Pedro Campos
Às 21h35 da noite de 15 de Fevereiro, pouco mais de três horas após o encerramento das mesas de votação – a Venezuela tem o sistema eleitoral mais avançado da região, segundo o presidente do Conselho de Peritos Eleitorais Latino-americanos –, a máxima autoridade eleitoral informou aquilo que toda a Venezuela, a América Latina e boa parte do mundo esperavam. Com 94,2% dos votos contados, o “Sim” ia à frente com 54,36 por cento (6.003.594 votos) contra 45,63 por cento (5.040.082 votos) do “Não”. Faltava apurar a inclinação de perto de 800 mil votos, mas a vitória era certa.
Colocados frente ao dilema de fazer avançar a revolução para novas conquistas populares ou de voltar ao passado de exclusão e de pobreza das grandes maiorias, os venezuelanos decidiram-se pelo futuro e rejeitaram dar um salto no vazio. Salto que, ninguém tenha dúvidas, muito provavelmente abriria o caminho a um regime de estilo pinochetista. O que se viu aquando do golpe de Estado de Abril de 2002 não deixa pensar noutras opções.
Pese a uma fortíssima campanha de terrorismo mediático a nível nacional e internacional e contra um profundo desequilíbrio nos meios de comunicação, a opção progressista triunfou. Embora a nova democracia venezuelana seja perigosamente permissiva para com os seus inimigos, as forças bolivarianas conseguiram vencer todos os obstáculos que se lhes puseram por diante. Como foi isto possível?
Escritas sobre o joelho (que esta nota deve sair o quanto antes para as páginas do Avante!, talvez as únicas sempre solidárias com a revolução bolivariana), aqui estão algumas razões que são quase impossíveis de encontrar na imprensa burguesa.
Segundo a CEPAL, nestes dez anos de governo de Hugo Chávez a pobreza desceu de 49,4 (1999) para 30,2 por cento (2006). No mesmo período, a pobreza extrema caiu de 21,7 por cento para 9,9 por cento. Números mais recentes descem este índice até 7,4 por cento. Estes resultados foram conseguidos apesar da greve patronal de 2002/2003 ter travado significativamente esta linha de progresso.
Ainda segundo a CEPAL, registou-se a criação de 4500 consultórios populares que combinam atenção médica primária e secundária com centros de diagnóstico, reabilitação e tecnologia especializada. Por outro lado, desde 2003 a revolução melhorou significativamente a atenção à infância: a mortalidade infantil desceu cinco pontos.
Koichiro Matsuura, director-geral da UNESCO, destaca algumas outras conquistas, entre elas a erradicação do analfabetismo em 2005.
Mas há mais. O serviço de água potável, historicamente crítico, chega agora a 92 por cento da população. Nos tempos da IV República essa percentagem era de 80 por cento. Graças ao salto dado pela revolução bolivariana, hoje, entre 27 milhões de famílias, 25 já desfrutam deste serviço básico.
O desemprego baixou de 11 para 7,4 por cento e está agora na metade da taxa que Hugo Chávez herdou da IV República. Perto de 14 milhões de pessoas podem agora comprar alimentos subsidiados na rede de Mercal. No Índice de Desenvolvimento Humano, medição conjunta das taxas de alfabetização, escolaridade, saúde e esperança de vida ao nascer, numa escala entre 0 e 1 (onde 0 é desenvolvimento mínimo e 1 desenvolvimento máximo), a Venezuela está agora em 0,82 (nenhum país tem desenvolvimento 1). Em 1998/99 só 44,7 por cento das crianças em idade escolar estavam matriculadas. Depois de criadas as Missões, em 2005/06, essa taxa saltou para 60,6 por cento. É que agora o investimento em educação é de 5,8 por cento do PIB e antes era 3,9. Na educação superior, a taxa de matrículas era de 21,8 e agora situa-se em 30,2 por cento.
Em geral, a situação económica do país tem ido sempre no sentido positivo. Neste momento já leva cinco anos consecutivos de crescimento e, medida em dólares, a economia venezuelana cresceu 526,98 por cento desde 1998. Estes e outros resultados são os que permitem a 59 por cento dos venezuelanos perspectivas optimistas quanto à situação económica do país no futuro.
São estes e outros resultados, dos que nunca falam os meios de comunicação da direita, que “explicam” esta nova vitória de Hugo Chávez e das forças progressistas que o apoiam nesta caminhada para o futuro.
A oposição, fiel à sua condição de reaccionária e revanchista, demorou a reconhecer a vitória do “Sim”. Isso preocupa. Mais inquietante ainda é que em todo este processo eleitoral nunca clarificaram se aceitariam os resultados da consulta popular. Eles, os “democratas”, não aceitam as regras da democracia. O “tirano” aceitou sem pestanejar as poucas derrotas nos 15 processos eleitorais destes 10 anos.
Fonte: Informação Alternativa.
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