Argemiro Ferreira.
O presidente Barack Obama estava à frente de sua equipe econômica - Christina Romer (Conselho de Assessores Econômicos), Joe Biden (vice-presidente), Timothy Geithner (secretário do Tesouro) e Peter Orszag (diretor de orçamento) - ao anunciar ontem a proposta orçamentária para o ano fiscal de 2010, que caberá a Orszag, economista de Princeton, 40 anos de idade, vender ao Congresso e ao país até setembro (saiba mais AQUI).
Enquanto crescia, a partir de reportagem (leia AQUI) do Wall Street Journal (hoje integrado ao império de mídia do magnata Rupert Murdoch), a especulação sobre iminente tomada do controle do Citigroup/Citibank (saiba mais AQUI), a oposição republicana fingia ter levado um susto com o novo orçamento de US$ 3,6 trilhões, que aumenta impostos para os mais ricos.citigroup
Quem ganha acima de US$ 250 mil por ano (mais de US$20 mil por mês) vai pagar mais impostos, conforme o próprio presidente prometia na campanha e repetiu no discurso de terça-feira. Trata-se de inversão ousada - na verdade, uma guinada significativa - no rumo orçamentário herdado do governo Bush, que presenteara a camada mais rica da população com polpudos cortes de impostos (conheça alguns detalhes AQUI).
Mas a herança maior de Bush, graças à devastadora crise econômica que legou aos americanos, é o próprio deficit orçamentário a ser enfrentado (US$1,75 trilhão) pelo atual governo, que promete reduzí-lo à metade até o fim do mandato de Obama. O orçamento prevê gastos substanciais para melhorar o sistema de saúde, a educação e ampliar a independência do país no campo energético.
Evitando sacrificar os investimentosobama_ti
Ao anunciar o orçamento, Obama afirmou: “Não concordo em sacrificar os investimentos que farão o país mais forte, mais competitivo e mais próspero neste século 21 – investimentos que já foram negligenciados demais”. Para a oposição conservadora, o aumento de impostos dos ricos será usado para financiar uma reformulação do sistema de saúde que ainda nem se sabe como será feita.
De acordo com a crítica já levantada, isso também pode ter como consequência não desejada um aumento da carga tributária para pequenas empresas. Assim, ao invés de criar mais empregos, o que tem sido contribuição substancial delas ao longo dos anos, elas poderiam ser levadas a demitir empregados e fechar postos de trabalho.
De qualquer forma, com o que pode acabar tornando-se uma mudança bem mais profunda do que esperava a oposição, o governo Obama - que até agora preferia enfoque mais conciliatório, num namoro bipartidário ostensivamente repelido pelos republicanos - deixa claro com a proposta estar mais inclinado do que pensavam democratas progressitas mais céticos em cumprir certas promessas de campanha.
“Uma nova era de responsabilidade”
Publicada sob o título “Uma nova era de responsabilidade - Renovando a promessa da América”, a proposta orçamentária também contém reducões substanciais de gastos, em parte resultantes das mudanças previstas para o papel dos EUA no Iraque; cortes de subsídios; e até cortes de verbas de certos programas sociais (nesse caso, graças a operação destinada a combater o desperdício e eliminar fraudes).
clinton_1995De qualquer forma, o governo não parece preocupado com as acusações que já começam - e certamente vão continuar - de que está voltando atrás, para o tempo em que os “democratas gastadores” aumentavam o tamanho do governo. Big government é uma expressão que irritava os democratas (leia AQUI uma análise francamente hostil da agência Reuters), acusados de gostarem de impostos e gastarem demais - em programas sociais e outras “bobagens”.
O próprio Bill Clinton, como presidente (veja-o à esquerda, em 1995) declarou certa vez o fim da “era do big government” (leia o discurso AQUI). E Obama, no seu discurso desta semana sobre o Estado da União, também reafirmou que não gosta de big government. A partir daí, a liderança republicana já proclamou que os EUA, com o atual governo, está promovendo o retorno àquela era - o que, de resto, teriam dito qualquer que fosse o orçamento proposto.
Punindo executivos irresponsáveis
A oposição republicana, no entanto, fica em situação extremamente incômoda para fazer suas críticas nesse terreno, já que o presidene republicano Bush recebeu do antecessor Clinton, há oito anos, um orçamento com superávit - devolvido agora, ao democrata que o sucede, com o maior déficit da história. Isso para não falar nas guerras que agravaram o quadro (só o custo da do Iraque, segundo cálculo do economista Joseph Stiglitz, eleva-se a US$3 trilhões) e na desastrosa crise econômica.
No mesmo dia o líder da minoria oposicionista na Câmara, John Boehner (veja-o na foto do final deste texto, à frente dos colegas da liderança partidária), retomou seu cansativo refrão de que não se aumenta impostos em períodos de recessão - no caso, a recessão de Bush. As pequenas empresas afetadas, alegou, representam o motor da criação de empregos. “O orçamento dos democratas é, simplesmente, um assassino de empregos”, afirmou.
Na sua contribuição ao debate, Obama também destacou o preço que os executivos desonestos, que ajudaram a fabricar a atual crise, serão forçados a pagar. Segundo afirmou, a ampliação do ativismo do governo será “um rompimento emblemático com esse passado perturbador”, punindo com aumentos de impostos muitos dos que lucraram com a desgraça do país nessa “era de profunda irresponsabilidade”.
Fonte:Blog do Argemiro.
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