terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

BANCOS - Febrabam quer que governo assuma os prejuízos.

É aquela velha "máxima" do capitalismo. "Socializar os prejuízos e privatizar os lucros".
Carlos Dória.

Fundo com 100% de dinheiro público para garantir lucro fabuloso aos bancos privados.

A Febraban propôs ao governo que este assuma os possíveis prejuízos dos bancos privados que concederem empréstimos a empresas.

Antes que o leitor pense que nós ficamos malucos – e, realmente, trata-se de um negócio de doido – vamos ao fato:

O presidente da Febraban, Fábio Barbosa, um funcionário do ABN Amro (que é uma sociedade entre o Banco da Escócia, o Santander e, a partir de 28 de dezembro último, o governo holandês, que nacionalizou o terceiro sócio, a filial do Fortis, um banco belga), propôs na quarta-feira ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, que o governo forme um fundo, através do BNDES, com 100% de recursos públicos, para bancar a inadimplência nos empréstimos concedidos pelos bancos privados.
Em troca, desde que o governo pague pelos inadimplentes, os bancos aumentariam o crédito para as pequenas e médias empresas. Assim, os bancos não teriam prejuízos e poderiam diminuir o “spread” (a diferença entre a taxa que os bancos pagam pelo dinheiro que captam e a taxa que cobram dos seus clientes). Isto porque o “risco”, dizem eles, é um dos componentes do “spread”. Se os bancos não tiverem riscos, então poderiam reduzir o “spread”.

Como pode ser isso? - diria o leitor, e tem razão em estranhar. O banco empresta o dinheiro. Se o cliente pagar, o lucro é seu. Se ele não pagar, o prejuízo é do governo, isto é, da sociedade, do povo, que paga os impostos. Como é que pode?

Porém, segundo o economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, a proposta é ótima para todos, inclusive para o governo e a sociedade, pois, “só vai ter problema se tiver inadimplência” (e nós aqui pensando que o problema dos bancos fosse aquele pessoal chato que paga tudo em dia!). Mas, continua Sardenberg, não cabe dizer que “os bancos querem passar o risco para o governo”. Portanto, conclui-se, na divisão dos riscos, os bancos vão arcar com o terrível risco de lucrar. Não é uma gracinha?

Bem, se é assim, se o spread é alto em função do risco alto, por que os bancos não propõem cobrar zero de spread, se não vão correr risco algum de ter prejuízo? Ora, leitor, porque senão eles não vão lucrar. Eles não querem ter prejuízos. Quanto a não ter lucros, aí, não, que isso fere as leis de mercado...

No entanto, o colossal “spread” em nosso país é uma medida da falta de riscos dos banqueiros e não do excesso de riscos.

Os bancos privados no Brasil não emprestam a quase ninguém. Não correm risco algum, exceto o de sua irresponsabilidade nos cassinos em que se divide o chamado “mercado financeiro”. Mais de 50% do crédito do país está hoje em mãos dos bancos estatais, apesar de sua participação no setor bancário, em depósitos e ativos, não ser proporcional ao que oferecem de crédito.

TÍTULOS

Por que os bancos não emprestam? Porque seus lucros são fabulosos com as taxas que o Banco Central estabelece sobre os títulos públicos. Portanto, os bancos privados não precisam emprestar – que é a sua função mais elementar – para encherem seus cofres. Se podem lucrar sem riscos, com os juros sobre a dívida pública, por que iriam emprestar a empresas ou pessoas? Daí os “spreads” alucinados que os bancos cobram nos empréstimos a empresas e pessoas. Simplesmente, eles não precisam e não querem emprestar porque têm uma cornucópia de lucros sem riscos.

Certamente, a proposta que apresentaram ao governo é outro sinal disso. Aliás, ela já tinha sido recusada, quando apresentada pela primeira vez.

Há muito é sabido que as crises são momentos onde os campos político e ideológico ficam mais nítidos, onde as forças políticas e sociais apresentam-se com seu real perfil, e as personalidades revelam seu verdadeiro caráter. Resta acrescentar que é o momento em que a pouca vergonha – para quem normalmente já não a tem em quantidade suficiente – aparece em todo o seu esplendor, porque a crise é também o momento em que aparecem os manipuladores da crise, até quando ainda não há crise.

Assim, a GM acha que os governos – tanto o dos EUA quanto os de outros países - têm de sustentá-la como certos potentados sustentam, a um preço muito menor e com direito a maior prazer, as suas concubinas. A CSN acha que o governo deve pagar o salário de seus funcionários, e ainda receber um troco do BNDES. As montadoras de automóveis acham que podem não pagar impostos - e o governo ainda deve agradecer pela benesse. O Votorantim acha que o governo deve cobrir o rombo da sua especulação com derivativos e ainda receber a Aracruz Celulose de presente do BNDES. Em suma, todos os ladrões acham que devem roubar mais o Estado – e todos têm de ficar muito gratos por serem mais roubados.
Devemos convir que os bancos excedem nesse capítulo.
CARLOS LOPES.
Fonte:Jornal Hora do Povo.

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