Emir Sader
De onde a FSP tirou a categoria “ditabranda”? De que, ela, assim como para toda a imprensa brasileira, com a única exceção da Última Hora – que por isso foi fechada pela ditadura -, pregou a ditadura, apoiou o golpe militar e a derrubada de um governo eleito democraticamente pelo povo brasileiro. Esconderam a repressão posta em prática imediatamente pela ditadura – seqüestros,desaparições, torturas, fuzilamentos, fechamento dos sindicatos, cassação de parlamentares e juristas, censura à imprensa. A foto de Gregório Bezerra sendo arrastado por um jipe militar pelas ruas do Recife, não foi publicada por nenhum órgão da imprensa, por exemplo. Acolheram as versões mentirosas da ditadura sobre o assassinato de militantes da resistência à ditadura. Resistência democrática feita contra a ditadura e contra a imprensa a serviço dela.
No caso da FSP, mais do que isso. Colocou carros da empresa a serviço da Oban, para disfarçar ações repressivas como se fossem da imprensa – como se vê no livro de Beatriz Kushnir , “Cães de guarda”, da Boitempo, livro nunca desmentido, nem noticiado pela FSP, como confissão de culpa, leitura indispensável para se conhecer o farisaísmo do jornal da família Frias. Para ela foi “ditabranda”. Quem quiser, pode ler os jornais de 1964, para ver um jornal contra a democracia e a favor da ditadura.
Para ver o relato a posteriori, pode-se ler – perda de tempo, na verdade – uns livrinhos da editora da FSP sobre História do Brasil, de autoria de Oscar Pilagallo. Há um volume sobre o período 1960-1980. Aí se verá como foi um regime “suave”, “brando”, pelo menos para a FSP. O autor se presta a calar sobre o papel da imprensa nas mobilizações das Marchas contra a democracia, de conclamação ao golpe e de apoio à ditadura militar.
“O apego às leis foi, sobretudo no início, uma marca do regime.” O caráter autoritário (não ditatorial, percebam) do novo governo foi se revelando aos poucos.” (para eles.) “..o governo estimulou o arrocho salarial” (estimulou ou decretou a ferro e fogo, incluindo intervenção em todos os sindicatos e prendendo a dirigentes sindicais.) Um autor delicado, sem dúvida, brando. “Embora o golpe não tivesse sido marcado pela violência... “(sic) . E por aí afora.
Para os dóceis, os brandos, a ditadura foi um regime brando. Especialmente para aquelas empresas que, como O Globo e a FSP, cresceram justo durante a ditadura. Por isso sua gratidão ao regime brando que os promoveu.
Fonte: Carta Maior
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