Luciano Martins Costa
Passados quase dez dias, a Folha de S.Paulo segue provocando debates por causa da revisão histórica que seus editorialistas resolveram oferecer à Nação. Segundo o jornal que se apresenta como "o maior do país", o regime de exceção imposto ao Brasil entre 1964 e 1985 não foi uma ditadura. No trocadilho infeliz escolhido pelo redator que expõe as opiniões do diretor responsável do jornal, o Brasil passou por uma "ditabranda".
Os argumentos já alinhavados pela internet, alguns deles publicados na seção de cartas da Folha, bastariam para qualificar tal afirmação como mera e desrespeitosa aleivosia. Mas preocupa os observadores da imprensa que um jornal alinhado entre os mais influentes do país venha a propor semelhante jogo de palavras sobre tema a respeito do qual não há como tergiversar.
Reação tardia
A Folha tem há algum tempo a mania dos "rankings" e das tabelas classificatórias, mas não há como fazer uma lista classificatórias de horrores. Comparar a ditadura brasileira com a chilena ou a argentina seria o mesmo que comparar o terror nazista com os horrores do stalinismo, dizendo que este ou aquele pode ser mais aceitável.
A Folha foi o jornal brasileiro que mais se entusiasmou com as idéias do economista americano Francis Fukuyama, que no fim dos anos 1980 anunciou o "fim da História". Também foi o jornal que abrigou sem reservas as teses de que existe uma tal pós-modernidade.
Mas não há como fugir da História. Não é com a negação que a Folha vai escapar da verdade segundo a qual foi um dos jornais que mais colaboraram com a ditadura militar, inclusive contratando policiais para trabalhar como jornalistas na década de 1970.
Ao desrespeitar os mortos do regime de exceção, o jornal faz lembrar seu próprio comportamento durante os anos de chumbo. A reação, tardia, e a luta pela redemocratização, foi liderada por repórteres e alguns editores, inicialmente à revelia da direção do jornal.
Quem se aventura a reescrever a História se arrisca a ser julgado por ela.
Fonte:Observatório da Imprensa.
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