O governo italiano divulgou nesta quarta-feira uma nota oficial em que define como ''um ataque calunioso e absolutamente injustificado'' a reportagem em que o jornal argentino Clarín afirma que o primeiro-ministro do país, Silvio Berlusconi, refere-se de maneira desrespeitosa a mortes ocorridas durante a ditadura militar que governou a Argentina entre 1973 e 1986.
''As palavras do presidente do Conselho [de Ministros, Silvio Berlusconi] foram completamente alteradas e até invertidas, quando era totalmente claro que ele estava enfatizando a brutalidade dos 'voos da morte' promovidos pela ditadura argentina'', diz o comunicado.
Na reportagem, publicada em sua edição de hoje, o Clarín cita um texto publicado pelo diário italiano L'Unitá segundo o qual Berlusconi diz, ao se referir aos chamados ''voos da morte'', que ''eram belos dias, faziam-nos descer dos aviões''.
Um vídeo publicado no site YouTube traz a íntegra da declaração do premier italiano, feita durante um comício das eleições regionais da Sardenha: ''Não farei como aquele ditador argentino que eliminava seus opositores levando-os em um avião com uma bola, depois abriam a porta, jogavam a bola e diziam 'está um dia bonito lá fora, vão jogar'''. Em seguida, Berlusconi completa: ''(Isso) faz rir, mas é dramático''.
Os ''voos da morte'' eram usados por militares para assassinar pessoas consideradas adversárias políticas. Neles, as vítimas -- que estavam sedadas e amarradas -- eram atiradas no Rio da Prata de aviões ou helicópteros.
O Clarín definiu o episódio como um ''escândalo causado por uma piada sobre os desaparecidos argentinos''. O governo italiano, porém, alega que o jornal criou ''polêmica sobre um falso 'Caso Argentina', o que causa indignação''.
Em Buenos Aires, as palavras de Berlusconi foram recebidas com insatisfação por organizações de direitos humanos que atuam na causa dos desaparecidos políticos. Entre 1976 e 1983, período em que a Argentina foi governada pelo regime militar, estima-se que cerca de 30 mil pessoas tenham sido assassinadas ou são consideradas desaparecidas.
Estela de Carlotto, presidente da associação Avós da Praça de Maio, que se dedica a buscar filhos de mulheres presas pelos militares e que, com a morte de suas mães, foram entregues a falsos pais, disse ter ficado ''ofendida'' com a postura de Berlusconi.
Outros grupos, como o Familiares de Desaparecidos e Detidos por Razões Políticas e as Mães da Praça de Maio-Linha Fundadora, cobraram esclarecimentos do governo italiano sobre as afirmações, que definiram como ''inaceitáveis''.
A Chancelaria argentina, por sua vez, expressou ''profunda preocupação e mal-estar'' e convocou o embaixador italiano no país, Stefano Ronca, para que prestasse explicações sobre o episódio. O funcionário argumentou que Berlusconi não teve ''nenhuma intenção de ofender'' a Argentina.
Fonte: Site O Vermelho.
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