar comum nas democracias mundo afora o uso da expressão “lua de mel” para denotar o período imediatamente posterior à posse de um novo governante, quando oposição, mídia e sociedade civil organizada baixam a guarda e permitem que o eleito tome suas primeiras decisões e organize seu novo governo.
Dilma, contudo, não foi contemplada nem com o mais leve esboço de uma lua de mel. Pelo contrário, logo após o resultado eleitoral, a oposição, novamente ancorada pela militância dos grandes meios de comunicação, tentou pelo menos duas maneiras de inviabilizar sua posse: pedindo recontagem de votos por alegação de fraude e pressionando o TSE pela rejeição de suas contas de campanha. Não bastasse isso, o escândalo da Petrobrás que já havia servido de combustível para inúmeras denúncias contra Dilma e o PT durante a campanha — destaque para a já histórica capa da Veja às vésperas do segundo turno — tornou-se o assunto mais noticiado desde o término do período eleitoral.
Em suma, ainda que a lógica da política necessariamente mude depois da eleição, a lógica da cobertura midiática da política (e da economia) não necessariamente segue o mesmo caminho. É o que o Manchetômetro vem descobrindo com as análises do cenário pós-eleitoral que começamos a apresentar aqui. O projeto é amplo e ambicioso, por isso decidimos lançá-lo em módulos.
Para começar expandimos o raio de nossas análises: antes nossa base de dados era composta somente dos textos nas capas dos jornais impressos, agora analisamos não somente as capas, mas também as duas páginas de opinião no miolo dos periódicos. Isso nos permitirá não somente capturar o sentido emprestado pelos editores ao instrumento de comunicação mais efetivo do jornal, a capa, mas também ter ideia do posicionamento que o próprio jornal assume explicitamente em seus editoriais, que seus articulistas convidados e colunistas contratados expressam nessas páginas.
As funções retóricas desses elementos da comunicação jornalísticas são distintas. A capa é um resumo de todo o jornal, e mistura opinião e reportagens “factuais”. Ela transmite agendamento e enquadramento de maneira sintética e compacta. Os editoriais são a voz direta do jornal, sem mediações. Já os articulistas são um time de jornalistas e publicistas cativos que cumprem uma função retórica incerta, entre a posição do jornal e a representação do público.
Sua retórica é claramente aquela do jornalismo crítico e independente, mas os critérios para a formação de um time de articulistas estão longe de ser transparentes ou independentes das posições e interesses da editoria do jornal. Já os artigos de opinião de convidados têm a clara função retórica de representar o debate púbico em sua diversidade. Claro que essa diversidade é aquela que a editoria do jornal entende como apropriada ou relevante.
Lançamos três páginas nesse primeiro módulo. A primeira é dedicada à presidenta Dilma Rousseff (http://www.manchetometro.com.br/cobertura-2015/cobertura-2015-dilma-rousseff/). De cara, pela observação rápida dos gráficos nessa página, podemos facilmente compreender o que dissemos logo acima sobre ter sido negada a Dilma uma lua de mel. Matérias favoráveis são praticamente inexistentes.
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O MANCHETÔMETRO nunca parou de existir como prática de pesquisa. Apenas programamos uma suspensão de duas semanas na atividade de codificação dos dados para que pudéssemos adequar os parâmetros de análise à realidade da cobertura pós eleitoral.
Essa mudança foi trabalhosa, pois dentro da lógica eleitoral de polarização e competição acirrada entre candidatos era mais fácil focar as análises: candidatos e partidos são temas óbvios e principais, a cobertura de escândalos também se torna obrigatória devido à insistência da grande mídia em agendá-los, etc. A eleição também proporciona uma periodização mais fácil e simples. Há o período pré-campanha, o período da campanha até o primeiro turno e a campanha do segundo turno.
Finda a eleição, a lógica da política muda, o conflito aberto é substituído pelos acordos potencialmente cambiantes e por uma guerra quase silenciosa de posições. Mas não muda tanto assim, ou pelo menos não mudou tanto assim no caso da reeleição de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores. Tornou-se lugar comum nas democracias mundo afora o uso da expressão “lua de mel” para denotar o período imediatamente posterior à posse de um novo governante, quando oposição, mídia e sociedade civil organizada baixam a guarda e permitem que o eleito tome suas primeiras decisões e organize seu novo governo.
Dilma, contudo, não foi contemplada nem com o mais leve esboço de uma lua de mel. Pelo contrário, logo após o resultado eleitoral, a oposição, novamente ancorada pela militância dos grandes meios de comunicação, tentou pelo menos duas maneiras de inviabilizar sua posse: pedindo recontagem de votos por alegação de fraude e pressionando o TSE pela rejeição de suas contas de campanha. Não bastasse isso, o escândalo da Petrobrás que já havia servido de combustível para inúmeras denúncias contra Dilma e o PT durante a campanha — destaque para a já histórica capa da Veja às vésperas do segundo turno — tornou-se o assunto mais noticiado desde o término do período eleitoral.
Em suma, ainda que a lógica da política necessariamente mude depois da eleição, a lógica da cobertura midiática da política (e da economia) não necessariamente segue o mesmo caminho. É o que o Manchetômetro vem descobrindo com as análises do cenário pós-eleitoral que começamos a apresentar aqui. O projeto é amplo e ambicioso, por isso decidimos lançá-lo em módulos.
Para começar expandimos o raio de nossas análises: antes nossa base de dados era composta somente dos textos nas capas dos jornais impressos, agora analisamos não somente as capas, mas também as duas páginas de opinião no miolo dos periódicos. Isso nos permitirá não somente capturar o sentido emprestado pelos editores ao instrumento de comunicação mais efetivo do jornal, a capa, mas também ter ideia do posicionamento que o próprio jornal assume explicitamente em seus editoriais, que seus articulistas convidados e colunistas contratados expressam nessas páginas.
As funções retóricas desses elementos da comunicação jornalísticas são distintas. A capa é um resumo de todo o jornal, e mistura opinião e reportagens “factuais”. Ela transmite agendamento e enquadramento de maneira sintética e compacta. Os editoriais são a voz direta do jornal, sem mediações. Já os articulistas são um time de jornalistas e publicistas cativos que cumprem uma função retórica incerta, entre a posição do jornal e a representação do público.
Sua retórica é claramente aquela do jornalismo crítico e independente, mas os critérios para a formação de um time de articulistas estão longe de ser transparentes ou independentes das posições e interesses da editoria do jornal. Já os artigos de opinião de convidados têm a clara função retórica de representar o debate púbico em sua diversidade. Claro que essa diversidade é aquela que a editoria do jornal entende como apropriada ou relevante.
Lançamos três páginas nesse primeiro módulo. A primeira é dedicada à presidenta Dilma Rousseff (http://www.manchetometro.com.br/cobertura-2015/cobertura-2015-dilma-rousseff/). De cara, pela observação rápida dos gráficos nessa página, podemos facilmente compreender o que dissemos logo acima sobre ter sido negada a Dilma uma lua de mel. Matérias favoráveis são praticamente inexistentes.
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