28/10/2008 11:48
EUA: mercado falhou também na saúde
O sistema de saúde norte-americano, como já foi dito aqui no blog, é um dos principais temas da campanha eleitoral dos Estados Unidos, ao lado da segurança (política externa, terrorismo etc) e, óbvio, da crise do subprime.
O The New York Times de hoje publica editorial elogiando o plano para a área de saúde de Barack Obama e criticando o de John McCain. O texto detalha os dois projetos. Durante os debates na televisão, mediadores insistiram para arrancar dos candidatos algo concreto sobre o que cortariam no orçamento de 2009 diante do caos financeiro.
O que queriam saber mesmo era como esta crise afetaria o setor de saúde, pois, 45 milhões de norte-americanos vivem sem nenhuma garantia de assistência médica.
Esse foi o resultado de uma política de transferir ao mercado as responsabilidades sociais típicas do Estado.
Nos próximos anos, a dívida pública limitará as ações do governo, assoleado por déficits agravados pelo socorro financeiro e, disse outro dia David Leonhardt, colunista do Times, ninguém sabe como a Casa Branca enfrentará “o maior problema de todos: a assistência médica à geração de baby boomers”.
Na semana passada, The Economist dedicou algumas páginas ao assunto dando destaque para o alto gasto do setor privado na saúde (superior ao setor público), ao contrário de outros países (Alemanha, Canadá, Gran-Bretanha, Japão).
O Plano McCain se reduz a conceder subsídios às famílias (de 2.500 a 5.000 dólares) para gastos com saúde. Isso significa, segundo o NYT, uma pressão de 7 a 10 bilhões de dólares no orçamento, a cada ano. Curioso é que os republicanos apresentaram um plano “mais estatal”.
Obama segue a linha do Hillarycare, o plano de Hillary Clinton: criar um seguro estatal para concorrer com os seguros privados. Ela chegou a dizer durante a campanha: “Vamos dizer às companhias de seguro: você vai ter que mudar o jeito de fazer negócio e vai ter que cobrir todo mundo, independentemente da condição de saúde e vai ter que competir pela qualidade e custo em paralelo ao seguro público”.
As críticas do NYT ao plano McCain resumem-se a isto: o projeto não garante a cobertura de doenças pré-existentes, não seguraria custos, correria o risco de os jovens simplesmente entregarem os subsídios às empresas privadas e nada garante melhora na qualidade do atendimento.
Só para esclarecer: os Estados Unidos têm todo o sistema hospitalar privado. O governo concede dois planos, Medicare (para idosos) e Medicaid (para famílias de baixa renda, cujos custos são divididos entre o governo central e os estados). As empresas devem oferecer obrigatoriamente planos a seus funcionários. No entanto, quem está fora dos critérios de elegibilidade para os dois programas públicos, amarga a falta de cobertura em caso de desemprego. Há ainda o problema de autônomos e jovens sem emprego, imigrantes legais e, como o plano é dado pela empresa, o seguro acaba sendo um entrave à liberdade – tão cara aos norte-americanos – de mudar de emprego. Torna-se, digamos, um instrumento de pressão, quase uma moeda de troca. Ou seja, o problema tornou-se bastante complexo.
O que chama a atenção é que, neste momento, a solução apontada pelos candidatos – e cobrada, inclusive pelo NYT – é ampliar a participação do Estado. Há um reconhecimento de que o mercado foi incapaz de resolver essa questão. Mais uma. E pode vir dos Estados Unidos, sem nenhuma cerimônia, uma atitude estatal fora das fronteiras de crise financeira e mercado bancário, como foi visto. Seria mais uma prova de que o mercado não tem falhas pontuais, mas contumazes.
enviada por Jorge Felix.
fonte: Blog do Jofe.
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