Paulo Henrique Amorim.
O coordenador nacional do MST, João Pedro Stedile, acredita que a direita brasileira já tem o seu Berlusconi. E ele atende pelo nome de Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal. Mendes, diz Stedile, além de ter assumido o papel de porta-voz da direita, passou a criticar as ocupações somente depois que se agravou a relacionamento entre os sem-terra e a administração do governador paulista, José Serra - tema abordado na edição atual de Carta Capital.
“Desde que assumiu (no STF), ele (Mendes) ataca os povos indígenas, os quilombolas, os direitos dos trabalhadores, dos operários. Defende os militares da ditadura. Enfim, a direita brasileira já tem o seu Berlusconi tupiniquim“, disse Stedile, em entrevista por telefone concedida a Paulo Henrique Amorim.
Para Stedile, Carta Capital acertou “na mosca” ao identificar a vinculação das críticas de Gilmar com a administração de José Serra. Segundo ele, a região do Pontal do Paranapanema, no extremo oeste do Estado, tem um passivo de conflito agrário que persiste há décadas. “Lá existem 400 mil hectares de terras públicas estaduais e há sentenças determinando que o governo recolha essas terras e pague os fazendeiros pelas benfeitorias realizadas”, disse.
No entanto, o programa de reforma agrária estadual foi paralisado pela administração Serra, pontua Stedile. O mais recente confronto entre militantes e o governo ocorreu por conta do “Carnaval Vermelho”, série de invasões promovidas por José Rainha, liderança que saiu do MST e atua com seu próprio movimento. Ao deflagrar as invasões, Rainha enfatizou que visava pressionar o governo estadual.
“Então o José Serra, bem articulado com a imprensa brasileira – assim como na semana passada acionou o Jarbas Vasconcelos para bater no Sarney – agora ele tem se articulado com o senhor Gilmar Mendes para colocar a sua trupe em defesa da situação de São Paulo”, disse. “Lamentavelmente, os problemas da terra ficarão de novo marginalizados. Daqui até outubro de 2010 seremos vítimas dessa disputa eleitoral pelo Palácio do Planalto que já está instalada pelo senhor José Serra.
Uso de dinheiro público
Stedile refutou as acusações de Gilmar Mendes sobre a utilização supostamente irregular de recursos federais pelas entidades do movimento sem-terra. “Isso não passa de um jogo de palavras”, disse.
Segundo ele, durante o governo FHC uma série de funções que originalmente pertenciam ao estado, como a contratação de agrônomos para oferecer assistência técnica aos agricultores e a alfabetização rural, foram repassadas para Organizações Não Governamentais, criadas com incentivo da administração federal.
Ao final do governo FHC, pontua Stedile, o uso dos recursos pelas entidades ligadas ao movimento sem-terra também havia sido questionado. “Foi uma paranóia. Eles investigaram exaustivamente conta por conta e nada encontraram”.
O coordenador do MST questionou ainda a inexistência de críticas sobre a ONG Alfabetização Solidária, criada pela ex-primeira-dama Ruth Cardoso que, segundo ele, recebeu R$ 330 milhões dos cofres públicos. “Provavelmente, foi o programa de alfabetização de adultos mais caro do mundo”, disse.
Outro grande sorvedouro de recursos públicos na área rural ocorre no Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, diz Stedile. Segundo ele, a entidade, integrante do Sistema S, é controlada por latifundiários e recebeu cerca de R$ 1 bilhão em repasses federais nos últimos dez anos (veja abaixo no documento “As sustentações Nead Nilton E Sauer”).
Fonte:Blog Conversa Afiada - PHA
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